Livro: A Longa Marcha

Livro da vez: A Longa Marcha, de Stephen King.

O adolescente Ray Garraty resolve participar da Longa Marcha, uma competição com cem adolescentes que devem caminhar por tanto tempo quanto conseguirem. Se pararem ou reduzirem a velocidade, recebem uma advertência, e três advertências levam ao “bilhete azul”, eliminando o concorrente. Ao vencedor, promete-se um grande prêmio.

O livro é a epítome do ditado “o que importa é a jornada”. Acompanhamos Garraty e vários dos participantes, sofremos e nos cansamos com eles, e ganhamos vários questionamentos ao final. A história é dramática e por vezes deprimente. O suicídio é um subtexto permanente.

King escreveu A Longa Marcha aos 18 anos. É seu primeiro livro, embora não o primeiro a ser publicado (que foi Carrie, em 1974). A Longa Marcha foi publicada em 1979 sob o pseudônimo de Richard Bachman, mas estão lá vários dos elementos que marcam a escrita do rei, como a construção detalhada de personagens e o Maine como pano de fundo.

Lido em março, no #lendoKing, grupo de leitura coletiva da @soterradaporlivros e da @seguelendo que já está no seu quinto ano.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Filmes favoritos em fevereiro de 2023

Como estou tentando ver os candidatos ao Oscar antes da cerimônia, não vi filmes antigos este mês.

Nada de novo no front (2022): jovens inicialmente animados para participarem da Primeira Guerra Mundial descobrem que a realidade é muito mais dura que seus sonhos. Bem mais cru e violento que o filme de 1930. Cenografia e efeitos excelentes. 4 estrelas

Império da Luz: (2022) o cinema é o pano de fundo dessa história que lida com racismo, sexismo e saúde mental. Olivia Colman em uma atuação menos contida que o usual, mas brilhante. 4 estrelas

Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft (2022): uma inusitada história de amor contada por meio de imagens impressionantes de erupções vulcânicas. Chama a atenção a luta dos cientistas para alertar as autoridades a implementarem medidas de redução de danos – soa familiar? 4 estrelas

Navalny (2022): a história real da perseguição a um político adversário de Putin. Se fosse ficção, pareceria mentira. São loucos, esses russos. 5 estrelas

The Fabelmans (2022): Sam Fabelman descobre cedo o seu amor pelo cinema e passa a entender seu mundo por meio das lentes de câmeras. Nada supera uma história bem contada, e Spielberg é um mestre nisso, sem depender de efeitos visuais ou se apoiar em franquias/sequências para atrair público. Já quero a série. 5 estrelas

O Método de Stutz (2022): o psiquiatra Phil Stutz apresenta as ferramentas que usa em terapia para dar aos seus pacientes a possibilidade de mudar a própria vida. A história pessoal de Phil permeia todo o filme e emociona. Não concorre ao Oscar, mas deveria. 5 estrelas

O Último Vermeer (2019): único “antigo” do mês. Um artista frustrado é suspeito de colaboracionismo com os nazistas e sua vida corre risco. Ótimas atuações, boas doses de história da guerra e de história da arte. 4 estrelas

Filmes favoritos em janeiro de 2023

Recentes

Elvis (2022): o único da temporada que não me fez pensar “podia ter meia hora a menos”. Muita coisa da carreira do Elvis foi novidade para mim, o que tornou o filme ainda mais interessante. Atuações impecáveis. 4 estrelas

O Efeito Martha Mitchell (2022): curta documental. Martha Mitchell foi a primeira a sacar como era podre o governo Nixon, mas não foi levada a sério pela imprensa e foi sufocada pela administração federal e pelo próprio marido, que era o procurador-geral. 4 estrelas

My Year of Dicks (2022): curta de animação divertidíssimo sobre uma adolescente que tenta perder a virgindade. Mostra a experimentação e as inseguranças da adolescência e arranca umas risadas em solidariedade ao constrangimento da garota. 5 estrelas

Gato de Botas (2011): o passado do gato mais adorável do cinema. Simples, mas divertidíssimo e com uma gatinha muito fofa dividindo a cena com o amigo do Shrek. Bônus: alfineta tutores sem noção que arrancam as unhas dos gatos. 4 estrelas

Samy y Yo (2002): um roteirista de tv infeliz no trabalho e na vida pessoal de repente encontra uma mulher que lhe dá um novo gás. O protagonista é Ricardo Darín, tão bom nesse papel cômico quanto nos dramáticos mais conhecidos. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

Matilda (1996): uma garotinha negligenciada pelos pais se cria sozinha e desenvolve uma inteligência e uma percepção do mundo afiadíssimas. Gostei tanto que desisti de ver o musical, com medo de que não esteja à altura. 4 estrelas

