Livro: O Labirinto da Morte

Livro da vez: O Labirinto da Morte, de Philip K. Dick.

Um grupo de pessoas um tanto frustradas com as próprias vidas é enviado a Delmak-O, um novo assentamento num planeta desconhecido. Logo fica evidente que há algo estranho com todas elas e com a missão. O grupo passa a lutar pela sobrevivência e o final é aterrador e surpreendente ao mesmo tempo.

O Labirinto da Morte traz um elemento religioso interessante, e é isso que as sinopses costumam destacar, mas o foco da história é a interação do estranho grupo de pessoas enquanto lutam pela sobrevivência.  O Caso dos Exploradores de Cavernas vem à mente, mas as semelhanças não duram muito tempo.

Philip K. Dick escreve ficção científica de um jeito que me encanta. Seu interesse está no drama humano e a tecnologia é um mero pretexto para tratar de questões complexas e, ao tempo, comuns. Ele não perde tempo desenvolvendo conceitos mirabolantes ou escrevendo technobabble (William Gibson, estou olhando para você), prefere uma prosa clara, construindo um texto acessível e fluido, sem deixar de intrigar e surpreender o leitor.

Recomendo para quem busca uma história curta (o livro tem menos de 300 páginas) e surpreendente. 5 estrelas

Filmes favoritos em fevereiro e março de 2024

Recentes

The Greatest Night in Pop (2024): documentário sobre a criação e gravação de “We Are the World”. Interessante pela reunião de artistas e emocionante pela nostalgia.

Pobres Criaturas (2023): Bella não tem pudores em usar os homens e o sexo para conhecer a si mesma e ao mundo, sem se submeter a eles.

Anatomia de uma Queda (2023): eu não esperava ver o cachorro mais fofo de todos os tempos da última semana. A dúvida é: o júri na França é mesmo aquele circo todo?

Priscilla (2023): o ponto de vista (nem sempre claro) de Priscilla durante seu relacionamento com Elvis Presley, abusivo para dizer o mínimo. Excelente reconstituição de época.

Ficção Americana (2023): um escritor negro não se conforma com os estereótipos da ficção sobre os negros e se vê envolvido por eles. Irônico até o fim. Merecidamente levou o Oscar de melhor roteiro adaptado.

Matar um Tigre (2022): documentário sobre o estupro coletivo de uma garota de 13 anos em um vilarejo indiano e a luta por um precedente judicial que condene esse tipo de crime. Pesado.

Minha Vida de Abobrinha (2016): animação fofa de massinha/stop-motion sobre um garoto que perde a mãe e encontra amizade e amor em um abrigo de órfãos.

Amor (2012): um casal de idosos é ativo e feliz, até que a esposa sofre um derrame e o prognóstico não é bom. Devastador.

Rock Brasília – Era de Ouro (2011): documentário sobre o surgimento das bandas de punk rock no fim dos anos 70 em Brasília, com foco em Legião, Paralamas, Capital Inicial e Plebe Rude.

Direto do Túnel do Tempo

Uma Noite sobre a Terra (1991): as aventuras de cinco taxistas durante uma noite ao redor do globo. O esquete do Benigni foi o mais fraco pra mim, mas a internet discorda.

O Esqueleto da Sra. Morales (1960): um pacato taxidermista é diariamente importunado pela esposa e se mantém surpreendentemente calmo, até que um dia… Muito divertido.

A Um Passo da Eternidade (1953): fui pela clássica cena do beijo na areia, me apaixonei pelo Pewitt. Papel bonito, melancólico. Bônus: Frank Sinatra.

Onde assistir: https://www.justwatch.com

Livro: O Avesso da Pele

Livro da vez: O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório.

Após a morte do pai, Pedro escreve para reconstruir a história da família e a sua própria. Assim conhecemos Henrique, um professor negro que, vivendo em Porto Alegre, conheceu várias faces do racismo. Somo apresentados aos pais de Henrique, avós do narrador, também alvos do racismo. Por fim, há os conflitos do próprio Pedro ao descobrir seu lugar no mundo e perceber o lugar em que pretendem colocá-lo.

Li motivada pela censura que o livro tem sofrido nas escolas e, apesar da via torta, estou contente pela oportunidade de ter contato com essa história. A narrativa é dolorosa. A escrita é primorosa, sofisticada sem ser pedante. O uso da segunda pessoa do discurso, ou seja, o uso do “você” como voz narrativa, me incomoda em qualquer texto, e neste livro achei desnecessário, mas ainda assim a história é tão poderosa e bem contada que superei meu incômodo. Provavelmente é o melhor livro nacional contemporâneo (escrito no séc. XXI) que já li.

Recomendo a quem aprecia literatura brasileira, procura uma narrativa potente e tem coragem de ler verdades duras. 5 estrelas

Livro: “Holly”

Livro da vez: Holly, de Stephen King.

Holly Gibney está às voltas com a COVID, um funeral e o afastamento temporário de seu sócio, mas não consegue resistir ao pedido de ajuda de Penny Dahl e começa a investigar o desaparecimento de sua filha Bonnie. Jerome e Barbara também estão envolvidos com suas próprias vidas, mas dão uma mão à amiga.

Como thriller, Holly é razoável. King pesa a mão nas coincidências, mas os vilões sustentam a história o suficiente para não torná-la enfadonha. O ponto alto do livro é mesmo Holly, essa personagem que, segundo o autor, surgiu pra ser secundária em Mr. Mercedes, mas roubou a cena. É um prazer enorme reencontrá-la e ver o tanto que ela cresceu como pessoa, como se desenvolveu ao sair das garras sufocantes da mãe e encontrar compreensão e amor em Bill Hodges e na família Robinson.

Recomendo para quem leu Mr. Mercedes, Achados e Perdidos e O Último Turno e não vê a hora de reencontrar Holly. Ah, entre O Último Turno e Holly há um conto com ela publicado em Com Sangue (é a história que dá título à coletânea) e, se você quiser evitar spoilers, é melhor ler o conto antes. 5 estrelas