Livro: The World We Make

Livro da vez: The World We Make, de N. K. Jemisin. Segundo livro da duologia The Great Cities (Grandes Cidades). O primeiro está disponível em português com o título Nós Somos a Cidade, que resenhei aqui.

No primeiro livro, somos apresentados a Neek, o avatar da cidade de Nova York, e seus parceiros (por falta de palavra melhor), que personificam os bairros da cidade, tão diferentes e complementares entre si. Também aprendemos que cidades podem nascer e ser guiadas por seus avatares, fenômeno que já dura milhares de anos mas teve sua marcha diminuída recentemente, graças a uma força sobrenatural determinada a matar as cidades ainda no nascedouro.

The World We Make conclui a saga retratando a luta dos avatares de NYC para se entenderem e trabalharem juntos e, principalmente, para convencerem as cidades mais antigas de que o Inimigo também as ameaça. Jemisin caracteriza brilhantemente as diversas pessoas/cidades que apresenta e, no caso dos bairros de NYC, dá a cada um identidades e vozes próprias e marcantes.

O livro se perde em alguns momentos em descrições que lembram videogame, mas o foco nas vidas pessoais dos avatares manteve o meu interesse. A resolução do conflito é magistral. A duologia é bem diferente de outras sagas da autora que já li (A Terra Partida e Dreamblood), já que é baixa fantasia. Jemisin brilha nas sagas de alta fantasia, mas Grandes Cidades não fica muito atrás.

Se você puder, sugiro a leitura em inglês para não perder as sutilezas de linguagem de cada um dos personagens, não tão bem incorporadas na tradução do primeiro volume.

4 estrelas

Livro: A pequena caixa de Gwendy

Livro da vez: A pequena caixa de Gwendy, de Stephen King e Richard Chizmar.

Gwendy é uma garota de doze anos preocupada com a nova escola e com os temas típicos da adolescência: peso, amigas, garotos. Um dia, é abordada por um estranho e ganha uma caixa misteriosa e que começa a transformar sua vida. Parece bom demais pra ser verdade, não parece? Claro que há pegadinhas, ou não seria um livro do King.

Não estava empolgada para essa leitura porque li um livro escrito pelo King em parceria com outro autor que foi decepcionante, para dizer o mínimo: O Talismã, com Peter Straub. Ainda bem que deixei a desconfiança de lado, porque A pequena caixa de Gwendy é excelente. A protagonista é cativante e me vi no lugar dela, pensando no que fazer com a caixa, como guardá-la e, finalmente, como me livrar dela.

Embora o livro seja curtinho (dá para ler em uma tarde), a história é absorvente e ainda estou pensando nela… e doida pra ler os outros dois livros com a Gwendy.

Indico para quem gosta de suspense e fantasia, para fãs do King ou pra quem curte literatura young adult.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

Livros: Uma Coisa Absolutamente Fantástica e Um Esforço Lindo e Fútil

Livros da vez: Uma coisa absolutamente fantástica e Um esforço lindo e fútil, de Hank Green.

Do nada, uma escultura-robô gigante aparece em Nova Iorque. April é a primeira a perceber, por sorte, e ela e seu amigo Andy publicam um vídeo sobre o acontecimento no youtube, pensando que se tratava de uma intervenção artística. Logo fica evidente que estavam enganados: há robôs em dezenas de cidades, e eles parecem ser alienígenas.

A história revela seu propósito conforme o autor vai narrando os efeitos dos robôs, ou Carls, sobre os humanos: de um lado, fascinação e curiosidade; de outro pânico e violência. Hank Green usa um enredo um tanto absurdo de fantasia e ficção científica para falar sobre a polarização dos anos recentes e a manipulação por meio do preconceito e do medo, e e desdobra a discussão para tratar de fama e poder, de redes sociais e seus efeitos, de economia, capitalismo e exclusão.

O segundo livro é ainda mais fantasioso que o primeiro, e a estrutura de narração – cada amigo escrevendo alguns capítulos alternadamente – me pareceu desnecessária, mas até que fez sentido no final. Um esforço lindo e fútil aprofunda bastante as discussões do primeiro livro e deixa questionamentos sobre o papel das grandes empresas privadas que controlam tecnologias e recursos relevantes, tornando-se mais poderosas que nações. Embora Green traga essas indagações envoltas em uma narrativa de ficção científica, hoje mesmo governos e populações já precisam lidar com empresas transnacionais tão ricas e influentes que prevalecem sobre leis trabalhistas e normas ambientais. A distopia delineada no segundo livro não parece tão irreal quando se pensa nisso.

Permeando tudo, o grande questionamento: o que nos faz humanos?

Os dois livros exigem um salto de fé, sim, mas valem a pena até para quem, como eu, não morre de amores pelo gênero young adult.

Indico para despertar o gosto pela leitura em adolescentes, e para adultos que procurem uma escrita leve que não seja rasa.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Filmes favoritos em outubro de 2022

Recentes

Prisioneiros (2021): o tema é o trabalho em condições análogas à escravidão e o subtexto é o homem sendo lobo do próprio homem. Rodrigo Santoro excelente. A sonoplastia ruim tira uma estrela do filme. 4 estrelas

Argentina, 1985 (2022): nem todo herói usa capa, e o promotor Julio Strassera está aí para provar, assessorado por uma turma de jovens dedicados. A história real do julgamento de nove militares que governaram a Argentina durante a ditadura. Emocionante. 5 estrelas

Uma Garota de Muita Sorte (2022): entre o presente e o flashback, a história traumática de Ani é contada. Algumas cenas podem ser consideradas fortes, mas o filme está longe de ser apelativo. Dica da @smiletic. 4 estrelas

Kung Fu Panda (2008): animais fofos e uma história bem contada – como não gostar? Menção especial para a cena do Po disputando o último dumpling com seu mestre. 5 estrelas

O Nevoeiro (2007): um nevoeiro denso cai sobre uma cidadezinha, e coisas horripilantes se escondem, prontas a atacar. Baseado em uma novela do Stephen King, é um desses casos em que o filme é melhor que o livro. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

Nos Bastidores da Notícia (1987): uma produtora percebe que o telejornalismo está se vendendo ao puro entretenimento. Um repórter talentoso não é promovido por não ser midiático. Um âncora bonito e burro é bem-sucedido. Divertido e crítico ao mesmo tempo. 4 estrelas

Viagem ao mundo dos sonhos (1985): três garotos constroem uma espaçonave e vivem aventuras muito loucas. Filme infantil, mas divertidíssimo, há tempos eu não ria tanto com um filme. Um achado que a @soterradaporlivros me apresentou. 5 estrelas

Gandhi (1982): quase documental, narra os esforços de Gandhi para tornar a Índia um país independente e unificado. Eu desconhecia várias coisas, daí ter achado o filme interessante. 4 estrelas