Livro: O Fim da Infância

Livro da vez: “O fim da infância”, de Arthur C. Clarke.

Em um lance digno de filme (usado, na verdade, em “Independence Day”), os aliens invadem a Terra – só que não vêm para destruir ou conquistar, mas para civilizar e estimular o progresso da humanidade. Karellen é o porta-voz dos ditos Senhores Supremos e fala por meio do Secretário-Geral da ONU.

A humanidade aceita a intervenção, mas um tanto desconfiada, especialmente porque os aliens nunca aparecem. Além disso, fica a dúvida: o que eles desejam de verdade? Por que tanto interesse na humanidade e no progresso da nossa civilização? O que está por trás disso? Seriam os deuses astronautas?

As respostas são surpreendentes. O desfecho é prenunciado, mas mesmo assim é impactante.

Clarke indica otimismo (até exagerado) pela evolução humana, mas também questiona: quando tudo está bem, o que acontece com o espírito de aventura? O ser humano precisa de conflito para criar?

E o maior questionamento permanece: qual o nosso lugar no universo?

Leitura de outubro do #lendoscifi, projeto maravilindo da @soterradaporlivros.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

Klara e o Sol

Livro da vez: “Klara e o Sol”, de Kazuo Ishiguro.

Klara é uma AA que tenta compreender o mundo enquanto espera por uma criança para chamar de sua. A história se passa em um futuro incerto, nos quais a tecnologia e a ciência avançaram. E mais não digo, para não estragar o prazer das descobertas durante a leitura.

O que me encanta na escrita do Ishiguro é justamente o jogo de esconde-e-mostra que ele constrói. Inicialmente, o leitor está perdido e várias perguntas surgem logo nas primeiras páginas. Aos poucos, as respostas aparecem, nunca por meio de grandes explicações (que poderiam soar forçadas ou enfadonhas), mas por pistas, peças que vão formando um quebra-cabeças.

Em “Klara e o Sol”, Ishiguro explora a solidão, tema recorrente em sua obra. Também fala de amor e morte. Há semelhanças com “Não me abandone jamais” (um dos meus livros favoritos de todos os tempos) e em dados momentos dá pra pensar que “Klara e o Sol” se passa na mesma realidade daquele livro, inclusive em razão de alguns dilemas éticos colocados. A escrita é delicada e brumosa, como nos outros livros do autor.

“Não me abandone jamais” continua sendo meu favorito, mas “Klara e o Sol” é imperdível.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Nova Iorque 2140

Livro da vez: “Nova Iorque 2140”, de Kim Stanley Robinson. Leitura de fevereiro do projeto #lendoscifi, organizado pela @soterradaporlivros.

Finalmente a catástrofe ambiental aconteceu: as cidades a beira-mar foram alagadas devido ao derretimento das calotas polares, a humanidade enfrenta uma terrível escassez e os animais entraram em extinção em uma velocidade nunca antes vista. Nova Iorque foi duramente atingida e o meio de transporte principal da cidade agora é o barco. Apesar disso, milhões ainda moram na cidade, o preço do metro quadrado é mais extorsivo do que nunca e o abismo entre pobres e ricos só aumenta.

O livro nos apresenta os moradores do MetLife, transformado numa mini-cidade com milhares de habitantes, uma horta e até um andar dedicado à criação de animais. Vlade é o supervisor do prédio, Charlotte é membro da cooperativa de moradores, Gen é inspetora de polícia, Amelia é uma celebridade da nuvem (o futuro da internet), Franklin trabalha no mercado de capitais etc. etc. etc. Personagens não faltam, e a eles deve ser somada a própria cidade. Ah, ainda tem o irônico Cidadão, que entre um capítulo e outro explica ao leitor como o mundo se tornou um caos ainda maior do que o atual.

As subtramas da história são excessivas, nem todas são bem amarradas e algumas são francamente desnecessárias. Apesar disso, achei uma leitura excelente e me envolvi com os personagens, amando uns, odiando outros e vivendo na velha nova Manhattan por alguns dias. Não é um livro fácil, não dá pra ler rapidinho. Exige paciência do leitor, mas senti que minha paciência foi mais que recompensada. Seria bacana ver uma série baseada no livro.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Um Cântico para Leibowitz

Livro da vez:  “Um Cântico para Leibowitz”, de Walter M. Miller Jr.

Mais uma vez fui influenciada pela @soterradaporlivros, mas essa influência aconteceu na pré-história da internet e no mundo real mesmo: no século passado, a Ada me deu esse livro de presente. Fazia uns vinte anos que eu não relia e me surpreendi por não lembrar quase nada da história.

Encontramos o noviço Francis, no meio do deserto, preparando-se para os votos definitivos que ofertará à Ordem de Leibowitz, destinada a preservar o conhecimento antigo. Ele, por sua vez, encontra um velho misterioso que perturba seu retiro ao indicar ruínas que guardam documentos ancestrais.

Aos poucos, o leitor descobre que uns seiscentos anos antes a humanidade foi quase destruída por uma guerra nuclear. Seguiu-se um período de obscurantismo em que a ciência e até a leitura foram banidas, e teriam desaparecido completamente que se não fossem pelos monges da Ordem de Leibowitz, que dedicam suas vidas a preservar o conhecimento.

Mas… desejam mesmo preservar o conhecimento para a posteridade ou escondê-lo com medo de uma nova guerra? Essa é uma das perguntas que a leitura provoca. Outros questionamentos envolvem o embate entre fé e ciência e o caráter cíclico da história – a humanidade está fadada a repetir os mesmos erros?

“Um Cântico para Leibowitz” flerta com a filosofia e provoca questionamentos sobre a condição humana, como fazem os bons livros de ficção científica. Foi a primeira leitura do ano 3 do projeto #lendoscifi. Quer entrar para o projeto? Fala com a @soterradaporlivros.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas