Jornada da Alma

Quando você não consegue olhar dentro da alma de alguém,
tente ir embora e voltar mais tarde.
(Boris Pasternak, poeta russo citado por Sabina Spielrein no filme)

Ficha técnica

Prendimi l’Anima. Itália/França/Inglaterra, 2003. Drama. 89 min. Direção: Roberto Faenza. Com Iain Glen, Emilia Fox e Caroline Ducey.

Dois pesquisadores resgatam a história de uma psicanalista russa que, quando jovem, foi tratada por Gustav Jung, com quem também teve um envolvimento amoroso.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

4 estrelas

Aviso: se quiser assistir a Jornada da Alma completamente às cegas (o que, aliás, é sempre a minha opção), não leia agora esse texto. Não contém spoilers, mas está um pouco mais detalhado do que costumo fazer.

É sempre agradável quando se vai ao cinema sem esperar grande coisa do filme e, ao fim da exibição, tem-se a sensação de ter visto uma obra de primeira qualidade. Foi o que aconteceu comigo ao assistir a Jornada da Alma.

O filme é belíssimo, com algumas cenas realmente tocantes e excelentes atores. Pode ser dividido em duas partes. A primeira volta-se ao relacionamento entre Sabina Spielrein, uma jovem com distúrbios mentais (o filme sugere histeria e algo além) e o jovem Carl Jung, que se propõe a tratá-la com o que havia de mais novo à época: as teorias freudianas. Em um tempo no qual os eletrochoques eram prática usual, o tratamento proposto por Jung era revolucionário.

A relação médico-paciente toma vertentes mais intensas, desaguando em uma forte relação amorosa. A partir desse referencial, dá pra entender a razão de Freud condenar a aproximação entre o psicanalista e o paciente. Por outro lado, fica a pergunta: se Jung não tivesse rompido barreiras, o tratamento teria alcançado a mesma eficácia?

Essa primeira parte abrange uns dois terços do filme; no entanto, na minha modesta opinião, o último terço é, justamente, o mais importante.

A segunda parte concentra-se na vida profissional de Sabina, que tentou introduzir novas técnicas de educação infantil na Rússia leninista. A seguir, fica patente a transformação ocorrida quando Stalin assumiu o governo: o início do terror, da repressão em último grau, das perseguições e assassinatos em massa. Um retrato histórico interessante de uma época cruel. Em meio a tudo isso, a tentativa de Sabina em desenvolver suas teorias, até o desfecho inevitável.

As cores do filme ficam ainda mais fortes quando se tem em mente que sua história é baseada em fatos e pessoas reais. Serviu de base para o roteiro a correspondência trocada entre Sabina e Jung, descoberta recentemente. A história emociona a ponto de algumas pessoas estarem fungando ao fim da exibição.

Vale a pena fazer um esforço – já que o filme está sendo exibido em poucas salas, visto não ser comercial – e assistir a Jornada da Alma.

Estou com a melodia de “Tumbalalaika” na cabeça até agora…