Jornada nas Estrelas: A Série Clássica – Primeira Temporada

Revendo e anotando observações sobre a primeira temporada de Jornada nas Estrelas: A Série Clássica (Star Trek: The Original Series, ou ST:TOS).

Primeiro Piloto: A Jaula (The Cage). Revisto em 06.06.2023. 2 estrelas

Alien: Não acreditávamos que isso fosse possível. Os costumes e a história de sua raça mostram um ódio único ao cativeiro. Mesmo quando é agradável e benevolente, vocês preferem a morte. Isso faz de vocês uma espécie violenta e perigosa demais para as nossas necessidades.

Alien: Ela tem uma ilusão e você tem a realidade. Que você a ache igualmente agradável.

A Netflix coloca esse como o primeiro episódio de Star Trek, mas ele não entra na numeração oficial da TOS e vou mantê-lo fora.

Esse episódio é tão errado que chega a ser inacreditável que tenham dado uma segunda chance a Star Trek. Tenho certeza de que os executivos gostaram mais justamente das partes mais erradas.

Rios de tinta já foram escritos sobre o machismo nesse episódio e mesmo assim ele surpreende. A cereja do bolo é quando Pike diz que não se acostuma a ter uma mulher na ponte de comando, ofendendo ao mesmo tempo a nova ordenança e a Number One. Por outro lado, pelo menos os uniformes femininos são dignos, calças em vez de minissaias curtíssimas.

Spock é mais emocional que a mais emocional alma a bordo da Enterprise. O Capitão Pike á arrogante demais, provavelmente o capitão mais insuportável que já passou pela Frota Estelar (com a possível exceção do capitão Liam Shaw, em ST:PIC). Aliás, o Jeffrey Hunter é péssimo, faz as mesmas caras e bocas que o Joey (Friends) quando interpreta Drake Ramoray ou dá aulas de interpretação. Ainda bem que ele recusou o papel. Por outro lado, Susan Oliver, que faz Vina, está fantástica.

A maioria dos efeitos visuais e dos props é bem ruim, com destaque para as falhas na pintura da dançarina orion; os espécimes em cativeiro parecem fantasias de carnaval. É preciso reconhecer, porém, que o teletransporte beira a genialidade ao poupar recursos e tempo.
O episódio tem mais de uma hora, quase como se os produtores quisessem que fosse recusado.

A última palavra é “Engage”!

S01E01: O Sal da Terra (The Man Trap). Revisto em 07.06.2023. 3 estrelas

Spock: O búfalo terrestre, o que tem isso?
Professor Crater: Antigamente havia milhões deles – pradarias negras com eles. Uma manada cobria três estados inteiros e, quando se moviam, eram como um trovão.
Spock: E agora eles se foram. É isso que você quer dizer?
Professor Crater: Como as criaturas aqui. Antigamente havia milhões deles. Agora resta apenas um. Nancy entendia.

Acho perfeito o título em português. Falando em português, para mim é estranho rever ST:TOS com o som original… adorava a dublagem da Manchete.

Volta e meia havia um interesse amoroso para um dos protagonistas, e nesse primeiro episódio a ser transmitido o interesse é do passado do McCoy. Só que Nancy se revela um dos monstros mais monstruosos da TOS.

DeForest Kelley ainda nem constava dos créditos iniciais. Alguns personagens são apresentados: Sulu tem interesse em botânica, Uhura flerta com Spock e fala swahili e Rand está só lá mesmo, pra variar. Spock já se apresenta um tanto frio, mas a emoção ainda aparece em momentos de stress. E ainda não existia a maldição dos camisas-vermelhas.

O episódio tangencia a ideia de preservação ambiental e das espécies, mas faltou um pouco de coragem aos roteiristas, creio. Na TNG, a discussão seria bem mais aprofundada e certamente o fim da criatura seria diferente.

S01E02: O Estranho Charlie (Charlie X). Revisto em 08.06.2023. 3 estrelas

Spock: We’re in the hands of an adolescent.

