Compilado da viagem à Oceania

Como sempre acho melhor ter meus textos sob meu controle, trago para cá os textos que fiz no instagram durante a viagem a Nova Zelândia e Austrália, de 25/02/2023 a 18/04/2023.

Os textos não farão muito sentido sem as fotos, mas esta entrada é para registro próprio, no velho estilo “diarinho”. Em todo caso, incluí links para o instagram e, se você tiver alguma pergunta, terei prazer em responder nos comentários.

Auckland, postado em 04/03/2023

Olá, diretamente da Nova Zelândia! Vim pro outro lado do mundo pra aprimorar o inglês e, claro, pra conhecer outros países.

Estou em Auckland, considerada a menos neozelandesa das cidades, justamente pela quantidade de turistas e estudantes de outros países, especialmente asiáticos.

Ainda assim, chamam a atenção duas coisas tipicamente neozelandesas: a política inclusiva e a natureza exuberante (vejam o tamanho dessas árvores em plena cidade).

A região tem uma série de vulcões extintos e visitei o Mount Eden, que proporciona uma vista linda da cidade.

A ocupação de espaços públicos é incentivada pela prefeitura, tudo é muito limpo e bem cuidado, as calçadas são amplas, a faixa de pedestres é respeitada, os cruzamentos têm semáforos para pedestres.

O custo de vida é alto, mas as pessoas são bem remuneradas. O salário mínimo é de 21.20 dólares a hora, e em abril irá para 22.70. A maioria das loja abrem até as 17h no máximo (algumas fecham às 15h ou 16h), várias não abrem aos fins-de-semana.

Por outro lado, tenho visto muitas pessoas em situação de rua (concentram-se na região mais turística), e vários pequenos negócios quebraram durante a pandemia.

Uma semana já foi, tenho mais duas.

https://www.instagram.com/p/CpYKBTSPGFW/

Auckland, postado em 11/03/2023

O Museu Memorial da Guerra de Auckland, ou simplesmente Auckland Museum, fica dentro do belo parque chamado Auckland Domain, que por si só vale uma viaira.

O andar térreo é dedicado à arte e a cultura maori e também apresenta outras tribos do pacífico sul, com traços culturais e linguísticos bastante semelhantes.

O primeiro andar trata de história natural, apresentando fósseis e animais empalhados, além da geologia local. Há uma simulação de abalo sísmico causado por erupção vulcânica bem interessante. Da pra ver o moa, ave extinta de mais de 3 metros e mais de 200 quilos, e os kiwis, que felizmente ainda existem.

O último andar é o memorial propriamente dito. Apresentam-se as guerras entre os maori e os colonos ingleses (1845-1872), que quebraram o tratado de 1840 que garantia aos maori o domínio das suas próprias terras. Em seguida, o museu conta a participação dos neozelandeses nas duas Guerras Mundiais e em outros conflitos. A história das guerras ajuda a entender a formação da identidade neozelandesa.

https://www.instagram.com/p/CpqXWMTBUiQ/

Auckland, postado em 13/03/2023

Sábado foi um dia de aventuras!

O passeio começou com uma parada em um santuário de kiwis, em Otorohanga. Não fiz fotos porque kiwis são aves noturnas, a luz do celular (mesmo sem flash os afugenta).

Depois, visitei as Waitomo Caves, habitadas por glowworms que fazem o teto e as paredes parecerem uma noite estrelada. De novo, a claridade incomoda os animais, mas o cartaz dá uma ideia razoável. O Google diz que é um pirilampo, mas não é, não.

A parada seguinte foi nos Hamilton Gardens, que abriga algumas dezenas de pequenos jardins temáticos, relacionados a países ou movimentos artísticos. Bem bacana, daria pra passar uma tarde inteira lá. Em 50 minutos, deu pra ver a maioria dos jardins, mas quase correndo.

Então, o gran finale: a vista a Hobitton. O que era pra ser um set temporário acabou se tornando permanente, e vinte anos após as filmagens de “O Senhor dos Anéis” ainda é possível caminhar pela pequena vila de Bilbo e Frodo. O passeio de duas horas é recheado de curiosidades e termina com uma visita ao Green Dragon para uma cervejinha.

https://www.instagram.com/p/Cpv9J5lvPQW/

Auckland, postado em 16/03/2023

Todos os dias me impressiono com o tamanho das arvores de Auckland. Há inúmeros parques espalhados pela cidade, mas às vezes as árvores gigantes estão em uma calçada qualquer ou na beira da praia.

https://www.instagram.com/p/Cp14Ew7LA65/

Auckland, postado em 17/03/2023

O centro de Auckland é uma mistura de prédios antigos e moderno, às vezes em verdadeira fusão, como na primeira foto: o comprador do prédio antigo e do terreno foi obrigado a manter a fachada original e construiu seu edifício imediatamente atrás dela, colado mesmo.
#viagem #auckland

Arte de rua e o letreiro no fish market, que achei bem legal.

https://www.instagram.com/p/Cp6cSrjPyC7/ e https://www.instagram.com/p/Cp6ezVJvOSI/

Auckland, postado em 21/03/2023

As paisagens mais exuberantes da Nova Zelândia (aquelas do Senhor dos Anéis, exceto por Hobitton) estão na ilha sul. Auckland, porém, não decepciona, e mesmo sem sair da cidade a combinação de matas, colinas, mar e céu enche os olhos.

https://www.instagram.com/p/CqEWU7tBKUK/

Auckland, postado em 22/03/2023

Fotos de Auckland que não couberam nos posta anteriores:

  • Meat pie, que eles consideram uma comida típica da cidade (massa folhada e recheio de carne com molho cremoso, mas há várias variações, inclusive recheios doces)
  • Mount e One Tree Hill, vulcões inativos há séculos.
  • A praça pela qual eu passava para chegar à escola e que já me deixava contente logo cedo pelo verde.
  • Western Park, em Ponsonby, bairro badaladinho.
  • Árvore enorme no Albert Park.
  • Arte de rua (essa eu via da sala de aula).
  • Preparativos para a parada do St. Patrick’s Day.

https://www.instagram.com/p/CqGzjIBPet1/

Melbourne, postado em 23/03/2023

Melbourne se inspirou em Londres, Paris e Milão e se tornou sofisticada e glamourosa no séc XIX, quando ficou riquíssima graças à corrida do ouro. Edifícios e ideias dessa época se misturam a projetos contemporâneos e tornam a cidade atraente, interessantíssima e muito segura. Não foi sempre assim: nos anos 80, o centro era dominado pro gangues e tráfico de drogas. O poder público agiu e reverteu a situação nos anos 90 com iniciativas para ocupar as ruas, fomentando o movimento de pedestres e o comércio.

Que inveja…

https://www.instagram.com/p/CqJukigPHJZ/

Melbourne, postado em 25/03/2023

Melbourne é alternativa, diversa, hipster… e artística. A arte de rua é forte por aqui, com códigos e regras próprios (escritos e não escritos). Perder-se pelas ruas traz surpresas, mas vale a pena fazer um walking tour para saber mais sobre as vielas (lanes), galerias (arcades) e artistas da cidade. Fiz um com a @imfreemelbourne e recomendo.

https://www.instagram.com/p/CqNO3_TrsC7/

Melbourne, postado em 01/04/2023

O jardim botânico de Melbourne fica pertinho do centro, é lindo e tem entrada franca. Muitos locais fazem piquenique por lá. A última árvore do carrossel foi plantada em 1895! Bem em frente fica o Shrine of Remembrance, em memória dos soldados australianos mortos em guerras. Entrada franca também, com uma vista bem bonita da cidade.

https://www.instagram.com/p/CqgwK1UPeUX/

Melbourne, postado em 02/04/2023

Fui premiada com chuva no dia do passeio pela Great Ocean Road, mas mesmo sem sol as paisagens são muito bonitas. Ainda tivemos a sorte de ver dois cangurus (bem distantes, é verdade) e um koala fazendo o que koalas fazem melhor: dormir.

Não podia deixar de visitar Brighton Beach, com as famosas casinhas à beira-mar. Nesse dia o sol apareceu, mas fazia 14 graus, não se engane.

https://www.instagram.com/p/Cqh1ymrr2Xv/

Melbourne, postado em 04/04/2023

Passeios culturais grátis em Melbourne:

  • National Gallery of Victoria (são duas: uma para obras internacionais e outra para artistas australianos)
  • Australian Centre for the Moving Image (ACMI)
  • State Library e Museu de Melbourne, que custa 15 dólares, mas é de graça se você é estudante (a carteirinha digital do curso de inglês que fiz lá foi aceita).

Nas NGVs e no Melbourne Museum, tem visita guiada grátis. No ACMI, você ganha um cartão que permite salvar as informações das diversas peças em exibição e rever depois na internet.

Eu amo uma cidade, sabe.

https://www.instagram.com/p/CqnUDZMPRKR/

Melbourne, postado em 05/04/2023

Últimas fotos de Melbourne!

  • Scots’ Church, onde tive o prazer de conhecer o organista e maestro Douglas Lawrence.
  • Escultura em homenagem à Great Petition, um abaixo-assinado apresentado ao Parlamento em 1891 com mais de 30.000 assinaturas a favor do voto feminino. Apenas em 1908 o direito foi reconhecido e, para as indígenas, só em 1962. (A Nova Zelândia foi o primeiro país do mundo a garantir o voto feminino, em 1893, e sem discriminações).
  • Catedral de São Patrício, a maior da cidade.
  • Prahran Market, maravilhoso, uma espécie de Mercado Municipal de São Paulo, mas sem os golpes.
  • St. Kilda Beach.
  • Brighton Beach.
  • Yarra River, trecho próximo à minha hospedagem (se alguém quiser o contato, era um air bnb excelente e recomendo.

