O Vampiro-Rei – Volume 1

O Vampiro-Rei - Volume 1Depois de Os Sete, chegou a vez de O Vampiro-Rei, em dois volumes. Comecei Os Sete receosa mas, como tive uma experiência legal, fui para o primeiro volume de O Vampiro-Rei com boas expectativas. Pena que o livro não correspondeu.

Enquanto Os Sete é uma aventura sem maiores pretensões, O Vampiro-Rei quer ser um épico (que, descobri depois, começa um livro antes, de nome Bento), gênero que não me atrai. Tudo tem início com a Noite Maldita, que libertou terríveis vampiros. Os humanos caíram em um estado de sono profundo e passaram a servir de alimento para as criaturas noturnas. Os que eventualmente acordavam deparavam-se com um mundo devastado, rodeado pelo caos, em que a noite existe apenas para ter temida. Lembrei-me bastante de Eu Sou a Lenda.

Há, contudo, uma esperança: uma profecia narra quatro milagres que aconteceriam quanto os trinta escolhidos – os bentos – acordassem. Liderados por Lucas, os bentos iniciais formam um grupo pequeno, mas quase invencível. Munidos de espadas de prata e com a ajuda de um grupo de despertos sempre crescente, seu plano inicial é destruir os vampiros e retomar o controle das grandes cidades brasileiras.

A história caminha bem em alguns trechos. É interessante descobrir esse novo Brasil pouco a pouco – como em Os Sete, André Vianco guarda sempre alguns mistérios e esse é o grande trunfo do livro. A curiosidade faz o leitor continuar página após página. Por outro lado, há enormes sequências tediosas, batalhas longas demais, passagens que mereceriam poucos parágrafos em vez de páginas inteiras. A leitura torna-se, em boa parte do tempo, cansativa. E, se Os Sete careceu de uma pequena revisão, em O Vampiro-Rei os erros de português/digitação são ainda mais frequentes.

Já comecei a leitura do volume 2 e devo dizer que, embora continue curiosa pelo desfecho – ainda há várias lacunas a serem preenchidas -, o tédio parece estar ainda mais presente nessa segunda parte da história…

Ficha

  • Título: O Vampiro-Rei – Volume 1
  • Autor: André Vianco
  • Editora: Novo Século
  • Páginas: 401
  • Cotação: 2 estrelas
  • Encontre O Vampiro-Rei – Volume 1.
Este texto faz parte do Desafio Literário 2011, cujo tema em julho são novos autores. Conheça o Desafio Literário.

Os Sete

Os Sete - capaSe eu te dissesse a quantidade de livros sobre vampiros que já li ou que aguardam na estante de casa, você se surpreenderia – e todos adquiridos pré-Crepúsculo, que essa coisa de vampiro do bem não me convence.

Entre os da estante, estão três do brasileiro André Vianco: Os Sete, O Vampiro-Rei Vol. 1 e O Vampiro-Rei Vol. 2 (e nesse momento ouço a voz do Bento Carneiro, o “vampiro brasileiro”). Comecei por Os Sete, meio (ok, muito) receosa. E não é que a história é bacana?

Uma grande caixa de prata guarda há quase 500 anos sete cadáveres. Gravada na caixa, uma mensagem de alerta: “Nobres homens de bem, jamais ouseis profanar este túmulo maldito. Aqui estão sepultados demônios viciados no mal e aqui devem permanecer eternamente. Que o Santo Deus e o Santo Papa vos protejam”. Ainda se lêem sete palavras: Lobo, Tempestade, Inverno, Gentil, Espelho, Acordador e Sétimo. Sete nomes. Os Sete.

Claro que a mensagem é ignorada, claro que o túmulo de prata é aberto e aí começa a aventura por terras riograndenses (com uma passagem por São Paulo). Cada cadáver é um vampiro, cada vampiro guarda um poder especial. A partir daí, os amigos que descobriram o “tesouro”, os estudiosos e o Exército Brasileiro juntam forças para derrotar os demônios.

Não faltam cenas insólitas, apropriadas para um livro de fantasia. A mocinha e o herói também estão lá. O mistério é desvendado gradualmente, sempre preservando-se alguma emoção para as páginas seguintes. Perseguição, luta e suspense fecham o pacote desse romance que, se não é sensacional, é bastante honrado, com um bom ritmo e uma escrita fluente (embora merecesse uma pequena revisão). Fiquei curiosa pela continuação, Sétimo, mas só depois de zerar os livros acumulados.

Ficha

  • Título: Os Sete
  • Autor: André Vianco
  • Editora: Novo Século
  • Páginas: 380
  • Cotação: 3 estrelas
  • Encontre Os Sete.
Este texto faz parte do Desafio Literário 2011, cujo tema em julho são novos autores. Conheça o Desafio Literário.

