Eu tenho muita coisa.

Comecei a morar sozinha em janeiro de 2000. São mais de dez anos, já. Essa semana, estava tentando me lembrar do que tinha naquela época.

A quitinete era tão pequena que tive que optar entre a máquina de lavar ou o fogão. Escolhi a lavadora, claaaaro. Comprei dois armários pequenos para cozinha (desses que vão em cima da geladeira, mas coloquei-os em cima da pia, um sobre o outro). Coloquei uma prateleira e uma cortininha sob a pia para o material de limpeza. O banheiro micro (o box tinha menos de um metro quadrado) ganhou um armarinho sobre a pia.

Na sala, algumas almofadas, aparelho de som, sofá-cama e escrivaninha para o computador “montado”. O quarto tinha um armário embutido grande, antigo, divino-maravilhoso. Uma cômoda de sete gavetas guardava inclusive enlatados e sopas de pacote. A cama de solteiro tinha uma cama auxiliar (com meus sapatos e bastante espaço vazio), seis gavetas e um baú.

E tudo que eu tinha cabia ali, naquela quitinete.

Tudo.

A maior parte das roupas de uso diário.
A maior parte das roupas de uso diário.

Eu tinha bem menos coisas que hoje, mas rigorosamente nada me faltava. E não era infeliz por ter poucas coisas. Não sou infeliz hoje, bem entendido; mas também não sou mais feliz por ter mais coisas.

Nesse exato momento, tenho cerca de 80 livros não lidos comprados em promoções “imperdíveis”. Tenho uma necessaire razoável cheia de maquiagem, uma caixa de bijouterias, uma gaveta de acessórios pra cabelo e pilhas de lenços, echarpes e pashiminas. Tenho uma arara de casacos que só seriam adequadamente usados se eu morasse no Uruguai (Brasília teve um inverno de 30°C este ano!). A arara de camisas, camisetas e afins está tão cheia que as peças amassam. Tenho quase 300 cds e ouço sempre os mesmos 30.

Camisetas e saias.
Camisetas e saias.

Não tenho um closet fabuloso e tal, mas tenho muito mais do que preciso.

Já revi alguns hábitos. Há meses não compro livros; tenho resistido aos lenços e similares (mas fraquejei na liquidação da Accessorize); não compro cds há vários anos; diminuí consideravelmente a aquisição de dvds; e quase não comprei roupas esse ano.

Ah, as roupas. Eis o verdadeiro assunto deste texto.

Lembra que falei de um novo projeto pessoal? Bom, o projeto foi desencadeado pelo Hoje Vou Assim Off e sua proposta de recessionismo fashion, e tornou-se mais concreto quando li este texto do Vende na Farmácia? linkado em algum artigo do HVAOFF.

Vestidos.
Vestidos.

Não sei quantas vezes já ouvi e repeti a expressão “se você não usou uma roupa em um ano, não vai usar nunca”. Há quem fale que o prazo é de dois anos. Sempre tento me lembrar disso na hora de arrumar o armário, mas acabo sendo indulgente: “vou emagrecer”, “vai aparecer a ocasião certa”, “vou inventar uma nova combinação”, “a roupa é tão nova”, “a roupa é tão querida” e por aí vai. Com isso, muita coisa se arrasta sem uso há anos no guarda-roupa.

É verdade que adotei há uns dois anos a política de “se uma coisa entra, outra coisa sai”, mas e a tranqueira que já estava acumulada lá dentro?

Outro dia li uma dica ótima: para saber que roupas você realmente usa, arrume todos os cabides com o gancho pra dentro e, depois de usar a peça, guarde-a com o gancho pra fora (ou vice-versa).

Calçados de uso frequente.
Calçados de uso frequente.

O projeto: partir para o “menos é mais” armário com menos roupa encalhada é mais bacana.

As regras:

  • desde 02 de outubro uso a técnica do gancho do cabide pra dentro/pra fora
  • no caso das roupas dobradas, apelei para a mudança de gavetas conforme uso
  • todos sapatos receberam um papelzinho que será retirado quando forem usados
  • ainda não sei como vou organizar os lenços e echarpes, mas também adotarei alguma tática
  • o que não for usado até 1º de maio de 2011 será doado, vendido ou trocado
Casacos.
Casacos e roupas de festa.

Exceções: roupas de festa (festa mesmo, daquelas que exigem brilhos, plumas e paetês) , lingerie (uso tudo que tenho) e casacos de inverno (os de meia-estação submetem-se à regra, a não ser que Brasília se mantenha nos infernais 30 graus).

Os objetivos:

  • exercitar o desapego e livrar-me do que não uso, obviamente
  • conhecer o que tenho e ser criativa dentro disso
  • aperfeiçoar meu estilo
  • descobrir como andam minhas peças clássicas e básicas (se é que andam)
  • comprar apenas o que realmente for fazer a diferença no guarda-roupa
Todo o resto.
Todo o resto.

Para ajudar, ontem incluí mais uma prática nesse processo: fotografar os figurinos do dia-a-dia. Não vou criar um blog de moda e não vou publicar as fotos. A ideia é formar um catálogo pessoal de tudo que tenho pra ajudar nas combinações. Além disso, é uma ótima forma de ver o que realmente cai bem e o que deve seguir viagem.

Será um desafio. Tenho umas dez ou quinze peças que são praticamente uniformes, a ponto de eu mesma estar enjoada. É aquela coisa de vestir no automático sempre a mesma roupa. Essa revisão em sete meses me obrigará a pensar melhor o visual antes de sair de casa (a menos que eu queira ter apenas essas quinze peças no armário depois de maio). Será um desafio de criatividade. Terei de dedicar algum tempo a isso, mas tenho certeza de que será prazeroso e, ao fim do período, terei aprendido mais sobre mim, meu corpo, meu estilo.

Quando a jornada chegar ao fim, volto pra contar.

Obs.: todas as fotos foram tiradas em 07 de outubro de 2010 (clique nelas se quiser aumentar).

15 comentários on “Eu tenho muita coisa.

  1. Nem me fale em ter muita coisa. Desde a última vez que me mudei que caí na real que fico guardando muita coisa em casa e praticamente metade disso não tem uso.
    Semana passada mesmo fiz uma limpa no guarda roupa e doei muita coisa pra diarista, agora decidi que não compro mais DVD’s nem CD’s. O formato digital chegou pra ficar e ajuda muito na questão “organização”. O único vício que tenho ainda é de comprar tênis (mesmo tendo uns 10 no armário) e trocar de mochila a cada dois meses.
    Adorei essa tua iniciativa. Vou ficar curiosa para conhecer o final. 🙂

  2. Outra coisa boa de se fazer é o combo vinho/música numa tarde de coordenação de looks. Eu faço nas férias antes de viajar. Ajuda bastante na hora de fazer as malas e na hora de inovar nos looks.
    Aliás eu devia fazer isso por esses dias. Tem semanas que eu planejo e nunca dá tempo!
    Vai contando como tá indo, me interessei!
    Bjs

  3. Dizem que tudo aquilo que não lhe fez falta por um ano é perfeitamente dispensável! Eu pessoal mente não consigo me desfazer das minhas coisas tão fácil

  4. Desde que passei a acompanhar o :mnmlist, entrei nessa vibe less is more. Com roupas não tenho tanto problema, nem com “material cultural” (livros, filmes, música), já faz algum tempo que dou preferência para versões digitais, mais baratas e que não ocupam espaço. Eu só fraquejo com gadgets, cacarecos legais da DealExtreme, esse tipo de coisa :-B

    Para me livrar do vício aos poucos, estou me educando para criar um “caixa” para esse tipo de coisa. Se quiser comprar algo novo, vendo o que já tenho. Além de economizar, faz com que eu não acumule coisas que não uso em casa.

    []’s!

  5. Nossa, moro em Brasília (e vivi o pseudo-inverno deste ano) e moro numa quitinete! Me identifiquei muito com o texto e vou começar a tomar umas providências tb

  6. Hi, Lu!

    Sou de Belo Horizonte e descobri o seu blog lendo uma das postagens do “Blosque”. Há um ou dois meses (não sei ao certo) sempre dou uma olhadinha no “Dia de Folga” e confesso que o design, ou melhor, o layout é Lindo de Viver. Refrescante. Sério. Não é trocadilho com o “gelo e limão”. A tela se ilumina quando “entro” no seu Blog!

    Deus a abençoe e PARABÉNS pelo lindo, incrível trabalho.

    É o meu primeiro comentário aqui e ADOREI o Post “Eu tenho muita coisa”.

    Acabei de me mudar para um novo apartamento (no mesmo bairro) e fiz uma sacola pesada e enorme de roupas e sapatos para doar ao bazar da comunidade católica Canção Nova.

    Aprendi com meu pai que, se compramos/ganhamos uma blusa, damos uma antiga; uma meia, fazemos o mesmo; uma sandália, idem. Mas, mesmo assim, a “tranqueira” que juntamos ao longo dos anos parece inevitável!…

    Adorei a dica do cabide. Agora… Não consigo evitar a AQUISIÇÃO DE NOVOS LIVROS!! É o meu vício, a minha Paixão. Hoje mesmo (que coincidência) fiz meu marido me comprar 3 (três!!!) livros no Shopping Cidade, aqui no centro de BH. Em pleno domingão, veja só!…

    Um beijo e… Um queijo! Inté! Saúde e Paz!

  7. @Fabiana, ano que vem vou me mudar (pela enésima vez) e isso aqui já é parte do processo de arrumação pra não ficar louca na hora h. Até lá, quero me desapegar também de cds e outras coleções. (Dez pares de tênis???)

    @Daniela, minha mala de viagem é sempre uma coisa deprimente, básica, sem originalidade alguma. Pelo menos é pequena… Vou experimentar fazê-la com vinho da próxima vez. 😉

    @Elaine, o desapego é mesmo um exercício. Eu me esforço, mas estou longe do que acharia ideal.

    @Rodrigo, tudo mundo tem um ponto fraco, não tem jeito. Não conhecia o :mnmlist, estou olhando agora… mas é minimalista demais! Em compensação, gosto muito do Zen Habits, é bastante inspirador.

    @Fabíola, essa vida em latas de sardinha em Brasília ensina o desapego na marra!

    @Ana Paula, muito obrigada pelos elogios. O layout é do Rodrigo Ghedin e do Thiago Nascimento e concordo que é lindo – eles fizeram um trabalho maravilhoso! 🙂

    Adoro livros, mas acabo comprando numa velocidade maior do que leio. Quero reverter esse processo: ler mais, comprar menos!

  8. Se vc aceita uma dica, use tudo o que tem. Se não usa mesmo, pois não serve ou é velha, doe se for boa, ou lixo se for trapo. famílias carentes não usam coisas com brilhos, etc, então doe para brechós beneficentes, que vendem isso.
    Só compro coisas em brechós, e isso rende economia e variedade sempre, além de ser ecológico. E encontro coisas de qualidade, de marcas famosas e modernas, pois há muita gente que compra e nem usa, as roupas vão parar em brechós.
    Faço um rodízio em meu armário para usar tudo o que tenho.
    Não tenho roupa de festa nem roupa para ‘sair'(uso tudo em qualquer lugar, pois se na minha casa nao puder me vestir bem…), se uma festa não pode aceitar que eu vá bem vestida com o que tenho é sinal que não merecem minha companhia. Além do que acho deselegante vestidos de festa (não ficam bem em ninguém que não tenham corpo de modelo e mesmo modelos ficam melhor em roupas comuns), vendi os vestidos ‘de festa’ que tinha (dois ou três). com a grana vc compra coisas que usa mesmo. bjs e boa sorte… aqui no sul também anda fazendo calor no inverno, são as mudanças climáticas.

  9. @Ellen, acho que você comentou sem ler o meu texto, porque a proposta dele é justamente usar tudo o que se tem.

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