Estou em Sydney há 3 dias, fotos em breve!

https://www.instagram.com/p/Cqq_7FaPYa0/

Sydney, postado em 07/04/2023

Primeiras fotos de Sydney!

  • A Opera de Sydney é um espetáculo e farei um post só pra ela depois.
  • Darling Harbor, no dia em que cheguei (cedinho e frio).
  • Sede da prefeitura, de dia e à noite.
  • “We are not amused”, disse a rainha.
  • Galeria de Arte, prédio original e o mais recente, construído há poucos anos. Entrada franca.
  • Biblioteca Pública. Entrada franca.
  • Pavlova, sobremesa inventada na Austrália (mas os neozelandeses dizem que eles é que inventaram) em homenagem à bailarina russa.

https://www.instagram.com/p/Cqudp8Zrc4v/

Sydney, postado em 13/04/2023

As praias de Sydney são lindíssimas! Além disso, é realmente agradável estar em uma praia sem ambulante gritando, trocentas músicas tocando no volume máximo e gente bêbada sendo inconveniente (álcool e cigarro/vape são proibidos). Todo mundo se diverte.

As três primeiras fotos são de Bondi Beach, em seguida Manly Beach e as três últimas são de Watson’s Bay, que tem poucos trechos de praia (e não tão bonitos), mas tem sítios históricos e uma bela vista da cidade.

https://www.instagram.com/p/Cq_sv4NPQgN/

Sydney, postado em 14/04/2023

A arte de rua em Sydney não é tão vibrante quanto em Melbourne, mas tem seus bons momentos. A maioria das fotos foi feita em Newtown, bairro descolado um pouco afastado do centro; as três últimas são de Bondi Beach.

https://www.instagram.com/p/CrAeJzJLvlX/

Sydney, postado em 15/04/2023

Impossível não ficar fascinada pela Ópera de Sydney.

O formato de velas (ou conchas, dizem alguns) impressiona e é um feito de matemática e engenharia. As cerâmicas que revestem a construção (mais de um milhão delas) refletem a luz de diferentes modos. O arquiteto, Jørn Utzon, foi o segundo a ver sua obra listada pela UNESCO em vida (o primeiro foi o Niemeyer).

A construção demorou mais de 20 anos, o governo destituiu Utzon no processo e isso resultou em várias coisas mal feitas e muito dinheiro desperdiçado. Apenas após uma reforma de 10 anos (que acabou em 2022) a sala de concertos principal ganhou a qualidade acústica que sempre mereceu.

Além de fotografar o edifício de vários ângulos e de fazer a visita guiada, ontem tive o privilégio de assistir a um concerto nessa sala recém-reformada. Uma experiência emocionante.

https://www.instagram.com/p/CrE2CmkP9ig/

Sydney, postado em 17/04/2023

A Sydney Harbour Bridge é outro cartão postal inconfundível. Afinal, lá o ano sempre chega primeiro e os australianos fazem questão de fazer belas queimas de fogos para comemorar.

A ideia da ponte surgiu em 1890, mas a construção teve início em 1924 e se estendeu até 1932. A ponte gerava 1.400 empregos diretos e inúmeros indiretos, e diz-se que salvou a cidade da Grande Depressão justamente por criar tantos postos de trabalho durante aqueles anos sombrios. Seu apelido na época era “Pulmão de Ferro”.

A segurança para os operários era quase zero, e mesmo assim ninguém morreu (dizem) durante o processo. Houve alguns acidentes, inclusive um operário que caiu de uma altura de 50 metros e sobreviveu com apenas duas costelas quebradas. Ele foi recompensado com um relógio de ouro.

A famosa “escalada” da ponte custa mais de 300 dólares, é curta e desconfortável, mas tem gosto pra tudo, né? Eu preferi subir em uma das torres por 25 dólares. A vista é quase a mesma e inclui, claro, a Opera de Sydney.

https://www.instagram.com/p/CrIt2DVvkF5/

Sydney, postado em 26/04/2023

Passeios grátis bem legais em Sydney:

  • The Royal Botanic Garden.
  • Queen Victoria Building (QVB), de preferência depois que as lojas fecham, pra ver um “shopping” diferente, chique e com carpete.
  • State Library, que tem uma galeria com artistas locais de vários períodos e exposições temporárias, como a “Pride Revolution”, sobre a luta por reconhecimento e proteção do grupo LGBTQIA+ ao longo das últimas décadas.
  • Australian Museum, voltado para história natural e antropologia.
  • Justice e Police Museum, um tiquinho macabro mas muito interessante, sobre crimes. Vale lembrar que Sydney foi fundada pelos criminosos deportados da Inglaterra.
  • Museum of Sydney. A parte museológica é bem pequena, há exposições temporárias de arte.
  • Os belos parques e praças. Na foto, o Anzac Memorial, no Hyde Park.

https://www.instagram.com/p/Crg7WpYLwlJ/

Austrália, postado em 26/04/2023

Notinhas gastronômicas da Austrália:

  • Meus primeiros dumplings, no Tora Dumplings, em Melbourne.
  • A torta de carne (meat pie) é considerada uma especialidade australiana.
  • Há controvérsias (com a Nova Zelândia), mas os australianos afirmam que inventaram a pavlova.
  • Hot Cross Buns, que eles não inventaram, mas seguiram a tradição inglesa (como em outros quitutes).
  • Fish & Chips.
  • Espetinho de canguru (yep, come-se canguru, é uma carne silvestre, o bicho não tem predadores, reproduz adoidado e destrói plantações, por isso a caça é liberada).
  • Barramundi, peixe local.
  • Fish Market em Sydney, com bugs (um parente da lagosta) e Sydney oysters (as da bandeja preta; mais escuras do que estamos acostumados).

https://www.instagram.com/p/Crg8urOL9Rd/

Sydney, postado em 06/05/2023

Tanto a Nova Zelândia quando a Austrália fazem da inclusão e da diversidade bandeiras. Melbourne nem precisa de palavras para deixar claro seu apreço por essas causas, mas foi em Sydney que tive a maior surpresa.

Estava indo do ônibus pra Bondi Beach e de repente as ruas foram ficando mais e mais coloridas. Pensei que talvez fosse época da Pride Parade, mas o Google disse que não (tinha sido no fim de fevereiro). Uma pesquisa extra revelou que eu estava na Oxford Street, centro da cultura LGBTIA+ em Sydney. Na volta, desci a pé para conhecer a área. Era um sábado e pude aproveitar duas feiras de artesanato, além de ver pessoas de várias idades e identidades de gênero aproveitando o dia de folga, num clima leve, despreocupado. O bairro é Waverley e a subprefeitura tem um arco-íris pintado na entrada (penúltima foto). Novamente achei incrível ver o poder público apoiando abertamente a diversidade.

Num outro dia passeei por Newtown, uma área hipster que faz parte da região chamada Inner West, cuja subprefeitura também apoia a diversidade de gênero (última foto).

https://www.instagram.com/p/Cr5X-95OeQj/

Sydney, postado em 06/05/2023

Essa é pra encerrar os posts de viagem. Um cachorro falante na frente do Queen Victoria Building, cangurus em meio a vinhas (as uvas já tinham sido colhidas, ou estariam cobertas com redes para evitar que comessem todas) e, claro, a Ópera de Sydney.

https://www.instagram.com/p/Cr5YloUOO0i/

Porto Alegre

Das capitais da Região Sul, faltava conhecer Porto Alegre. Por ser uma cidade pouco turística, sempre deixava pra depois, até que a conjunção de passagens baratas com o feriado de páscoa fez a viagem acontecer.

Realmente, Porto Alegre não tem muitos atrativos turísticos, e ainda dei o azar de ir pra lá pouco antes da Bienal de Arte do Mercosul: os museus estavam fechados, preparando as mostras da Bienal. Sério, POA, não dava pra fechar depois do feriado? Ou pra deixar parte dos museus abertos? Enfim, não pude conhecer o acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), nem deu pra visitar o Santander Cultural.

MARGS em primeiro plano, prédio dos Correios ao fundo.
MARGS em primeiro plano, prédio dos Correios ao fundo.

Todos os museus do centro histórico têm entrada franca.

Também não rolou conhecer a Fundação Iberê Camargo que, incrivelmente, só funciona aos sábados e domingos, das 14h às 19h, nem a Usina do Gasômetro, fechada para reformas (passando na frente, fiquei com a impressão de que está abandonada, isso sim).

Achei meio estranha a falta de hospitalidade do portoalegrense, que guarda sorrisos como quem guarda ouro. Talvez o reflexo de ser uma cidade pouco turística. O mais engraçado foi quando parei numa lanchonete pra pedir informações para o atendente: “Por favor, a Rua José Inácio é essa?”. Olhando-me como se eu fosse uma ignorante completa, o atendente respondeu: “José Inácio não, Vigário José Inácio. E você já passou, é a debaixo”. Quase pedi desculpas.

Por-do-sol visto do hotel.
Por-do-sol visto do hotel.

Quanto tempo ficar

Fiquei quatro dias em Porto Alegre, mas três dias teriam sido suficientes. Se estiver com muita pressa, em dois dias dá pra ver os principais pontos turísticos. Por isso, POA serve bem como pit stop pra Serra Gaúcha.

Parque da Redenção visto do hotel.
Parque da Redenção visto do hotel.

O bônus é que o aeroporto é perto da cidade e tem, inclusive, um transporte público bacana que o liga ao centro (aeromóvel + metrô, ou melhor, trem de superfície, com ponto final no Mercado Público). Todo o percurso não dura meia hora. Não usei porque cheguei tarde da noite (a região do Mercado é perigosa depois que escurece) e na volta estava chovendo, o que me fez optar pelo táxi.

Onde Ficar

Fiquei no Intercity Cidade Baixa. Hotel de rede, não há muito o que falar a respeito. Foi inaugurado há pouco tempo e fica muito bem localizado, a cerca de 15 minutos (a pé) das atrações do centro histórico, e a uns 5 minutos do Parque da Redenção.

Ao fundo e à esquerda, vermelho, o estádio Beira-Rio
Ao fundo e à esquerda, vermelho, o estádio Beira-Rio

A Cidade Baixa é conhecida pela vida noturna e reúne opções para todos os gostos. O hotel fica a poucos minutos da boemia, longe o suficiente pra proporcionar noites de sono tranquilas. O café-da-manhã é bom (com opções low carb). O último andar fornece uma vista muito bonita da cidade. O armário do quarto em que fiquei é pequeno para duas pessoas – pra mim, que viajei com mochila, foi mais que suficiente.

O que fazer

Antes de descobrir os free walinkg tours, minha maneira preferida de conhecer uma cidade era com ônibus turísticos hop on/hop off (ou seja, com paradas em pontos turísticos, nas quais você pode descer e subir sem pagar nova passagem). Porto Alegre tem um muito bom, a Linha Turismo, que leva aos principais pontos de interesse enquanto conta um pouco da história da cidade. Desci no Parque Moinhos de Vento (apelidado de Parcão) e no Mercado Público de Porto Alegre.

O Parcão é bonito e bem cuidado, mas a atração principal – o moinho de vento – está fechada pra reforma. Mesmo assim, vale passear pelo parque, contemplar os patos e, sobrando tempo, dar uma volta pelo bairro Moinhos de Vento, o mais chique da capital.

Pato de topete :P
Pato de topete 😛

Descendo no Mercado Público, dá pra conhecer todo o centro histórico (gastei menos de duas horas), no qual se destacam belos prédios nos estilos eclético e art déco. Lembra bastante o centro de Buenos Aires, seja pela arquitetura, seja pela sensação de decadência, já que muitos prédios estão a merecer uma revitalização da fachada.

Mercado Público
Mercado Público

No centro, merecem destaque a Rua dos Andradas, a Praça da Alfândega e seus edifícios imponentes – MARGS, Santander Cultural, prédio dos Correios) e, claro, o Mercado Público. Na Rua dos Andradas, recomendo duas paradas: o Centro Cultural Érico Veríssimo e a Casa de Cultura Mário Quintana.

O Centro Cultural Érico Veríssimo fica em um prédio tombado construído nos anos 20. O sexto andar é o mais interessante, guardando rascunhos e anotações do autor para seus livros, inclusive um mapa de Antares (Incidente em Antares) e outro de El Sacramento (O Senhor Embaixador). O terceiro andar também trata das obras principais do escritor. O prédio tem, ainda, um (pequeno e desinteressante) museu sobre a energia elétrica.

Mapa de Antares, feito por Érico Veríssimo (1971)
Mapa de Antares, feito por Érico Veríssimo (1971)

Seguindo a mesma rua, chega-se à Casa de Cultura Mario Quintana, que funciona no antigo Hotel Majestic, no qual o poeta viveu por anos. O quarto que costumava usar está preservado e há também um pequeno memorial dedicado a Elis Regina. O centro cultural conta com fonoteca, bibliotecas e um jardim muito agradável. No último andar, há um café decadente, com serviço ruim e preços absurdos (um cappuccino e uma coca zero me custaram incríveis 27 reais). Suba se quiser apreciar a vista (que nem é essas coisas), mas dê meia volta sem consumir nada.

Casa de Cultura Mario Quintana
Casa de Cultura Mario Quintana

A Linha Turismo passa também pela Praça da Matriz (ladeada pela Catedral, pelo Theatro São Pedro e pelo Palácio da Justiça; sem parada), pela Usina do Gasômetro, pela Fundação Iberê Camargo e pelo Estádio Beira-Rio. O ingresso custa 30 reais. No centro de informações de onde ela parte dá pra pegar um mapa bacana da cidade.

Outro passeio interessante é a bordo do Cisne Branco, pelas ilhas do Guaíba. Dura cerca de uma hora e, proporciona uma bela vista da orla de POA e, curiosidade, uma das ilhas pelas quais o barco passa é a Ilha das Flores, do famoso curta-metragem do fim dos anos 80. O documentário é mencionado no passeio, mas nada se fala sobre a realidade dos catadores ou do lixão, e não consegui descobrir se ele ainda existe (desde 2014 os lixões estão proibidos no Brasil e os já existentes deviam ter sido fechados). O ingresso custa 35 reais no cartão ou 30 reais em dinheiro.

Passeio pelo Guaíba
Passeio pelo Guaíba

Finalmente, o Parque da Redenção (oficialmente Parque Farroupilha) é passeio imperdível. O parque de diversões, os pedalinhos e o trenzinho me levaram diretamente aos anos 80. O paisagismo da área central é muito bonito e é complementado por um belo e merecido monumento à Força Expedicionária Brasileira, com uma placa listando os soldados gaúchos mortos na Segunda Guerra Mundial. Queria conhecer o famoso Brique da Redenção, mas só funciona aos domingos. Na sexta-feira santa, havia apenas dez ou doze barraquinhas – numa delas comprei o tradicional ímã de geladeira pra minha coleção.

Parque da Redenção
Parque da Redenção

De volta aos anos 80.
De volta aos anos 80.
Parque da Redenção
Yabba-Dabba Doo!

Homenagem à FEB no Parque da Redenção
Homenagem à FEB

Porto Alegre tem um free walking tour, mas só sai aos sábados às 11 da manhã. Uma pena que seja tão limitado. Justamente no sábado em que passei na cidade choveu e, obviamente, não houve o passeio.

Outros pontos de interesse: Travessa dos Venezianos e Rua Gonçalo de Carvalho, considerada a mais bonita do mundo (ok, há um certo exagero nisso).

Travessa dos Venezianos
Travessa dos Venezianos
Rua Gonçalo de Carvalho
Rua Gonçalo de Carvalho

Onde Comer

La Basque Rooftop: fui pela vista, que é linda (muito mais bonita que a do café do Hotel Majestique), mas fiquei pelo cardápio. O sorvetes são enormes. O sundae é um dos menores e foi minha escolha. Lindo e delicioso. Fica no último andar do prédio da Lebes, loja de departamentos quase em frente ao Mercado Público. Olha só a vista:

Paço Municipal
Paço Municipal

Café à Brasileira: um achado no centro histórico, na Rua Uruguai. Tinha que matar umas duas horas e o café é grande o suficiente pra não ficar lotado a ponto de garçons quererem expulsar os clientes. Pedi um cappuccino que veio perfeito e um espresso romano (com raspas de limão), com um aroma sensacional. O cardápio é extenso, com opções de café-da-manhã, lanches, almoço e sobremesas. Passei o tempo com o kindle. Vale dizer que o café não tem internet.

Charlie Pub: descoberta deliciosa da amiga portoalegrense – uma casa especializada em brownies! Serve sorvetes, cafés e bebidas (tem drinks lindos), mas não há nada salgado no cardápio, o que não foi problema pra gente. Fica na Cidade Baixa.

Torta de brownie com recheio de doce de leite e cobertura de ganache de chocolate.
Torta de brownie com recheio de doce de leite e cobertura de ganache de chocolate.

Fiz questão de ir ao restaurante Koh Pee Pee, conhecido como o melhor tailandês do Brasil. Reservei por email e achei bem estranho quando a confirmação da reserva trouxe, também, o tempo máximo de permanência. Nunca tinha visto isso. Escolhi um menu semifechado de entrada, prato principal e sobremesa justamente pra não correr o risco de “estourar” o tempo (esses combinados costumam estar engatilhados na cozinha, saem rápido), mas extrapolei mesmo assim. Não por culpa minha, mas por demora no serviço, mesmo. Enfim, não me encheram a paciência por isso. O ambiente é bonito e climatizado (levei uma jaqueta que foi bem útil). A caipirinha de lichia que pedi estava ótima. A entrada (rolinho primavera com camarão, porco e legumes) estava muito boa, sequinha, mas confesso que não vi camarões. O prato principal foi pad kapao moo (porco picado com pasta de alho, pimenta, raiz de coentro e manjericão tailandês), acompanhado de arroz thai jasmim. Estava gostoso nas primeiras garfadas, mas depois me pareceu muito salgado e com um gosto forte de caldo de carne industrializado. Os demais temperos nem apareciam (a pimenta aparecia um pouco, claro, afinal era um restaurante tailandês). A sobremesa (banana empanada com calda de açúcar de palmeira e sorvete de creme) estava ótima, mas eu preferia menos sorvete – pô, todo mundo conhece sorvete de creme – e dois pedaços de banana, em vez de um (e pequeno). A banana vem empanada numa massinha leve com coco ralado e é uma delícia.

