Apenas Uma Vez

Ficha Técnica

  • Título original: Once
  • País de origem: Irlanda
  • Ano: 2006
  • Gênero: Musical
  • Duração: 85 minutos
  • Direção: John Carney
  • Roteiro: John Carney
  • Elenco: Glen Hansard, Markéta Inglová, Hugh Walsh, Geoff Minogue, Bill Hodnett, Danuse Ktrestova, Mal Whyte, Niall Cleary, Gerard Hendrick, Alastair Foley.
  • Sinopse: Dublin, Irlanda. Um músico de rua (Glen Hansard) irlandês encontra, por acaso, uma jovem mãe (Markéta Inglová) tcheca, vendedora ambulante, nascendo um forte relacionamento entre eles.

Comentários

Apenas Uma Vez Embora Apenas Uma Vez seja “oficialmente” classificado como um drama, vá à sessão (ou alugue o dvd) sabendo que verá um musical. Sim, é bom avisar logo – há gente que simplemente odeia o gênero. Eu gosto muito, e Apenas Uma Vez ajuda mesmo os não-apreciadores por ser daqueles musicais mais realistas – a história se desenvolve em torno da e graças à música, mas os protagonistas não “conversam cantando”, como sói acontecer.

As canções são pop e muito bonitas – tanto assim que levou o Oscar 2008 de Melhor Canção Original por Falling Slowly (composta pelo casal protagonista). Nenhuma surpresa. O que realmente me surpreende é que Apenas Uma Vez tenha ganhado o prêmio do público de melhor filme dramático no Festival de Sundance. Once é um bom filme, sim, mas não tem nada de original, não é nenhuma Pequena Miss Sunshine. Será que não havia nenhum filme independente mais interessante este ano? Ou o charme é filmar com uma câmera de mão e pronto, o prêmio está no papo? Deixe-me explicar minha bronca, antes que venham as pedras. Apenas Uma Vez é legal, mas se resume a uma colagem de alguns excelentes filmes: Rent[bb] (a boemia, as dificuldades financeiras), Letra e Música[bb] (o par romântico se junta graças à música e estabelece uma parceria em torno dela) e Antes do Amanhecer[bb] (o encontro inesperado e o forte laço criado rapidamente). Por melhor que a colagem fique, a pergunta que não quer calar é: para que fazer um filme que apenas repete outros?

As belas vozes do casal Glen Hansard e Markéta Inglová são, realmente, o melhor do filme. Os dois estão em perfeita sintonia e é um prazer ouvi-los cantar. Diga-se de passagem que é uma pena não haver mais espaço para Markéta – a voz da moça é belíssima, redonda, cheia, tocante. O solo ao piano, já próximo do fim do filme, é a cena mais emocionante.

Cotação: 3 estrelas

Curiosidades

O protagonista Glen Hansard é cantor, violonista e compositor. Integra a banda The Frames e lançou seu primeiro álbum, The Swell Season, em 2006, projeto no qual a multi-instrumentista, compositora e cantora Markéta Inglová também participou.

Glen e Markéta começaram a namorar durante as filmagens de Once que, aliás, duraram apenas 17 dias.

Serviço

Outros filmes citados:

Dreamgirls – Em Busca de um Sonho

Ficha Técnica

Dreamgirls. EUA, 2006. Musical. 131 minutos. Direção: Bill Condon. Com Jamie Foxx, Beyoncé Knowles, Eddie Murphy, Danny Glover, Jennifer Hudson, Anika Noni Rose.

Detroit, década de 60. Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx) é um vendedor de carros, que sonha em deixar seu nome marcado no mundo da música. Ele deseja abrir sua própria gravadora, mas ainda não tem o formato e o produto certo para vender ao público. Curtis encontra o que procura ao conhecer o grupo The Dreamettes, formado pelas cantoras Deena Jones (Beyoncé Knowles), Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) e Effie White (Jennifer Hudson). Elas se apresentam em um show de talentos local, usando perucas baratas e vestidos feitos em casa. Suas vidas mudam quando Curtis, já seu agente, consegue que elas façam o backup do show de James “Thunder” Early (Eddie Murphy), o pioneiro de um novo som em Detroit. Posteriormente o grupo alça vôo solo, mudando de nome para The Dreams. Porém Curtis sabe que para alcançar o sucesso o grupo precisará apostar na beleza provocante e tímida de Deena, mesmo que tenha que deixar de lado a voz potente de Effie.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3,5 estrelas

Dreamgirls é baseado em musical da Broadway que, por sua vez, inspirou-se na história real de Diana Ross e as Supremes. O grupo, inicialmente chamado “The Primettes”, era liderado por Florence Ballard, mas Diana Ross acabou tomando seu lugar graças ao corpo mais atraente, embora sua habilidade vocal fosse inferior.

O pano histórico é um dos elementos mais interessantes em Dreamgirls: nos Estados Unidos do fim dos anos 50, a discriminação racial estava no auge, os conflitos eram constantes e cada vez mais violentos. Tudo que vinha dos negros era recusado; as músicas, de excelente qualidade, eram ignoradas enquanto não aparecesse um branco para gravá-las e embolsar o dinheiro – Elvis Presley foi mestre nessa “arte”.

Ao longo do filme, pode-se notar a leve revisão de padrões acontecida na época, especialmente após o célebre discurso “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King. Paulatinamente, a influência negra na música passou a ser reconhecida, aceita e valorizada, o que se reflete no sucesso gradual das cantoras que forma as “Dreamgirls”. Verdade seja dita, porém, que foi necessário certo “branqueamento” para que as cantoras realmente chegassem ao estrelato.

A surpresa do filme é Eddie Murphy, que canta, dança e interpreta (só faltou apresentar programa infantil) muito bem, num papel dramático que lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar, como ator coadjuvante. Aliás, Dreamgirls concorreu a oito estatuetas, três delas por melhor canção original, e levou apenas duas: melhor som e melhor atriz coadjuvante, para Jennifer Hudson.

Jennifer, a propósito, é um show à parte. Rejeitada sem motivo convincente na terceira edição de American Idol, a cantora deu a volta por cima, mostrando toda a sua competência também como atriz dramática. Seu vozeirão é de fazer cair o queixo. Jennifer Hudson é motivo suficiente para assistir ao filme.

Dreamgirls é um bom filme e agradará aos fãs de musicais. Quem não gosta, no entanto, mantenha distância. As músicas são longas (belas, mas longas), há diálogos cantados passíveis de irritar os não-fãs do gênero e a história torna-se demasiadamente arrastada em alguns momentos. Chicago, do mesmo roteirista (Bill Condon, que também dirigiu Dreamgirls), é um filme muito mais envolvente.

A vida é cheia de som e fúria

“As pessoas mais afetivamente infelizes que eu conheço
são as que mais gostam de música pop.”
(Rob Fleming)

Tem gente que, aos domingos antes do almoço, zapeia pela televisão. Outras pessoas lêem o jornal. Eu, como não tenho tv a cabo e detesto jornal impresso (por razões pessoais e frescas), surfo pela internet por uma hora, mais ou menos, entre acordar (lá pelo meio-dia) e sair para o almoço. Às vezes leio blogs, às vezes fico à toa, às vezes procuro o que fazer à noite.

E, procurando o que fazer, descobri ontem uma peça fantástica, em cartaz no CCBB de Brasília. A vida é cheia de som e fúria é baseada no livro Alta Fidelidade, de Nick Hornby, um dos meus favoritos. O livro já rendeu até filme, mas a montagem teatral é anterior à cinematográfica e, em alguns aspectos, ainda melhor.

O filme, de 2000, conta com John Cusack no papel de Rob Gordon, um sujeito que acaba de ser chutado pela namorada e, como uma forma de aliviar sua dor, resolve fazer uma lista dos cinco maiores foras. Gordon tem 35 anos, é dono de uma loja de discos, tem amigos esquisitos, não sabe o que quer da vida e é fissurado em música pop. Tem mania de fazer listas no estilo “5 mais” (Top 5) sobre todo e qualquer assunto.

A versão do cinema consegue ser bem fiel ao livro que é, realmente, fantástico. Sem dúvida, o filme está no meu “Top 5” de filmes favoritos – e sim, eu também tenho a mania dos Top 5. Não é à toa que tenho uma categoria com esse nome aqui no blog que, aliás, chamava-se “Alta Fidelidade”. Como quase ninguém entendia a referência, mudei o nome da categoria.

