Casas mal-assombradas

Antigamente, as histórias de terror contadas em noites escuras preocupavam-se em assustar usando o próprio imaginário do ouvinte, pouco importando-se em descrever monstros repugnantes e tripas ensangüentadas.

Contando com efeitos especiais cada vez melhores, o cinema encarregou-se de inverter as prioridades, dando mais destaque à imagem do que à ambientação psicológica. Nessa linha surgiram, nos anos 80, as duas séries de terror mais famosas de todos os tempos: Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, protagonizadas pelos horrendos Jason Voorheess e Freddy Krueger, respectivamente.

Nos últimos anos, os produtores de filmes de terror parecem ter percebido a saturação da fórmula monstro-assustador-ataca-novamente-e-mata-mocinha e voltaram a se preocupar com o suspense, o horror que nasce na cabeça do espectador, a tensão psicológica. Essa tática é muito mais eficiente em causar sustos do que a anterior. O cinema de terror japonês já sabe disso há tempos e a utiliza largamente – não é por acaso que Hollywood tem visitado a Terra do Sol Nascente para garimpar seus filmes e fazer remakes.

Três lançamentos seguem a linha o-perigo-está-na-sua-cabeça. Coincidentemente, vi os três trailers na seqüência, antes de Sin City. Mais coincidência ainda, todos trazem o lar-doce-lar como vilão.

Faz sentido. É possível evitar uma pessoa que pareça má e feia e, assim, escapar do perigo. É mais difícil quando ele está dentro do próprio lar, no recinto que deveria ser sinônimo de segurança e aconchego, entre as paredes que abrigam tudo que temos de mais querido, material e emocionalmente falando.

As três produções em questão são Água Negra, A Chave Mestra e Horror em Amityville.

Água Negra (Dark Water) é refilmagem do japonês Honogurai Mizu No Soko Kara (de Hideo Nakata, o mesmo diretor dos também japoneses O Chamado e O Chamado 2) e traz a inusitada direção do brasileiro Walter Salles. A tensão não se passa numa casa propriamente dita, mas em um apartamento. Dos três filmes, é o único que já está em cartaz. Tem recebido algumas críticas ruins. Provavelmente porque, acostumada ao susto fácil de caras feias, a platéia americanizada não está habituada a deixar-se envolver pela história dos personagens e, conseqüentemente, não tira proveito do suspense psicológico típico do horror japonês. Até pode ser que o remake seja mesmo uma grande porcaria, mas quero dar-lhe o benefício da dúvida.

A Chave Mestra se passa numa mansão e envolve magia negra. Com estréia prevista para 26 próximo, tem cara de clichê e foi o trailer que menos me chamou a atenção.

Horror em Amityville também é refilmagem. A produção original, A Cidade do Horror (de 1979), é norte-americana e rendeu quatro seqüências. A história inspira-se em fatos reais, ocorridos por volta de 1974: a casa foi palco do assassinato da família DeFeo e de eventos sobrenaturais que atormentaram seus moradores seguintes, a família Lutz. Os eventos macabros tornaram-se livro em 1977, pelas mãos de Jay Anson. Um dos produtores dessa nova versão Michael Bay, também co-produziu a refilmagem de 2003 do cult O Massacre da Serra Elétrica.

Três películas a conferir. Resta saber se terei coragem. Morro de medo de ver filme de terror. Sério.

O Exorcista – O Início

Ficha técnica

Exorcist: The Beginning. EUA, 2004. Terror. 114 min. Direção: Renny Harlin. Com Stellan Skarsgard, James D’Arcy e Nick Komornicki.

O longa mostra o primeiro contato do padre Merrin (interpretado por Max von Sydow em 1973) com o demônio.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

4 estrelas

Se você curte levar sustos homéricos e ver cenas repulsivas, assista a O Exorcista – O Início. Não é tão impactante quanto o primeiro, mas é muito bom no que se propõe. Utiliza alguns recursos presentes em O Exorcista – Versão do Diretor, como efeitos sonoros abundantes e vindos de todos os lados. Além disso, usa e abusa da computação gráfica – inverossímil em alguns momentos, diga-se de passagem, mas não a ponto de prejudicar o conjunto.

Vale a pena, para passar medo.

Notinhas

Assisti ao filme com alguns amigos. O pobre que ficou ao meu lado, coitado, quase teve o braço esmagado, de tanto que o apertei, a cada susto que levava. Lá pelas tantas, numa cena bastante tensa, senti algo vibrando bem no meu cotovelo. Quase arranquei o braço do meu amigo, dei um pulo de dois metros de altura e um berro considerável, imaginando que algum monstro tinha saltado da tela em direção ao meu braço. E era só o celular do meu amigo vibrando…

Sempre que assisto a esse tipo de filme, passo a sessão inteira questionando a minha sanidade mental, por ter gastado meu rico dinheirinho para sentir medo. Toda vez, juro que será a última. Pena que nunca consigo manter a promessa…