Existe amor em Águas Claras.

Ontem, 21 de abril de 2013, em comemoração aos 53 anos de Brasília, o âncora Estevão Damásio, da CBN Brasília, propôs um programa leve e divertido com a participação de figuras do cenário cultural do Distrito Federal: o ator Bruno Torres (que está no filme Somos Tão Jovens, com estréia em 3 de maio), Digão e Canisso, da banda Raimundos, e o gaitista Engels Espíritos. Claro que o programa não foi tão tranquilo assim, e não foi por falta de tentativas do Estevão (dica: se você quiser um ambiente leve, não convide o Engels Espíritos).

Lá pelas tantas, chamou-me a atenção a forma como Águas Claras foi citada – provavelmente pelo Espíritos, mas o áudio pode ter me traído. O artista disse que “fica assustado” toda vez que vai à região. Seguiram-se habituais reclamações sobre a urbanização desenfreada do DF, a “falta de horizonte” e outros clichês. E, claro, acrescentou-se o usual “sem querer ofender quem mora lá”.

Eu moro em Águas Claras. E não, não me sinto ofendida pelas constantes observações negativas que ouço sobre esta pequena grande cidade, da mesma forma que não me ofendo quando ouço comentários preconceituoso sobre Brasília feitos por quem nunca pisou no DF. Sinto-me é espantada ao constatar que pessoas que vivem há meros vinte quilômetros de Águas Claras ainda repetem críticas que denotam tanto desconhecimento.

É incrível, por exemplo, ouvir que alguém “fica assustado” em Águas Claras. Até entendo a sensação, se o comentário vier de alguém acostumado a viver no campo e que nunca viajou por outros cantos, outras cidades, outras paisagens. Tantas e tantas cidades brasileiras têm a mesma conformação de Águas Claras: prédios altos, próximos, pessoas pelas ruas, comércio em todo canto. Claro, não se vê isso em Brasília, ou melhor, no Plano Piloto, com seus amplíssimos espaços, cheios de árvores e ausentes de pedestres. Aliás, no mesmo programa, os participantes comentaram que uma caminhada em Brasília “cansa o psicológico antes de cansar o físico” e que pra encontrar um amigo é preciso marcar um ponto no meio do caminho. Sim, isso é verdade no Plano Piloto.

Águas Claras é diferente. As pessoas se vêem mais, se falam mais. Nos prédios, a gente conhece os vizinhos. Aliás, por menos do que pagaria no Plano Piloto e adjacências para morar em uma quitinete (seja alugando ou comprando), usufruo de um apartamento agradável e ventilado, num prédio que me oferece piscina, academia de ginástica e outras facilidades, além de me isolar do som dos vizinhos porque as paredes são grossas o suficiente – mas que, ao mesmo tempo, propõe espaços amigáveis de convivência com esses mesmos vizinhos.

Sem atravessar a rua, tenho farmácia e padaria. Se atravessar, encontro bares, restaurantes, supermercados, escolas e todo tipo de comércio (esticando um pouco mais – mas sem exagero – tem até um shopping center com bons cinemas, praça de alimentação e um punhado de lojas). Andar a pé em Águas Claras não “cansa o psicológico”, porque há gente pelas ruas e vou me distraindo pelo caminho. Posso parar pra ver uma vitrine ou outra. Há uma sensação de comércio de bairro que se traduz em sorrisos – o cliente conhece o balconista e vice versa, não é aquela coisa ríspida e grosseira de nem olhar na cara.

É claro que Águas Claras tem problemas – e que cidade não tem? Aqui, entre outros, temos um trânsito estressante nos horários de pico (mas também temos o metrô – eu opto por usar o transporte público e deixo o carro em casa quase todos os dias). Temos, também, uma triste falta de árvores e de espaços públicos de convivência (o Parque Águas Claras é logo ali, mas seria ótimo ter pequenas praças em toda a parte). Algumas quadras sofrem com constantes quedas de energia elétrica.

O Plano Piloto também tem problemas – e qualidades. A Asa Sul, por exemplo, é encantadora, apesar das grandes distâncias e da falta de “bom-dia” no elevador.

Meu ponto é: não se assuste com Águas Claras. Somos uma cidade comum, feita de gente, de veículos, de defeitos e de qualidades. Não há o que temer. Abra a mente e o espírito, venha dar uma volta por aqui. Vamos tomar um milkshake ali do lado e eu lhe mostro o que há de bom ao redor da Arniqueiras e da Castanheiras.

Deixe de lado o preconceito. Existe amor em Águas Claras.

Montevidéu – dicas variadas

Veja todos os textos sobre Buenos Aires e Montevidéu.

Algumas dicas para tornar sua estada em Montevidéu ainda mais agradável.

