Livro: A Arte da Divagação

Livro da vez: A Arte da Divagação, de Moshe Bar.

“Com base na psicologia, neurociência, psiquiatria e filosofia, o renomado neurocientista cognitivo Moshe Bar explora os benefícios comprovados da divagação da mente e seu impacto positivo no humor e na criatividade”: essa é a sinopse do livro, mas eu não sabia direito o que esperar quando comecei a leitura. Seria um manual de autoajuda? Ou um livro profundamente técnico e quase incompreensível?

Nem uma coisa, nem outra. Moshe Bar faz um ótimo trabalho explicando pesquisas que, por sua vez, tentam explicar o funcionamento do cérebro e a importância de ter consciência dos próprios pensamentos, chave importante par o controle do humor e a melhoria da saúde mental.

Bar ensina que pensamentos são associativos, é difícil freá-los e daí nascem as divagações, que podem ser amplas, conduzindo à criatividade e melhorando o humor, ou ruminativas, vinculadas à depressão e à ansiedade. Essas duas condições levam, necessariamente, a pensamentos ruminativos, e o autor propõe que quebrar essa cadeia ajuda no tratamento de um modo que remédios nem sempre conseguem.

Mas como controlar os pensamentos? Eis o ponto: a ideia não é controlá-los, mas reconhecê-los, rotulá-los e seguir adiante, e Moshe Bar defende a meditação como instrumento para isso. Mas não é uma defesa cega: o autor diz que, para ele (e para muitas outras pessoas), a meditação ajuda a esvaziar a mente e dar a devida atenção ao presente; para outras pessoas, a corrida ou atividades imersivas podem ser mais úteis.

Confesso que, ironicamente, peguei-me divagando durante a leitura, porque embora a linguagem seja fácil, alguns conceitos são abstratos e eu me perdia em um fluxo de pensamentos e tinha que voltar alguns parágrafos na leitura. Será que está na hora de, novamente, experimentar a meditação? Acho que vou tentar.

Recomendo “A arte da divagação” para quem tem curiosidade sobre o funcionamento do cérebro e quer incrementar a própria caixa de ferramentas na busca de uma vida mais satisfatória.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Filmes favoritos em outubro de 2022

Recentes

Prisioneiros (2021): o tema é o trabalho em condições análogas à escravidão e o subtexto é o homem sendo lobo do próprio homem. Rodrigo Santoro excelente. A sonoplastia ruim tira uma estrela do filme. 4 estrelas

Argentina, 1985 (2022): nem todo herói usa capa, e o promotor Julio Strassera está aí para provar, assessorado por uma turma de jovens dedicados. A história real do julgamento de nove militares que governaram a Argentina durante a ditadura. Emocionante. 5 estrelas

Uma Garota de Muita Sorte (2022): entre o presente e o flashback, a história traumática de Ani é contada. Algumas cenas podem ser consideradas fortes, mas o filme está longe de ser apelativo. Dica da @smiletic. 4 estrelas

Kung Fu Panda (2008): animais fofos e uma história bem contada – como não gostar? Menção especial para a cena do Po disputando o último dumpling com seu mestre. 5 estrelas

O Nevoeiro (2007): um nevoeiro denso cai sobre uma cidadezinha, e coisas horripilantes se escondem, prontas a atacar. Baseado em uma novela do Stephen King, é um desses casos em que o filme é melhor que o livro. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

Nos Bastidores da Notícia (1987): uma produtora percebe que o telejornalismo está se vendendo ao puro entretenimento. Um repórter talentoso não é promovido por não ser midiático. Um âncora bonito e burro é bem-sucedido. Divertido e crítico ao mesmo tempo. 4 estrelas

Viagem ao mundo dos sonhos (1985): três garotos constroem uma espaçonave e vivem aventuras muito loucas. Filme infantil, mas divertidíssimo, há tempos eu não ria tanto com um filme. Um achado que a @soterradaporlivros me apresentou. 5 estrelas

Gandhi (1982): quase documental, narra os esforços de Gandhi para tornar a Índia um país independente e unificado. Eu desconhecia várias coisas, daí ter achado o filme interessante. 4 estrelas

Livros de Terror – Halloween 2022

Boo!

Morro de medo de histórias de terror, mas a @soterradaporlivros me convenceu a ler Hellraiser em outubro. Uma coisa levou a outra e acabei com uma listinha de livros em celebração ao halloween, que seria meu feriado preferido se eu morasse na metade de cima do mundo.

Hellraiser, de Clive Barker: terrorzão com um pé no gore e outro no sadomasoquismo. Frank é um vilão doentio, horrendo, mas os vilões de verdade são os cenobitas, que mal aparecem (não estou reclamando). Fiquei surpresa com a forte presença feminina. Felizmente é curto, eu não aguentaria ler um calhamaço dessa história. Quem curte o gênero provavelmente fica com gosto de quero-mais. 4 estrelas

Invasores de Corpos, de Jack Finney: vi o filme de 1956 (excelente) e o de 1978 (tão bizarro que é ótimo), então estava mais que na hora de ler a história original. Em uma cidadezinha dos EUA, algumas pessoas não são mais elas mesmas, segundo os parentes. O que parecia histeria coletiva acaba se revelando uma invasão alienígena. O livro é de 1955 e tem uns trechos bem machistas, mas é uma ótima ficção científica e tem um desfecho muito mais satisfatório que os filmes. 4 estrelas

O Vampiro, de John William Polidori: um jovem ingênuo conhece Lord Ruthven, um aristocrata misterioso, sedutor e estranhamente envolvido em mortes violentas… Esse conto merece ser lido por duas razões: primeiro, porque nasceu junto com Frankenstein, de Mary Shelley, naquele conhecido episódio de tédio durante chuvas torrenciais que levou a uma brincadeira entre amigos escritores; segundo, porque foi uma das inspirações de Bram Stoker para compor Drácula que, por sua vez, inspirou as histórias contemporâneas de vampiros. 3 estrelas

Carmilla: A Vampira de Karnstein, de Joseph Thomas Sheridan Le Fanu: li Carmilla em maio, mas merece ser citado aqui porque foi também foi uma das inspirações para o Drácula de Stoker. Carmilla é uma vampira sensual, provocativa, sedutora. O autor é quase explícito e creio que só se conteve por causa da época em que escreveu (e porque, se desse vazão às fantasias, seria pornô e não terror). Para mim, é uma história infinitamente melhor que Drácula. 5 estrelas

Filmes favoritos em setembro de 2022

Recentes

Miral (2010): baseado na autobiografia da protagonista, uma jornalista que conta como foi crescer em uma Palestina ocupada e oprimida pelos israelenses. Sensível sem ser maniqueísta. 4 estrelas

Destinos Ligados (2009): três mulheres têm suas vidas entrelaçadas. A mais velha entregou a filha para adoção há mais de trinta anos; a mais nova quer adotar uma criança. Os dramas se interligam e, embora alguns lances sejam previsíveis, o filme é bem bonito. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

O Sócio (1996): Whoopi Goldberg é uma analista de investimentos que perde uma promoção por ser mulher e decide abrir sua própria firma. Filme divertidíssimo que aborda preconceitos de gênero e cor infelizmente ainda existentes. 4 estrelas

O Pagamento Final (1993): Al Pacino é um mafioso que, depois de cinco anos na prisão, decide seguir uma vida decente, mas o mundo parece conspirar contra a sua regeneração. Ótimas atuações. 4 estrelas