Resumo da ópera: só recomendo o Koh Pee Pee se você tiver mesmo muita curiosidade de visitar o famoso restaurante.

O tradicional Barranco estava nos planos, no último dia de viagem, mas foi por água abaixo por causa da chuva (perdão pelo trocadalho). Não deu tempo de ir na Lancheria do Parque (na frente do Parque da Redenção), famosa pelo “a la minuta”, prato típico da cidade composto de arroz, bife, ovo e batata frita.

Meios de Transporte

Andei a pé quase todo o tempo e me perdi horrores, primeiro porque seguir mapas não é comigo, segundo porque parece que é moda arrancar as placas com os nomes das ruas em Porto Alegre.

Além dos pés e da Linha Turismo, usei o táxi (via Easy Táxi). Para o aeroporto, custou meros 23 reais. Do aeroporto ao hotel, R$ 38,50 (bandeira 2).

Porto Alegre não tem metrô, exceto pela linha de superfície que liga o aeroporto ao centro histórico.

Custos da Viagem

  • Hotel: R$ 749,70
  • Comida e bebida: R$ 300,04 (quase metade no restaurante tailandês)
  • Transporte: R$ 90,50
  • Passeios: R$ 60,00

Cartagena das Índias

Fui a Cartagena em junho de 2016, numa viagem combinada com Bogotá. Cartagena é quinta maior cidade da Colômbia, mas nem parece, já que os turistas ficam “confinados” à região da cidade amuralhada – e isso não é ruim. A cidade é mais famosa por suas praias – e isso, sim, é ruim. As praias de Cartagena não são grande coisa e nem parece que você está no Caribe. O Nordeste brasileiro tem dezenas de praias infinitamente mais bonitas. Isso me decepcionou um pouco, mas encontrei outros atrativos na cidade e, de modo geral, recomendo a visita.

O que vale mesmo a pena em Cartagena são a arquitetura peculiar e a história da cidade, que foi sede do governo espanhol nas Américas durante o período colonial. Em 1984, o centro histórico (também chamado de cidade antiga ou cidade amuralhada/fortificada/murada) foi declarado patrimônio mundial pela Unesco.

Anoitecer em Cartagena.
Ruas charmosas e balcões floridos compõem Cartagena.

No frigir dos ovos, Cartagena me lembrou demais Salvador, com suas qualidades e defeitos.

Vamos aos detalhes.

Hospedagem

Não queria pagar o preço que os hotéis da cidade amuralhada cobram, então fiquei a uns dez minutos de caminhada, no bairro de Getsemaní. Acabou sendo uma ótima escolha para evitar o barulho da parte mais turística da cidade.

Fiquei no Zana, supostamente um hotel “boutique”. Na prática, era pouco mais que uma pousada e decepcionou. O quarto era minúsculo (para duas pessoas seria claustrofóbico, já que sequer tinha janela), a anunciada piscina é pouco mais que uma banheira grande e o chuveiro estava queimado, permanecendo assim todos os dias em que lá estive. O conserto estava marcado para dois dias depois da minha partida. Tudo bem que Cartagena é muito quente, mas mesmo assim não acho nada agradável tomar banho gelado logo ao acordar.

Por outro lado, o café da manhã era gostoso (servido em porções individuais, como costuma ser na América do Sul, não ao estilo continental) e a dona do hotel era muito prestativa, dando várias informações e reservando um táxi para a minha partida, no meio da madrugada (Só não foi prestativa para consertar o chuveiro, né.) O ar condicionado do quarto era excelente e a cama era ótima. Roupas de cama muito boas (mas toalhas muito ruins).

Café da manhã no Zana Hotel. (com fisális!) Café da manhã no Zana Hotel.

Tecnicamente, pode-se dizer (e o hotel diz) que Getsemaní está dentro da cidade amuralhada, porque há duas muralhas: uma interna (contramuralha), que a cidade antiga e a região turística por excelência, e outra externa, da qual sobram apenas poucos trechos. Getsemaní está entre as duas. É um bairro considerado boêmio, embora apenas algumas ruas o sejam (eu estava nessa área). O bairro é grande e a maioria dele é suja, pobre e pouco amigável. Getsemaní era a região onde viviam os pobres e miseráveis na era colonial, enquanto na cidade antiga vivia a elite.

Arte de rua no bairro Getsemaní.
Arte de rua no bairro Getsemaní.

Dito tudo isso, eu ficaria lá de novo, com as expectativas devidamente reduzidas. O Zana estava em reforma exatamente durante a minha estada, então talvez tenha melhorado. Ah, quase me esqueço: peça um quarto nos fundos se quiser mais silêncio.

Portal de las Reinas
Numa calçada na cidade antiga, as fotos das Misses Colômbia.

Onde comer

A gastronomia de Cartagena é para todos os gostos e todos os bolsos. O atendimento é sofrível na maioria dos lugares (eis uma das razões pelas quais a cidade me lembrou Salvador), mas há honrosas exceções.

Logo na primeira caminhada, descobri o Stefano’s Bistrô (Calle 31, em frente ao Parque Centenario que, por sua vez, fica em frente à Torre del Reloj, marco da entrada para a cidade antiga). Um achado! Preço justo, atendimento impecável, comida excelente, wifi e, maravilha das maravilhas, ar condicionado no talo. Comi camarões excelentes com arroz de coco e patacones. Patacones são plátanos (um tipo de banana comum por lá, muito semelhante à banana-da-terra, próprio para fritar) fritos e arroz de coco é… arroz feito com coco. É típico de Cartagena e uma das formas mais deliciosas de comer arroz. Em outra visita, comi tres leches, sobremesa típica dos nossos hermanos sulamericanos (não é exclusividade da Colômbia). Estava ótimo. O café preto, excelente.

Camarões, arroz de coco, patacones e guacamole, Stefano's Bistrô. Stefano's Bistrô

Um lugar badaladinho por lá é a Casa de la Cerveza, sobre a muralha externa. O espaço é enorme e quase todo ao ar livre. A brisa ajuda a aliviar o calor. As cervejas (na verdade, chopes) são muito boas, mas peça o copo pequeno pra não esquentar. A comida é razoável, o preço é caro e o atendimento é passável. Lugar bacana para encerrar o dia com petiscos e bebidas, mas não para jantar.

Casa de la Cerveza, sobre a muralha externa.
A Cartagena contemporânea ao fundo.

Outra dica fora da cidade antiga é a Laguna Azul, na entrada do Centro Comercial Getsemaní. O lugar é pouco mais que um boteco e a má vontade com turistas é flagrante (acabei ajudando uns holandeses que não falavam espanhol e eram solenemente ignorados). As mesmas pessoas que preparam a comida atendem as (poucas) mesas. O lugar tem horários de funcionamento aleatórios. Dito tudo isso, serve o melhor ceviche que já comi na vida, e por um preço excelente. Não é um lugar turístico (o que explica a má vontade), foi uma dica da dona da pousada e olha, que dica! Comi lá três ou quatro vezes. Dica: o boteco não tem banheiro, mas dentro do centro comercial há banheiros muito limpos (paga-se 700 pesos colombianos, uns 80 centavos de real).

Ceviche no Laguna Azul.
Ceviche no Laguna Azul.

A maioria dos bons restaurantes está dentro da cidade antiga.

Na cidade amuralhada, recomendo o El Baron Café, com chopes da BBC, excelente cervejaria artesanal colombiana. Comi uma entrada de champignon com crisp de presunto que não estava boa. O atendimento é bacana e o preço é puxado, mas vale pelo lugar muito agradável (tem wifi).

Falando em cervejas, por lá se vende uma chamada Club Colômbia, bem melhor que as brahmas daqui. A roja (vermelha) é bastante amarga, a rubia (loira) é mais leve (e a rubia long neck é mais leve que a mesma cerveja em lata).

Provavelmente o lugar que mais visitei em Cartagena foi a Gelateria Tramonti, com sorvetes artesanais (há outras sorveterias ditas artesanais pela cidade, mas essa é a única que recomendo). Preço justo por um sorvete de qualidade e matador no calor eterno da cidade. Todos os sabores são ótimos, mas recomendo especialmente o de breva (figo) por ser inusitado.

Há uma franquia da Crepes & Waffles (rede  de fast food onipresente em Bogotá) na cidade antiga. Opção para um lanche rápido e barato. Sem wifi.

Finalmente, o restaurante caro da vez. Em toda viagem tento fazer ao menos uma refeição mais elaborada, e o escolhido da vez foi o restaurante El Santísimo. Optei por um “pacote” de 145.000 pesos colombianos (algo em torno de 150 reais) que inclui entrada, prato principal e sobremesa, além de duas horas de bebidas. Nem todas as bebidas do cardápio estão disponíveis nesse menu especial, mas havia um bom Álamo Chardonnay, que foi a minha escolha. A entrada foi um carpaccio de polvo, o plato fuerte foi Salmon Vikingo (salmão assado com molho de mostarda, cebola caramelizada, aspargos e batatas rústicas) e a sobremesa foi La Lujuria (todas têm nomes de pecados capitais), um crepe de café com sorvete de creme e licor de menta. Tudo delicioso. O menu ainda incluiu água à vontade, café (excelente, como se espera na Colômbia) e licor (Bailey’s com gelo foi minha escolha). O restaurante é grande, com um visual elegante (não chega a ser sofisticado), e o atendimento foi primoroso, levando-me até a tomar mais vinho que o planejado. Recomendo muitíssimo.

