Livro: É assim que se perda a guerra do tempo

Livro da vez: É assim que se perda a guerra do tempo, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone.

Red e Blue são duas combatentes em lados opostos de uma eterna guerra temporal que pode mudar os destinos do mundo a qualquer segundo. Entre campos de batalha, começam a se corresponder e percebem que têm muito a aprender uma com a outra e mantêm uma troca de cartas secreta – e perigosa – ao longo dos séculos.

Não gosto muito de livros narrados no tempo presente, nem sou fã de livros epistolares. Além disso, esperava mais ficção científica e menos romance. Por tudo isso a história acabou não me fisgando.

Por outro lado, é bem escrita e tem umas sacadas muito interessantes, especialmente quanto a paradoxos temporais. Há pistas para os leitores quebrarem a chave da história, o que considero um bônus. O desfecho é bem bacana e justificou a leitura para mim.

Indico para quem curte histórias de amor e gostaria de ingressar suavemente no fascinante mundo da ficção científica.

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas

Livro: Nascido do Crime

Livro da vez: “Nascido do Crime”, de Trevor Noah. Livro da Tag Inéditos de janeiro de 2020, que li em março de 2021… pois é, estou atrasada na publicação, mas escrevi a resenha assim que acabei de ler.

É bem comum que eu comece a ler um livro (ou ver um filme) sem ler a sinopse. Com “Nascido do Crime”, foi o que aconteceu, e demorei umas 8 ou 10 páginas para perceber que eu não estava lendo um romance, mas as memórias de Trevor Noah, apresentador e comediante sul-africano com uma proeminente carreira nos EUA.

Trevor nasceu em Joanesburgo nos últimos anos do apartheid, filho de uma sul-africana com um suíço. Sua própria existência era um crime, já que o regime proibia relacionamentos entre brancos e negros, daí o nome do livro. Com um humor afiado, ele narra episódios da infância e adolescência, mostrando como lidou com a fome e a pobreza e dando um panorama sobre a segregação no país, que persistiu mesmo após o fim oficial do apartheid. Algumas passagens provocaram risos, outras me deixaram à beira das lágrimas. Impossível não ver semelhanças com o Brasil.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

Algumas releituras de 2021

Até 2019, raramente relia algum livro, mas aos grupos de leituras coletivas têm me feito revisitar obras e, em geral, a experiência é ótima. Sempre há coisas novas a descobrir e, dependendo do humor e do momento na vida, a relação com a história pode até mudar totalmente.

Eis algumas das releituras de 2021.

“Saco de Ossos”, Stephen King: o livro começa muito bem, o protagonista (um escritor, que surpresa) é carismático, uma das personagens é uma criança fofa e a história é de assombração e tem ótimo desenvolvimento… até a parte final. Da primeira vez, honestamente, detestei o fim; dessa vez, continuo achando anticlimático, mas o livro é tão interessante que ainda assim vale a pena. 4 estrelas

“Os elefantes não esquecem”, Agatha Christie: provavelmente o primeiro livro adulto que li, lá pelos oito anos de idade. Não lembrava de nada, obviamente. Poirot é convocado pela amiga escritora Ariadne (que aprendi a amar muito recentemente, lendo os livros em ordem cronológica) para resolver um mistério ocorrido doze anos antes. Um dos meus favoritos da autora. 4 estrelas

“Não me abandone jamais”, Kazuo Ishiguro: esse é um dos meus favoritos da vida. Kathy está prestes a encerrar sua carreira como cuidadora e aproveita para rememorar sua vida, desde a infância no internato Hailsham. Ishiguro tem uma escrita que envolve lentamente, aprofunda mistérios e, ao mesmo tempo, dá pistas ao leitor atento. Recomendo ler sem saber nada da história, sem sequer ler a sinopse. 5 estrelas

“Contato”, Carl Sagan: Ellie faz parte de um projeto que investiga o espaço profundo em busca de sinais de vida inteligente extraterrestre. Uma mensagem subitamente é recebida, mais complexa do que se imaginaria. Os extraterrestres querem contato, mas o preço pode ser alto. As melhores partes do livro são as discussões envolvendo ciência e religião. Nessa releitura, percebi o tema do feminismo, que me passou batido nas anteriores. Fascinante. 5 estrelas

Livro: O Fim da Infância

Livro da vez: “O fim da infância”, de Arthur C. Clarke.

Em um lance digno de filme (usado, na verdade, em “Independence Day”), os aliens invadem a Terra – só que não vêm para destruir ou conquistar, mas para civilizar e estimular o progresso da humanidade. Karellen é o porta-voz dos ditos Senhores Supremos e fala por meio do Secretário-Geral da ONU.

A humanidade aceita a intervenção, mas um tanto desconfiada, especialmente porque os aliens nunca aparecem. Além disso, fica a dúvida: o que eles desejam de verdade? Por que tanto interesse na humanidade e no progresso da nossa civilização? O que está por trás disso? Seriam os deuses astronautas?

As respostas são surpreendentes. O desfecho é prenunciado, mas mesmo assim é impactante.

Clarke indica otimismo (até exagerado) pela evolução humana, mas também questiona: quando tudo está bem, o que acontece com o espírito de aventura? O ser humano precisa de conflito para criar?

E o maior questionamento permanece: qual o nosso lugar no universo?

Leitura de outubro do #lendoscifi, projeto maravilindo da @soterradaporlivros.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas