Filmes: os melhores de janeiro de 2022

Ufa, 14 filmes em janeiro! Recesso e hiato nas séries ajudaram. Falando em séries, vi também a nova temporada de Dexter e recomendo.

Recentes

Encanto (disney+, 2021): lindas cores, lindo traço, linda música. Achei que fez pouco uso da cultura colombiana, mas curti (e chorei, claro). 4 estrelas

Being the Ricardos (amazon prime, 2021): Aaron Sorkin e, pra mim, isso diz tudo. Bastidores do super sucesso dos anos 60 “I Love Lucy” e das vidas dos seus protagonistas, Lucille Ball e Desi. 4 estrelas

King Richard – Criando Campeãs (hbo max, 2021): nunca achei que conseguiria odiar um personagem interpretado pelo Will Smith, mas o pai da Serena e da Venus é irritante ao extremo. 4 estrelas

Direto do túnel do tempo

As Pontes de Madison (hbo max, 1995): desidratei de tanto chorar no último terço do filme. Os dramas e dilemas de Francesca poderiam muito bem ser transportados para os dias de hoje. Quem nunca ficou dividida, seja lá por quais motivos fossem, entre a vida atual ou mergulhar de cabeça em um novo amor? Bônus: Clint Eastwood mais bonito do que nunca. 5 estrelas

Os Queridinhos da América (hbo max, 2001): elenco de primeira em uma comédia que, no geral, envelheceu bem. 4 estrelas

O Martírio de Joana D’Arc (youtube, 1928): filme mudo, sequer tem trilha sonora, mas o drama é tão pungente que não desgrude o olho da tela. Excelentes atuações e ótima exploração de takes de baixo para cima e vice-versa. 5 estrelas

Sweeney Todd (hbo max, 2007): ok, eu vi enganada. Queria um musical leve, recebi um terror gore e realmente não sei como vi até o final. Acho que foi no susto. Apesar do pânico, são perfeitos os cenários, roupas, maquiagem, efeitos. Atuações também excelentes. 5 estrelas

Algumas releituras de 2021

Até 2019, raramente relia algum livro, mas aos grupos de leituras coletivas têm me feito revisitar obras e, em geral, a experiência é ótima. Sempre há coisas novas a descobrir e, dependendo do humor e do momento na vida, a relação com a história pode até mudar totalmente.

Eis algumas das releituras de 2021.

“Saco de Ossos”, Stephen King: o livro começa muito bem, o protagonista (um escritor, que surpresa) é carismático, uma das personagens é uma criança fofa e a história é de assombração e tem ótimo desenvolvimento… até a parte final. Da primeira vez, honestamente, detestei o fim; dessa vez, continuo achando anticlimático, mas o livro é tão interessante que ainda assim vale a pena. 4 estrelas

“Os elefantes não esquecem”, Agatha Christie: provavelmente o primeiro livro adulto que li, lá pelos oito anos de idade. Não lembrava de nada, obviamente. Poirot é convocado pela amiga escritora Ariadne (que aprendi a amar muito recentemente, lendo os livros em ordem cronológica) para resolver um mistério ocorrido doze anos antes. Um dos meus favoritos da autora. 4 estrelas

“Não me abandone jamais”, Kazuo Ishiguro: esse é um dos meus favoritos da vida. Kathy está prestes a encerrar sua carreira como cuidadora e aproveita para rememorar sua vida, desde a infância no internato Hailsham. Ishiguro tem uma escrita que envolve lentamente, aprofunda mistérios e, ao mesmo tempo, dá pistas ao leitor atento. Recomendo ler sem saber nada da história, sem sequer ler a sinopse. 5 estrelas

“Contato”, Carl Sagan: Ellie faz parte de um projeto que investiga o espaço profundo em busca de sinais de vida inteligente extraterrestre. Uma mensagem subitamente é recebida, mais complexa do que se imaginaria. Os extraterrestres querem contato, mas o preço pode ser alto. As melhores partes do livro são as discussões envolvendo ciência e religião. Nessa releitura, percebi o tema do feminismo, que me passou batido nas anteriores. Fascinante. 5 estrelas

Filme: 438 Dias

Filme da vez: “438 Dias”, produção sueca de 2019.

