Como Ser Legal

Como Ser Legal

Li Alta Fidelidade há alguns anos e ele entrou fácil na minha lista de Top 5. Não é à toa que passei a correr atrás dos outros livros do Nick Hornby. Como Ser Legal é o segundo que leio e, embora não seja tão formidável quanto Alta Fidelidade, traz uma história muito bem contada.

Já de início, chama a atenção a escolha de uma mulher como personagem narradora. Nick Hornby foi tão bem-sucedido descrevendo relacionamentos do ponto de vista masculino… será que conseguiria o mesmo do lado oposto? A resposta é sim, ele conseguiu. Captou, inclusive, a facilidade das mulheres para elocubrações, em contraponto à secura (objetividade?) masculina.

Se bem que, lá pelas tantas, a coisa muda de figura – não por inabilidade do autor, mas por exigência mesmo da história. Kate passa a ser a metade objetiva do casamento, cabendo a David alimentar delírios, rompantes messiânicos e uma incrível esperança no ser humano.

Enquanto David, acompanhado de seu recém-descoberto guru Boas Novas e de sua filha de oito anos, faz planos para salvar o mundo (e parte para a prática), Katie, médica competente e mãe dedicada, começa a se perguntar o que é ser legal, de fato. Ela, que se achava tão contribuidora para o bem da sociedade, passa a rever seus conceitos e comportamentos, buscando descobrir o que é ser, realmente, uma boa pessoa.

Nesse ponto, o livro resvala perigosamente numa filosofia pretensiosa, mas recupera-se a tempo. O humor do texto, o cinismo dos personagens e as tentativas inusitadas de David para salvar o mundo mantêm a história num tom casual e pra lá de divertido.

Pinceladas

Falhei com minha filha. Molly só tem oito anos de idade, e anda triste… Eu não queria isso. Quando ela nasceu, eu tinha certeza de que poderia evitar isso, e não consegui. Percebo que a tarefa que assumi era irrealista e irrealizável, mas isso não faz diferença: acabei contribuindo para a criação de mais um ser humano confuso e assustado. (p. 144)

Casar e criar uma família é como emigrar. Eu vivia no mesmo país que meu irmão, e compartilhava os valores, gostos e atitudes dele; depois fui embora. Apesar de não notar, comecei a falar com um sotaque diferente e a pensar de forma diferente. Embora recordasse minha terra natal afetuosamente, já perdera todas as características dela. Atualmente, porém, quero voltar para casa. Vejo que cometi um grande erro, que o novo mundo não é aquilo que se supõe e que as pessoas de lá são muito mais saudáveis e sábias do que as pessoas que vivem no país que eu adotei. Quero que meu irmão me leve com ele. Nós podíamos ir para a casa da mamãe e do papai. Seríamos mais felizes lá. Mark não era um suicida quando morava lá, e eu não era cheia de preocupações e culpas. Seria ótimo. Provavelmente brigaríamos para escolher os programas de televisão, mas fora isso… E não cometeríamos os erros de antes. Não resolveríamos que queríamos crescer e viver vidas próprias. Já tentamos isso e não deu certo. (p. 247-248)

Ficha Técnica

  • Título: Como Ser Legal
  • Título Original: How To Be Good
  • Autor: Nick Hornby
  • Editora: Rocco
  • Páginas: 307
  • Cotação: 4 estrelas
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4 comentários on “Como Ser Legal

  1. Acho que a parte mais genial do livro é quando o amigo resmungão do David, com quem ele compartilha os mesmos gostos e, principalmente, o mesmo desdém por artistas consagrados, é apresentado.

    Se eu não me engano é uma lista de artistas supervalorizados ou que não merecem respeito.

    Li essa parte no ônibus e o pessoal ao meu teve certeza que eu era maluco, pois eu ria incessantemente.

    Do Nick Hornby, gostei muito também do “Um grande garoto”, que virou, recentemente, filme com o Hugh Grant. É bem menos irônico que o “Como ser legal”, mas é impagável.

  2. (ah, então foi assim que traduziram o título… rs!) Esse foi o segundo livro que eu mais detestei de ter lido do Hornby – em primeiro lugar vem “Fever Pitch” (Febre de Bola), cuja adaptação para o cinema ficou incontavelmente melhor. Achei um livro “à toa”, principalmente quando você chega ao final da história. Só por causa de um suposto guru, o cara resolve mudar radicalmente seu comportamento e quer que todos a sua volta mudem também. Se ele queria ser legal com o mundo, que fosse sozinho. 😛

  3. A tradução do título desse livro em nosso idioma ficou meio estranha. “Como ser bom” faria mais sentido, embora seja menos apelativo nas gôndolas das livrarias (acho eu).

    Comecei a ler Hornby por “Como ser legal” (e também escrevi sobre), e talvez por isso nutra um carinho especial pelo livro. Não que o ache melhor que “Alta fidelidade” (insuperável, sem dúvidas); trata-se de um livro despretensioso, de leitura fluída e com um desfecho muito profundo apesar da aparente superficialidade.

    Eu daria cinco estrelas pra ele 🙂 .

    []’s!

  4. @Gabiru, “Um Grande Garoto” está na minha enorme prateleira de livros a serem lidos, com alguma vantagem sobre vários deles. 😉

    @Zé e @Rodrigo, que barato, duas opiniões bem diferentes (basicamente opostas, hehehe) e bem colocadas sobre o mesmo livro! É esse tipo de retorno que me anima a fazer resenhas. 🙂

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