Livro: Parque Industrial

Livro da vez: Parque Industrial, de Patrícia Galvão, a Pagu, famosa pela Semana de Arte Moderna, mas que não estava na Semana de Arte Moderna (era criança em 1922).

A vida nas fábricas, o trabalho que pesado e mal pago (quando é pago), a pobreza dos cortiços, a prostituição como meio de sobrevivência, os desenganos amorosos, as traições, o medo da fome, o casamento como fuga, a pobreza ao lado da riqueza: essas são as histórias que Pagu conta, acompanhando moças pobres fictícias, mas que poderiam ser reais, que lutam para sobreviver e sustentar suas famílias na São Paulo de 1932.

Escrito quando Pagu tinha apenas 22 anos, o livro transmite o idealismo da autora e da época e deve ser lido dentro daquele contexto histórico, quando ainda se podia acreditar que a revolução soviética traria igualdade. Há passagens panfletárias, e isso era exatamente a proposta da escritora, que queria fazer um “livro revolucionário”. O texto é simples, mas a história cativa pela força das personagens e da narrativa crua, naturalista. A mensagem é cheia de esperança, um sonho que jamais se concretizou.

O retrato que a escritora traça de São Paulo não mudou: a desigualdade que chocava em 1932 ainda choca, ou deveria chocar, em 2022.

Para ser lido com o coração e a mente abertos, sem preconceitos ou estigmas políticos.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Livro: Nós Somos a Cidade

Livro da vez: Nós Somos a Cidade, de N. K. Jemisin. Livro de fevereiro do projeto #lendoscifi (que já está no seu quarto ano e, se você quiser participar, é só falar com a @soterradaporlivros ).

Cidades nascem. Não, não estou falando de conjuntos de casas ou povoados que eventualmente crescem, ganham uma prefeitura e recebem o status de cidade. É mais que isso. As cidades, quando estão maduras, assumem a consciência da própria força e despertam, tornando-se uma entidade viva, pulsante.

Durante o processo de nascimento, a cidade recruta pessoas para ajudá-la e protegê-la, pois é justamente quando se põe mais vulnerável e pode ser atacada – e morta. Nova Iorque está nascendo. Grande e diversa como é, não tem apenas uma pessoa para ajudá-la, mas uma para cada distrito. E um Inimigo à espreita, que fará tudo para impedir esse nascimento.

O livro é o primeiro de uma duologia e começou com um conto que, a bem da verdade, não me agradou, mas a premissa foi bem desenvolvida no livro e a história terminou por me envolver e me emocionar. Vindo da Jemisin, claro que não é só uma história de fantasia, mas uma oportunidade para refletir sobre temas cruciais como racismo, xenofobia e preconceitos de modo geral.

Adorei o livro, adorei andar por Nova Iorque, uma personagem em si mesma e mal posso esperar pela parte final. Dito isso, não é meu favorito da Jemisin. Esse título ainda fica com a trilogia “A Terra Partida”.

Indico para quem curte fantasia urbana e não quer um livro raso, mas provocador. Gostar/conhecer Nova Iorque é um bônus (mas nem de longe é essencial para apreciar a história).

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Atualização em 20 de maio de 2023: resenhei a segunda parte da duologia aqui.

Livro: É assim que se perda a guerra do tempo

Livro da vez: É assim que se perda a guerra do tempo, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone.

Red e Blue são duas combatentes em lados opostos de uma eterna guerra temporal que pode mudar os destinos do mundo a qualquer segundo. Entre campos de batalha, começam a se corresponder e percebem que têm muito a aprender uma com a outra e mantêm uma troca de cartas secreta – e perigosa – ao longo dos séculos.

Não gosto muito de livros narrados no tempo presente, nem sou fã de livros epistolares. Além disso, esperava mais ficção científica e menos romance. Por tudo isso a história acabou não me fisgando.

Por outro lado, é bem escrita e tem umas sacadas muito interessantes, especialmente quanto a paradoxos temporais. Há pistas para os leitores quebrarem a chave da história, o que considero um bônus. O desfecho é bem bacana e justificou a leitura para mim.

Indico para quem curte histórias de amor e gostaria de ingressar suavemente no fascinante mundo da ficção científica.

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas

Filmes: os melhores de janeiro de 2022

Ufa, 14 filmes em janeiro! Recesso e hiato nas séries ajudaram. Falando em séries, vi também a nova temporada de Dexter e recomendo.

Recentes

Encanto (disney+, 2021): lindas cores, lindo traço, linda música. Achei que fez pouco uso da cultura colombiana, mas curti (e chorei, claro). 4 estrelas

Being the Ricardos (amazon prime, 2021): Aaron Sorkin e, pra mim, isso diz tudo. Bastidores do super sucesso dos anos 60 “I Love Lucy” e das vidas dos seus protagonistas, Lucille Ball e Desi. 4 estrelas

King Richard – Criando Campeãs (hbo max, 2021): nunca achei que conseguiria odiar um personagem interpretado pelo Will Smith, mas o pai da Serena e da Venus é irritante ao extremo. 4 estrelas

Direto do túnel do tempo

As Pontes de Madison (hbo max, 1995): desidratei de tanto chorar no último terço do filme. Os dramas e dilemas de Francesca poderiam muito bem ser transportados para os dias de hoje. Quem nunca ficou dividida, seja lá por quais motivos fossem, entre a vida atual ou mergulhar de cabeça em um novo amor? Bônus: Clint Eastwood mais bonito do que nunca. 5 estrelas

Os Queridinhos da América (hbo max, 2001): elenco de primeira em uma comédia que, no geral, envelheceu bem. 4 estrelas

O Martírio de Joana D’Arc (youtube, 1928): filme mudo, sequer tem trilha sonora, mas o drama é tão pungente que não desgrude o olho da tela. Excelentes atuações e ótima exploração de takes de baixo para cima e vice-versa. 5 estrelas

Sweeney Todd (hbo max, 2007): ok, eu vi enganada. Queria um musical leve, recebi um terror gore e realmente não sei como vi até o final. Acho que foi no susto. Apesar do pânico, são perfeitos os cenários, roupas, maquiagem, efeitos. Atuações também excelentes. 5 estrelas