Um Ano Sem Comprar – Março

Março foi mês de viagem!

Embora a reforma do apartamento tenha começado em 12 de março, já tinha uma viagem comprada para Montevidéu desde dezembro, para matar a saudade da minha amiga-irmã Nospheratt. A viagem merece textos próprios, que espero me organizar para escrever algum dia. 😛

Viagem significa compras, certo? Errado.

Claro que compro uma coisa ou outra em viagem (ou muitas coisas em freeshop), mas meu lance principal é passear, passear, passear. Não tenho saco pra ficar enfurnada em hotel, e muito menos tenho saco pra ficar entrando e saindo de dezenas de lojas enquanto os dias passam. Geralmente, reservo um dia para compras (incluindo guloseimas e lembrancinhas), mais umas duas horas no freeshop no caso de viagens internacionais, e só.

No caso da viagem a Montevidéu, não reservei espaço nenhum para compras, porque né, ano sabático e tal.

Pijamas comprados em Montevidéu.
Quentinhos e macios.

Mas tinha uma coisa que eu precisava comprar: pijamas.

Sou uma criatura friorenta e adoro dormir usando um pijama bem quentinho. Em Brasília, a Cidade-Em-Que-Não-Faz-Mais-Frio (se bem que esse ano até tenho visto 14 graus nos termômetros de vez em quando), é muito difícil achá-los, especialmente a um preço decente. Já em Montevidéu você tem uma variedade enorme para escolher.

Há dois anos, quando visitei a Nospheratt pela primeira vez, comprei um pijama gostosíssimo de um tecido chamado Polar (uma espécie de moletom peludo tanto no avesso quanto no direito) pela bagatela de 30 reais. É de imaginar que, depois de dois anos de uso intenso (porque eu não preciso que estejarealmente frio pra dormir de pijama), ele estava se acabando. Vai daí que era impreterível comprar outro para substituí-lo. Achei um idêntico e um outro mais fofo (de gatinho, aaaaaw), cada um pelos mesmos 30 reais de dois anos antes. Ainda comprei uma camisola de manga comprida (acho que custou uns 20 reais) e meio que me arrependi, porque quando acabar o inverno não terei camisola de manga curta e… bem, estou pensando em cortar as mangas dessa.

Além dessa compra de reposição (e a razão de eu comprar dois pijamas é ver se revezo entre eles de forma que durem mais) e do extra da camisola, comprei algo inevitável quando viajo: ímãs turísticos. Sempre, sempre como pelo menos um ímã para marcar a viagem. Na casa antiga, eles ficavam em exposição em um quadro magnético. No endereço novo, ainda estão encaixotados, mas pretendo expô-los assim que encontrar uma boa solução. Como já tinha ímãs de Montevidéu, comprei dois de Colonia del Sacramento, cidade de colonização portuguesa e espanhola a uns 180 quilômetros de Montevidéu, em que passamos um fim-de-semana delicioso.

A passadinha no freeshop rendeu apenas itens consumíveis, que não estão vetados pelo ano sem compras. Não podia deixar passar um vidro de Lapataia, o melhor doce de leite do mundo; o kitkat é praticamente uma obrigação de viagem; e o Sheridan’s é um dos meus licores favoritos e custa menos da metade no freeshop em comparação ao preço no Brasil.

Ímãs Delícias

Aaaaah, teve mais uma compra, feita antes da viagem, mas pensando nela: meu EEE Pad Transformer. Era uma compra permitida nas exceções permitidas no ano sabático, já que meu netbook estava sem bateria desde o fim de 2011. Com o teclado vendido separadamente (que não comprei em março), ele vira um netbook com autonomia de 15 horas e entrada usb. Sem o teclado, é um tablet de 10″, umas 8 horas de bateria e cerca de 640 gramas. Namorava o Transformer desde seu lançamento, em agosto de 2011 e esperei uma promoção bacana para comprar.

Leia os outros relatos mensais no fim do texto de abertura deste projeto: Um Ano Sem Comprar – Um Ano Sabático.

Um Ano Sem Comprar – O Retorno

Eu sei, eu sei, estou atrasadíssima. De abril pra cá, minha vida virou uma confusão só. Em julho, comecei a reorganizá-la, e agora estamos quaaaaaase de volta à nossa programação normal.

Interrompi as postagens, mas continuo firme e forte no Ano Sem Compras!

Mas preciso contar uma coisa.

No ano passado, estava prevista uma reforma, uma mudança de endereço e seus consequentes gastos, inclusive os gastos com mobília. No fim das contas, a tal mudança só saiu em junho deste ano (e sim, essa é uma das principais causas dos poucos textos pelos meus blogs nos últimos meses). A reforma do apartamento começou em março e durou três meses e meio. Você leu certo: reforma. Um desastre, um caos, uma tortura, um pesadelo. E muitos gastos.

