Rolling Stone no Brasil

A novidade já nem é tão nova, mas mesmo assim vale divulgar: finalmente chega ao Brasil a revista Rolling Stone, uma das maiores (talvez a maior) revistas pop do planeta.

Se você nunca ouviu falar dela, saiba que, mais do que divulgar música, a Rolling Stone tem por hábito apontar (alguns diriam “ditar” ) tendências em comportamento e opinião, com textos diversificados e às vezes polêmicos sobre os mais diversos temas – de bandas underground a política, passando por moda e grandes nomes do cenário musical, a revista traz de tudo um pouco.

No início dos anos 70, alguns corajosos (com Mick Killingbeck e Luis Carlos Maciel encabeçando a lista) lançaram a RS no Brasil. No início, a Rolling Stone norte-americana mandava matérias e fotos, na esperança de receber os royalties. Após alguns números, cansada do calote dos editores brasileiros, a matriz parou de fornecer material. A saída? Copiar deslavadamente o conteúdo da revista, incluindo a palavra “Pirata” abaixo do logotipo de cada edição. Ainda assim, o sonho teve vida curta: 14 meses e 36 edições, a última datada de 5 de janeiro de 1973.

Já a edição norte-americana é longeva, completando quatro décadas no ano que vem. Há quem diga que, nesse tempo todo, ela mudou radicalmente de cara, rendendo-se ao grande mercado, ou mainstream, perdendo sua vocação de polemizar e divulgar a contracultura. Seja como for, continua a ser uma das revistas mais lidas do mundo.

A Rolling Stone Brasil chega ambiciosa: segundo o site UOL Música, a tiragem inicial é de 100.000 exemplares, enquanto a revista Bizz, sobre música, tem tiragem mensal de 30.000 exemplares. Mas a Rolling Stone não tem nada a ver com a Bizz, que há tempos anda sem graça e tem por tradição dedicar-se exclusivamente à música – e, basicamente, à música já consagrada, às bandas bem-sucedidas, ao tal do mainstream.

Mantendo a tradição das demais RS ao longo do mundo, metade do conteúdo da revista brasileira vem da matriz, a outra metade é produzida aqui mesmo. No primeiro número, a Rolling Stone Brasil publica uma matéria sobre sua passagem em terras brasileiras nos anos 70, escrita pelo jornalista Antônio do Amaral (de onde retirei os dados históricos, já que se trata de uma época que não me pertence) e um passeio por 16 capas da edição americana – Elvis Presley, E.T., Bill Clinton e Johnny Deep fazem parte desta galeria. A revista expõe o crime organizado do PCC e as mazelas dos congressistas eleitos no último primeiro de outubro. No quesito música, traz o diário de viagem do Cansei de Ser Sexy, uma entrevista com Bob Dylan, as novidades do rock nacional e o que rola pela internet. Ainda reserva espaço para as celebridades Gisele Bündchen (capa da primeira edição) e Jack Nicholson. Claro que há mais, muito mais nas 138 páginas em formato de tablóide.

Uma única ressalva: não houve qualquer menção a Renato Russo, um dos ícones do rock brasileiro, cujo aniversário de dez anos de morte deu-se justamente no mês de lançamento da revista. A Bizz fez uma matéria, com direito a capa. A RS Brasil não trouxe sequer uma notinha.

A edição número 1 da Rolling Stone Brasil ainda pode ser encontrada nas bancas. A segunda edição deve chegar no final desta semana. Tomara que venham muitos outros números e que a revista consiga vingar no complicado mercado editorial brasileiro. Tem tudo para conseguir.

Engenheiros do Hawaii

Vamos remar contra a corrente
desafinar do coro dos contentes
(Pose, Engenheiros do Hawaii)

Música mexe contigo?

Comigo, tremendamente. A música me traz cheiros, sabores, ambientes, pessoas, ausências, emoções.

Dia desses, conversando com um amigo, lembrei-me dos Engenheiros do Hawaii[bb]. Todo mundo sabe que sou apaixonada pela Legião Urbana[bb], mas a primeira banda de rock que ouvi conscientemente foi a Engenheiros. Digo “conscientemente” porque sabia quem estava cantando e conhecia as letras. Antes disso, apenas rock solto no tempo e no espaço – como a Blitz[bb], que eu ouvia quando tinha uns seis anos, e alguma música da Legião (“de quem é essa música?” ) ou do Cazuza[bb], que eu até curtia mas só escutava de vez em quando, no rádio.

Foi em 1990 que ouvi a manjada Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones e descobri a existência dos Engenheiros. Só em 1993, no entanto, tive meu primeiro cassete de rock. E adivinha de quem era? Engenheiros, claro. Eu tinha acabado de me mudar para uma cidade estranha e estava um bocado infeliz. Enquanto meus pais procuravam apartamento na nova cidade, eu passava horas e horas no hotel, grudada ao walkman. Caiu nas minhas mãos (creio que ganhei da minha mãe) aquele cassete azul e amarelo. Ouvia dia e noite, literalmente. No fim das contas, tinha aprendido a gostar até das músicas que detestei das primeiras vezes que ouvi. Parabólica foi a preferida imediatamente, seguida de Pose (Anos 90) e Pampa no walkman (simplesmente pelo título). Até quando você vai ficar? só se tornou querida anos depois, mas então eu já a conhecia de cor.

Depois ouvi O papa é pop inteiro (ordem inversa, sim) e veio a paixão por Pra ser sincero (uma das minhas canções preferidas até hoje) e A violência travestida faz seu trottoir. Por essa época, eu já conhecia Refrão de bolero (uma das minhas cinco prediletas tratando-se dos Engenheiros), Infinita Highway, Terra de Gigantes, Piano Bar (também entre as Top 5, provavelmente) e várias outras.

Não se ouvia rock nacional em casa quando eu era criança e até a pré-adolescência eu acreditava que não gostava de rock por ser “barulhento demais”. Foram os Engenheiros, decididamente, que mudaram essa minha opinião esquisita.

Dia desses (vá lá, já faz um ano), na casa de outro amigo, vi um devedê recente dos Engenheiros, mas não consegui gostar tanto. Talvez por ser uma banda completamente diferente agora.

Bem, cá estou eu, neste exato momento, ouvindo o tal cassete azul e amarelo e cantando junto do começo ao fim, mesmo as canções que não ouvia há anos e anos (quem ainda ouve fita cassete?), enquanto recordo o quarto do hotel, as primeiras impressões da cidade, os lanches da padaria ao lado, o cheiro de mar, a saudade dos amigos que haviam ficado para trás.

Música mexe contigo?

Tentando explicar o inexplicável

I’ve been working all day
I’ve been thinking a lot
I’ve been doing some things
That are not quite right
I’ve been thinking about you
I’ve been thinking about you
When will you return?

I’ve been working all day
I’ve been thinking a lot
I’ve been lost in the morning
I don’t know what it costs
Will you find me there?

And I guess it’s just a phase
I don’t know where I’m going
And I guess it’s just a phase
I don’t know where I’m going

I’ve been working all day
I’ve been thinking a lot
I’ve been lost in the morning
I don’t know what it costs
I don’t think about you
I will be able to do
Will you let me be?

And I don’t know where I’m going
I guess it’s just a phase
And I don’t know where I’m going
I guess it’s just a phase

(Mariane, Renato Russo)

Aos poucos, estou voltando.