Coisas ainda sendo acertadas: em “The CAge” a Enterprise tinha duzentas e poucas pessoas, agora tem 428; Spock ainda relaxa, sorri e Uhura flerta com ele enquanto canta; Spock e McCoy discutem pela primeira vez, dando início ao debate entre ciência e emoção que norteará a relação deles; a Frota Estelar é chamada de USFA (possivelmente seria “United States”); uma tripulante aparece de calça.

Charlie é um adolescente ansioso por agradar, mas poderoso demais para o bem de todos. Esse episódio lembra muito o seguinte, mas é melhor. Provavelmente é o melhor episódio da ordenança Janice Rand, ela tem destaque, tem um papel relevante. Kirk fala que ela não tem interesse no Charlie primeiro porque é muito mais velha, “e há outras coisas” – seria a Janice lésbica? O roteiro é da D. C. Fontana, uma das melhores roteiristas da TOS.

S01E03: Onde Nenhum Homem Jamais Esteve (Where No Man Has Gone Before). Revisto em 10.06.2023. 2 estrelas

Dr. Dehner: A Terra é realmente sem importância. Em pouco tempo, estaremos onde a humanidade levaria milhões de anos para aprender.
Kirk: O que Mitchell aprenderá quando chegar lá? Ele saberá o que fazer com seu poder? Ele adquirirá sabedoria?

O segundo piloto de Star Trek, e parece que a intenção inicial era mesmo alienar 50% da população: há só duas mulheres, uma que não se sabe o que faz na ponte (e Kirk sequer sabe o nome dela, absurdo dos absurdos) e outra que é chamada de “congelador ambulante”, provocando risadinhas dos seus superiores – e que depois praticamente se desculpa por ser quem é. É irônico que posteriormente a série tenha feito tamanho sucesso entre mulheres, e que uma mulher (Bjo Trimble) tenha sido a responsável por evitar o cancelamento após a segunda temporada e por organizar o primeiro fã-clube da série.

Spock sorri, é impaciente e irônico. É dito que “um dos ancestrais” dele se casou com uma humana. Sulu é da divisão de ciências, Spock da divisão de comando. Scott aparece pela primeira vez (seu nome nem é dito) e as mulheres ainda usam calças – isso deveria ter sido mantido, mas aparentemente os homens eram incapazes de lidar com mulheres profissionais de calças.

S01E04: Tempo de Nudez (The Naked Time). Revisto em 15.06.2023. 5 estrelas

Sulu: Eu protegerei você, loira donzela (fair maiden).
Uhura: Desculpe, nenhum dos dois.

Dr. McCoy: Seu pulso está em 242. Sua pressão arterial é praticamente inexistente, supondo que você chame essa coisa verde em suas veias de sangue.
Spock: As leituras estão perfeitamente normais para mim, doutor, obrigado. Quanto à minha anatomia ser diferente da sua, fico encantado.

Que figurino bizarro e absolutamente inútil para proteger contra contaminações é aquele do grupo de desembarque?

Spock nem parece frio quando conversa com McCoy, ou melhor, quando se provocam. Em alguns episódios essas provocações ficam sérias, mas aqui parecem brincadeiras entre amigos íntimos.

Primeira aparição da Christine Chapel e início do arco romântico não correspondido – mas agora sabemos que o início de verdade é em Strange New Worlds (SNW).

Uhura assume a navegação em dado momento – apesar de ouvir uma piadinha de um tripulante (que pode ser atribuída à doença), o fato é que é muito legal vê-la assumir outra função, demonstrando que tem o mesmo treinamento de seus colegas. Por outro lado, na reunião de oficiais a única mulher é a ordenança Rand, só para entregar fitas.

Sulu sem camisa espadachim, uma das cenas mais icônicas da TOS!

Nesse episódio fica estabelecido que a mãe de Spock é humana e que a dupla herança causa conflitos profundos.

Primeiro episódio excelente da TOS, tão bom que serviu de ponto de partida para um episódio da Nova Geração (A Hora Nua), que no começo da sua existência carecia de bons roteiros.

S01E05: O Inimigo Interior (The Enemy Within). Revisto em 16.06.2023. 4 estrelas

McCoy: Ele está morto, Jim.

Spock: Temos aqui uma oportunidade incomum para avaliar a mente humana, ou para examinar, em termos terrestres, os papéis do bem e do mal em um homem: seu lado negativo, que vocês chamam de hostilidade, luxúria, violência, e seu lado positivo, que as pessoas da Terra expressam como compaixão, amor, ternura.
McCoy: É o interior do capitão que você está analisando. Você está ciente disso, Spock?
Spock: Sim, e o que torna um homem um líder excepcional? Vemos indícios de que é seu lado negativo que o torna forte, que seu lado “mau”, por assim dizer, devidamente controlado e disciplinado, é vital para sua força.

McCoy: Muito do que ele [Kirk Mau] é faz de você o homem que você é. Deus me livre de concordar com Spock, mas ele está certo. Sem o lado negativo, você não seria capitão, não poderia ser, e você sabe disso. Sua força de comando reside principalmente nele.
Kirk: E o que eu tenho?
McCoy: Você tem a bondade.
Kirk: Não basta. Tenho uma nave para comandar.
McCoy: A inteligência, a lógica. Parece que a sua metade tem mais disso, e talvez seja daí que vem a coragem essencial do homem. Pois veja, ele estava com medo, e você não.

Nunca levei esse episódio muito a sério porque a atuação do Kirk Mau é canastrona e o cachorro alien é ridículo, mas desse vez o episódio subiu no meu conceito. Há diálogos excelentes e uma cena um tanto chocante: Kirk Mau tenta estuprar Janice Rand e, se a cena é pesada hoje, imagino como deve ter parecido nos anos 60. Uma pena que a última frase do Spock seja horrenda: ele comenta com Rand que “o impostor tinha qualidades interessantes”, ao que ela fica (previsivelmente) sem reação.

Ainda sobre Spock, percebe-se que os roteiristas demoraram a decidir que metade prevaleceria, se a humana ou a vulcana. E é nesse episódio que a pinça vulcana (criação de Leonard Nimoy) aparece pela primeira vez.

Uma coisa bem interessante é ver a amizade do trio Kirk/Spock/McCoy se formando, a complementariedade das personalidades deles se evidenciando e a importância de Spock e McCoy como conselheiros ou “grilos falantes”  do Kirk começando a se fazer notar.

S01E06: As Mulheres de Mudd (Mudd’s Women). Revisto em 19.06.2023. 3 estrelas

Eve: Ah, o som do ego masculino. Você atravessa a galáxia e ainda é a mesma música.

Kirk: Ou você acredita em si mesma ou não.

Spock: O fato de que o arranjo dos meus órgãos internos difere do seu, doutor, me agrada infinitamente.

Ainda algumas discrepâncias: Uhura com uniforme da divisão de comando; “Vulcanian” e não “Vulcan”.

A trama toda é questionável, tenta ser politicamente correta, mas o correto nos anos 60 soa errado hoje. Homens babões e a condescendência com homens babões… ah, o machismo… ao menos ele é (vagamente) criticado no episódio. Enquanto isso, Spock só se diverte observando a reação do Kirk. Aliás, é o primeiro episódio da série com inclinação para a comédia.

S01E07: E as meninas, de que são feitas? (What Are Little Girls Made Of?). Revisto em 05.07.2023.

4 estrelas

KIRK: Ela matou o andróide, Korby, da mesma forma que você matou Ruk. É este o seu mundo perfeito, seus seres perfeitos matando uns aos outros? Você não está fazendo exatamente o que mais odeia nos humanos, matando sem maior preocupação do que quando apaga a luz?

O clichê básico da ficção científica (ou um deles): as máquinas dominando o mundo e subjugando os seus criadores humanos.

Eu me lembrava bem pouco desse episódio e foi legal ver Christine toda saidinha, tendo um bom papel. Maaaaas… em teoria, ela era uma personagem bem mais secundária que a Uhura, mas ganhou boas cenas bem antes… o que não chega a surpreender, já que tinha um relacionamento com Gene Roddenberry e, claro, era branca.

McCoy nem aparece nesse episódio, quando vão perceber que a força da série estava no trio?

Os cenários de papel machê eram tão bem intencionados… A falta de roupa da Andrea, nem tanto.

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