Livro: Movimento 78

Livro da vez: Movimento 78, de Flávio Izhaki.

No fim do século XXI, há dois candidatos à presidência do mundo: uma inteligência artificial chamada Beethoven e o humano Kubo. As pesquisas apontam que a IA é franca favorita. No último debate antes das eleições, Kubo tenta convencer a audiência de que é melhor ser governado por humanos imperfeitos do que por máquinas frias.

Como em Bolo Preto, que resenhei outro dia, a narrativa é fragmentada, mas aqui funciona porque há um fio condutor claro, um propósito. Entre uma pergunta e outra do debate eleitoral, o livro apresenta o passado de Kubo, suas heranças familiares e flashes de como a humanidade chegou ao ponto de cogitar entregar seu futuro a robôs (claramente O Exterminador do Futuro não existe na realidade desse livro).

Movimento 78 é a melhor ficção científica nacional que já li. A escrita é cuidadosa, a língua portuguesa é respeitada (coisa rara em autores contemporâneos nacionais), os personagens são bem construídos e eu me vi interessada não só no destino político da Terra, mas nas histórias pessoais. Boa ficção científica é isso: foco nos personagens e nas suas motivações, não bordões engraçadinhos ou descrições mirabolantes.

Minha única queixa é o pequeno número de páginas. Eu gostaria de mais tempo na companhia de Kubo e sua família.

Indico para quem está à procura de boa literatura nacional contemporânea, gostando ou não de ficção científica.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

Filmes favoritos em junho de 2022

Recentes

Top Gun: Maverick (2022): eu não podia ter escolhido filme melhor para retornar ao cinema depois de 2 anos, 3 meses e 18 dias. Maverick tem tudo que os fãs de Top Gun poderiam desejar: mil referências ao primeiro filme, trilha sonora bacana, equilíbrio entre humor e tensão, efeitos visuais e sonoros arrasadores (merece mesmo ser visto no cinema). E sim, Tom Cruise deve ter feito um pacto com o Crowley para conservar a aparência, não há outra explicação. 5 estrelas

Ascensão (2021): documentário sobre o dito “sonho chinês”, focado em produção, produtividade e um verniz de ocidentalização. Abusos e condições de trabalho degradantes desde o chão de fábrica até o mundo corporativo. Direitos humanos vistos como uma falácia ocidental em um mundo em que só importa a sobrevivência – e, claro, com esse tipo de pensamento os abusos se perpetuarão. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

Asas do Desejo (1987): não curti da primeira vez que vi, há uns 15 ou 20 anos. Dessa vez, achei poético e gostei tanto que emendei em Tão Longe, Tão Perto (que fica devendo bastante). 4 estrelas

Viagem ao Fim do Universo (1963): em 2163, a nave espacial Ikaria parte em uma longa jornada em busca de vida no sistema estelar Alpha Centauri, mas a tripulação (obviamente) se depara com uma emergência que pode levar todos à morte. Filme tcheco que serviu de inspiração para Star Trek, 2001 e outros clássicos da ficção científica. A estrutura é a de um episódio de ficção científica e eu assistiria uma série inteira com esses personagens. 5 estrelas

Orfeu (1950): adaptação do mito grego à França contemporânea. Fiquei impressionada com os efeitos visuais, muito bem feitos considerando-se a época em que o filme foi produzido. 4 estrelas

Filmes favoritos em maio de 2022

Século XXI

O Homem Duplo (2006): adaptação fiel do romance de Philip K. Dick, dirigida por Linklater, com o mesmo visual de Waking Life. Um policial trabalha disfarçado no combate às drogas e aos poucos perde a fronteira entre sua personalidade real e a inventada. Excelente crítica às próprias drogas e aos métodos de combate. O Homem Duplo é a leitura de junho do #LendoSciFi, organizado pela @soterradaporlivros. 4 estrelas

Insônia (2002): um detetive de Los Angeles e seu parceiro são enviados para o Alaska para investigar um assassinato. Além do drama local, terão de lidar com seus próprios fantasmas. Como não gostar de um filme em que Al Pacino faz o policial e Robin Williams faz o bandido? 5 estrelas

Retratos de uma Obsessão (2002): um laboratorista fotográfico solitário se revela mentalmente desequilibrado e um potencial risco para seus clientes. Novamente Robin William como vilão. Esse e o filme anterior foram indicações da @smiletic. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

Um País de Anedota (1949): um tesouro da Borgonha é encontrado no meio de Londres e os residentes daquela rua se descobrem borgonheses. Comédia ligeira em que os ingleses riem de si mesmos. 4 estrelas

Tudo que o céu permite (1955): uma viúva se apaixona por um sujeito mais novo e mais pobre e tem que lidar com a rejeição de vizinhos, amigos e família. Triste retrato do que se esperava das mulheres nos anos 50. 4 estrelas

O que terá acontecido a Baby Jane? (1962): uma antiga estrela de cinema atormenta sua irmã paraplégica. Filme pesado e talhado para confundir o espectador. 4 estrelas

Livro: É assim que se perda a guerra do tempo

Livro da vez: É assim que se perda a guerra do tempo, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone.

Red e Blue são duas combatentes em lados opostos de uma eterna guerra temporal que pode mudar os destinos do mundo a qualquer segundo. Entre campos de batalha, começam a se corresponder e percebem que têm muito a aprender uma com a outra e mantêm uma troca de cartas secreta – e perigosa – ao longo dos séculos.

Não gosto muito de livros narrados no tempo presente, nem sou fã de livros epistolares. Além disso, esperava mais ficção científica e menos romance. Por tudo isso a história acabou não me fisgando.

Por outro lado, é bem escrita e tem umas sacadas muito interessantes, especialmente quanto a paradoxos temporais. Há pistas para os leitores quebrarem a chave da história, o que considero um bônus. O desfecho é bem bacana e justificou a leitura para mim.

Indico para quem curte histórias de amor e gostaria de ingressar suavemente no fascinante mundo da ficção científica.

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas