Livro: O Chamado da Floresta

Livro da vez: O Chamado da Floresta, de Jack London.

Uma das melhores coisas dos grupos de leitura coletiva é que eles me tiram da zona de conforto, apresentando-me novos autores e me estimulando a ler obras que de outro modo eu não leria.

Dos grupos de que já participei, o #exploradores leva nota 10 nesse ponto: durante um ano, @soterradaporlivros, @tinyowl.reads, @chimarraoelivros e @fronteirasliterarias me levaram ao fundo do mar, a mundos perdidos, a tesouros e aventuras. Seis dos autores eram absolutamente novos para mim e um deles me fisgou: Jack London, com suas histórias verossímeis e seus personagens intensos. Vai daí que outro dia vi um livro dele no kindle unlimited, não resisti e entrou pra lista dos favoritos do ano.

O Chamado da Floresta lembra Caninos Brancos, do mesmo autor, por ser contado do ponto de vista de um cão. Buck levava uma vida confortável na Califórnia até ser roubado e levado para o Alasca, que vivia o frenesi da corrida do ouro. Nessa nova vida, tem de sobreviver a maus tratos, animais agressivos e trabalhos intensos e, ao longo da jornada, torna-se outro cachorro. O leitor acompanha essa transformação vibrando por Buck e, inevitavelmente, desprezando vários dos humanos que cruzam seu caminho.

London gosta de situar suas histórias em cenários selvagens nos quais ele próprio esteve, cheios de perigos e desafios que levam homens e animais a extremos na luta pela sobrevivência. O que aflora dessa luta são os instintos, ou a verdadeira natureza de cada um desses personagens. No caso dos humanos, não raras vezes essa natureza interior é cruel e maligna, mas os animais de London também são capazes de maldade gratuita. O autor não romantiza a vida selvagem, mas a utiliza para traçar paralelos e metáforas, disfarçando, em suas narrativas de aventuras, duras críticas aos seres humanos.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

Livro: A Arte da Divagação

Livro da vez: A Arte da Divagação, de Moshe Bar.

“Com base na psicologia, neurociência, psiquiatria e filosofia, o renomado neurocientista cognitivo Moshe Bar explora os benefícios comprovados da divagação da mente e seu impacto positivo no humor e na criatividade”: essa é a sinopse do livro, mas eu não sabia direito o que esperar quando comecei a leitura. Seria um manual de autoajuda? Ou um livro profundamente técnico e quase incompreensível?

Nem uma coisa, nem outra. Moshe Bar faz um ótimo trabalho explicando pesquisas que, por sua vez, tentam explicar o funcionamento do cérebro e a importância de ter consciência dos próprios pensamentos, chave importante par o controle do humor e a melhoria da saúde mental.

Bar ensina que pensamentos são associativos, é difícil freá-los e daí nascem as divagações, que podem ser amplas, conduzindo à criatividade e melhorando o humor, ou ruminativas, vinculadas à depressão e à ansiedade. Essas duas condições levam, necessariamente, a pensamentos ruminativos, e o autor propõe que quebrar essa cadeia ajuda no tratamento de um modo que remédios nem sempre conseguem.

Mas como controlar os pensamentos? Eis o ponto: a ideia não é controlá-los, mas reconhecê-los, rotulá-los e seguir adiante, e Moshe Bar defende a meditação como instrumento para isso. Mas não é uma defesa cega: o autor diz que, para ele (e para muitas outras pessoas), a meditação ajuda a esvaziar a mente e dar a devida atenção ao presente; para outras pessoas, a corrida ou atividades imersivas podem ser mais úteis.

Confesso que, ironicamente, peguei-me divagando durante a leitura, porque embora a linguagem seja fácil, alguns conceitos são abstratos e eu me perdia em um fluxo de pensamentos e tinha que voltar alguns parágrafos na leitura. Será que está na hora de, novamente, experimentar a meditação? Acho que vou tentar.

Recomendo “A arte da divagação” para quem tem curiosidade sobre o funcionamento do cérebro e quer incrementar a própria caixa de ferramentas na busca de uma vida mais satisfatória.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Livros de Terror – Halloween 2022

Boo!

Morro de medo de histórias de terror, mas a @soterradaporlivros me convenceu a ler Hellraiser em outubro. Uma coisa levou a outra e acabei com uma listinha de livros em celebração ao halloween, que seria meu feriado preferido se eu morasse na metade de cima do mundo.

