Livro: É assim que se perda a guerra do tempo

Livro da vez: É assim que se perda a guerra do tempo, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone.

Red e Blue são duas combatentes em lados opostos de uma eterna guerra temporal que pode mudar os destinos do mundo a qualquer segundo. Entre campos de batalha, começam a se corresponder e percebem que têm muito a aprender uma com a outra e mantêm uma troca de cartas secreta – e perigosa – ao longo dos séculos.

Não gosto muito de livros narrados no tempo presente, nem sou fã de livros epistolares. Além disso, esperava mais ficção científica e menos romance. Por tudo isso a história acabou não me fisgando.

Por outro lado, é bem escrita e tem umas sacadas muito interessantes, especialmente quanto a paradoxos temporais. Há pistas para os leitores quebrarem a chave da história, o que considero um bônus. O desfecho é bem bacana e justificou a leitura para mim.

Indico para quem curte histórias de amor e gostaria de ingressar suavemente no fascinante mundo da ficção científica.

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas

Paris, 98!

Paris, 98! - capaOs livros de Mario Prata são sempre certeza de uma leitura gostosa, leve e muito divertida. Paris, 98! não é diferente.

Gregório é um funcionário do setor de câmbio do Bradesco. É casado, está esperando um filho, ganha uma mixaria, deve para um agiota e compra nas Casas Bahia. Eis que, graças a uma dessas compras, é sorteado para assistir à Copa do Mundo de 1998, na França. Tudo pago, ingresso para todos os jogos. Depois de muito planejamento, Gregório vai. E a vida dele nunca mais será a mesma…

Paris, 98! é uma forma inusitada de ver a Cidade Luz e a retrospectiva do fiasco apresentado pela seleção brasileira em 98. É Gregório que apresenta tudo. Bom de papo, o bancário cativa todo mundo na excursão e cativa também o leitor, que torce por ele no bolão, no dia-a-dia, quer vê-lo feliz, sem dívidas e cheio de dinheiro no bolso. Será que ele vai se dar bem? Será que venderá os ingressos do jogo para quitar a dívida com o Seu Gomes? Será que sobreviverá em francês?

Essa resenha é curta como é curto o livro: apenas 104 páginas que você lê num instante. Diversão garantida, ou seu ingresso de volta.

Ficha

  • Título: Paris, 98!
  • Autor: Mario Prata
  • Editora: Objetiva
  • Páginas: 104
  • Cotação: 4 estrelas
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O Clube dos Anjos

O Clube dos Anjos - capa

O Clube dos Anjos integra a coleção Plenos Pecados, dedicada aos sete pecados capitais. O livro de Verissimo homenageia a Gula, o que vem bem a calhar – Verissimo é um amante confesso da boa mesa e tem ótimas crônicas sobre o tema.

A princípio, parece que Verissimo envolverá o leitor com uma história de mistério: quem está vitimando os integrantes do Clube, um a um? Logo, porém, fica claro que o objetivo não é surpreender o leitor (o vilão é muito óbvio desde o início; suas motivações são menos óbvias, é verdade), mas levá-lo por um passeio muito divertido (o que dizer das histórias das gêmeas xifópagas?), embora um pouco mórbido, pelos prazeres gastronômicos, pela apreciação dessa arte que, no dizer do autor, exige a destruição do apreciado.

No decorrer do livro, somos apresentados aos dez membros do Clube, tão diferentes entre si, mas unidos pela mesma paixão. Conhecemos suas histórias, suas mulheres e suas frustrações acumuladas ao longo de 21 anos – e, claro, identificamo-nos um pouco. Todo mundo já imaginou que seria um grande prodígio, uma dádiva para o mundo… mas 99% das pessoas são absolutamente medíocres, não são?

É assim, com humor, filosofia e citações shakespereanas, que Verissimo conduz o leitor por banquetes, mortes e uma saborosíssima história.

Trechos

“Guardem este momento. Um dia nos lembraremos dele e diremos: foi o nosso melhor momento. Compararemos outros momentos das nossas vidas com ele e diremos que nunca mais fomos assim, exatamente assim. Nos saciaremos de novo, por certo, pois essa é a bênção do apetite. Não é todo dia que se quer ver um pastoso Van Gogh ou ouvir uma crocante fuga de Bach, ou amar uma suculenta mulher, mas todos os dias se quer comer, a fome é o desejo reincidente, é o único desejo reincidente, pois a visão acaba, a audição acaba, o sexo acaba, o poder acaba mas a fome continua, e se um fastio de Ravel é para sempre, um fastio de pastel não dura um dia.” […] “Mas mesmo saciados, nunca mais estaremos saciados como agora, cheios das nossas próprias virtudes e do nosso prazer na amizade, na comida e na vida – e no conhaque.” E ele erguera seu copo, fazendo com que todos erguessem o seu. “Senhores, exultai. Estamos no nosso ápice.” Todos beberam. Depois ele dissera: “Senhores, chorai. Começou o nosso declínio.” E todos beberam, mais alegres ainda. (p. 41-42)

