Gosto de livros de fantasia. Mesmo. De verdade. Mas olha, aguentar o volume 2 de O Vampiro-Rei não foi moleza. A experiência de ler O Vampiro-Rei – volume 1 já não tinha sido das melhores. Prossegui para o volume 2 com poucas esperanças e, mesmo assim, consegui me decepcionar.
A coisa toda é fantástica demais até para o meu gosto. No volume 2, não há só vampiros: tem bruxa, supervampiro, dragão e até elementos do folclore brasileiro (não vou dizer quais para não tirar o seu prazer em descobrir; digo… ah, deixa pra lá).
As cenas de batalha são inúmeras, imensas e tediosas. A vontade que dá é de correr os olhos para chegar logo ao desfecho de cada uma e descobrir que “ah tá, eles venceram”.
Somado a tudo isso, a revisão desse volume é tão descuidada quanto a do primeiro. Para completar, há diversas construções que, embora não sejam erradas, denotam falta de cuidado. Frases como “Dessa vez foi a vez” não são bacanas, sabe?
Com esse livro, encerro minha aventura pela obra de André Vianco – já não era sem tempo.
Depois de Os Sete, chegou a vez de O Vampiro-Rei, em dois volumes. Comecei Os Sete receosa mas, como tive uma experiência legal, fui para o primeiro volume de O Vampiro-Rei com boas expectativas. Pena que o livro não correspondeu.
Enquanto Os Sete é uma aventura sem maiores pretensões, O Vampiro-Rei quer ser um épico (que, descobri depois, começa um livro antes, de nome Bento), gênero que não me atrai. Tudo tem início com a Noite Maldita, que libertou terríveis vampiros. Os humanos caíram em um estado de sono profundo e passaram a servir de alimento para as criaturas noturnas. Os que eventualmente acordavam deparavam-se com um mundo devastado, rodeado pelo caos, em que a noite existe apenas para ter temida. Lembrei-me bastante de Eu Sou a Lenda.
Há, contudo, uma esperança: uma profecia narra quatro milagres que aconteceriam quanto os trinta escolhidos – os bentos – acordassem. Liderados por Lucas, os bentos iniciais formam um grupo pequeno, mas quase invencível. Munidos de espadas de prata e com a ajuda de um grupo de despertos sempre crescente, seu plano inicial é destruir os vampiros e retomar o controle das grandes cidades brasileiras.
A história caminha bem em alguns trechos. É interessante descobrir esse novo Brasil pouco a pouco – como em Os Sete, André Vianco guarda sempre alguns mistérios e esse é o grande trunfo do livro. A curiosidade faz o leitor continuar página após página. Por outro lado, há enormes sequências tediosas, batalhas longas demais, passagens que mereceriam poucos parágrafos em vez de páginas inteiras. A leitura torna-se, em boa parte do tempo, cansativa. E, se Os Sete careceu de uma pequena revisão, em O Vampiro-Rei os erros de português/digitação são ainda mais frequentes.
Já comecei a leitura do volume 2 e devo dizer que, embora continue curiosa pelo desfecho – ainda há várias lacunas a serem preenchidas -, o tédio parece estar ainda mais presente nessa segunda parte da história…
Se eu te dissesse a quantidade de livros sobre vampiros que já li ou que aguardam na estante de casa, você se surpreenderia – e todos adquiridos pré-Crepúsculo, que essa coisa de vampiro do bem não me convence.
Entre os da estante, estão três do brasileiro André Vianco: Os Sete, O Vampiro-Rei Vol. 1 e O Vampiro-Rei Vol. 2 (e nesse momento ouço a voz do Bento Carneiro, o “vampiro brasileiro”). Comecei por Os Sete, meio (ok, muito) receosa. E não é que a história é bacana?
Uma grande caixa de prata guarda há quase 500 anos sete cadáveres. Gravada na caixa, uma mensagem de alerta: “Nobres homens de bem, jamais ouseis profanar este túmulo maldito. Aqui estão sepultados demônios viciados no mal e aqui devem permanecer eternamente. Que o Santo Deus e o Santo Papa vos protejam”. Ainda se lêem sete palavras: Lobo, Tempestade, Inverno, Gentil, Espelho, Acordador e Sétimo. Sete nomes. Os Sete.
Claro que a mensagem é ignorada, claro que o túmulo de prata é aberto e aí começa a aventura por terras riograndenses (com uma passagem por São Paulo). Cada cadáver é um vampiro, cada vampiro guarda um poder especial. A partir daí, os amigos que descobriram o “tesouro”, os estudiosos e o Exército Brasileiro juntam forças para derrotar os demônios.
Não faltam cenas insólitas, apropriadas para um livro de fantasia. A mocinha e o herói também estão lá. O mistério é desvendado gradualmente, sempre preservando-se alguma emoção para as páginas seguintes. Perseguição, luta e suspense fecham o pacote desse romance que, se não é sensacional, é bastante honrado, com um bom ritmo e uma escrita fluente (embora merecesse uma pequena revisão). Fiquei curiosa pela continuação, Sétimo, mas só depois de zerar os livros acumulados.
Há vários anos, vi uma montagem amadora de Gota D’Água. Lembro de ter achado interessante, mas não me senti realmente tocada pela peça. Ler o texto, porém, foi uma experiência completamente diferente. Eu, que não gosto de ler peças teatrais, vi-me presa àquelas páginas, percorrendo a mesma espiral de sofrimento de Joana, a protagonista.
Gota D’Água é trágica desde a sua inspiração: a tragédia grega Medéia, de Eurípedes. Chico Buarque e Paulo Pontes contextualizaram o drama clássico, situando seus personagens num cortiço do Rio de Janeiro, cercados pela pobreza e dotados de uma determinação quase instintiva de continuar seguindo em frente. Jasão é um deles, até o dia em que emplaca um samba na rádio, começa a fazer sucesso e passa a namorar Alma, filha de Creonte, o poderoso dono do cortiço. Encantado por promessas de juventude e riqueza, Jasão abandona Joana (a Medéia contemporânea), quinze anos mais velha que ele, mãe dos seus dois filhos, sem a qual ele provavelmente não teria passado de um joão-ninguém.
Todos os moradores do cortiço são envolvidos no drama amargo de Joana, seja a seu favor ou contra ela – e às vezes mudando de opinião conforme as circunstâncias. No fundo, porém, Joana está sozinha, entregue à própria amargura. O desfecho dramático é inevitável. Resta ao leitor segurar o fôlego, esperando a morte.
Como Calabar, Gota D’Água é toda escrita em versos, cadenciando a leitura, e tem poucas marcações de palco que a atrapalhem. Seu enredo, porém, é muito mais denso, mais concreto e, portanto, mais emocionante. É difícil ler de um só fôlego uma trama tão sombria.
Ao lado do drama humano, Gota D’Água traz uma crítica social, retratando um cenário em que os ricos ficam cada vez mais ricos às custas dos pobres, que empobrecem um pouco mais a cada dia. A edição que li traz um prefácio um tanto extenso (às vezes tedioso) em que os autores discorrem sobre a desigualdade de classes gerada pela selva de pedra capitalista. Boa parte do que ali está escrito já se encontra superada, seja por novas correntes políticas, seja pela História; contudo, o texto é uma espécie de retrato intelectual do momento pelo qual passava o Brasil nos anos 70 e, sob esse aspecto, é interessante.
A peça, por sua vez, é um retrato atemporal das misérias humanas e mantém sua atualidade ao longo das décadas, como Medéia se mantém atual século após século.