438 é o número de dias durante os quais dois jornalistas suecos ficaram presos na Etiópia sob a acusação de terrorismo. O filme é baseado em uma história real.

Em 2011, Martin Schibbye e Johan Persson decidiram investigar os efeitos da exploração do petróleo sobre a população de Ogaden, na Etiópia. Para chegar lá, cruzaram a fronteira com a Somália com a ajuda de um grupo que, depois, descobriram ser considerados terroristas no país vizinho. Foram presos pelo exército etíope e acusados de terrorismo.

Para piorar, descobrem que um figurão da política sueca tem envolvimento com a indústria petroleira que atua em Ogaden. Assim, não confiam que a diplomacia ou a política da Suécia agirão a contento para tirá-los dessa situação. Para alguns, acreditam, é melhor que fiquem presos em um país distante, talvez para sempre.

A Navalha de Hanlon diz que a gente não deve atribuir à malícia o que pode ser explicado pela burrice. Nem digo burrice, mas ingenuidade: como esses jornalistas resolveram que seria uma boa ideia entrar ilegalmente em um país, mais ainda um que não preza exatamente por instituições democráticas e não é conhecido pelo respeito aos direitos humanos? Como não pesquisaram antes sobre as pessoas a quem pediram ajuda para fazer o ingresso clandestino? Creio que isso seja fruto da confiança que cidadãos de certos países desenvolvidos têm nas suas próprias instituições e na ilusão que nutrem de que o restante do mundo funciona do mesmo modo (não é de espantar, sob essa ótica, a quantidade de turistas estrangeiros que é furtada assim que pisa no Rio de Janeiro).

O filme é dinâmico, tenso e parece bastante realista. O ponto de vista é o dos jornalistas, o que, claro, pode levar a um certo viés. A discussão central é a da liberdade de expressão e da imprensa livre, temas que seguem atuais e relevantes.

A distribuição do filme no Brasil é da distribuída pela @a2filmesoficial e já está disponível nas plataformas digitais.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Uma Terra Prometida

Livro da vez: “Uma terra prometida”, de Barack Obama.

Recebi o livro via #netgalley em novembro do ano passado, e o tempo que levei para ler diz mais sobre minha incapacidade de ler dois livros ao mesmo tempo do que sobre o texto. Quando peguei “Uma terra prometida” sem outro livro pedindo minha atenção, a coisa fluiu muito bem.

O livro tem uns trechos meio chatinhos, sim, especialmente quando se embrenha muito na política norte-americana. Outra coisa que é um pouco tediosa (e me pareceu forçada) são as louvações do Obama aos membros da sua equipe.

Por outro lado, achei interessantíssimo quando trata de política internacional (inclusive com rápidas menções ao Brasil). É fascinante ver um pouco da história recente pelos olhos de um dos seus principais protagonistas.

Outra coisa interessante são os momentos de frustração – aparentemente mais frequentes que os de realização – do Obama na tentativa de trazer progresso e de melhorar as condições de vida dos cidadãos sob sua responsabilidade. Os projetos eram frequentemente emperrados por conchavos políticos.

Obama também documenta a radicalização das posturas políticas nos EUA, o crescimento da facção de ultra-direita no Partido Republicano e o surgimento das “fake news” como armas políticas, todos temas que falam de perto à realidade brasileira.

O livro acaba em um ponto decisivo do governo e deixa a vaga promessa de um segundo volume.

Na edição da netgalley, os cadernos de fotografias estão ausentes e há alguns erros (siglas em letras minúsculas, por exemplo) que, presumo, foram corrigidos na versão definitiva.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas