Romance

Ficha Técnica

  • Título: Romance
  • País: Brasil
  • Ano: 2008
  • Gênero: Drama
  • Duração: 1 hora e 40 minutos
  • Direção: Guel Arraes
  • Roteiro: Guel Arraes e Jorge Furtado
  • Elenco: Wagner Moura, Letícia Sabatella, Andréa Beltrão, Vladimir Brichta, José Wilker, Marco Nanini, Edmilson Barros, Bruno Garcia, Tonico Pereira.
  • Sinopse: Pedro (Wagner Moura) é um ator e diretor de teatro, que se apaixona por Ana (Letícia Sabatella), também atriz, ao contracenarem na peça “Tristão e Isolda”. O namoro é afetado pelo posterior sucesso dela na TV, impulsionado pela empresária Fernanda (Andréa Beltrão). Além disto, ao gravar um especial de TV, Ana conhece Orlando (Vladimir Brichta), um ator por quem se apaixona.

Comentários

Romance

Romance é um desses grandes filmes que, por razões que a própria razão desconhece, passou batido pelo grande público.

A história acontece em dois tempos: o primeiro começa no teatro e marca o encontro e a paixão de Pedro e Ana enquanto ensaiam a clássica montagem Tristão e Isolda. É Pedro quem discorre sobre a importância dessa trama do século XII para a literatura mundial, pois a partir dela tornou-se frequente o tema do amor impossível. Esse primeiro arco rende belas homenagens à literatura e ao teatro. Embora haja a marca de Guel Arraes nessa primeira etapa, com os duelos de palavras por exemplo, ela é suave, com espaço para pausas, olhares e simbolismos

No segundo tempo da história, tem-se nítida a verve de Guel Arraes. Os diálogos se aceleram e as piadas são mais frequentes. Nesse segundo momento o filme faz referência à televisão – chamar de “homenagem” seria exagero, já que há uma boa dose de ironia, não faltando críticas à pasteurização das produções televisivas e ao culto à celebridade. Estão presentes nessa segunda metade a ambientação no Nordeste (traço frequente em Guel Arraes) e o indefectível Marco Nanini (excelente, como sempre).

O roteiro passeia por outras histórias de amor consagradas, como a de Otelo e Cyrano de Bergerac – todas inspiradas no mito de Tristão e Isolda, na infelicidade dos amantes. O amor nunca realizado ou efêmero, esse amor que tanto inspira os artistas, é o grande reverenciado em Romance.

O elenco é de tirar o chapéu. Wagner Moura está particularmente fantástico, destacando-se pela extrema versatilidade – não só comparando-se este trabalho aos anteriores, mas também dentro do próprio filme, conduzindo as idas e vindas de seu personagem com maestria. O restante do elenco, maravilhoso, e a direção musical de Caetano Veloso fazem deste um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos.

Cotação: 4 estrelas

Serviço

Imagem: divulgação.

Minhas Mulheres e Meus Homens

Ou melhor, as mulheres e os homens de Mario Prata, que resolveu transformar em livro sua agenda telefônica. O resultado é o desfile de mais de duzentas pessoas – várias delas, famosas – em histórias indiscretas, curiosas, algumas melancólicas, quase todas divertidas.

Você vai descobrir, por exemplo, que o Julinho da Adelaide ficou furioso com o Chico Buarque, acusando-o de querer aparecer às suas custas. Lerá uma carta da Marília Gabriela, pessoal como são as cartas para os amigos. Vai rir com a experiência revolucionária de Prata na época da ditadura militar e com detalhes da criação de suas novelas e livros.  Conhecerá muita gente de Lins, cidade em que cresceu o cronista. Até personalidades internacionais dão as caras, como Gabriel García Márquez. Mario Prata é um homem de muitos contatos!

O livro vem em ordem alfabética, como toda agenda telefônica. O autor aconselha a leitura em ordem cronológica e apóio a escolha. Afinal, esse monte de fragmentos é uma autobiografia, com toques de história recente do Brasil. Nada melhor que ler na ordem em que os fatos aconteceram. Claro que, ainda assim, ficarão dúvidas, incertezas, perguntas da maior importância jamais respondidas – pra quem será que o Chico Buarque compôs “Olhos nos Olhos’, afinal de contas?

Aproveite pra ler o que o próprio Mario disse sobre o livro.

Ficha

  • Título: Minhas Mulheres e Meus Homens
  • Autor: Mario Prata
  • Editora: Objetiva
  • Páginas: 252
  • Cotação: 4 estrelas
  • Pesquise o preço de Minhas Mulheres e Meus Homens.

Bastardos Inglórios

Ficha Técnica

  • Título original: Inglourious Basterds
  • País: Estados Unidos/Alemanha
  • Ano: 2009
  • Gênero: Ação
  • Duração: 2 horas e 33 minutos
  • Direção: Quentin Tarantino
  • Roteiro: Quentin Tarantino
  • Elenco: Brad Pitt, Mike Myers, Mélanie Laurent , Eli Roth , Christoph Waltz , Michael Fassbender, Diane Kruger, Daniel Brühl, Cloris Leachman e Maggie Cheung.
  • Sinopse: Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica para realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é matar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente, Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste à execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz).

Comentários

Bastardos Inglórios

Evito os filmes de Tarantino como vampiros evitam água benta. Não me agradam a sangueira e a violência gratuita, suas marcas registradas (embora tenha gostado bastante de Cães de Aluguel).

Foi uma surpresa, portanto, constatar que Bastardos Inglórios não é tão sangrento quanto eu esperava. Cenas nojentas? Duas, talvez três. Violência? Sim, tem uma boa dose no filme. Agora, quando a violência é contra nazistas… bem, ela deixa de ser gratuita, não é?

A história é batida: Segunda Guerra, nazismo etc. e tal. Mas não espere um filme previsível ou um final histórico: Tarantino cria um fim alternativo (e sensacional, diga-se) para Hitler e Cia. Limitada.

Ares europeus permeiam a história, não só no cenário, idioma e atores, mas na sua condução. Claro que isso fez gente reclamar no cinema: “que filme lento”, “que diálogo longo”, “que cara chato”. É o povo que quer ver pancadaria o tempo todo. Bastardos Inlgórios concentra-se mais em sugerir a tensão que em desmanchá-la em mares de sangue e isso é o que torna o filme tão bom. Tarantino parece um diretor mais maduro, que não precisa apelar para impressionar o público. As cenas são trabalhadas, os diálogos são bem construídos, o tempo é usado como um personagem importante, fornecendo altas doses de suspense. A violência está muito presente, mas é implícita na maior parte do tempo. A platéia fica em constante sobressalto.

O elenco está impecável. O austríaco Christoph Waltz interpreta magistralmente o nazista Hans Landa, o “Caçador de Judeus”, responsável pelas cenas mais tensas da película. Brad Pitt é um caso à parte. Está excelente e quase irreconhecível, com um sotaque caipira tão forçado que se torna inverossímil e, por isso mesmo, engraçado. Aliás, Bastardos Inglórios é filme de guerra, sim, mas tem cenas que fazem rir muito.

Se você gosta de Tarantino, veja Bastardos Inglórios preparado para um autor maduro e um enredo refinado. Se você não gosta, deixe a cisma de lado e assista ao filme para conhecer uma nova faceta do diretor.

Cotação: 4 estrelas

Curiosidades

Tarantino começou a escrever o filme antes de Kill Bill. Foram quase dez anos trabalhando no roteiro.

O famoso compositor Ennio Morricone foi chamado para compor a trilha sonora, mas tinha outros compromissos. Ainda assim, várias de suas músicas, criadas para outros filmes, são usadas em Bastardos Inglórios.

Em Portugal, o filme ganhou o título Sacanas Sem Lei.

Serviço

Imagem: divulgação.

Wall-E

Ficha Técnica

  • Título original: Wall-E
  • País de origem: EUA
  • Ano: 2008
  • Gênero: Animação
  • Duração: 97 minutos
  • Direção: Andrew Stanton
  • Roteiro: Andrew Stanton
  • Elenco: Ben Burtt (Wall-E / M-O), Elissa Knight (Eva), Jeff Garlin (Capitão), Sigourney Weaver (Auto). Em português: Claudio Galvan (Wall-E), Sylvia Salustti (Eva), Reginaldo Primo (Capitão), Manolo Rey (M-O), Guilherme Briggs (Auto). Direção de Manolo Rey.
  • Sinopse: Wall-E, um solitário robô que ficou na Terra para limpar a sujeira deixada pra trás pelos seres humanos, conhece Eva, robô recém-chegado com a missão vasculhar o planeta em busca de vida.

Comentários

Wall-E Fofo. Essa é uma ótima palavra para definir Wall-E. Fofo, mas não besta. Afinal, é um filme da Pixar, responsável por jóias como Procurando Nemo (também dirigido e roteirizado por Andrew Stanton) e Toy Story, e faz jus à tradição do estúdio.

Só que as semelhanças páram por aí. O filme é muito diferente de qualquer outra animação que você já viu. Dá quase pra imaginar que é feito exclusivamente para adultos. O fato de crianças gostarem seria um bônus, um efeito colateral.

A primeira meia hora do filme é, praticamente, uma experiência de cinema mudo. Uma bela trilha sonora acompanha o robozinho Wall-E em sua tarefa de compactar montanhas de lixo deixadas sobre a Terra pelos humanos. De quebra, ele vai juntando tranqueiras que nem sabe para que servem, mas que minimizam sua solidão e viram brinquedos. Que criança não teve a fase de encher os bolsos de bugigangas? Wall-E é assim, uma criança. Não entende o mundo em que vive, mas gosta dele. É curioso e ingênuo. Faz o dever de casa e, no tempo livre, brinca com sua coleção e com sua melhor amiga, uma barata.

(Aliás, parafraseando Indiana Jones… Barata. Por que tinha que ser uma barata? Odeio baratas. Sério. Eu ficava tensa toda vez que aquela criatura nojenta aparecia e, putz, como torci pra que ela fosse esmagada/fulminada.)

O mundo de Wall-E vira do avesso quando conhece Eva, uma robô muito mais moderna e muito menos… humana. O robozinho terá papel fundamental na transformação da metódica Eva, que também modificará para sempre a vida de Wall-E.

O que mais encanta no filme é a habilidade dos animadores em atribuir tanta vida e emoção a uma sucata ambulante (com todo o respeito) é surpreendente. Eles se superaram, decididamente. Não dá pra pensar em Wall-E como um ser inanimado, não com aqueles olhos incrivelmente expressivos.

O enredo é politicamente/ecologicamente correto. As principais críticas são ao consumismo, à economia da moda e do descartável, com os conseqüentes danos ao meio ambiente e, claro, ao próprio homem. Não se preocupe: não há discurso ou pregação escancarada, embora, na verdade, essa crítica seja a base para todo o roteiro. Por fim, a camada das referências. A mais óbvia e constante é ao clássico 2001 – Uma Odisséia no Espaço, mas também há pinceladas de Star Trek e Admirável Mundo Novo. Na versão original, Sigourney Weaver, mais conhecida como Tenente Ripley, faz a voz do piloto automático (no Brasil, a voz coube a Guilherme Briggs, dublador do Worf, de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração). O cubo mágico e o joguinho Pong provocam suspiros nostálgicos. Quem assistir aos créditos finais ainda será premiado com figurinhas saídas dos jogos do Atari.

Os mac-maníacos encontram várias referências à Apple (Steve Jobs, fundador da empresa, foi CEO da Pixar até sua compra pela Disney, em 2005) que me passaram completamente despercebidas (ok, depois que soube, até achei evidente a semelhança entre Eve e um iMac).

Wall-E é completo. É um primor de técnica, tem um personagem muito carismático e um enredo cativante. Será uma injustiça se não levar o Oscar 2009 como melhor longa de animação.

Cotação: 4,5 estrelas (se não houvesse a barata…)

Curiosidades

O curta de animação que antecede o filme (hábito da Pixar) é Presto e mostra um mágico entrando em apuros por causa do seu coelho. Bacaninha, mas, de tanto ouvir maravilhas sobre ele, esperava mais.

separador

As dublagens brasileiras de animações costumam ser excelentes, e Wall-E não foge à regra. Nem dá pra acreditar que os mesmos profissionais fazem trabalhos sofríveis como os vistos no canal Fox. Bem, provavelmente não são os mesmos. O Blog do Bonequinho publicou uma ótima entrevista com Manolo Rey, o diretor da dublagem de Wall-E . Quando perguntado sobre as dublagens para tv a cabo, Manolo disse:

Atualmente, dirijo na Delart, e há empresas que cobram um terço do que é cobrado lá. Como conseguem? Simples, diretores, tradutores e dubladores aceitaram trabalhar por menos, e em condições contrárias às estabelecidas por nós. Acredito que a dublagem só vai crescer quando houver maior cobrança quanto à qualidade. O público tem que reclamar do que é ruim e elogiar o que gostou.

É a velha história: tem os melhores profissionais quem paga o preço justo.

(Confesso: uma das inúmeras profissões que quis seguir na adolescência foi a de dubladora.)

separador

O site oficial de Wall-E não tem grande coisa, mas vale a visita para uma partidinha de pinball (ninguém mais usa o termo “fliperama”?) em companhia do robozinho mais fofo do universo.

Serviço