Se eu puder dar um só conselho pra você, ei-lo: nunca faça reforma. (Usar protetor solar? Bah, este é um conselho secundário em vista do de nunca fazer reforma).

Só que você vai fazer, eu sei. A gente tem aquela ideia de “ah, mas eu quero deixar a casa com a minha cara”. Você vai fazer, mas vai se lembrar de mim durante o processo e desejará ter me ouvido. Isso não é uma praga. Pergunte por aí e veja quantas pessoas que já fizeram reformas guardam péssimas lembranças do período. É um gasto de tempo, de grana, de energia… e, claro, as coisas não ficam exatamente como você esperava, e você descobre que não devia ter feito isso ou aquilo, mas agora é tarde e…

Bom, voltando ao tema. Claro que gastei horrores durante a reforma. Muito mais do que em qualquer outro momento da minha vida, e muito mais do que eu pretendia. Mas como, se estou no ano sem compras? Acontece que, como falei lá em cima, essa mudança deveria ter acontecido no ano passado. Eu já estava preparada para os gastos (ou, pelo menos, achei que estava). E não havia a menor possibilidade de postergá-la para o ano que vem. Então, sim, essa foi a grande exceção ao meu ano sem compras. Fora material, mão-de-obra, marcenaria (armários e afins) e vidros (boxes e espelhos),  houve a compra de alguns itens para a casa:

  • ar condicionado
  • fogão
  • lava-e-seca
  • mesa
  • colchão
  • cortinas

Agora que já parei de comprar (mas não de pagar, ha ha ha), estou sentindo um imenso alívio. Fiquei realmente estressada durante a fase de pesquisas, compras, lojas que não entregavam, decisões que eu tinha que rever, problemas na instalação etc. etc. etc. Ainda não está tudo 100% resolvido, mas pelo menos não tenho que comprar mais nada até… sei lá, até a próxima vida, de preferência.

Comprar virou um processo estressante para mim. Provavelmente pela falta do hábito já que, embora tenha começado o ano sem compras em 2012, desde outubro de 2010 tenho comprado pouco. Ter que lidar com vendedores é estressante. Ter de pesquisar preços é estressante. Ter de gastar dinheiro é estressante. Ter que gastar o meu tempo em lojas, ligações e problemas que poderiam não existir é muito estressante. Eu só conseguia pensar “putz, poderia estar fazendo tanta coisa mais proveitosa nesse momento”.

E agora, claro, ter de pagar as infinitas prestações é estressante, porque nunca tive dívidas, não estou acostumada com a sensação e realmente não entendo como alguém pode viver pulando de dívida em dívida por anos, por toda uma vida. Não vejo a hora de tudo isso acabar. Tem data certa: dezembro, porque não quis passar nenhuma conta para o ano que vem.

Pronto, já desabafei e posso retomar o relato mês a mês do ano sem compras em bases normais. 🙂

Leia os relatos mensais no fim do texto de abertura deste projeto: Um Ano Sem Comprar – Um Ano Sabático.

Quantas peças de roupa você tem?

No último fim-de-semana, a Claudia Giane twittou uma reportagem da Revista TPM sobre guarda-roupas lotados e a sensação de que a gente não tem nada pra vestir mesmo assim. A matéria apresenta uma moça que tem 400 peças de roupas, outra que tem 600 (!) e, pra fechar, uma que tem “apenas” 250 roupas e diz manter uma relação “racional” com o consumo.

A Claudia se espantou, e eu também. Como assim, 250 peças?! Nem vou comentar sobre os maiores guarda-roupas… mas olha, 250 peças de roupa é muita coisa! Acho bastante difícil justificar isso com base em “racionalidade”, viu?

Por outro lado, comentei no twitter mesmo que, provavelmente, esse era o meu número também. Entenda, hoje acho isso um exagero, mas nem sempre achei e, por mais que tenha me interessado muito pelo minimalismo no último ano, não sou minimalista, como já disse aqui outras vezes. Estou ainda no início de um processo de mudanças, de tentativa de consumo racional e coisa-e-tal.