O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel

Esse é outro livro que só me interessou após ser filmado, como aconteceu com As Crônicas de Nárnia. Para o Desafio Literário de março (dedicado aos épicos), gostaria de ter lido os três volumes, mas só houve tempo para o primeiro. Essa, portanto, será uma resenha um tanto incompleta.

Quase desisti de O Senhor dos Anéis ainda no início. O prólogo de dezesseis página é uma das coisas mais tediosas que já li. “O livro inteiro vai ser assim? Socorro!”, pensei. Felizmente, no primeiro capítulo as coisas começam a melhorar, e seguem cada vez mais interessantes.

J. R. R. Tolkien dedicou praticamente todo o primeiro volume à apresentação dos personagens e da Terra Média. Se a descrição das regiões de seu mundo imaginário é, por vezes, cansativa, a construção dos personagens encanta e, sem dúvida, é a melhor parte de A Sociedade do Anel. É fascinante ver o amadurecimento de Frodo, as imperfeições de Gandalf e a bravura de Aragorn. Aos poucos, os protagonistas ganham contornos tão vivos que é como se convivêssemos com eles. É essa proximidade que envolve o leitor e o faz acompanhar com ansiedade o progresso da Comitiva dos Nove, respirar aliviado a cada obstáculo vencido e chorar as perdas. É essa intimidade e cumplicidade entre leitor e personagens que permite que “compremos” o mundo criado por Tolkien.

A Sociedade do Anel é um livro sobre lugares fantásticos, inimigos mortais, medo, superação (inclusive de preconceitos –  nem tudo que é ouro fulgura, nem todo o vagante é vadio) e coragem. Também é um livro sobre amizade, daquele tipo raro que sobrevive às tribulações e firma-se na lealdade em qualquer circunstância.

Dois grandes obstáculos à leitura estão na premissa da própria obra: a fantasia, que exige um salto de fé; e o gênero épico, por natureza composto de grandes gestos de heroísmo, longas cenas e (não falta neste livro) narrativa em versos. Quem não tem paciência pra isso tudo, pode até cair no sono. Confesso que o épico está entre meus estilos menos estimados, inclusive no cinema.

Lembro que, dos três filmes, A Sociedade do Anel foi meu favorito. Por outro lado, As Duas Torres e suas longas cenas de batalha entediou-me tanto que, francamente, não pretendo encarar o segundo volume da trilogia tão cedo…

Trechos

Três Anéis para os Reis-Elfos sob este céu,
Sete para os Senhores-Anões em seus rochosos corredores,
Nove para Homens Mortais, fadados ao eterno sono,
Um para o Senhor do Escuro em seu escuro trono
Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam.
Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los,
Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los
Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam.
(p. 52)

– Gostaria que isso não tivesse acontecido na minha época – disse Frodo.
– Eu também – disse Gandalf. – Como todos os que vivem nestes tempos. Mas a decisão não é nossa. Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado. (p. 52-53)

– Peço desculpas, senhor! Mas não quis lhe fazer mal, Sr. Frodo, nem ao Sr. Gandalf, falando nisso. Ele é sensato, veja bem, e quando o senhor disse ir sozinho ele disse não! leve alguém em quem possa confiar.
– Mas isso não quer dizer que eu possa confiar em qualquer um – disse Frodo.
Sam lançou-lhe um olhar triste. – Tudo depende do que você deseja – interrompeu Merry. – Pode confiar em nós para ficarmos juntos com você nos bons e maus momentos, até o mais amargo fim. E pode confiar também que guardaremos qualquer um de seus segredos – melhor ainda do que você os guarda para si. Mas não pode confiar que deixaremos que enfrente problemas sozinho, e que vá embora sem dizer uma palavra. Somos seus amigos, Frodo. (p. 110-111)

– Quem mora aqui? – perguntou ele [Frodo]. – E quem construiu essas torres? Essa região pertence aos trolls?
– Não – disse Passolargo. – Os trolls não constroem nada. (p. 214)

Ficha

Este texto faz parte do Desafio Literário 2011, cujo tema em março é o gênero épico. Conheça o Desafio Literário.

As Crônicas de Nárnia

As Crônicas de Nárnia - volume único

Da série para o cinema, só vi o primeiro, O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa. Lembro-me de ter gostado do filme, mas não o suficiente para ver os seguintes. Ouvia falar que a obra original era muito mais interessante que a filmagem. Agora, após ler o volume único das Crônicas de Nárnia (o primeiro filme para o cinema é, na verdade, a segunda história, na cronologia estabelecida pelo autor), entendo bem por que: o filme é apenas uma sombra do mundo criado por C. S. Lewis. Uma bela sombra, cheia de contornos cativantes, mas pálida diante do texto – bem como acontece aos mundos contidos dentro dos mundos de Nárnia.

