Um Grande Garoto

Um Grande Garoto - capaWill Freeman (adoro esse nome) é um quase quarentão bon vivant. Sua vida é arranjar o que fazer durante o dia, já que não precisa trabalhar. É divertido, fã de música pop e um tanto alienado. Marcus é um garoto de 12 anos  que tem uma mãe hippie depressiva e mal consegue sobreviver à nova escola. Em comum entre eles, apenas a idade mental. Esses dois garotos têm muito a aprender um com o outro.

A relação inusitada que surge entre Will e Marcus é o centro de Um Grande Garoto, outro ótimo trabalho de Nick Hornby. A leitura demora um pouco para engrenar – Hornby usa nesse livro um estilo mastigadinho demais, que cansa no início, mas logo se encaixa perfeitamente à personalidade de Marcus, que insiste em analisar tudo, mas falha por não entender sarcasmo, ironia e outras linguagens, inclusive as próprias da sua idade.

Graças a Will e Ellie, a garota briguenta da escola de Marcus (e minha personagem favorita), o garoto começa a navegar melhor pela adolescência, essa fase que já é complicada pra todo mundo, mas pode ser ainda pior se você não tem uma rede de proteção. E uma rede de proteção é tudo o que Marcus quer.

Há elementos emocionantes no romance, mas o que me agrada mesmo é o humor irônico que permeia a análise de Hornby sobre a vida, a adolescência e os relacionamentos. Esse humor é a melhor característica do escritor inglês e é o que torna seus livros cativantes.

Ficha

  • Título Original: About a Boy
  • Autor: Nick Hornby
  • Editora: Rocco
  • Páginas: 267
  • Cotação: 4 estrelas
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O Recurso

O Recurso - capaA contracapa informa que este é o livro “mais radical” de John Grisham. Certamente, não é “radical” na gíria para “excelente”, porque há diversos livros melhores do mesmo autor. Também não é “radical” no sentido de dedicar-se às raízes do Direito porque, de todos os livros de Grisham, este é o menos jurídico – o foco dele está na política. Em todo caso, é um livro muito bom.

O tema jurídico é o processo indenizatório milionário que corre contra uma empresa acusada de lançar lixo tóxico nos arredores de uma cidadezinha do Mississipi, contaminando a água e o solo e levando câncer à população local – causando, inclusive, a morte de vários habitantes. Lembra a trama de Erin Brockovich, só que aqui, do lado da população desamparada, temos uma casal de jovens advogados inteligentes, dedicados, esforçados e quase falidos.

Após meses de um árduo julgamento, o tribunal local dá ganho de causa às vítimas e condena a corporação Krane Chemical a pagar 41 milhões de dólares de indenização. É nesse ponto que o livro começa – porque, como se sabe, você pode ganhar e não levar… e a corporação vai jogar sujo para não perder dinheiro. Em sede de apelação, o caso será julgado pela Suprema Corte do estado do Mississipi. Juridicamente, as chances estão contra a Krane – mas… e politicamente?

A Suprema Corte do Mississipi é composta de nove juízes eleitos para um mandato (o cargo não é vitalício). Basta, talvez, um juiz para mudar o destino do processo. As eleições para a magistratura se aproximam, e a Krane começa a mexer os pauzinhos financeiros para colocar no tribunal um juiz honesto, dedicado, mas absolutamente contrário ao sistema de indenizações milionárias que afeta os julgamentos norte-americanos.

A parte do livro dedicada ao processo eleitoral é longa demais. O leitor quer chegar logo ao resultado e à conclusão do processo. Os que estão acostumados com os livros de Grisham têm uma boa ideia do que esperar…

John Grisham carrega no conteúdo dramático de O Recurso, além de dar uma boa ideia das mazelas de ter um Poder Judiciário eleito. Se aqui no Brasil já temos tantos dissabores com o Legislativo e o Executivo, imagine o que aconteceria se a magistratura também fosse escolhida pelo sistema eleitoral?

Ficha

  • Título Original: The Appeal
  • Autor: John Grisham
  • Editora: Rocco
  • Páginas: 380
  • Cotação: 3 estrelas
  • Encontre O Recurso.

Fortaleza Digital

Fortaleza Digital - capaEste livro não é apenas o mais chato do Dan Brown: é também o mais chato que li nos últimos tempos.

O centro da história é a divisão de criptografia da NSA, a Agência de Segurança Nacional do governo norte-americano, e seu supercomputador TRANSLTR, capaz de quebrar a criptografia de qualquer email em poucos minutos – até que surge um novo código de criptografia que parece inquebrável. A chave para a sobrevivência do TRANSLTR e da segurança nacional está na Espanha, e para lá é enviado David, um professor universitário e par romântico de Susan, funcionária da NSA.

O livro divide suas páginas entre uma perseguição absolutamente inverossímil na Espanha (que serve pra quê, mesmo?) e muito blá blá blá teórico com a profundidade de um pires na NSA. Nenhuma das partes convence ou entretem. A encheção de linguiça é tão forte que você pode fazer uma leitura diagonal pelos capítulos sem perder uma fração do sentido geral.

Nem as reviravoltas típicas de Dan Brown são suficientes para capturar a atenção. Aliás, mesmo o enigma final do livro (um ponto forte das obras posteriores do escritor – este é seu primeiro livro) é ridículo: o leitor mata a charada em dois minutos e fica observando os supostos gênios da criptografia da NSA debaterem-se em soluções obviamente erradas pelas próximas dez páginas.

De bom, no livro, apenas o conhecimento extra que se pode adquirir sobre a história da criptografia – eu não conhecia a história do quadrado perfeito de César, por exemplo. Só que isso não é suficiente para fazer valer a leitura.

Ficha

  • Título Original:  Digital Fortress
  • Autor: Dan Brown
  • Editora: Sextante
  • Páginas: 330 (uma enormidade para esse livro)
  • Cotação: 1 estrela
  • Encontre (mas não compre!) Fortaleza Digital.

O Rei das Fraudes

O Rei das Fraudes - capaMais um livro “de tribunal” de John Grisham – ou quase. Na verdade, dessa vez é um livro de advogado, mas não de tribunal.

Clay Carter II seguiu a carreira jurídica movido pelo sucesso do pai. Aos 30 anos, contudo, trabalha na Defensoria Pública, ganha pouco, não vê grandes perspectivas profissionais e, para completar, seu namoro vai de mal a pior.

Ao pegar um caso de assassinato, sua sorte muda. Clay é procurado por um sujeito misterioso que lhe apresenta o Tarvan, um medicamento que parece ter sido o responsável pelo crime cometido por seu cliente. A partir daí, Clay adentra o fascinante mundo das indenizações milionárias: processos iniciados contra grandes companhias que lançaram um produto defeituoso no mercado e prejudicaram milhares de pessoas. Os processos representam publicidade negativa para as empresas que, portanto, preferem fechar acordos extrajudiciais – e uma boa porcentagem do dinheiro desses acordos vai para o bolso dos advogados na forma de honorários.

Receoso no início, Clay logo deixa de lado seus pudores e preocupações, motivado pelos milhões de dólares prestes a entrar na sua conta corrente. Sua vida dá um salto. Outros casos aparecem – mais dinheiro relativamente fácil, sem sequer ter de pisar num tribunal.

Claro que esse mar de rosas não dura para sempre, ou não haveria história a ser contada.

Grisham vai fundo no ramo das indenizações coletivas, tão populares nos Estados Unidos (e uma das principais razões para advogados serem tão odiados por lá). Aliás, o título foi mal traduzido: algo como “O Rei dos Danos” ou “O Rei das Indenizações” seria mais apropriado.

Embora não esteja entre os livros mais envolventes do autor,  O Rei das Fraudes consegue prender a atenção e fazer o leitor torcer pelo personagem principal, um anti-herói que até tem boas intenções. Pelo menos, torce para que nada de muito ruim aconteça com ele.

Ficha

  • Título original: The King of Torts
  • Autor: John Grisham
  • Editora: Rocco
  • Páginas: 372
  • Cotação: 3 estrelas
  • Encontre O Rei das Fraudes.