Informações e Deslocamento

  • Montevidéu não tem metrô, mas andar de ônibus por lá é simples e o site da intendência (equivalente a governo de estado) torna tudo mais fácil, indicando os trajetos a pé ou de ônibus. A passagem custa R$1,70 e, diferentemente de Buenos Aires, você não precisa ter o dinheiro certinho para embarcar.
  • Táxi é barato e as distâncias geralmente são pequenas, o que o torna ainda mais convidativo.
  • Se os argentinos são polidos ao dar informações (o que já considero excelente), os uruguaios são solícitos, amáveis e quase se oferecem pra acompanhar você ao destino.

Câmbio

Palacio Salvo ao fundo, Edifício Santander na frente.
O contraste entre antigo e contemporâneo é frequente em Montevidéu.
  • A moeda leva o mesmo prenome da argentina, mas é diferente. Um real vale 10 pesos uruguaios (na Argentina, um real equivale a dois pesos).
  • No centro da cidade, tem uma casa de câmbio a cada esquina. Sem exageros. Não precisa se preocupar em pegar muitos pesos – troque seus dólares e reais conforme for precisando.
  • Pela diferença cambial, pode-se supor que o custo de vida no Uruguai é menor que na Argentina, e é mesmo: tudo lá é mais barato, de comida a eletrônicos.
  • Atenção para a pegadinha: nas vitrines, os preços de eletrônicos e de outros itens mais caros (roupas de grife, por exemplo) são apresentados em dólares. Afinal, se aquela tv de LED de última geração custasse só 300 reais, teria caravana de brasileiros pra comprar em Montevidéu.

Dia-a-dia

Ciudad Vieja, em frente ao Mercado do Porto.
Ciudad Vieja, em frente ao Mercado do Porto.
  • Uruguaios adoram brasileiros. Sério. O garçom da Pasiva (uma rede de lanchonetes deliciosa) quase puxou uma cadeira e sentou pra bater papo quando ouviu a gente (eu e a Nosphie) falando português. Um outro senhor fez questão de interromper seu trajeto para nos dar conselhos de segurança.
  • Falando em segurança, Montevidéu é uma cidade bem tranquila, mas não é aconselhável passear pela Ciudad Vieja (Cidade Velha, o centro histórico de Montevidéu) depois que anoitece.
  • Vinho é muito barato – e me refiro a vinho decente, não aos Marcus James e Chapinhas daqui. Você compra um vinho comparável a um Concha y Toro (que não é o vinho, mas é digno e custa entre 15 e 20 reais no Brasil) por algo entre 5 e 10 reais no supermercado. Alguns vêm em caixa longa-vida, mas não julgue o livro pela capa, digo, o vinho pela caixa – eles também são razoáveis.
  • Não se preocupe em trazer vinhos para o Brasil. Livre-se dos problemas para acondicionar garrafas e do excesso de peso: beba tudo no Uruguai.
  • Esqueça o que você entende por alfajor. Nem Havanna, nem Cachafaz, muito menos o alfajor da Turma da Mônica: o negócio é o Agua Helada, que é artesanal e está sempre fresquinho. Você encontra nos mercados (de bairro, inclusive) e nas padarias, tem de vários sabores e todos são deliciosos.
  • Se não encontrar o alfajor “Agua Helada” (vá por mim, procure que você acha), experimente o “De la Sierra de Minas” (semiartesanal). A marca já deixa os alfajores argentinos no chinelo.
  • O clima da cidade é mais frio que o de Buenos Aires – leve casacos e roupas quentes para dormir.
  • A voltagem em Montevidéu é 220.
  • As tomadas não seguem um padrão, mas é fácil encontrar adaptadores à venda em lojas de ferragens ou supermercados.

Dê uma olhada nas minhas dicas para Buenos Aires – várias delas (como aprender o mínimo de castelhano e seguir os conselhos válidos para qualquer viagem internacional) se aplicam perfeitamente ao Uruguai.

Montevidéu – como chegar e onde ficar

Veja todos os textos sobre Buenos Aires e Montevidéu.

Sim, claro que você pode chegar de avião, e também pode usar as milhas/pontos acumulados. Tudo que eu disse sobre Buenos Aires vale para Montevidéu – inclusive que os pacotes vendidos pelas agências de viagens não compensam se você está viajando só. Aliás, pode assumir isso como regra geral: em caso de viagem solo para o exterior, pacotes não compensam financeiramente. Para viagens dentro do Brasil, há casos em que compensam, mas ainda assim vale pesquisar.

(Honestamente, não sei como as agências de viagens sobrevivem em tempos de internet.)

Acontece que saí de Buenos Aires pra chegar a Montevidéu, e aí o melhor jeito de viajar não é de avião, mas de navio (ou buque).