Talvez esse seja o destino inescapável de todos os livros de fantasia. Já ouvi muitas vezes que os livros que formam O Senhor dos Anéis são bem mais impactantes que os filmes (terei a chance de verificar isso daqui a uns meses). A saga de Harry Potter foi muito bem filmada, mas os livros são tremendamente mais envolventes.  Se todas as adaptações de textos tendem a perder conteúdo quando reduzidas a pouco mais de duas horas de imagens, o fenômeno é ainda mais cruel com histórias de fantasia. A imaginação permite infinitas dimensões e camadas aos mundos fantasiosos, enquanto o cinema as mastiga, sintetiza e apresenta uma única versão.

Nárnia é, sim, um livro para crianças. Encontra-se de tudo um pouco nas suas páginas: heróis, vilões, animais falantes (como nas antigas fábulas), feiticeiras, capa-e-espada, aventuras por mar e terra, contos de fadas. Não é, no entanto, um livro condescendente. Exige que as crianças imaginem, completando as lacunas que felizmente existem nas descrições; e impõe perdas, despedidas e mortes. Presume que o leitor-mirim tenha inteligência para aproveitar ao máximo suas páginas. Aliás, pergunto-me se as crianças que estão por aí lêem as Crônicas – e, principalmente, se gostam. Terão paciência para um livro longo? Terão foco, imaginação, curiosidade? Conseguirão se interessar por uma diversão tão arcaica quando comparada ao jogos eletrônicos?

Claro, há lições de moral nas páginas de Nárnia, como cabe aos bons livros infantis. A traição, a ganância e a covardia são censuradas. A coragem e a lealdade sempre são recompensadas. O moralismo está longe de ser sutil, mas não estraga a fantasia. Está, aliás, muito bem colocado e seria realmente ótimo que as crianças de hoje crescessem com lições de moral passadas de forma lúdica (tenho a impressão que poucos pais se preocupam em ensinar “educação” ou “bom comportamento”). O livro traz, também, uma forte tendência mística, religiosa mesmo. Quando esse viés ameaçava incomodar-me, fixava-me nas aventuras nos valores universais por elas enaltecidos, que são anteriores e superiores a qualquer crença: honra, amizade, compaixão, perdão. (O curioso é que, embora o livro tenha forte tendência cristã, seu autor recebeu fortes críticas de grupos cristãos que consideram o texto herege por citar temas bíblicos misturados a elementos da “mitologia pagã”.)

Escrito nos anos 50 (na mesma época do Senhor dos Anéis), os sete livros que compõem o volume único não escapam totalmente ao seu tempo: há uma conotação sexista, uma tendência a ver a mulher como frágil demais, menos capaz que o homem, um tanto boba. O próprio autor parece lutar contra esse estereótipo em algumas passagens e é bem verdade que se esforça por colocar homens e mulheres numa situação que seus contemporâneos julgariam igualitária (e, provavelmente, o criticariam por isso). Dada a pouca importância atribuída às mulheres na época em que os livros foram escritos, As Crônicas de Nárnia podem ser perdoadas por seus deslizes e merecem ser valorizadas pelas tentativas de igualdade de gêneros.

Está aí uma excelente sugestão de leitura para quem gosta de viajar por outros, independentemente da idade.

Trechos

Oh, Filhos de Adão, com que esperteza vocês se defendem daquilo que lhes pode fazer o bem! (p. 91)

– O punhal é para a sua defesa, em caso de extrema necessidade. Porque você também não deve entrar na luta.
– Por que não, meu senhor? – disse Lúcia. – Acho que… bem, não sei… mas acho que eu era capaz de não ter medo!
– O problema não é esse. É que as batalhas são mais feias quando as mulheres tomam parte nelas.” (p. 151)

O coração de Shasta quase parou ao ouvir essas palavras, pois já não lhe restavam reservas de força. Por dentro rebelava-se contra o que lhe parecia a crueldade da missão. Ainda não aprendera que a recompensa de uma boa ação é geralmente ter de fazer uma outra boa ação, mais difícil e melhor. (p. 255)

Minha filha: já vivi cento e nove invernos e jamais encontrei uma coisa chamada sorte. (p. 256)

O rei obedece às leis, pois as leis o fizeram rei. (p. 287)

Depois disso, os amigos da diretora perceberam que ela não prestava para diretora, e nomearam-na inspetora-geral. Quando viram que ela não era também grande coisa como inspetora-geral, conseguiram elegê-la para a Câmara dos Deputados, onde ela viveu para sempre feliz. (p. 625)

Ficha

Este texto faz parte do Desafio Literário 2011, cujo tema em janeiro é literatura infanto-juvenil. Conheça o Desafio Literário.