Bem, fato é que resolvi contar quantas roupas tenho, e eis o resultado:

  • 23 casacos/blusas de frio (eram meu maior vício antes de começar a pensar sobre meu consumo de roupas)
  • 12 blazers/casaquetos
  • 5 roupas de festa (3 vestidos, uma saia de tafetá e um top bordado)
  • 23 saias (e eu vivo falando que tenho poucas saias O.o)
  • 29 vestidos (entre longos e curtos, de malha e de outros tecidos mais nobres, de verão e de inverno)
  • 18 calças (contando jeans, calças de alfaiataria e de malha)
  • 5 bermudas e shorts “de sair”
  • 59 camisas (entre cavadas, de manga comprida, de malha, mais arrumadinhas etc. e tal)
  • 2 pijamas de inverno
  • 2 camisolas
  • 2 shorts de dormir
  • 6 bermudas e shorts de ginástica
  • 9 camisetas de ginástica (a maior parte veio das inscrições em corridas de rua)

Total: 195 peças. (Não contei acessórios, roupas de banho, meias e underwear; quanto aos sapatos, tenho 24 pares.)

Então, no fim das contas, estou abaixo do menor guarda-roupa da matéria, mas ainda assim tenho muita coisa. Se eu já achava isso antes de fazer a contagem, agora a coisa ficou óbvio e ululante.

Boa parte das camisas, antes da limpa de 2010/2011.
Boa parte das camisas, antes da limpa de 2010/2011.

59 camisas, gente. 59! Quem precisa de tudo isso?!

E, como assim, 23 saias?? Onde elas se escondem?!

O pior é pensar que até 2010, quando comecei a rever meus conceitos, eu devia ter mais de 300 peças. Sim, porque provavelmente doei mais de 100 peças nos últimos dois anos. Mais de 300 roupas… caramba, como gastei dinheiro à toa.

Sabe o mais espantoso? Numa rápida pesquisa entre colegas de trabalho e de twitter, o guarda-roupas masculino parece ficar em torno de 50 peças. Quatro vezes menor que o meu. Cacilda.

Acredito que poderia viver muito bem com metade do que tenho, mas ainda não estou nesse ponto do desapego e não vou me forçar a isso. Todas as mudanças de consumo que tenho feito são voluntárias e desejadas, por isso creio que são duradouras. O que tenho feito é não comprar, e pretendo continuar assim por anos, repondo apenas o que for se acabando e aprendendo a usar melhor o que já tenho.

Vai demorar muito pra eu precisar comprar camisas, viu? E casacos.

E você, quantas peças de roupa tem? Você acha que tem o suficiente, ou sempre sucumbe ao sentimento de não-tenho-nada-pra-vestir?

Peles, trabalho escravo e as nossas decisões de consumo.

Você deve se lembrar do escândalo envolvendo a Marisa e o uso de mão-de-obra escrava para a confecção das roupas que ela vende. Não existe almoço grátis: para as lojas de fast-fashion venderem barato, alguém está pagando caro com a própria saúde, a própria infância, a própria dignidade.

Ai, você poderia pensar que redes de fast-fashion que cobram um pouco muito mais por suas roupas têm uma linha de produção justa, mas a Zara já provou que não é bem assim.

Na onda da recente polêmica sobre o uso de peles por algumas blogueiras (o que me espanta de verdade é que isso seja uma questão polêmica), a Blogueira Shame listou várias marcas famosas, caras e badaladas que usam peles em suas roupas: Miele, M. Officer, Ellus, Shop 126, Daslu etc.

Aí, a gente pára e pensa: “cacilda, é impossível comprar uma mera peça de roupa sem ter uma crise de consciência?!”.

Olha, não é impossível, mas fica cada vez mais difícil, graças à enorme quantidade de informação a que temos acesso hoje em dia. A ignorância é uma bênção: era tão mais simples quando não sabíamos como os animais são cruelmente mortos para a confecção de casacos de pele, ou como crianças são exploradas pra você poder consumir as roupas da estação por um preço baratinho…

O lance, então, é sair por aí pelada?

Hum, a menos que você queira visitar a delegacia, essa não é uma boa ideia.

O lance mesmo é repensar o consumo e, principalmente, o consumismo. Você precisa comprar cinco novas peças de roupa toda semana? Ou duas? Ou uma?

Você precisa realmente seguir a última tendência pra ser feliz?

Você precisa de trocentos pares de sapatos e zilhões de produtos de maquiagem? Ou de um celular novo a cada seis meses?

A gente precisa consumir, claro. É impossível viver sem causar impacto ambiental (e, por favor, meio ambiente não é só floresta; também inclui o meio urbano). Pra complicar a guerra, quase tudo que consumimos tem embutido o trabalho semi-escravo asiático, desde o estojo de sombras até o computador de que você precisa pra trabalhar.

Mas dá pra ser feliz consumindo menos e refletindo sobre as nossas escolhas.

Ou você pode simplesmente enfiar a cabeça na terra e fingir que não sabe de nada – de preferência, cobrindo-se com um casaco de pele.