Salmon Vikingo, Restaurante El Santísimo. Restaurante El Santísimo.

Não recomendo:

  • o badalado Café del Mar – caro e com atendimento sofrível, o que caiu muito bem, porque me levantei e fui embora. Fica sobre a muralha e é o “point” para assistir ao belo pôr-do-sol da cidade. Assista ao pôr-do-sol por ali, aproveite a música que o bar coloca para completar o momento, e vá embora.
  • La Cocina de Pepita, no Getsemaní. Super famoso, barato, comida supostamente boa, mas sempre lotado. Fiquei 20 minutos esperando mesa, vagaram duas ao mesmo tempo e o garçom queria me colocar numa minúscula, quase na porta e que estava vaga desde o início (fui embora, claro).

Queria ter ido ao Mar de las Antillas, no Getsemaní, que me foi muito bem recomendado, mas não tinha mesas disponíveis na área climatizada e não quis esperar.

Pôr-do-sol sobre a muralha externa, ao lado do Café del Mar.
Pôr-do-sol sobre a muralha externa, ao lado do Café del Mar.

Meios de transporte

A área turística é pequena e faz-se tudo a pé. Não vale a pena alugar carro ou andar de táxi pela cidade antiga – as ruas são apertadas e os pedestres têm preferência. Usei táxi apenas do aeroporto pro hotel e do hotel pro aeroporto.

Torre del Reloj. Bastante iluminada nesse dia por causa de um show na frente dela.
Torre del Reloj, a entrada para a cidade antiga. Mais iluminada que o normal nesse dia por causa de um evento.

Ao chegar no aeroporto de Cartagena, dirija-se ao guichê e diga para onde quer ir. Você saberá quanto terá que pagar ao taxista. Tenha dinheiro trocado, ou ele dirá que não tem troco e a corrida ficará um pouco mais cara.

Do aeroporto ao Getsemaní paguei 13.000 pesos colombianos; dará mais ou menos o mesmo até a cidade antiga. Na volta, foram 15.000, o que se justifica porque eram quatro da manhã. A dona do hotel contratou o táxi antecipadamente para que eu não corresse o risco de não encontrar nenhum.

Quanto tempo ficar

Quatro noites são suficientes. Eu fiquei seis e foi tempo demais, especialmente porque não curto praia.

Cartagena à noite.
Cartagena à noite.

O que fazer

Meus dias em Cartagena se passaram entre museus e caminhadas pela cidade antiga. É muito fácil perder-se e achar-se pelas ruas estreitas, e muito gostoso caminhar a esmo, admirando a arquitetura. Como o calor é intenso, deixava essas caminhadas para o fim da tarde (a noite é agitadíssima por lá e as lojas ficam abertas até pelo menos dez da noite – a maioria vai além desse horário).

Claustro de la Merced. O busto guarda as cinzas de Gabriel García Marquez desde maio de 2016.
Claustro de la Merced. O busto guarda as cinzas de Gabriel García Marquez desde maio de 2016.

Além disso, há as praias, claro, mas, como eu disse lá em cima, me decepcionaram.

Lá vai a lista de passeios que fiz.

Free Walking Tour

Busco free walking tours em toda cidade pra onde viajo desde que os descobri. Nada mais são que um passeio a pé (que varia entre uma hora e meia a três horas, dependendo da cidade) com um guia local e “gratuito” – o pagamento pelo trabalho fica a critério do turista. É aceitável qualquer coisa entre 5 e 10 dólares (independentemente da moeda local). Caminhar é a melhor forma de conhecer qualquer cidade, e com um guia local a experiência é muito rica.

Ricardo Carmona.
Uma das várias esculturas de Ricardo Carmona.

O passeio pela cidade antiga dura quase duas horas, durante as quais aprende-se sobre a formação da cidade que veio a se tornar o maior entreposto de escravos das Américas. Sendo uma cidade riquíssima, atraiu inúmeros piratas franceses e ingleses, e para afastá-los foram construídas a muralha externa e a interna (contramuralha). Depois da construção das muralhas, os ataques passaram a ser em mar aberto, a fim de tentar capturar os navios que transportavam pedras preciosas, ouro e escravos. Há inúmeros naufrágios na região, com destaque para o Galeão San José, afundado em 1708, hoje um sítio arqueológico e patrimonial. Estima-se que esse galeão abriga um tesouro de milhões e milhões de dólares.

O guia falou sobre as aldravas que adornam as portas das construções na cidade antiga, cada decoração simbolizando uma determinada elite (religiosa, militar, marinha mercante). Também contou sobre a Índia Catalina, que aprendeu os costumes espanhóis e tornou-se uma espécie de “pocahontas” e falou de Pedro Claver, jesuíta, o único religioso que cuidava dos negros feridos, canonizado por Leão XIII. Contou, ainda, dos autos de fé da época da Inquisição, e deu uma miríade de outras informações.

Botero na cidade antiga.
Botero na cidade antiga.

O site com horários e ponto de encontro é freetourcartagena.com.co. Recomendo e, se possível, faça logo no primeiro dia, para aprender logo a se localizar na cidade antiga.

Praia

Cartagena é uma cidade portuária, logo as praias ao redor da cidade são feias. É necessário afastar-se um pouco para chegar a praias razoáveis. Digo “razoáveis” porque, como deixei claro no início, elas são bem fraquinhas.

O passeio mais comum – e barato – é para Playa Blanca, uma praia pública à qual se chega de barco (45.000 pesos) ou ônibus (30.000 pesos). Problema: vendedores ambulantes assediam os turistas o tempo todo, é impossível ter um minuto de paz.

Sabendo disso, descartei o passeio e optei pela Isla del Ecanto, uma das praias privadas. Chega-se de lancha rápida e a viagem dura uma hora. Dica: vá na frente para se molhar menos e evitar o barulho do motor (mas na frente há mais impacto quando se chega ao mar aberto).

A Isla del Encanto é de propriedade de um hotel. Os turistas de Cartagena ficam com a “praia dos fundos”. A areia é branca e a água é uma delícia, quentinha, mas há pouco espaço para nadar, demarcado por bóias para evitar acidentes com embarcações. O passeio inclui um almoço simples, mas gostoso (pontos extras para o arroz de coco). O bar vende drinks ótimos a 22.000 pesos (mais 8% de impostos e 10% de serviço), o lugar em que vi drinks mais baratos na Colômbia. Os visitantes podem contar com camas deliciosas para espreguiçar em frente ao mar. Podem pagar por serviços de spa e mergulho com cilindro. Importante: cartões não são aceitos! Leve dinheiro (pesos colombianos – dólares também não são aceitos).

Isla del Encanto
Camas para relaxar com um bom mojito por perto.

A saída para Isla del Encanto é às nove da manhã e o retorno é às três da tarde. Os passeios saem do muelle (pier) à direita da Torre del Reloj (uns dez minutos de caminhada). É bom comprar com antecedência. Todos os passeios são vendidos em lojinhas no muelle e o preço entre uma e outra não varia muito.

Museus

Museo Histórico: pequeno, mas interessante. Foca na história da Inquisição em Cartagena, que não foi bolinho. Nos vários autos de fé ali realizados, ninguém foi absolvido e cinco foram condenados à morte por fogo. Na entrada do museu, oferecem-se áudio-guia e pessoa-guia, ambos desnecessários. Não lembro o valor do ingresso, mas foi barato.

Museo Naval del Caribe: museologia antiquada, com muito texto e poucos dioramas interessantes. Não guarda peças antigas. Seria bem sem graça, se não fosse por ter uma réplica de submarino no andar de cima, com luzes, sons, painéis, cadeiras, tudo em escala! Fiquei como criança lá dentro. Vale a visita pelo submarino. Ingresso: 8.000 pesos.

Submarino do Museu Naval do Caribe.
Réplica de submarino no Museu Naval do Caribe.

Museo de Arte Moderno: caro pelo pouco que oferece (8.000 pesos), mas eu tinha tempo e havia uma exposição bacana com desenhos que ilustravam passagens de Cem Anos de Solidão. Também havia obras bonitas de artistas colombianos, com destaque para as de Cecilia Porras e Enrique Grao.

Castillo de San Felipe de Barajas: nesse vale a pena contratar um guia, porque não há explicações escritas e alguns lugares só podem ser visitados com guia, particularmente os túneis onde dormiam os guardas do forte. Um desses túneis tem 120 metros de comprimento e 27 metros de profundidade. É muito bacana entrar nos túneis, mas nada recomendado a quem tenha claustrofobia. O castillo fica na muralha externa e tem sete baterias, cada qual construída numa época. A entrada é 25.000 pesos e a companhia do guia custa 10.000 pesos. É um passeio caro, mas achei que valeu a pena.

Castillo de San Felipe de Barajas
Castillo de San Felipe de Barajas.

Dicas Finais

Sendo uma cidade muito turística, Cartagena é obviamente mais cara que Bogotá, e o câmbio é pior. Se puder, troque seus dólares (não reais, nunca reais, que têm uma cotação muito ruim) em Bogotá, que até no aeroporto terá cotação melhor que em Cartagena. Quando fui, o câmbio no aeroporto de Bogotá era 1 dólar por 2.810 pesos. Em Cartagena, 1 por 2.800. Em Bogotá, oscilava entre 2.830 e 2.870.

