Seja Breve

Quando você me deixar, não dê explicações. Não use frases feitas. Não diga que o problema é você, não eu. Não fale que gosta de mim como amiga. Não me venha com aquele papo de pessoa-certa-na-hora-errada. Não coloque a culpa no trabalho, nos estudos, na falta de tempo. Sobretudo, não coloque a culpa em mim.

Quando você me deixar, não use desculpas, porque não passam disso: palavras vazias e convenientes. Já estive em seu lugar, já as utilizei e bem sei que são todas mentiras.

Quando você me deixar, não retome velhas brigas, não reviva ressentimentos, não reabra as feridas.

Quando você me deixar, não me beije, não me abrace. Não me lance seu olhar de piedade. Não tente me consolar. Diga somente que está me deixando – diga com todas as letras, porque precisarei ouvir. Depois, cale-se e vá embora.

Quando você me deixar, em nome dos nossos bons momentos, tenha clemência: seja breve.

(Escrito em 07 de setembro de 2011.)

Solidão Viciante

A solidão, dizem, é uma tristeza, um desamparo, um pedaço que falta. Em alguns caso, é um vício. Não como o vício em cocaína ou álcool. Está mais para o vício em cigarro. Você sabe que deveria parar, que talvez, quem sabe, no futuro isso pode ser prejudicial. No momento, porém, é tão prazeroso que você não quer parar. Até poderia, conseguiria, mas não quer.

Claro, todos os vícios trazem efeitos colaterais.

Você se torna dependente. Agarra-se àquilo como a uma tábua de salvação. A mera perspectiva de ficar sem o objeto do vício traz angústia. O fumante não precisa estar 24 horas por dia com um cigarro na boca; mas precisa tê-lo por perto, ao alcance da mão. O adicto em solição pode sair com amigos, ter uma turma, festejar, badalar. Só precisa saber-se só.

É necessário que chegue numa casa silenciosa, abra a geladeira sabendo o que há dentro, aviste a cama exatamente como a deixou. É preciso que o chinelo esteja no meio da sala, a roupa do dia anterior espalhada no sofá, o computador desligado, a louça na pia. É absolutamente imprescindível que cada coisa esteja como ele deixou antes de sair.

Mais fundamental ainda é que seu coração esteja como sempre esteve: desocupado. Não vazio, não. Apenas desocupado. Como um apartamento mobiliado, desses que são alugados por temporada mas nunca se tornam um lar.

Eventualmente, algum inquilino deseja prolongar a estada. Outro faz uma proposta de compra. O solitário não aceita. Sabe que dará um jeito de despejar o inquilino, ou cancelará o contrato de compra e venda no último minuto.

Um dos efeitos colaterais do vício em solidão é a eventual melancolia. De tempos em tempos, ela aflora e o solitário quer virar plural. Mas passa logo.

Volta e meia, o solitário é cobrado por quem absolutamente não entende o vício. “Mas você não quer casar? Ter família? Filhos?”. É como perguntar ao fumante: “mas você não quer viver mais?”

O vício é tão bom…

(Escrito no começo de 2008, provavelmente. Tenho o hábito de datar tudo que escrevo, mas passei batido aqui.)

Dez Coisas que Quero Contar pra Você [Desafio das Listas #04]

Psiu, deixa eu te contar um segredo?
Psiu, posso te contar um segredo?

E que não estão no perfil deste blog.

1. Estudei em sete escolas. Nunca fiquei de recuperação, segunda época ou o diabo. Sofri discriminação (bullying tá na moda, né?) na Bahia por ser branca e ter sotaque “do sul” (tudo que está geograficamente abaixo da Bahia é “sul” pra eles).

2. Adoro vodca (de Absolut pra cima, inclusive algumas edições especiais da Smirnoff) e vinho (decente!). Tenho uma queda nostálgica por keep cooler.

3. Amo ler, mas passo adiante a maior parte dos meus livros. As exceções são os livros de infância (poucos deles), os de ficção científica (quase todos) e uns poucos (nem dez) que realmente me marcaram.

4. Acho que morar sozinha é uma das melhores coisas do mundo. Não tenho a menor vontade de casar (já morei junto, isso basta pra mim), nem de ter filhos.

5. Sou agnóstica e de direita.

6. Tenho poucos preconceitos (todo mundo tem algum). Um deles é contra gente burra. Por outro lado, não entendo como alguém pode ser discriminado baseado em orientação sexual ou cor da pele.

7. Não como dentro do carro, nem faço dele a extensão da minha casa. Por ter pouco espaço onde moro, alguns sacos de areia de gato ficam no porta-malas, mas é só. Por dentro, meu carro é limpo; por fora, só lavo quando chove bolo, como diria a Nospheratt. Entendo o suficiente para agendar as revisões necessárias e descartar as desnecessárias, sem deixar mecânico cantar de galo.

8. Tenho duas gatas e amo-as de paixão. Não terei outros animais depois delas.

9. Tenho tendência ao colecionismo. Fiquei perplexa quando percebi isso. Tenho pânico de tornar-me uma hoarder, aquele tipo de gente que junta até pote de margarina vazio (no Brasil, têm sido chamados de colecionistas – o que não chega perto de explicar – ou acumuladores compulsivos). Por isso, hoje minhas coleções são limitadas a: miniaturas de kinder ovo (ocupam pouco espaço e não tento aumentar a coleção), cartões telefônicos (idem), fotos (a maioria delas fica no computador mesmo) e vinis (sim, LPs, bolachões – mas também não quero que essa coleção saia do controle).

10. Paradoxalmente, tenho mania de organização (que beira o TOC, segundo já me disseram). Preciso ver espaços vazios em casa, nas gavetas, nas prateleiras. Sei onde está tudo e meus cds são organizados por ordem alfabética. Pra compilar coisas legais sobre organização, criei um tumblr há poucas semanas, o Mania de Organizar.

Este texto faz parte do Desafio das Listas.

Imagem: stockcharl, royalty free.

Nenhuma boa ação ficará sem punição.

Olha só como funciona a vida.

Você resolve parar de comer doces por um mês, só pra ver se consegue. Como consequência direta, passa a comer no mínimo três frutas por dia.

Acorda cedo, praticamente de madrugada, pra caminhar sem torrar ao sol e estragar anos de cuidados dermatológicos. Para conseguir esse feito, diminui consideravelmente a ingestão de álcool à noite.

Começa a correr em parte do trajeto e fica feliz da vida quando completa 3 quilômetros sem precisar diminuir o ritmo.

Aí, o que acontece?

Você pega uma infecção de garganta inofensiva, dessas que tem todo ano e nem liga; só que, desta vez, as bactérias resolvem desbravar o mundo e migram para o ouvido, cortando caminho pela trompa de eustáquio.

O resultado é a mãe de todas as infecções, com direito a otite nos ouvidos médio e externo e, de quebra, um rompimento de tímpano. Estou meio surda (mas poderia escrever “meia surda” que a gramática estaria corretíssima), com dor quase permanente há uma semana e praticamente de cama há dez dias. Nunca antes na história deste país, digo, nunca antes na minha vida, fiquei doente por tanto tempo.

É por isso que as postagens da viagem ao Uruguai estão pela metade. Deveria tê-las finalizado no fim-de-semana, mas só hoje consegui me aproximar do computador e, mesmo assim, por pouco tempo.

Agora dá licença que vou lá dopar minhas bactérias com dipirona e rever seriamente minhas intenções de levar uma vida saudável.