– Por que ele está nos envenenado?
– Você não está fazendo a pergunta certa.
– E qual é a pergunta certa?
– Por que nós estamos nos deixamos envenenar? (p. 89)

Ficha

  • Título: O Clube dos Anjos
  • Autor: Luis Fernando Verissimo
  • Editora: Objetiva
  • Páginas: 130
  • Cotação: 4 estrelas
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Cabine Para Mulheres

Cabine Para Mulheres - capaPode uma mulher independente ser feliz? É esta a pergunta que a capa de Cabine Para Mulheres faz, adiantando o tema do livro.

Akhila não tem a resposta. Ou melhor, tem-na, mas não quer conformar-se a ela. Desde pequena, foi criada para acreditar que a mulher só está completa quando tem um homem ao seu lado. Apesar disso, resolve deixar sua família e viver sozinha. No trem, na cabine reservada para mulheres (que me lembra, tristemente, o vagão para mulheres do metrô do Rio de Janeiro), Akhila conhece outras cinco – que viajam acompanhadas por homens, mas segregadas ao vagão especial -, cada qual com sua história. Ao longo da viagem, as revelações de suas companheiras de cabine a farão refletir sobre a própria vida.

A história de Akhila se passa na Índia dos fim dos anos 90. Ela tem 45 anos. Ter de cuidar, desde adolescente, da mãe e dos irmãos. Toda a felicidade era para eles; nada sobrava para Akhila. Perdeu as oportunidades de se casar. Dona de um emprego público razoável, acostumou-se a ser a provedora e a ser sozinha. Aos 45, ela decide que quer seguir sozinha pela vida. Será que pode envelhecer sozinha? Será que pode deixar para trás os parentes que até hoje a tolhem e impedem-na de encontrar a felicidade?

As mulheres que partilham suas vidas com Akhila são muito diferentes entre si, mas têm em comum a energia para tentar romper as barreiras sexistas, para fazerem-se ouvir, para dizerem a que vieram. Não querem submeter-se à sociedade indiana patriarcal. Não querem viver à margem de pais, filhos ou maridos que não permitem que desenvolvam seu potencial, suas ideias e suas emoções.

De todas, Akhila é a mais radical em suas opções – talvez não por escolha, mas porque a vida lhe colocou situações que a forçaram neste caminho. Como todas, tem inseguranças e medos. Como todas nós, só quer ser feliz.

Trechos

– Essa coisa de igualdade no casamento não existe – disse amma. – É melhor aceitar que a mulher é inferior ao marido. Assim, não haverá atritos, nem desarmonia. É só quando alguém quer provar que é igual aos outros que passa o tempo todo lutando e combatendo. É tão mais simples e tão mais fácil aceitar nosso próprio lugar na vida, e viver de acordo com ele. A mulher não foi feita para assumir o papel do homem. Se fose, os deuses a teriam feito assim. Portanto, que história é essa de os dois serem iguais, num casal? (p. 28)

Entende o que estou querendo dizer? São mulheres legais, mas daquelas que não se sentem completas sem um homem. Podem até dizer o contrário, mas eu as conheço, e outras como elas. No fundo do coração, acham que o mundo não quer saber de uma mulher sozinha. (p. 133)

“E eu?” Foi o que quis perguntar. Será que não tenho o direito de esperar nada dele? Eu não trabalho, tanto quanto ele, e mais ainda, porque tenho de cuidar também da casa? Por que você acha que ele é ocupado e eu tenho todo o tempo do mundo? Sendo minha mãe, não deveria ficar do meu lado? Não deveria ouvir o meu ponto de vista? O que aconteceu com essa coisa chamada amor incondicional que, supostamente, os pais sentem por seus filhos? (p. 155)

Nenhum dos dois me amava. Mas ambos precisavam de mim. Quem não pode ter amor deve se contentar com a necessidade. O que é o amor, senão uma necessidade disfarçada? (p. 343)

Ficha

  • Título Original: Ladies Coupé
  • Autor: Anita Nair
  • Editora: Nova Fronteira
  • Páginas: 364
  • Cotação: 3 estrelas
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