No Buque, de Buenos Aires a Montevidéu.
Quem quis, viajou sem ninguém ao lado.

São duas as empresas que fazem esse trajeto: Buquebus e Seacat. A Seacat não tem barcos diretos pra Montevidéu – é necessário desembarcar em Colônia do Sacramento (fundada pelos portugueses, é a mais antiga cidade uruguaia) e tomar um ônibus até Montevidéu. A viagem fica mais cansativa, mas há mais opções de horários e as tarifas são menores.

A Buquebus tem dois trajetos: pode passar por Colônia (a passagem de ida e volta sai por uns 160 reais) ou ir direto a Montevidéu, com ida e volta por 350 reais.  Sim, a diferença de preço é grande, mas pra mim foi compensada pela menor duração da viagem. Veja o que fica melhor pra você. E compre a passagem com a maior antecedência possível, para garantir as melhores tarifas.

O terminal de embarque lembra em tudo um aeroporto. Você chega uma hora antes da partida, despacha as malas (mas vi gente embarcando com malas grandes), entrega o papel xexelento que recebeu ao entrar na Argentina (o papel da imigração, que eu só não joguei fora porque meu santo é forte), recebe outro para entrar no Uruguai (bem mais apresentável) e vai para a sala de embarque. Os lugares no barco não são marcados e é comum os passageiros fazerem uma fila de malas junto ao portão de embarque. Nem me preocupei com isso: era uma segunda-feira, havia poucas pessoas embarcando e o buque é, digamos, enorme.

Freeshop e primeira classe.
Freeshop e primeira classe (acima).

Quando entrei no barco, pensei “isso sim, é jeito de viajar”. Sério, conforto pouco é bobagem. Poltronas grandes, lanchonete com dezenas de opções (você paga, e eles não aceitam cartões, só “efectivo” – dólares ou pesos), um freeshop pra passar o tempo e, maravilha das maravilhas, wi-fi durante todo o percurso. Também tem sinal de celular e, embora tenha visto alguns passageiros fazendo uso, não ouvi nenhum deles – os hermanos são educados e falam baixo ao telefone (tenho horror só de pensar como será quando liberarem os celulares nas rotas aéreas brasileiras). Há um mezanino para a primeira classe, mas francamente, o conforto na classe turística é tanto e a viagem é tão curta que não se justifica pagar mais caro.

E a paisagem… a paisagem é belíssima, especialmente se você chegar a Montevidéu por volta das seis da tarde (fora do horário de verão), quando tem o bônus de assistir ao pôr-do-sol no Rio da Prata. Rio esse que, aliás, passa muito bem por mar, com direito a água a perder de vista e  uns sacolejos logo que o barco sai do porto (nada que justifique tomar dramin ou carregar um saquinho a tiracolo). Minha única queixa, de fato, é não ter um deque para apreciar melhor o passeio. As escotilhas são de plástico, como as de avião, e por isso as fotos não fazem jus ao cenário.

Pôr-do-sol no Rio da Prata.
Pôr-do-sol no Rio da Prata.

Para aproveitar melhor a viagem, sente-se do lado esquerdo do buque e, claro, na janelinha. Ah, sobre o freeshop: ele abre meia hora depois do barco deixar o porto e fecha meia hora antes de atracar em Montevidéu (funciona em águas internacionais). É pequeno, mas bem servido em cosméticos e guloseimas. Aceita cartões e os preços são similares aos de Ezeiza (mas em Ezeiza encontrei ótimas promoções que não vi por lá).

Chegando ao terminal de desembarque, tenha paciência: a barreira sanitária é rigorosa e, por isso, a fila é lenta. Não porte alimentos in natura, ou terá de deixá-los no terminal. Vi um passageiro ser incomodado por transportar quatro ou cinco garrafas de uísque, mas não assisti ao desfecho.

Pronto, você está em solo uruguaio. Pegue um táxi na frente do terminal de desembarque e siga para o hotel.

Aliás, falando em hotel…

Tenho uma confissão a fazer. Os textos do Uruguai não serão tão detalhados quanto os da Argentina (ou os outros de viagens que qualquer hora vou escrever) porque foi muito menos uma viagem de turismo e muito mais um reencontro de duas amigas que se adoram e maldizem a distância pelo menos uma vez por semana: eu e a Nospheratt. Tive a honra de ficar hospedada na casa dela. Divertimo-nos muito, conversamos mais que o homem da cobra e dormimos de madrugada todos os dias pra (tentar) colocar o papo em dia. O resultado é que turistei pouco por Montevidéu.

