Classificados

Procura-se alguém em quem se possa confiar. Alguém que saiba compartilhar dores e alegrias. Alguém que tenha problemas, mas não se afogue neles. Alguém que mantenha a cabeça erguida, o olhar no futuro, os pés no presente e a mão estendida, para caminhar junto a mim.

Procura-se alguém que não confunda amor com subserviência, que não abuse dos amigos, que não se apegue às tristezas.

Procura-se alguém que viva cada dia como se fosse o último.

Procura-se alguém que dê valor às coisas simples e aprecie as sofisticadas.

Procura-se alguém que não prenda, não amarre, não ameace, não faça chantagens.

Procura-se alguém que peça ajuda francamente, quando precisar, e que também saiba ajudar.

Procura-se alguém que deseje crescer comigo.

Procura-se alguém que fale de mil coisas ao mesmo tempo: da última fofoca às mais novas teorias da física quântica.

Procura-se alguém que ache graça em rever um episódio de seriado pela enésima vez, bebericando vinho, e que depois tire um cochilo gostoso ao meu lado.

Procura-se alguém que ouça de vez em quando. Que respeite meus limites e não os force uma vez por semana. Que tenha gosto pela vida, mesmo quando a vida é desgostosa, porque sabe que, no fim das contas, todo desgosto passará.

Procura-se alguém para dividir brigadeiro de panela, milkshake de confeitaria e o croissant gigante da delicatessen.

Procura-se alguém para sair por aí, sem rumo e sem vergonha.

Procura-se alguém para amar, que se deixe amar e que saiba amar.

Tratar aqui.

(Escrito em 15.9.2011, em meio a uma fossa que já passou. Tudo tem vantagens, e a fossa tem duas para mim: emagrece e provoca escritos. 😉 )

Acabou.

Se eu te dissesse, meu bem, pelo que passei nos últimos dias…
Você tem o mundo na ponta dos dedos. Eu tinha você.
Agora, me diz, o que você faria?
Ponha-se no meu lugar.
Vista minha pele.
E me responda: como se levantaria novamente?
Despida, desnuda, aberta, em febre, sozinha, carente, descrente, ferida.
Para onde você iria?
Desculpe, mas não posso te refugiar.
Não sobrou nada. Estou vazia.
Não tenho mais o que dar.
Preciso daquilo que você me tomou.
Colo, apoio, carinho, amor.
Sinto muito, mas acabou.

(Escrito em 11 de agosto de 2011. Escolhido propositadamente para fechar as postagens de 2011, porque não vi a hora desse ano acabar. 2012 tem que ser melhor!)

O Fim de Cada Amor

Coração na AreiaDa primeira vez que um grande amor termina, você tem absoluta certeza de que vai morrer. Tudo que entende é que a sua vida acabou ali, no segundo em que ele deu as costas. Não há mais futuro. Supondo-se vagamente que não morra, uma coisa é inegável: você nunca mais será amada novamente.

Da segunda vez que um grande amor termina – o quê?, como assim, “segunda vez”? Pois é. Acontece que você estava errada. Você continuou a viver e, veja só que coisa, foi amada novamente – e correspondeu! Pois então: da segunda vez em que termina um grande amor, você jura que será a última – isto é, na hipótese de sobreviver (mas o fato é que, dada a primeira experiência, você começa a achar que também não será dessa vez que morrerá). Encarnando Scarlett O’Hara, você seca as lágrimas, olha para o céu, ergue os punhos e brada: “Nunca mais amarei novamente!”.

Da terceira vez que um grande amor termina, você sofre como se fosse a primeira. Encolhe-se na cama, encharca o travesseiro e soluça até dormir, finalmente. Pergunta-se o que fez de errado e imagina mil conversas e alternativas que teriam evitado o fim desse amor que parecia eterno. Só que, a essa altura, você sabe que vai passar. Sim, novas cicatrizes surgirão. O medo de outro tombo aumentará, inevitavelmente. Mas você sabe que a vida continua e que, um dia, estará pronta para amar de novo.

Então, torcerá para que seja a última vez.

(Escrito em 9.9.2011.)

Imagem: joegus74, royalty free.

Seja Breve

Quando você me deixar, não dê explicações. Não use frases feitas. Não diga que o problema é você, não eu. Não fale que gosta de mim como amiga. Não me venha com aquele papo de pessoa-certa-na-hora-errada. Não coloque a culpa no trabalho, nos estudos, na falta de tempo. Sobretudo, não coloque a culpa em mim.

Quando você me deixar, não use desculpas, porque não passam disso: palavras vazias e convenientes. Já estive em seu lugar, já as utilizei e bem sei que são todas mentiras.

Quando você me deixar, não retome velhas brigas, não reviva ressentimentos, não reabra as feridas.

Quando você me deixar, não me beije, não me abrace. Não me lance seu olhar de piedade. Não tente me consolar. Diga somente que está me deixando – diga com todas as letras, porque precisarei ouvir. Depois, cale-se e vá embora.

Quando você me deixar, em nome dos nossos bons momentos, tenha clemência: seja breve.

(Escrito em 07 de setembro de 2011.)