Hellraiser, de Clive Barker: terrorzão com um pé no gore e outro no sadomasoquismo. Frank é um vilão doentio, horrendo, mas os vilões de verdade são os cenobitas, que mal aparecem (não estou reclamando). Fiquei surpresa com a forte presença feminina. Felizmente é curto, eu não aguentaria ler um calhamaço dessa história. Quem curte o gênero provavelmente fica com gosto de quero-mais. 4 estrelas

Invasores de Corpos, de Jack Finney: vi o filme de 1956 (excelente) e o de 1978 (tão bizarro que é ótimo), então estava mais que na hora de ler a história original. Em uma cidadezinha dos EUA, algumas pessoas não são mais elas mesmas, segundo os parentes. O que parecia histeria coletiva acaba se revelando uma invasão alienígena. O livro é de 1955 e tem uns trechos bem machistas, mas é uma ótima ficção científica e tem um desfecho muito mais satisfatório que os filmes. 4 estrelas

O Vampiro, de John William Polidori: um jovem ingênuo conhece Lord Ruthven, um aristocrata misterioso, sedutor e estranhamente envolvido em mortes violentas… Esse conto merece ser lido por duas razões: primeiro, porque nasceu junto com Frankenstein, de Mary Shelley, naquele conhecido episódio de tédio durante chuvas torrenciais que levou a uma brincadeira entre amigos escritores; segundo, porque foi uma das inspirações de Bram Stoker para compor Drácula que, por sua vez, inspirou as histórias contemporâneas de vampiros. 3 estrelas

Carmilla: A Vampira de Karnstein, de Joseph Thomas Sheridan Le Fanu: li Carmilla em maio, mas merece ser citado aqui porque foi também foi uma das inspirações para o Drácula de Stoker. Carmilla é uma vampira sensual, provocativa, sedutora. O autor é quase explícito e creio que só se conteve por causa da época em que escreveu (e porque, se desse vazão às fantasias, seria pornô e não terror). Para mim, é uma história infinitamente melhor que Drácula. 5 estrelas

Livro: Eu Sou A Lenda

Livro da vez: Eu sou a lenda, de Richard Matheson, leitura de setembro do #lendoscifi. O grupo já está no quarto ano e você pode saber mais com a @soterradaporlivros. Pra mim, foi releitura, e não sei não se não foi treleitura.

Conheci primeiro a adaptação do Will Smith e adorei (mas os sustos que tomei, pelamor, e tomei os mesmos sustos revendo esta semana). Aí, fui ler o livro e fiquei “ué?”. A história original é bem diferente da versão de Hollywood (existem dois outros filmes, que aparentemente também não são muito fiéis).

No livro, Neville é um trabalhador de classe média suburbano que de repente se vê o último sobrevivente da rua, da cidade, talvez do país e do mundo. Uma doença misteriosa transformou a humanidade em vampiros. Depois de ver a esposa e a filha morrerem, Neville alterna entre beber até cair e transformar a casa em uma fortaleza. Nas horas vagas, meio por tédio, meio por obsessão, estuda e experimenta hipóteses com os vampiros de que consegue se aproximar.

Essa parte científica é minha favorita. Tenho a impressão de que há uns erros na ciência do Matheson, mas ainda assim me fascina a busca por reduzir todos os mitos relacionados aos vampiros a explicações perfeitamente razoáveis e científicas. Por outro lado, o Neville do livro não tinha nenhuma formação em ciência, e nem tinha tanto tempo livre para estudar, o que torna essa parte pouco verossímil. O filme do Smith é bem melhor nesse ponto, ao dar um background científico para o protagonista.

A minha grande crítica à história é: qual a motivação do Neville para continuar vivo? Ok, se ele não fosse tão insistente em sobreviver, não haveria história. Mas acho que falta uma motivação interna, uma razão para continuar vivo. O filme é um pouco melhor nesse ponto.

A justificativa para o título está no final, que é bem diferente no entre o filme e o livro.

O filme sucumbe a clichês hollywoodianos. O livro, por outro lado, tem cacoetes machistas (justificáveis para um texto escrito nos anos 50).

Indico para quem curte histórias de vampiros e quer ler uma versão contemporânea longe da pegada Crepúsculo.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

PS.: antes de postar, descobri que já fiz uma resenha sobre o filme (em 2008) e uma sobre o livro (em 2011). Direto do túnel do tempo…