O Ano Passado em Marienbad (1961): um triângulo amoroso em um hotel de luxo, alternância entre passado e presente. A incerteza permeia a história e mesmo no fim o espectador fica na dúvida. Intrigante e visualmente muito bonito. 4 estrelas

O Tesouro de Sierra Madre (1948): Humphrey Bogart é o protagonista desse filme sobre a corrida do ouro. Um tanto maniqueísta e com desfecho previsível, mas curti as atuações e a trilha sonora. 4 estrelas

O Homem Invisível (1933): uma mistura bem-sucedida de terror, ficção científica e comédia, embora eu tenha dúvidas se o humor foi intencional. Efeitos visuais excelentes para a época. 4 estrelas

Livros favoritos em 2022

A filha perdida (Elena Ferrante): a narradora é uma mulher deslocada de suas raízes e, depois, deslocada na vida de mãe e de esposa, tentando se reencontrar durante as férias. Primeiro livro que li da Ferrante.

Coraline (Neil Gaiman): história mal-assombrada econômica e envolvente, com elementos de Nárnia, Alice e referências contemporâneas. Livro infantojuvenil, mas divertido também para adultos.

Billy Summers (Stephen King): nem todo livro do King foca em elementos sobrenaturais. Aqui, o leitor acompanha o trabalho de um matador de aluguel que sonha com a aposentadoria e quer que esta seja sua última missão.

Poeira Lunar (Arthur C. Clarke): um ônibus turístico afunda em um mar de areia lunar e surgem dois desafios: o interno, o de manter os passageiros vivos e com o moral elevado, e o externo, de resgatar o ônibus. Daria uma excelente minissérie.

A Curva do Sonho (Ursula K. Le Guin): releitura. George Orr tem sonhos efetivos, ou seja, que mudam a realidade, e espera que um psiquiatra possa curá-lo antes que ele desista de viver.

Procurando Jane (Heather Marshall): a vida de três mulheres entrelaçadas desde os anos 70 em torno dos direitos reprodutivos. Como diz a autora no posfácio, não é um livro sobre aborto, mas sobre a maternidade e, sobretudo, sobre o direito de escolher como e quando ser mãe.

Lolita (Vladimir Nabokov): narrado por Humbert Humbert, que sabe o quanto é abjeto e carrega na ironia e no autojulgamento. O livro é chocante como se pode esperar, e nada indulgente.

Carmilla: A Vampira de Karnstein (Joseph Thomas Sheridan Le Fanu): Carmilla é uma das vampiras que inspirou o Drácula, de Bram Stoker, mas sua história é bem mais interessante que a do vampiro mais famoso da literatura.

O Homem Duplo (Philip K. Dick): Fred é um policial infiltrado em um grupo de viciados para tentar capturar traficantes, mas aos poucos vai se degradando não só pelo uso de drogas, mas pelo ambiente.

A Abadia de Northanger (Jane Austen): primeiro livro da autora, mas ela o reescreveu várias vezes ao longo da vida e a publicação foi póstuma. Está afiadíssima na critica de costumes, disparando ironia para todos os lados. Pode ser a porta de entrada para quem não conseguiu prosseguir nas leituras dos mais famosos de Austen.

Crime e Castigo (Fyodor Dostoevsky): Raskólnikov é um jovem estudante passando fome e com medo do que o futuro reserva para sua mãe e irmã, o que o leva a cometer um crime. A situação do protagonista desperta pena no início, mas outras nuances da personalidade dele terminam por encobrir esse sentimento.

E não sobrou nenhum (Agatha Christie): um dos melhores mistérios da Dama do Crime. Dez pessoas são convidadas para um fim de semana em uma ilha e as mortes começam… o assassino só pode ser um deles.

Joyland (Stephen King): história leve contada do ponto de vista de um rapaz de 21 anos. Quase um romance de formação. Mistério e sobrenatural em boas doses.

Um conto de duas cidades (Charles Dickens): Dickens expõe os exageros e terrores da Revolução Francesa acompanhando a vida de alguns personagens fictícios. As razões da Revolução são compreendidas, mas os excessos são criticados. No primeiro plano, uma história de amor filial e outra de amor romântico.

O Coração das Trevas (Joseph Conrad): um aventureiro pede um posto em um lugar remoto do Congo e tem seu desejo atendido. Lá conhecerá Kurtz, do qual pouco se sabe. Inspiração para Apocalypse Now.

O Chamado da Floresta (Jack London): o cão Buck é sequestrado de um lar seguro e enviado para o norte do Canadá, onde aprende a ser mais lobo que cão para sobreviver. Como em “Caninos Brancos”, há muitas metáforas sobre a condição humana.