John Cusack é fantástico e dá vida a Rob Gordon – que, no livro, tem o sobrenome Fleming – brilhantemente. O filme só peca em dois pontos: passa-se nos Estados Unidos – a história original situa-se em Londres – e, talvez justamente por isso, não é fiel às referências musicais presentes na história de Nick Hornby, quase todas inglesas. O diretor Stephen Frears preferiu desenvolver uma trilha sonora nova, ao invés de aproveitar a fantástica trilha sugerida pelo livro.

A peça corrige essas diferenças: Rob Fleming (o nome do protagonista é respeitado) é londrino e a trilha sonora é toda tirada do livro – e melhor que a do filme, na modesta opinião de quem conhece muito pouco de pop internacional. Comparações entre John Cusack e Guilherme Weber são inevitáveis, mas duram apenas os primeiros cinco minutos. Weber é excelente ator, com um carisma incrível e interpreta fantasticamente Fleming. O livro é em primeira pessoa e assim também é a peça. Weber passa quase três horas em cena, sem deixar cair o ritmo. O elenco todo, aliás, está impecável, em atuações ágeis e cheias de personalidade.

O título da peça é uma alusão (também presente no livro de Hornby) a Macbeth, de William Shakespeare:

A vida é só uma sombra; um mau ator
que grita e se debate pelo palco,
depois é esquecido; é uma história
que conta o idiota, toda som e fúria
sem querer dizer nada.

A cenografia é inovadora, fazendo uso de um telão à frente dos atores, em que são projetados trechos de clipes e de algumas letras mencionadas, além, é claro, das listas de Fleming. O cenário por trás dos personagens representa vários dos ambientes da história e a criatividade dos atores ilustra outras tantas situações.

A vida é cheia de som e fúria é uma adaptação fidelíssima do romance que retrata toda uma geração, perdida em meio da milhares de canções pop, sem saber a que veio, solitária em meio às multidões das metrópoles e sempre em busca de amores e amigos.

Uma montagem que está, definitivamente, entre as minhas cinco favoritas de todos os tempos.

A vida é cheia de som e fúria

  • CCBB Brasília
  • De 13 a 23 de outubro
  • De quarta-feira a domingo, às 20h
  • Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia)
  • SCES Trecho 2 Conjunto 22 – Brasília-DF
  • Informações: (61) 3310- 7087
  • Montagem da Sutil Companhia de Teatro.

Para mais informações sobre a peça e a relação dos diversos prêmios que recebeu, visite o link da Companhia.

O Fantasma da Ópera

Ficha técnica

The Phantom of the Opera. EUA, 2004. Musical. 143 min. Direção: Joel Schumacher. Com Gerard Butler, Emmy Rossum, Minnie Driver e Patrick Wilson.

Homem assombra uma companhia de ópera francesa e leva a soprano à loucura. Uma história de amor começa quando uma jovem assume seu posto.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

5 estrelas

Sou suspeita, suspeitíssima para comentar O Fantasma da Ópera. Adoro musicais em geral, isso não é novidade. E sou completamente apaixonada pelo musical de Andrew Lloyd Webber. O livro de Gaston Leroux que serve de base à peça não tem tanta força. Pertence ao Romantismo, torna-se por vezes arrastado e apresenta um Fantasma mais cruel do que o imaginário coletivo acostumou-se a idealizar. É de Webber o mérito de ter tornado a história popular, com um vilão tão carismático que é quase impossível não torcer por ele, ao menos por alguns instantes.

As canções da peça estão todas lá. Os atores estão excelentes, transmitindo as características marcantes de cada personagem: a ingenuidade de Christine, a bobice de Raoul (é um personagem que nasceu para ser fraco) e o carisma do Fantasma. Tá, é inevitável comparar e constatar que a Sarah Brightman canta e interpreta melhor que a Emmy Rossum, mas o desempenho dela está longe de ser ruim.

A execução da trilha sonora é magistral. Os primeiros acordes da música-tema provocam arrepios. A interpretação de Music of the Night é profundamente sensual, envolvente até o último fio de cabelo.

Algumas tomadas lembram Moulin Rouge, outro filme que adoro.

Agora, estejam avisados, o filme é praticamente todo cantado. A versão levada às telas é praticamente a transcrição do musical – quem não gosta do gênero, não se arrisque a assistir a mais de duas horas cantadas.