Ficha Técnica
- Título original: Love in the Time of Cholera
- País de origem: EUA
- Ano: 2007
- Gênero: Drama
- Duração: 141 minutos
- Direção: Mike Newell
- Roteiro: Ronald Harwood, baseado no livro homônimo de Gabriel García Márquez
- Elenco: Javier Bardem, Giovanna Mezzogiorno, Benjamin Bratt, Fernanda Montenegro, Catalina Sandino Moreno.
- Sinopse: um homem se apaixona perdidamente por uma mulher, que também o quer. Ela é afastada pelo pai e, quando retorna, não quer mais nada com ele, que passa a acompanhar sua vida, sonhando com o momento em que ficarão juntos.
Comentários
Quem leu o Amor nos Tempos do Cólera (está na minha lista para 2008) diz que o filme fica muito a dever ao livro. Conhecendo a literatura de Gabriel García Márquez, não poderia ser diferente. Sua prosa é riquíssima, detalhista, poética. Amor nos Tempos do Cólera, com suas 400 páginas, dificilmente seria transposto em toda a sua plenitude.
Essa provável infidelidade do filme ao original não me incomoda. Cinema e literatura são duas linguagens muito diferentes; quando vejo uma adaptação de um livro, importa-me mais o bom desempenho do filme, analisado em si mesmo, que compará-lo ao livro para checar sua correção.
Isto posto, cabe dizer que o filme O Amor nos Tempos do Cólera é uma boa história, com poesia da primeira à última linha de roteiro. Poderia, no entanto, ser muito melhor, se não fossem alguns sérios deslizes da produção.
Duas coisas se destacam positivamente: a bela fotografia (do brasileiro Affonso Beato, de Orfeu, Tudo sobre minha mãe, A Rainha e outros) e a caracterização do protagonista Javier Bardem (Florentino Ariza), rejuvenescido e envelhecido por um trabalho cuidadoso de maquiagem . O mesmo cuidado não foi dedicado a sua parceira de tela Giovanna Mezzogiorno, que interpreta Fermina Daza.
A sinergia entre os protagonistas contribui para o andamento da história. O elenco é bom. Fernanda Montenegro também faz boa figura como mãe de Ariza. Não tem jeito, no entanto: todos os atores parecem perdidos num inglês forçado. A interpretação de Fernanda Montenegro, por exemplo, carece de força e só posso atribuir isso ao idioma.
O pior erro do diretor foi, sem dúvida, usar o inglês como idioma do filme. A língua ficou deslocada de todos os outros elementos: do cenário, da música, dos atores. Destoa, incomoda e empobrece a narrativa. Retira-lhe a musicalidade, além de esvaziar-lhe o realismo, mormente porque o elenco é composto por latinos e o inglês sai carregado de sotaque. Se o problema era a conhecida resistência norte-americana a filmes legendados, que se filmasse em espanhol e fizesse uma dublagem posterior – o resultado seria muito mais agradável para todos.
Outro aspecto do filme que me incomodou foram as canções da colombiana Shakira. Praticamente toda a trilha sonora foi construída em cima de suas composições, tornando-se monótona e, em alguns momentos, inoportuna. Nada contra a cantora; só acredito que a trilha poderia ser mais rica, mais diversificada, menos pop.
Apesar das falhas, a história de amor que atravessa mais de meio século, respaldada pelos belos cenários do século XIX, é comovente o suficiente para valer o ingresso.
Cotação:
Além da Tela
Gabriel García Márquez relutou por 20 anos em ceder os direitos de filmagem de seu livro, certo de que um filme jamais conseguiria captar a essência da obra. O escritor é famoso por recusar a maior parte dos pedidos de filmagem de seus livros.
As locações foram feitas em Cartagena de las Indias, na Colômbia.
O tempo da história é o século XIX, marcado por epidemias de cólera na Ásia, África e América do Sul, registrando-se casos também na Europa. No Brasil, o cólera foi considerado erradicado no fim do século XIX, reaparecendo nos anos 1990. Em alguns estados do Nordeste, ontinua sendo uma ameaça, dadas as precárias condições sanitárias da região.
O Cólera
O cólera é causado pela bactéria Vibrio cholerae, presente na água e em alimentos crus contaminados pelos dejetos dos doentes. Causa forte diarréia, levando a um quadro grave de desidratação. Se não for diagnosticada e tratada a tempo, a doença mata em poucas horas.
A prevenção dá-se pelo cozimento dos alimentos e pela fervura da água, visto que o vibrião não suporta temperaturas superiores a 80ºC. A desinfecção de verduras e da água por meio de uma solução diluída de hipoclorito de sódio ou água sanitária também é eficaz.
O ideal, claro, para a prevenção da doença, é o investimento governamental em redes sanitárias adequadas e disponíveis a todos. Em países desenvolvidos, em que toda a população tem acesso a um sistema decente de água e esgotos, a contaminação é rara.