Os preços nos cardápios dos restaurantes não incluem 8% de impostos. A taxa de serviço recomendada é de 10%.

Não sei se uber e outros aplicativos funcionam em Cartagena porque andei a pé o tempo todo. Em Bogotá, uber era proibido em 2016 e o motorista flagrado tinha o carro guinchado.

Artesanato é mais barato em Bogotá que em Cartagena (mas a diferença não é tão grande). Exceto as esmeraldas. Há uma infinidade de lojas que vendem brincos, colares, anéis etc. com esmeraldas, por um leque de preços igualmente infinitos. Comprei um par de brincos numa loja chamada Arteralda, que não tem cara de joalheria, tem preços bacanas e oferece certificado de autenticidade. Endereço: #32-12 Local 3. E sim, os endereços são bizarros na Colômbia, mas você pega logo o jeito. Basicamente, a lojinha fica entre os números 12 e 32 da Rua 3.

Fim de tarde em Cartagena.
Fim de tarde em Cartagena.

Cidade do México (CDMX)

A Cidade do México (CDMX) é uma megalópole com cerca de 25 milhões de pessoas (São Paulo, pra você ter uma ideia, tem cerca de 15 milhões) e todas elas usarão o metrô na mesma hora que você. Vale a pena passar alguns dias na cidade, mas não muitos.

Veja todos os posts sobre a viagem ao México.

Hospedagem: fiquei na Zona Rosa e recomendo o lugar. Escolha uma hospedagem próxima de uma estação de metrô (linha 1 – rosa). Eu estava próxima à estação Sevilha. Também estava perto (cerca de 600 metros) do Bosque de Chapultepec, o que foi ótimo. A hospedagem em si era bem ruim, por isso não vou mencioná-la.

Onde comer: a Zona Rosa é famosa pelos restaurantes, mas pouco aproveitei. Comi duas vezes na Maison Kayser, especializada em cozinha francesa – e lá provei o muito mexicano pan de muerto, uma delícia que só é feita na época do Día de Muertos – e jantei uma vez no restaurante El Bajio, dentro de um shopping (Paseo de la Reforma, 222), que proporcionou o melhor atendimento da CDMX e um chicharrón (pururuca) de lamber os beiços, além de finalmente ter provado mezcal, destilado de agave que se serve com laranja e sal de gusano (gusano é aquele verme que você vê dentro de algumas garrafas de tequila e eu só descobri isso depois, felizmente).

Pan de Muerto com recheio de nata. Tacos, chincharón, guacamole e michelada.

Meios de transporte: o trânsito é caótico, travado, um inferno. As cores dos semáforos são meras sugestões, ignoradas pela maioria. A forma mais rápida de locomoção é via metrô – que é sujo, lotado e vai te fazer caminhar um tanto entre a estação e onde quer que você queira ir. O lado bom é que é barato – o bilhete custa 5 pesos, ou 1 real. Dizem que os taxistas são picaretas, recusam-se a ligar o taxímetro e, quando ligam, fazem o pior caminho possível (what else is new?). O uber é legalizado na CDMX e usei umas três ou quatro vezes. Easy Taxi também funciona, mas não usei. O único táxi que tomei foi do aeroporto à hospedagem, que é pré-pago (225 pesos, para a Zona Rosa).

Quanto tempo ficar: três dias são suficientes. Eu fiquei quatro (cheguei na tarde do dia 28/10 e fui embora na manhã de 01/11) e foi tempo demais. Adorei os passeios que fiz, mas não gostei do caos da cidade e não via a hora de ir embora.

Passeios imperdíveis:

  • Estación México: pulqueria/luta livre (500 pesos), free walking tours e visita a Teutihuacán (400 pesos) – recomendo todos os passeios.
  • Museo Nacional de Antropología
  • Teutihuacán: já falei no primeiro item, mas não quero que você passe batido; tente ir numa segunda-feira, dia em que todos os museus da CDMX estarão fechados e você não terá o que fazer na cidade.

Se tiver um dia a mais:

O que faltou: queria ter conhecido o Palacio de Bellas Artes por dentro e queria ter visto uma apresentação do Ballet Folklórico de México que, aliás, ocorre exatamente no Palácio de Belas Artes.

Quanto gastei:

  • hospedagem: 3.933 pesos (quatro noites)
  • transporte: 455 pesos
  • alimentação: 1.866 pesos
  • passeios: 1.155 pesos

Se você quiser ler os detalhes dos quatro dias pela CDMX, acomode-se e vá em frente.

Dia 1

Cheguei no começo da tarde, cochilei por uma hora e fui ao Bosque de Chapultepec. Recomendo que essa seja a sua primeira parada na CDMX. Primeiro, porque o bosque é lindo. Segundo, porque é nele que fica o Museu Nacional de Antropologia e, se você quer saber um pouco sobre as civilizações pré-hispânicas, esse museu é parada obrigatória. O famoso “calendário maia” (que não é um calendário e tampouco é maia) está lá e impressiona ao vivo. Há várias ruínas e templos reconstruídos e repintados para simular como teriam sido na época das grandes civilizações que viviam no México antes da chegada dos espanhóis.

Pedra do Sol (conhecida como "calendário asteca").
Pedra do Sol (conhecida como “calendário asteca”).

O Museu de Antropologia é enorme, eu estava cansada da viagem e depois de umas duas horas já não tinha muita paciência. Se tivesse, ficaria umas quatro horas por lá. Calcule no mínimo duas horas  para esse museu. A entrada custa 65 pesos.

À noite, fiz um passeio guiado para conhecer uma pulqueria e assistir a uma apresentação de luta livre. Esse foi o passeio mais divertido na CDMX.

O pulque é uma bebida fermentada feita de agave, a mesma planta que dá origem ao mezcal e à tequila (ambos destilados). É altamente perecível, por isso você não encontrará em nenhum outro lugar além das pulquerias, bares que fabricam e vendem seus pulques diariamente. Puro, é uma bebida branca, um pouco viscosa e ligeiramente azeda, com um cheiro que me lembrou vagamente a jaca (mas mais fraco). Ninguém o bebe puro, mas sim misturado, ganhando o nome de pulque curado. As misturas são as mais diversas possíveis e variam a cada dia. Quando fui, as opções eram frutas vermelhas, morango com leite (igualzinho a um iogurte) e, pasme, aipo, que ficou ligeiramente salgado e muito gostoso – era como beber salada (eu sei, soa esquisito, mas juro que estava gostoso).

Pulqueria.

O teor alcoólico do pulque é de uns 5%, fraquinho. As bebidas são substanciosas e com dois copos eu estava satisfeita a ponto de nem pensar em jantar. Os mexicanos dizem que um copo de pulque equivale a um bife em valor proteico, razão pela qual a bebida é servida inclusive a crianças, com alguma diluição (mas na pulqueria não entra menos de dezoito anos, e todos do grupo tiveram os passaportes conferidos). Na época das civilizações pré-hispânicas, o pulque era uma bebida da elite e tomado apenas em cerimônias religiosas.

De lá, fomos à luta livre. Acho que é de conhecimento geral que as lutas são armadas, são verdadeiros espetáculos coreografados. O que eu não sabia é que são um enorme evento no México! Fomos à Arena México, que comporta quinze mil pessoas (ou vinte mil – agora não tenho certeza) e estava lotada, em sua maioria por mexicanos (não é uma coisa armada para turistas). A guia nos explicou que até os anos 70 os lutadores eram os verdadeiros super-heróis das crianças mexicanas – nada de Capitão América, Super Homem ou Flash. Entram no ringue os Bons (que jogam limpo) e os Maus (que trapaceiam), cada grupo sempre no mesmo corner. As acrobacias são caprichadas e a vibração do público é tanta que você começa a torcer junto e se indigna quando o juiz dá a vitória aos Maus. Mas no fim os Bons sempre ganham (eu acho).

Luta Livre, Arena México.

Há lutadoras também, coisa que eu não sabia. E há uns rapidíssimos números de dança folclórica mexicana entre uma luta e outra. Sim, são várias lutas na mesma noite. O espetáculo começa às nove da noite e vai se desenvolvendo até chegar à luta principal, pouco antes das onze horas.

Não teria tanta graça ir à luta livre sozinha, e certamente eu não teria me metido só em uma pulqueria (sequer saberia da sua existência). Então, recomendo fortemente o passeio guiado que fiz, com a Estación Mexico e comprei o tour ainda no Brasil. Todos os outros passeios que fiz na CDMX foram com a mesma equipe.

Dia 2

Foi o dia de conhecer o metrô de CDMX – e de ficar um tanto traumatizada -, de andar pelo centro – mais traumático ainda – e de fazer dois free walking tours com a Estación México.

Sempre achei que a melhor forma de conhecer uma cidade é caminhando por ela. Meu primeiro free walking tour foi em Santiago do Chile (post em breve, espero) e desde então sempre busco esse tipo de passeio quando viajo. Gente do local traça um roteiro a pé a ser percorrido com os turistas, revelando um pouco da história e da cultura da cidade, em troca de gorjetas. Às vezes um valor é sugerido (no Chile, sugeriram 5 dólares), às vezes não (eu dei 50 pesos em CDMX e, pelo que reparei, as gorjetas variaram entre 50 e 100 pesos). Você pode não dar nada, mas acho sacanagem. Pra que ser tão muquirana?

tour pelo centro (ou zócalo) foi feito num sábado de manhã. O metrô e as ruas não estavam tão lotados, mas isso mudaria ao longo do dia. A guia disse que o nome “zócalo” significa “base” e a praça localizada no centro da cidade (oficialmente chamada de Plaza de la Constitución) ganhou esse apelido porque em 1843 o presidente Antonio López de Santa Anna lançou as bases para um monumento nunca concluído. A wikipédia confirma essa história, mas o lance é que toda praça central de cidade mexicana é conhecida como zócalo.