Obviamente, portanto, não posso contribuir com conhecimento de causa no quesito “hospedagem”, mas aconselho o Íbis (Rede Accor). A diária custa cerca de 120 reais e a localização é excelente: na Rambla (orla), de frente para o Rio da Prata, a poucos minutos do centro e do Shopping Punta Carretas.

Tem mais dicas de onde se hospedar em Montevidéu? Compartilhe no formulário de comentários!

Buenos Aires – gastronomia

Veja todos os textos sobre Buenos Aires e Montevidéu.

Adoro turismo gastronômico, mas confesso que não aproveitei Buenos Aires tanto quanto poderia nesse aspecto. Saía para bater perna antes das 10 da manhã, voltava para o hotel exausta às 7 da noite e, geralmente, não tinha ânimo para ir aos restaurantes. Para complicar, vários lugares pedem reserva e eu não queria engessar meu dia.

Teto do Café Tortoni
Café Tortoni.

Vai daí que meu turismo gastronômico ficou centrado nos cafés e padarias, e devo dizer que a capital argentina está muito bem servida neste ponto. As empanadas deles são as nossas coxinhas. Encontrei empanadas assadas em todo canto e empanadas folhadas na confeitaria London City (Avenida de Mayo, 599), deliciosas. Em tempo: sob nenhuma circunstância peça empanadas nos kioskos 24 horas espalhados pela cidade – as chances de se deparar com algo pior que salgado de praia da semana passada são grandes.

Buenos Aires tem um circuito de cafés notáveis, ou cafes notables, que se destacam pela importância cultural ou histórica para a cidade. O London City é um deles. O Café Tortoni (Avenida de Mayo, 825) é o mais famoso do roteiro e está sempre cheio à noite, quando exibe um show de tango. Se não quiser perder a viagem ou esperar na fila, prefira conhecê-lo de manhã. A decoração é belíssima e só por ela já vale visitar.

Outro que está no roteiro é o Richmond (Florida, 468). Nele descobri que o nosso hambúrguer é conhecido por lá como “milanesa” – e eis aí uma excelente opção de almoço, já que é (muito bem) servida no prato.

Sendo fã do filme Evita, foi atrás da Confitería Ideal, em que foi filmada uma das minhas cenas favoritas: a canção “Oh What a Circus”. Achei o lugar, entrei, sentei… tomei uma coca zero e saí correndo. Embora faça parte do circuito de cafes notables e tenha um site com belas fotos, o lugar exala decadência, desleixo e abandono (nem vou dizer o que ele exala em sentido literal).

As padarias são uma ótima alternativa para lanches rápidos. Na Calle Defensa, esperando a Feira de San Telmo pegar fogo, encontrei a La Continental; a La Quintana foi um achado do dia de compras pelos outlets e fica na esquina da Scalabrini Ortiz com a Corrientes, a dois passos da estação Malabia da linha B do metrô.

O atendimento nos cafés e padarias não é, como direi, paulista. Os garçons não estão sempre a postos, não atendem rapidamente e, na verdade, não parecem ter pressa pra nada. Pode ser porque os 10% venham em nota separada e sejam, realmente opcionais (no Brasil, convenhamos, são quase obrigatórios), mas esse descaso acaba caindo bem, já que você pode usar o wi-fi gratuito do estabelecimento (o único lugar em que entrei e não tinha wi-fi foi o Havanna Café) sem pressa e sem sentir qualquer obrigação de consumir.

Não pode faltar uma parada na sorveteria Freddo (se não tiver tempo, peça do hotel que eles entregam). Todos os sabores que provei eram deliciosos, mas o de doce de leite é coisa de outro mundo.

Quanto à alta gastronomia, Buenos Aires concentra em Palermo a maior parte dos seus restaurantes internacionais. A Recoleta também conta com bons representantes e, claro Puerto Madero é visita obrigatória. A região não conta com tantos restaurantes – oito ou nove, talvez -, mas todos têm comida e atendimento de primeira, além de uma linda vista para o rio da Prata. Consegui comer sem fazer reserva no Bahia Madero, mas talvez tenha dado sorte, já que era cedo para os padrões dos argentinos. Às oito da noite, quando cheguei, o restaurante estava quase vazio. Saí depois das dez, e aí a casa já estava bem movimentada.

Os preços das refeições continuam muito favoráveis aos brasileiros (até McDonalds é mais barato por lá). No Bahia Madero, pedi entrada (uns bolinhos que de “inhos” não tinham nada, de espinafre e não me lembro mais o quê), prato principal (massa e molho com filé), sobremesa (crème brûlée), água e vinho por cerca de 75 reais.  Todos os pratos estavam deliciosos e muito (exageradamente) bem servidos.

Com este texto, encerro a viagem por Buenos Aires. A seguir: Montevidéu. 🙂