Fale com Ela

O amor é a coisa mais triste do mundo quando se acaba, dizia uma canção de Jobim.
(Marco, para Lydia)

Ficha técnica

Hable con Ella. Espanha, 2002. Drama. 116 minutos. Direção: Pedro Almodóvar. Com Javier Cámara, Darío Grandinetti, Rosario Flores, Leonor Watling, Geraldine Chaplin, Mariola Fuentes.
Uma tragédia em comum une dois homens desconhecidos até então, quando eles precisam cuidar de duas mulheres que estão em coma no hospital. Dirigido por Pedro Almodóvar (Tudo Sobre Minha Mãe) e com Geraldine Chaplin e Paz Vega no elenco. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3,5 estrelas

Sem dúvida, Fale com ela é muito mais interessante que Mulheres à beira de um ataque de nervos, comentado aqui no dia 12. Se Mulheres… puxava para a comédia do absurdo, Fale com ela volta-se decididamente para o drama. O filme conta uma história de amor triste do início ao fim, com poucas cenas de alívio para a platéia, nas quais se pode respirar mais levemente e até externar alguns sorrisos. O desfecho é arrasador, impondo uma situação em que é difícil afirmar o que é certo ou errado, moral ou imoral, bom ou mau.

Uma das cenas mais bonitas do filme, a tourada logo no início, tem como trilha sonora a belíssima Por toda a minha vida, na voz da Elis Regina. É uma das maiores declarações de amor compostas por Tom Jobim e Vinícius. Vale mencionar, ainda, a participação de Caetano Veloso, que aparece no filme interpretando Cucurrucucu Paloma, de Tomás Mendez Sosa. Para concluir esse comentário que mais parece sobre música e não cinema: a música do Tom Jobim citada por Marco (veja o comecinho deste texto) é O amor em paz.

Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos

Nenhuma mulher é perigosa se você sabe como tratá-la (Taxista)

É muito mais fácil aprender mecânica que psicologia masculina.
A uma moto, pode-se chegar a conhecer a fundo; a um homem, jamais. (Pepa Marcos)

Ficha técnica

Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios. Espanha, 1988. Comédia. 89 minutos. Direção: Pedro Almodóvar. Com Carmen Maura, Antonio Banderas, Julieta Serrano, Rossy de Palma, María Barranco, Kiti Manver, Fernando Guillén.

Em Madri Pepa Marcos (Carmen Maura), uma atriz que está grávida mas ninguém sabe, é abandonada por Ivan (Fernando Guillén), seu amante, e se desespera tentando encontrá-lo, pois deseja que ele lhe explique por qual motivo a deixou. Enquanto tenta falar com ele recebe a visita Candela (María Barranco), uma amiga que se apaixonou por um desconhecido e agora que descobriu que ele é um terrorista xiita teme ser presa. Mais tarde chega ao apartamento Carlos (Antonio Banderas), o filho de Ivan. Ele está acompanhado de Marisa (Rossy de Palma), sua noiva, pois os dois estão procurando um imóvel para alugar. Marisa sem saber bebe um gaspacho cheio de soníferos, que Pepa tinha preparado para Ivan, mas uma confusão realmente acontece quando fica claro que Ivan vai para Estocolmo com Paulina Morales (Kiti Manver) e Lucia (Julieta Serrano), a mulher de Ivan, planeja matá-lo. Apesar de ter sido preterida, Pepa quer fazer de tudo para salvar a vida de Ivan.

Mais informações: Adoro Cinema.

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4 estrelas

O resumo(??) acima dá uma boa idéia do que é esse filme de Almodóvar – uma teia de encrencas que aumenta a cada cena. São mulheres um tanto neuróticas, sim. E adivinha quem causa suas neuroses? Os homens, claro. É fácil identificar-se com uma ou outra situação, ainda que nem sempre, na vida real, tomem-se atitudes extremadas como as das personagens. Tomadas simples, cenários comuns. Chama a atenção o colorido exagerado, talvez decorrente do visual predominante nos anos 80. Aliás, há outros exageros típicos da década presentes nas cenas, como os brincos de Candela.

Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos é um bom filme, bom texto e boas risadas, que fazem valer a locação, embora não seja o melhor filme do consagrado diretor espanhol.

Adorável Julia

Ficha técnica

Being Julia. Inglaterra, 2004. Comédia. 105 minutos. Direção: István Szabó. Com Annette Bening, Jeremy Irons, Bruce Greenwood, Miriam Margolyes.

Refilmagem de filme homônimo de 1962, baseado em peça teatral de W. Somerset Maugham. Julia Lambert (Annette Bening) é uma atriz que trabalha no teatro de Londres em 1938. Após ser humilhada por seu jovem amante e traída pelo marido, ela dá a volta por cima usando os palcos para tramar sua vingança. O filme rendeu a Annette Bening a indicação ao Oscar de melhor atriz.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

4 estrelas

Comédia, sim. Só que inglesa, com aquele senso de humor refinado e cruel que os moradores daquele país cinzento fazem questão de desenvolver tão bem.

Sob certos aspectos, Adorável Julia poderia até ser classificado como drama. Na verdade, é uma farsa, um jogo – o que faz todo sentido com o tema do filme e a vida da protagonista, atriz de teatro. Entre idas e vindas, tem-se um casamento pouco convencional, especialmente para o padrão dos anos 30; um romance entre uma mulher de meia idade e um rapazola, com todos os clichês pertinentes ao caso; a velha e preconceituosa analogia entre atrizes e prostitutas, tão comum ao longo dos tempos.

O que poderia ser uma trama repleta de clichês e completamente previsível torna-se, ao contrário, tremendamente interessante, prendendo a atenção da platéia, levando-a ao riso facilmente e despertando a admiração do público tanto pelo trabalho de Annette Bening (mais que merecida a sua indicação ao Oscar) quanto pela personagem que interpreta, Julia Lambert. Julia encarna um pouco do que há de melhor e de pior na alma feminina: a o amor, a abnegação, a insegurança quanto à própria aparência, a vingança com requinte de crueldade, a perversidade feminina, a capacidade de dar a volta por cima. Nós, mulheres, rimos muito com o filme, mas é um riso ambíguo, misto de respeito e vergonha por entendermos tão bem as atitudes de Julia.

O conselheiro de Julia, interpretado por Bruce Greenwood e responsável por alguns dos melhores textos do filme, funciona como uma espécie de “grilo falante” e, ao mesmo tempo, de ponto de apoio.

Destaque para a beleza da atriz, que lembra muito a Nicole Kidman (mais velha, evidentemente).

De Olhos Bem Fechados

Não acha que um dos encantos do casamento é tornar
o fingimento uma necessidade para ambas as partes?
(Para Alice, no baile do início do filme.)

Ficha técnica

Eyes Wide Shut. EUA, 1999. Drama. 159 minutos. Direção: Stanley Kubrick. Com Tom Cruise, Nicole Kidman, Madison Eginton, Jackie Sawris, Sydney Pollack, Leslie Lowe.

Bill Harford (Tom Cruise) é casado com a curadora de arte Alice (Nicole Kidman). Ambos vivem o casamento perfeito até que, logo após uma festa, Alice confessa que sentiu atração por outro homem no passado e que seria capaz de largar Bill e sua filha por ele. A confissão desnorteia Bill, que sai pelas ruas de Nova York assombrado com a imagem da mulher nos braços de outro.

Mais informações: Adoro Cinema.

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4,5 estrelas

O que você vê é o que é real? O que é real é visto por você? São essas as perguntas que Kubrick faz ecoar durante toda a narrativa. Ao mesmo tempo, questiona-nos sobre se a sinceridade total e irrestrita é uma boa coisa. Talvez a omissão seja a melhor saída, em certos casos, para não ferir sentimentos. Ou não.

De olhos bem fechados é inquietante e perturbador, e isso não se deve às suas tão comentadas cenas de sexo. O filme prende pelo aspecto psicológico, mesmo. Kubrick criou uma trama densa, um enredo em que é impossível dar sequer um suspiro de alívio. São pontos determinantes para gerar toda essa tensão a trilha sonora (indicada ao Oscar), com um tema principal conduzindo todo o filme, e a iluminação, habilmente manejada.

Numa história que acontece muito mais dentro da imaginação dos personagens do que no ambiente exterior a eles, o espectador é levado a refletir sobre ciúmes, vingança, lealdade, desejo e confiança. Acima de tudo, depara-se com a velha máxima “nem tudo é o que parece ser”, num alerta sobre o perigo do julgamento precipitado.

O filme é baseado no romance Traumnovelle, de Arthur Schnitzler.