Livros de Terror – Halloween 2022

Boo!

Morro de medo de histórias de terror, mas a @soterradaporlivros me convenceu a ler Hellraiser em outubro. Uma coisa levou a outra e acabei com uma listinha de livros em celebração ao halloween, que seria meu feriado preferido se eu morasse na metade de cima do mundo.

Hellraiser, de Clive Barker: terrorzão com um pé no gore e outro no sadomasoquismo. Frank é um vilão doentio, horrendo, mas os vilões de verdade são os cenobitas, que mal aparecem (não estou reclamando). Fiquei surpresa com a forte presença feminina. Felizmente é curto, eu não aguentaria ler um calhamaço dessa história. Quem curte o gênero provavelmente fica com gosto de quero-mais. 4 estrelas

Invasores de Corpos, de Jack Finney: vi o filme de 1956 (excelente) e o de 1978 (tão bizarro que é ótimo), então estava mais que na hora de ler a história original. Em uma cidadezinha dos EUA, algumas pessoas não são mais elas mesmas, segundo os parentes. O que parecia histeria coletiva acaba se revelando uma invasão alienígena. O livro é de 1955 e tem uns trechos bem machistas, mas é uma ótima ficção científica e tem um desfecho muito mais satisfatório que os filmes. 4 estrelas

O Vampiro, de John William Polidori: um jovem ingênuo conhece Lord Ruthven, um aristocrata misterioso, sedutor e estranhamente envolvido em mortes violentas… Esse conto merece ser lido por duas razões: primeiro, porque nasceu junto com Frankenstein, de Mary Shelley, naquele conhecido episódio de tédio durante chuvas torrenciais que levou a uma brincadeira entre amigos escritores; segundo, porque foi uma das inspirações de Bram Stoker para compor Drácula que, por sua vez, inspirou as histórias contemporâneas de vampiros. 3 estrelas

Carmilla: A Vampira de Karnstein, de Joseph Thomas Sheridan Le Fanu: li Carmilla em maio, mas merece ser citado aqui porque foi também foi uma das inspirações para o Drácula de Stoker. Carmilla é uma vampira sensual, provocativa, sedutora. O autor é quase explícito e creio que só se conteve por causa da época em que escreveu (e porque, se desse vazão às fantasias, seria pornô e não terror). Para mim, é uma história infinitamente melhor que Drácula. 5 estrelas

Livro: Órbita de Inverno

Livro da vez: Órbita de Inverno, de Everina Maxwell.

Kiem, um dos vários príncipes da família real de Iskat, é obrigado a se casar com Jainan, um diplomata de Thea, após a morte de Taam, primeiro marido de Jainan. O arranjo é fundamental para a manutenção do tratado entre os dois planetas e para a estabilidade de várias outras alianças planetárias. Contudo, mesmo após a união a paz e a segurança desse sistema é posta em risco.

Quase abandonei o livro nos primeiros 20%. A ambientação é fraca, bem fraca. A ficção científica é mero pano de fundo, um pano tão fino que é praticamente uma gaze e seria melhor nem existir. Além disso, a tradução me incomodou muito (coisa rara, não costumo me irritar com traduções). Então, segui os conselhos da @soterradaporlivros: peguei o texto original e passei a ler sem levar a história a sério. Aí a coisa funcionou.

Órbita de Inverno é um romance, no fim das contas, no sentido estrito. Ficção científica passou longe. A construção do universo ficcional é pobre. O que importa mesmo é o relacionamento entre Kiem e Jainan e os benefícios que esse casamento forçado pode trazer não só para o sistema planetário, mas principalmente para os dois, amadurecendo-os e ajudando-os a superar traumas. De quebra, temos Bel, assistente de Kiem e a melhor personagem do livro (além de funcionar como alívio cômico).

A trama tem o ritmo e o descompromisso de uma fanfic. Aliás, lendo os agradecimentos finais a gente descobre que o livro nasceu no AO3, maior/melhor reduto de fanfics das interwebs. Se for lida com essa leveza, a história compensa e coloca um sorriso na cara do leitor em vários momentos (e é bem mais divertido que Justiça Ancilar, livro pretensioso com que Órbita de Inverno volta e meia é comparado).

Indico para quem procura uma leitura ligeira, de férias/praia.

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas

Livro: Bolo Preto

Livro da vez: Bolo Preto, de Charmaine Wilkerson.

Após a morte de Eleanor Bennett, seus filhos Byron e Benny descobrem que a mãe era um verdadeiro mistério. Por meio de uma gravação que ela fez pouco antes de morrer, entram em contato com as suas raízes caribenhas e são surpreendidos por reviravoltas. Ao mesmo tempo, tentam curar suas feridas e resgatar uma relação há anos esgarçada.

A história é boa, mas a narrativa é fragmentada demais. Além de pular entre passado e presente e de um ponto de vista a outro, é construída por meio de capítulos curtíssimos. Quando eu começava a me interessar, lá vinha outro capítulo (minúsculo), em outro tempo, com foco em outro personagem e abordando outro tema. Essa fragmentariedade pode até dar algum dinamismo à narrativa, mas não funcionou para mim. Deu a impressão de que a autora não sabia que história queria contar.

Os personagens principais são fortes (embora Byron seja um chato), gostei de aprender algo da cultura do Caribe (a autora esclarece que locações e fatos são inventados, mas baseados no que aprendeu sobre a Jamaica) e, embora algumas viradas sejam previsíveis, outras são interessantes e a última é muito boa.

Indico para quem deseja um primeiro contato com questões de identidade, etnia, gênero e diferenças culturais. O livro está sendo transformado em série e creio que funcionará melhor na telinha.

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas

Livro: É assim que se perda a guerra do tempo

Livro da vez: É assim que se perda a guerra do tempo, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone.

Red e Blue são duas combatentes em lados opostos de uma eterna guerra temporal que pode mudar os destinos do mundo a qualquer segundo. Entre campos de batalha, começam a se corresponder e percebem que têm muito a aprender uma com a outra e mantêm uma troca de cartas secreta – e perigosa – ao longo dos séculos.

Não gosto muito de livros narrados no tempo presente, nem sou fã de livros epistolares. Além disso, esperava mais ficção científica e menos romance. Por tudo isso a história acabou não me fisgando.

Por outro lado, é bem escrita e tem umas sacadas muito interessantes, especialmente quanto a paradoxos temporais. Há pistas para os leitores quebrarem a chave da história, o que considero um bônus. O desfecho é bem bacana e justificou a leitura para mim.

Indico para quem curte histórias de amor e gostaria de ingressar suavemente no fascinante mundo da ficção científica.

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas