Livro: Por Lugares Devastados

Livro da vez: Por Lugares Devastados, de John Boyne.

O que aconteceu com a família alemã que vivia ao lado do campo de concentração em O menino do pijama listrado? Boyne responde a pergunta nesse livro, narrado por Gretel, filha daquele importante oficial nazista, que tinha apenas 12 anos na época dos acontecimentos narrados no primeiro livro.

Gretel narra a própria história e os capítulos se alternam entre flashbacks e o tempo presente. No presente, ela tem 91 anos e leva uma vida confortável em Londres, mas a chegada de novos vizinhos e seu próprio filho ameaçam perturbar seu sossego. No passado, é uma adolescente tentando sobreviver após a derrota da Alemanha, fugindo dos fantasmas.

Gretel se torna uma mulher sempre na defensiva, o que se reflete na história: o drama permeia todo o livro e há uma ou duas cenas realmente fortes, mas a narrativa é quase fria, reflexo da blindagem que a protagonista impôs às próprias emoções e lembranças. Por baixo dessa frieza há um turbilhão de dores e culpa que não passam despercebidos ao leitos.

O livro provoca reflexões sobre os horrores do nazismo, a cegueira deliberada, a culpa dos filhos pelos erros dos pais, o direito de seguir em frente e as relações familiares. Apesar do tema sombrio, a leitura é fluida e Gretel é uma boa companhia.

Nota: 5 estrelas

Filmes favoritos em maio de 2023

Recentes

The Quiet Girl (2022): uma menina negligenciada pela família passa o verão com parentes distantes e desabrocha. Atuações excelentes. 4 estrelas

Triângulo da Tristeza (2022): filme absurdo com discussões de gênero irônicas, críticas ao capitalismo e escatologia. Achei o roteiro bem original, embora resenhas na internet discordem. Tem a vibe de White Lotus, que estreou em 2021, mas acho bem improvável que tenha servido de inspiração, dado o tempo de produção de um longa. 4 estrelas

Happiest Season (2020): um casal de namoradas vai passar o natal com a família de uma delas, hiperfocada em aparências e reputação. Quase não chega a ser comédia romântica, achei a situação toda bem dramática. 4 estrelas

Retrato de uma Jovem em Chamas (2019): uma jovem pintora é contratada para retratar outra jovem prestes a se casar contra a vontade. Filme sensível, bela fotografia. 4 estrelas

Tudo É Cópia (2015): documentário sobre Nora Ephron, de quem sou fã. 5 estrelas

Oblivion (2013): os dois últimos habitantes da Terra vivem em órbita, o mundo foi devastado por uma guerra interplanetária e eles devem partir logo para uma nova colônia, mas é claro que as coisas não correm como planejado. Ótimo roteiro. 4 estrelas

Antes de Partir (2007): Um filme que tem Jack Nicholson e Morgan Freeman só pode ser bom. Os dois são pacientes terminais que resolvem aproveitar os últimos meses de vida para realizar sonhos. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

Ran (1985): meu primeiro Kurosawa. Um velho rei resolve repartir seus domínios entre os três filhos e as coisas não correm muito bem. Atuações e visual teatrais, inspirado em “Rei Lear”, interessantíssimo. 4 estrelas

Eles Não Usam Black Tie (1981): a vida dura e dramática da classe operária – o salário que não dá, as moradias precárias, o medo do futuro, a violência das instituições e das ruas. Saber que houve poucas mudanças nos últimos quarenta anos torna o filme um tanto deprimente. 5 estrelas

Bye Bye Brazil (1980): um road movie pelo sertão do Brasil, do Nordeste a Altamira. Pobreza, falta de Estado, destruição da Amazônia, exploração dos indígenas, prostituição como forma de sobrevivência – tudo isso entremeado com humor negro. O filme termina com uma nota de esperança. 4 estrelas

A Sede do Mal (1958): ótimo suspense noir de Orson Welles. “O que importa o que dizemos sobre as pessoas?”, boa frase para termos em mente em tempos de redes sociais. 4 estrelas

Para pesquisar onde assistir: https://www.justwatch.com/

Filmes favoritos em março e abril de 2023

Juntando dois meses, porque durante a viagem à Oceania não fiz a listinha de março.

Recentes

Mrs. Harris Goes to Paris (2022): uma mulher generosa e trabalhadora tem a chance de realizar sonhos e encontrar um novo amor. Atuações sensíveis e lindos figurinos Dior. 4 estrelas

Tár (2022): uma maestrina excepcional fez inimigos pelo caminho e está prestes a ver sua vida ruir. A atuação da Cate Blanchett é tão mesmerizante que me esqueci de prestar atenção à história nos primeiros 20 minutos do filme. 4 estrelas

A House Made of Splinters (2022): o documentário acompanha um curto período nas vidas de crianças ucranianas acolhidas em um abrigo temporário. De partir o coração. 4 estrelas

Ticket to Paradise (2022): Julia Roberts e George Clooney estão excelentes, química de sobra. Fazia tempo que Hollywood não fazia uma comédia romântica tão boa. 5 estrelas

Close (2022): dois meninos são melhores amigos, até serem apontados como namorados. Filme tristíssimo, com atuações pungentes, fotografia e roteiro perfeitos. 5 estrelas

The Broken Circle Breakdown (2012): outro drama para gastar a caixa de lenços (pode culpar a @soterradaporlivros por esse e pelo anterior). Um casal muito louco sossega após o casamento, só para sofrer terrivelmente depois de um tempo. 4 estrelas

Como Nossos Pais (2017): com direção da Laís Bodanzky e ótimas atuações, o filme discute o papel da mulher, o casamento, os relacionamentos amorosos e entre pais e filhos. 4 estrelas

Some Voices (2000): Daniel Craig antes da fama faz um esquizofrênico que quase enlouquece o irmão e se envolve com uma mulher que não tem o melhor gosto do mundo para homens. Apesar de provocar uma risada ou outra, a história é dramática (pelo menos não é de fazer chorar). 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

O Segredo do Abismo (1989): os efeitos visuais envelheceram mal, uma mistura de atari com néon anos 80, mas a história vale a pena e os personagens são ótimos. 4 estrelas

Laços de Ternura (1983): um filme que tem Jack Nicholson tem que ser divertido, certo? Errado. Esse aqui é um dramalhão sem fim, quase desidratei de tanto chorar. 4 estrelas

Charade (1963): mistério, suspense, romance, comédia, diálogos divertidos e várias reviravoltas. Podia ser do Hitchcock, como disse a @soterradaporlivros, mas é muito mais divertido. 5 estrelas

Para consultar onde assistir aos filmes: https://www.justwatch.com

Filmes favoritos em fevereiro de 2023

Como estou tentando ver os candidatos ao Oscar antes da cerimônia, não vi filmes antigos este mês.

Nada de novo no front (2022): jovens inicialmente animados para participarem da Primeira Guerra Mundial descobrem que a realidade é muito mais dura que seus sonhos. Bem mais cru e violento que o filme de 1930. Cenografia e efeitos excelentes. 4 estrelas

Império da Luz: (2022) o cinema é o pano de fundo dessa história que lida com racismo, sexismo e saúde mental. Olivia Colman em uma atuação menos contida que o usual, mas brilhante. 4 estrelas

Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft (2022): uma inusitada história de amor contada por meio de imagens impressionantes de erupções vulcânicas. Chama a atenção a luta dos cientistas para alertar as autoridades a implementarem medidas de redução de danos – soa familiar? 4 estrelas

Navalny (2022): a história real da perseguição a um político adversário de Putin. Se fosse ficção, pareceria mentira. São loucos, esses russos. 5 estrelas

The Fabelmans (2022): Sam Fabelman descobre cedo o seu amor pelo cinema e passa a entender seu mundo por meio das lentes de câmeras. Nada supera uma história bem contada, e Spielberg é um mestre nisso, sem depender de efeitos visuais ou se apoiar em franquias/sequências para atrair público. Já quero a série. 5 estrelas

O Método de Stutz (2022): o psiquiatra Phil Stutz apresenta as ferramentas que usa em terapia para dar aos seus pacientes a possibilidade de mudar a própria vida. A história pessoal de Phil permeia todo o filme e emociona. Não concorre ao Oscar, mas deveria. 5 estrelas

O Último Vermeer (2019): único “antigo” do mês. Um artista frustrado é suspeito de colaboracionismo com os nazistas e sua vida corre risco. Ótimas atuações, boas doses de história da guerra e de história da arte. 4 estrelas