Livro: Dolores Claiborne

Livro da vez: Dolores Claiborne, de Stephen King. Lançado no Brasil nos anos 90 com o título de Eclipse Total.

Dolores Claiborne trabalha há anos para a ricaça e chatíssima Vera Donovan. Quando a velha morre, Dolores se torna a principal suspeita. Na delegacia, começa a contar sua história, marcada por um casamento infeliz.

A história é narrada de um só fôlego, sem capítulos e sem dar muitas chances para o leitor pausar. Por isso, e porque o livro é mesmo excelente, é difícil largá-lo. Há uma surpresa ou outra ao longo das páginas, mas isso não é o fundamental – o elemento humano é que é, como nos melhores livros do King.

No começo, Dolores me lembrou demais a protagonista de Misery e não me surpreendi ao descobrir que na versão para o cinema Dolores foi interpretada por Kathy Bates. Com o virar das páginas, Dolores ganha mais nuances. King tem um talento enorme para escrever personagens femininas verossímeis e Dolores se tornou uma das minhas favoritas.

Recomendo para quem gosta de suspense. 5 estrelas

Filmes favoritos em junho de 2024

Recentes

Blue Jean (2022): uma professora corre o risco de ser demitida se alguém descobrir que ela é lésbica. A história se passa na Inglaterra em 1988, durante a vigência da Section 28, uma lei que punia a “promoção” da homossexualidade – era proibido, por exemplo, ensinar nas escolas que relações homoafetivas são normais.

Dois Minutos Além do Infinito (2020): um filme ligeiro para contar as desventuras causadas por uma dobra temporal mais ligeira ainda, de apenas dois minutos. Há inconsistências, a história é delirante, mas muito divertida.

Mulheres do Século XX (2016): uma mãe pede ajuda a duas moças para se aproximar do filho de 15 anos e orientá-lo na entrada no mundo adulto. Elas fazem o trabalho muito bem.

Não Olhe Para Trás (2015): Al Pacino interpreta um cantor de sucesso que guarda uma série de arrependimentos e tenta corrigir antigos erros. Não canta nada, mas é o Al Pacino, e o filme tem uns lances emocionantes.

Direto do Túnel do Tempo

Buffalo ’66 (1998): um sujeito que acaba de sai da prisão vai visitar a família e, no caminho, sequestra uma garota para fingir que ela é sua esposa. Dramédia insólita com cenografia interessante e um desfecho improvável.

O Serviço de Entregas da Kiki (1989): cumprindo o rito de passagem das bruxas, uma menina de 13 anos deixa a família e os amigos e vai passar um ano em uma grande cidade. Lá, terá que trabalhar e desenvolver seus dons. Animação fofa do Studio Ghibli.

Terra em Transe (1967): Glauber Rocha retrata com precisão a política e a politicagem brasileiras, o sequestro da política pelo capital e a manipulação do povo. A sensação é de que nada mudou.

Os Homens Preferem as Loiras (1953): Lorelei Lee é uma dançarina e está noiva de um sujeito muito rico, para desgosto do pai dele, que tenta evitar o casamento. É desse filme o clássico número Diamonds Are a Girl’s Best Friend. Marylin Monroe tem os olhos mais expressivos do cinema e nem por um minuto acredito que era burra.

Onde assistir: https://www.justwatch.com

Livro: O Olho Mais Azul

Livro da vez: O Olho Mais Azul, de Toni Morrison.

Claudia é uma adolescente negra que tenta dar sentido às suas memórias de infância. Nesse processo, recorda sua amizade com Pecola, mais pobre, mais preta, mais feia e mais sofrida que a própria Cláudia. O sonho de Pecola é ter olhos azuis; no seu imaginário infantil, olhos azuis lhe trariam a felicidade e a tranquilidade que ela vê nas famílias brancas.

O Olho Mais Azul é uma história angustiante sobre como o racismo destrói pessoas geração após geração, marginalizando, empobrecendo, sufocando sonhos e oprimindo até mesmo crianças pelas mãos de outras crianças. A narrativa é quase poética e profundamente melancólica. Entre idas e vindas e com mudanças de narrador, a autora dá contexto ao sofrimento de tantos, que em Pecola atinge seu ponto máximo.

Recomendo para quem quer entender o que é o racismo estrutural por meio de um excelente livro de ficção. 5 estrelas

Livro: Oliver Twist

Livro da vez: Oliver Twist, de Charles Dickens.

Oliver Twist é um órfão que passa inúmeras privações e violências nas mãos de representantes do Estado e de pessoas inescrupulosas na Londres pobre, suja e violenta do séc. XIX.

O livro destoa de Um Conto de Duas Cidades. Enquanto Um Conto… é objetivo e direto, Oliver Twist é cheio de desvios , longas descrições que lembram o romantismo representado no Brasil por José de Alencar e muito melodrama. O excesso de coincidências torna a história inverossímil. Ainda assim, Dickens compõe personagens fortes e fiquei bastante interessada pelos destinos deles, torcendo pelo sucesso de uns e pelo sofrimento de outros.

A edição da Companhia das Letras traz um texto interessante em que George Orwell estuda a obra de Dickens. Lá, descobri que Um conto de Duas Cidades não é o livro-padrão do autor, mas Oliver Twist sim. Ou seja, o melodrama faz mesmo parte da obra de Charles Dickens.

Indico para quem tem curiosidade pela obra de Dickens e pela Londres vitoriana, mas Um Conto de Natal e Um Conto de Duas Cidades me agradaram mais. 4 estrelas