Antes dos espanhóis, a região do zócalo fazia parte da capital do império asteca. Inúmeras ruínas foram encontradas por lá, como também por toda a CDMX. No princípio do século XX, estabeleceu-se que toda terra em que se encontrasse uma ruína ou um artefato pré-hispânico passaria a ser propriedade do governo mexicano. Por isso, especula-se que muitos achados jamais foram entregues às autoridades, por medo das pessoas de perderem suas terras.

Outra curiosidade sobre o zócalo da CDMX é que originalmente a região era alagada. Aos poucos, as águas foram direcionadas a canais e, com o tempo, eles foram aterrados. Acontece que, devido às águas subterrâneas, a região está sujeita a forte movimentação, com efeito direto sobre as construções. O prédio da Sears em frente ao Palácio de Belas Artes deixa isso bem nítido – observe a fenda entre ele e o prédio vizinho.

A instabilidade do terreno afastou os prédios.
A instabilidade do terreno afastou os prédios.

Durante o passeio, a guia falou sobre Josefa Ortiz de Domingues, uma das raras personagens femininas da história do México. Trata-se de figura importante na conspiração que culminou na independência do México, conhecida por passar informações estratégicas dos espanhóis aos insurgentes.

A universidade mais importante do México está junto ao zócalo e tradicionalmente cada curso apresenta uma arte/oferenda, em forma de pirâmide, para celebrar o Día de Muertos. Também são feitos tapetes com serragem colorida, ao estilo dos que se fazem no Brasil em Corpus Christi.

Pirâmide/oferenda feita para celebrar o Día de Muertos.

No caminho, passamos pelo antigo Real Hospital del Divino Salvador para Mujeres Dementes. No fim das contas, nenhum tratamento médico era dado às mulheres confinadas – todas as perturbações eram atribuídas a demônios.

O prédio mais bonito do trajeto, por dentro, é o Palácio Postal, construído em 1901. Por fora, o edifício mais impressionante é o Palácio de Belas Artes – tome distância para ver também a sua abóbada dourada. Dizem que é lindo por dentro, mas acabei não conhecendo (há obras de Diego Rivera e de outros artistas expostas do Palácio).

Palácio Postal Palácio de Belas Artes

Junto ao Palácio de Belas Artes fica a Torre Latinoamericana, que possui um mirante (entrada paga) com uma bela vista da cidade – isso disse a guia, eu não subi porque os dias em que tive a oportunidade estavam nublados.

O passeio passa também pelo Convento de São Francisco, o maior de toda a América, posteriormente desmembrado em vários prédios. Na frente dele fica a Casa de los Azulejos, construída no estilo barroco mexicano. É na frente dessa casa que se encerra o passeio, depois de cerca de duas horas e meia.

Palácio dos Azulejos
Palácio dos Azulejos

Eu estava inscrita também para o free walking tour da tarde, que começava às três horas em Coyoacán, um bairro um tanto distante do centro. Assim, não tinha muito tempo para comer. Parei no Salón Corona e, vencida minha repugnância inicial, pedi um taco al pastor (que é feito de carne de porco e lembra bastante o famoso churrasco grego, comum no centro do Rio de Janeiro e origem da minha repulsa), acompanhado de uma michelada – cerveja com limão e sal (alguns lugares acrescentam molho inglês e pimenta – fica gostosa, juro). O taco estava bom, mas era pequeno; pedi uma quesadilla dorada para complementar (feita com a mesma tortilla do taco, mas tostada, ou “dourada”). Até tinha a intenção de comer mais, mas o lugar começou a encher, o atendimento ficou horrível e tive que ir embora praticamente correndo para Coyoacán.

…E o inferno estava do lado de fora.

Você viu o filme novo do James Bond? Eu não, mas sei que há uma cena que se passa durante um desfile pelo Día de Muertos na CDMX. Pois bem, esse desfile não existia, mas a Secretaría de Turismo do México percebeu a oportunidade para atrair turistas e em 2016 organizou, pela primeira vez, um desfile nos moldes do filme. A vida imita a arte, veja só.

Tudo muito bem, tudo muito bom, só que a CDMX em peso resolveu ir ao centro ver o tal desfile. Parece que foi mesmo um acontecimento. Pra mim, foi um suplício. Enquanto a multidão afluía ao centro, uma ou duas horas antes do desfile, eu tinha que ir na direção contrária até a estação de metrô mais próxima (obs.: as estações de metrô na CDMX nunca são próximas o bastante) em direção a Coyoacán. Se eu fosse o James Bond, teria sido fácil. Como não sou, foi uma luta.

Cheguei ao metrô não sei bem como. Milagrosamente, estava vazio no sentido que eu queria. Ah, que ilusão… depois que baldeei para a outra linha, o metrô entupiu de gente. Vale dizer que os mexicanos não entram no metrô, eles se jogam, passando por cima de quem já está dentro – inclusive de crianças. É uma coisa horrorosa.

Foi por um triz que não perdi o tour em Coyoacán – e que bom que não perdi, porque o bairro é lindo! Coyoacán é um dos bairros mais antigos da cidade. Já foi o bairro boêmio, onde se reuniam os artistas – a casa-museu de Frida Khalo fica lá – e ainda conserva algumas partes boêmias, mas boa parte do bairro se tornou cara, com seus casarões (com pátios enormes, da época em que havia estrabarias dentro das casas) sendo ocupados por políticos, juízes e outras figuras da elite. Coyoacán deixou de ser o bairro mais chique da CDMX nos anos 90, perdendo o posto para Santa Fé.

Coyoacán foi fundado pelos tepanecas, pré-hispânicos que chegaram à região depois que os espanhóis já tinham destruído a capital asteca (no centro histórico, lembra? eu disse que os bairros não são próximos – uns 40 minutos no metrô – e essa distância era muito mais significativa no século XVI). Os tepanecas tinham seus próprios problemas com os astecas, que lhes cobravam altos tributos; assim, aliaram-se aos espanhóis na guerra contra os astecas. Apenas em meados do século XIX a região foi incorporada à capital do México.

O bairro tem início no Rio Magdalena, considerado o último rio vivo da cidade (muito poluído e de cheiro desagradável, diga-se, mas assim que você entra no bairro ele fica pra trás). Coyoacán, como o centro, era cortado por rios, que aos poucos foram canalizados ou secaram.

Na região surgiu uma profissão nova, ainda na época colonial, a de “sereno”. O sereno passava pelas ruas tocando uma campainha e carregando uma vela, de modo a tornar a a área mais segura.

As casas de Coyoacán não tinham números, mas nomes: Casa do Sol, Casa León Rojo (onde morava o presidente da República em 1986) etc. As ruas guardam muita história, inclusive em seus nomes. A Calle Salvador Novo, por exemplo, foi nomeada em homenagem a importante cronista dos anos 20. À parte sua contribuição para o registro histórico do período em que viveu, Salvador Novo declarou-se gay uma época em que ninguém o fazia, chocando a sociedade.

Entramos numa casa típica do bairro, onde hoje funciona a Fonoteca. Dizem que Pedro de Alvarado morou nela. Alvarado é considerado o primeiro genocida da história do México: ao ver os astecas realizando sacrifícios humanos por ocasião da festa dos mortos, pensou “se eles se matam entre si, vão nos matar também”  e atacou a civilização, promovendo larga matança.

Arquitetura típica de Coyoacán, casa com pátio enorme (Fonoteca).

Octavio Paz (Nobel de Literatura em 1990) certamente viveu na casa hoje ocupada pela Fonoteca. Paz dedicou-se a descobrir o que faz do mexicano mexicano, buscando contexto histórico para os hábitos e o comportamento do povo. Cunhou o termo “malinchista” para definir o mexicano que prefere outra cultura. Malinche foi uma indígena famosa por aprender idiomas rapidamente. Foi peça-chave na conquista do México pelos espanhóis, aliando-se a eles e tornando-se amante de Hernán Cortés, com quem teve filhos (Cortés só não se casou com ela porque não seria de bom tom casar-se com uma nativa). Assim, Malinche escolheu os espanhóis em detrimento de seu próprio povo.

Coyoacán tem alguns bonitos exemplos do muralismo (ou grafite, como costumamos chamar).

Arte urbana em Coyoacán.

Na Plaza de Santa Catarina, há uma igreja com uma só torre. Os espanhóis costumavam construir igrejas de uma torre para santos, e de duas torres para virgens. Santa Catarina era virgem e, originalmente, a igreja tinha duas torres; acontece que uma caiu e nunca foi reconstruída. Chama a atenção o enorme pátio na frente da igreja – era grande para comportar os negros e índios que, devidamente catequizados, tinham a obrigação de frequentar a missa, mas não podiam entrar nas igrejas.

Ainda sobre religião: originalmente, as famosas piñatas eram instrumentos de evangelização. Os espanhóis faziam uma estrela de sete pontas, representando os sete pecados capitais. As pessoas eram vendadas como um símbolo de fé e deviam destruir a piñata – os pecados – sendo, então, recompensadas com doces. Eram usadas somente durante Las Posadas – os nove dias que antecedem o Natal.

Curiosidade final: em espanhol, diz-se “ojo” (olho) com o sentido de “tome cuidado”. Em Coyoacán, é comum que se diga “águas”. Isso vem da época em que, sem esgoto encanado, as pessoas jogavam dos balcões de suas residências a água suja, gritando “águas” para alertar os transeuntes. Pela mesma razão, desenvolveu-se a tradição de a mulher andar pelo lado de dentro da calçada – mais próxima às casas – e o homem pelo lado de fora – mais próximo à rua. Assim, a água descartada menos provavelmente atingiria a mulher.

E aqui acaba – finalmente! – o tour pelas ruas da CDMX!

Dia 3

O domingo foi um dia livre, no fim das contas. Era o dia em que talvez fosse a Xochimilco (desisti depois de ler os comentários no Trip Advisor – não é meu tipo de programa) e aos museus de Frida Khalo e Diego Rivera (no museu da Frida Khalo não há obras dela, é uma casa-museu – e cara – o que me fez desistir; e não valia a pena ir tão longe só pelo museu de Rivera). Devia ter ido ao Palácio de Belas Artes, mas deixei para o dia seguinte e me dei mal, já que o prédio não abre às segundas-feiras.

Aproveitei para passear novamente pelo Bosque de Chapultepec, muito perto de onde estava hospedada, e visitei o Castillo, que abriga o Museu Nacional de História (a entrada custa 65 pesos). O castelo foi construído para ser a residência de verão do vice-rei da Nova Espanha. Foi abandonado depois da independência do México e em 1833 passou a abrigar o Colégio Militar. Durante a guerra contra os Estados Unidos, seis cadetes, entre 14 e 20 anos de idade, morreram defendendo o castelo – são os Niños Heroes, homenageados em monumentos, estação de metrô etc.

Bosque de Chapultepec (vista do Castelo).
Bosque de Chapultepec visto do Castelo.

Quando o México foi conquistado pelos franceses (1863), o Castelo se tornou a residência oficial do Imperador Maximiliano de Habsburgo e de sua esposa, a Imperatriz Carlota.

Durante o mandato de Porfírio Díaz (presidente/ditador que ficou no poder por trinta anos), o Castelo foi remodelado e tornou-se sua residência oficial. O que se vê nele, hoje, é principalmente o reflexo dessa época: aposentos pessoais de Diaz, aposentos oficiais e objetos que pertenceram a essa figura histórica. Os jardins são muito bonitos, bem como a vista que se tem do bosque. É um bom passeio, mas não é imperdível.

Jardim do Castillo de Chapultepec.
Jardim do Castillo de Chapultepec.

Em seguida, fui ao Museo Soumaya, em Polanco (uma das vezes em que recorri ao uber). O museu impressiona desde o lado de fora. Por dentro, tem seis andares e muitas exposições temporárias. A principal delas, quando fui, era de obras de Rodin e seus discípulos. Também havia uma exposição de impressionistas (em que não encontrei um único quadro de Monet, para meu espanto), uma de arte religiosa, uma de fotografia (que não me interessou muito), outra de arte contemporânea (que raramente me interessa) e uma de arte chinesa e japonesa de inspiração antiga, mas me pareceu que todos os objetos expostos eram do século XX (passei rápido por essa parte). O museu é privado, pertence à Fundação Carlos Slim que, por sua vez, é dono da companhia telefônica TelMex, da Claro e de várias outras mundo afora. A entrada é franca.

Dia 4

O dia mais aguardado dessa etapa da viagem enfim chegou: dia de conhecer as Pirâmides de Teotihuacán!

Visitei alguns sítios arqueológicos no México e esse foi o que mais me impressionou (sim, mais que Chichen Itza). A zona arqueológica é enorme, bem como as pirâmides – e você pode subir ao cume da pirâmide do sol, uma experiência um pouco cansativa, mas recompensadora.

Fiz o passeio com a Estación México e paguei 400 pesos. Esse valor incluiu as passagens de ida e volta em transporte público (na ida, ônibus urbano + ônibus intermunicipal; na volta, ônibus intermunicipal + metrô), a entrada para a zona arqueológica (65 pesos) e o passeio guiado pelas ruínas (você pode contratar um guia na hora por preços que variam entre 200 e 400 pesos). Você não precisa pagar por um passeio guiado, mas as ruínas serão menos interessantes sem as explicações.

Saímos do Palácio de Belas Artes por volta das 8h30 e chegamos na zona arqueológica às 11h. A primeira pirâmide não impressiona tanto mas, antes que eu pudesse ficar decepcionada, começamos a caminhar e fiquei encantada com o tamanho da área de ruínas. Você caminha pelas antigas ruas do que era o centro da cidade de Teutihuacán, passa pelos vestígios de diversos prédios e começa a imaginar como teria sido a vida desse povo há 1.500 anos, quando ela estava sem seu apogeu. A verdade é que ainda há muito por descobrir – quase tudo que se sabe é especulativo e cada nova descoberta muda as teorias que já eram tidas como certas. Nesse exato momento, há arqueólogos trabalhando nas ruínas e descobrindo novos artefatos, novos painéis coloridos, novas esculturas.

É mais fácil começar pelo que não se sabe: não se sabe qual era a civilização que ocupava Teutihuacán (não, nada de astecas ou maias, Teutihuacán é mais antiga que esses povos), não se sabe se tinham escrita (prefiro a teoria que diz que eles tinham escrita, mas ainda não foi encontrado algo como a pedra de roseta para decifrá-la) e não se sabe o que levou ao declínio da civilização. Não se conhece o significado exato de vários símbolos e adornos.

O que se sabe (mais ou menos): as pirâmides não guardam sarcófagos e tesouros, diferentemente das egípcias (e isso vale pras demais pirâmides no México). São praticamente maciças, com uns poucos túneis e salas. Provavelmente, eram erguidas como representação dos deuses. Em áreas já montanhosas, os pré-hispânicos escolhiam a montanha mais alta para simbolizar o deus principal e nela construíam um templo; em regiões planas, faziam pirâmides. É possível que alguns montes na mesoamérica que parecem acidentes geográficos naturais sejam, na verdade, pirâmides cobertas de terra e vegetação pelo tempo. A cidade provavelmente teve início 1.000 anos antes da era cristã e pode ter abrigado entre 20.000 e 40.000 pessoas em seu auge. Alguns dos deuses adorados pelo povo que viveu em Teutiuhacán também eram conhecidos de outros povos pré-hispânicos. Os teutihuacanos faziam sacrifícios humanos e auto-sacrifícios, especialmente em épocas de seca prolongada. As paredes externas e as próprias pirâmides não eram cinzentas, mas multicoloridas, com destaque para a cor vermelha. Teutihuacán se relacionava e influenciava outras cidades e povos da mesoamérica.

A Pirâmide do Sol é a maior construção da cidade, e a segunda maior das civilizações pré-hispânicas (a pirâmide de Cholula ganha, mas não impacta tanto). A base tem 225 metros de lado; a altura é de 63 metros. O mais bacana é que você pode subir até o cume. Não precisa estar em boa forma (porque você pode parar no caminho pra descansar), mas precisa ter bastante disposição. A vista compensa o esforço.

Pirâmide do Sol
Pirâmide do Sol

A Pirâmide da Lua tem 45 metros de base e 45 metros de altura e não se sobe até o topo. Dela, tem-se ideia da grandeza que essa civilização deve ter tido. Fica no fim de uma avenida chamada Calzada de los Muertos (porque foram encontradas dezenas de ossadas na área, provavelmente de pessoas sacrificadas para a consagração da cidade), ao longo da qual se dispõem as ruínas dos edifícios da cidade. Você vê essas ruínas e a Pirâmide do Sol ao fundo.

Calzada de los Muertos, com a Pirâmide do Sol ao fundo. Foto tirada da Pirâmide da Lua.

Algumas coisas que vemos no sítio arqueológico foram reconstruídas no século XX, depois que o presidente/ditador Porfírio Díaz dinamitou parte da cidade por entender que assim seria mais rápido fazer a exploração arqueológica (haja ignorância). De fato, cerca de 60% da cidade foi restaurado ou reconstruído. As Pirâmides do Sol e da Lua não passaram por reconstrução, mas a Pirâmide do Sol sofreu um processo de restauração. Há alguns murais pela cidade em que ainda se vêem as cores originais. Um desses painéis foi aberto à visitação pública há menos de seis meses. Daqui a alguns anos, certamente haverá várias outras novidades na cidade.

Pintura mural em um dos edifícios de Teutihuacán.

Teutihuacán foi declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO em 1987.

O passeio dura quase um dia inteiro se você quiser andar pelas ruínas com calma e subir as pirâmides. Quando cheguei ao centro da Cidade do México, eram umas 16h. Procure agendar sua visita para uma segunda-feira, dia em que todos os museus da cidade estão fechados.

No dia seguinte, eu estava quebrada do esforço de subir as pirâmides (os degraus são altos e forçaram bastante minhas pernas). Aproveitei para acordar mais tarde, fiz check-out e peguei o ônibus do meio-dia para Puebla, que será assunto do próximo texto.