Filmes favoritos em agosto de 2023

Recentes

O Céu de Suely (2006): uma garota sai de Iguatu, no interior do Ceará para viver em São Paulo, mas acaba tendo de voltar, com um filho e sem perspectivas. Ela tenta reconstruir sua vida, mas já não cabe mais em Iguatu. Filme melancólico, com atuações excelentes, especialmente da protagonista. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

As Patricinhas de Beverly Hills (1995): Cher é uma adolescente rica e fútil, mas muito bem intencionada, que tenta ajudar como pode as pessoas ao seu redor e nem sempre é bem-sucedida. Leve e engraçado. 4 estrelas

Memórias de Ontem (1991): uma mulher relembra sua infância e os desejos que tinha quando era criança, e se divide entre seguir a vida que se espera dela ou mudar de rumo. Studio Ghibli. 4 estrelas

Os Sapatinhos Vermelhos (1948): uma talentosa bailarina é obrigada a escolher entre carreira ou amor. As atuações são impressionantes e a história também, para a época. O desfecho é marcante. 4 estrelas

Os 39 Degraus (1935): um sujeito comum conhece uma espiã e acaba se envolvendo em uma trama internacional envolvendo segredos de Estado. Surpreendentemente divertido, considerando-se que é do Hitchcock. 4 estrelas

M, O Vampiro de Dusseldorf (1931): no original é só M, não tem nada a ver com vampiros. Thriller que gira em torno de um assassino de crianças que despista a polícia e acaba perseguido por uma guilda de bandidos. Primeiro filme falado do Fritz Lang. 5 estrelas

Onde assistir: https://www.justwatch.com/

Livro: “Os Pilares da Terra”

A sabedoria não surge imediatamente quando alguém assume um cargo monástico – disparou Remigius.
– De fato, não – retrucou o irmão Paulo, devagar. Olhou diretamente para Remigius antes de completar: – Às vezes ela nunca surge.

Incrível, pensou Philip, como um caso claro de injustiça podia parecer equilibrado quando apresentado na corte.

Livro da vez: Os Pilares da Terra, de Ken Follett.

A @soterradaporlivros me deu o empurrão que faltava para finalmente ler esse calhamaço.

A história começa em 1135*, quando Tom Builder, um construtor talentoso que sonha em levantar uma catedral, perde o emprego e precisa sair da sua vila com mulher e filhos em busca da sobrevivência. Follett a acompanhar a história dessa família em meio a intrigas clericais, nobres mesquinhos, batalhas, violência e morte, mas também há espaço para a amizade, a compaixão e, claro, o amor.

A prosa é simples, o que torna a leitura rápida apesar das mais de mil páginas. O que torna o livro interessante são os personagens, seu amadurecimento, desventuras e lutas. Alguns são multifacetados e, claro, esses são os mais cativantes. Outros são verdadeiros vilões, quase caricatos, e desde as primeiras páginas torci por um final bem trágico e doloroso para alguns eles.

O livro termina em 1174, mas Follett escreveu outros dois romances no mesmo cenário, com diferença de séculos entre eles (e um prequel também), então é bem provável que eu revisite a Inglaterra medieval nos próximos anos.

Recomendo para quem curte ambientação medieval, mas já aviso que não é um livro de fantasia.  4 estrelas

*Na verdade, o prólogo narra um enforcamento em 1123.

 

Filmes favoritos em julho de 2023

Recentes

De Tirar o Fôlego (2023): documentário sobre free diving (mergulho em apneia). Achei que veria um filme com imagens lindas de mergulho, vi um filme com gente morta, quase morta ou morrendo. Excelente, mas devastador. 5 estrelas

O Homem Ideal (2021): uma mulher deve testar um robô humanoide programado para fazê-la feliz, e resiste à ideia. Eu queria um robô desses? Queria. Melhor que muito ser humano. 4 estrelas

Belas Promessas (2021): uma prefeita tenta melhorar as condições de vida de um conjunto habitacional em um subúrbio de Paris. Só mesmo na ficção os políticos defendem as causas que valem a pena ser defendidas. 4 estrelas

Fake Art: uma história real (2020): o documentário mostra como uma negociadora de arte ganhou milhões vendendo quadros supostamente pintados por artistas da escola contemporânea abstrata norte-americana. Muito satisfatório ver gente rica sendo enganada ao comprar quadros sem graça. 4 estrelas

Direto do túnel do tempo

Tokyo Story (1953): um casal de idosos resolve visitar os filhos e parecem não ter mais espaço nas vidas deles. Melancólico, ainda mais se a gente levar em conta que japoneses têm fama, justamente, de tratarem bem os idosos. 4 estrelas

Onde assistir: https://www.justwatch.com/

Livro: “Histórias de morte matada contadas feito morte morrida”

Livro da vez: Histórias de morte matada contadas feito morte morrida: a narrativa de feminicídios na imprensa brasileira, de Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues.

Como a imprensa relata o feminicídio? Essa foi a pergunta das autoras, e a resposta é aquela que já percebemos no dia-a-dia: a mídia expõe e julga a mulher vítima de feminicídio, ao tempo em que protege e perdoa seu assassino. O livro condensa, sistematiza e analisa diversas notícias nos últimos quarenta anos, demonstrando essa tendência que é ainda mais forte quando a mulher é pobre, indígena ou negra.

A sistematização feita pelas autoras evidencia a conivência dos veículos de comunicação, em maior ou menor grau, com crimes bárbaros. Essa conivência, ouso acrescentar, nasce da aceitação da sociedade de situações de violência doméstica, sintetizada no velho ditado “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”.

Alguns casos impressionam pela quase cumplicidade dos veículos de comunicação, como o de Eloá Cristina, uma sucessão de erros da polícia e da imprensa, e o de Sandra Gomide, jornalista assassinada por um figurão da mídia.

Um tema que me chamou a atenção foram os órfãos do feminicídio, faceta ainda mais desalentadora desses crimes bárbaros.

Há poucas e honrosas exceções à em geral péssima cobertura da mídia, casos em que a imprensa abordou o feminicídio com assertividade, e o livro as exalta, além de destacar os avanços legislativos. Contudo, ainda há um longo caminho a percorrer nas redações e na sociedade de modo geral.

Leitura dolorosa, mas imprescindível para profissionais da imprensa e necessária para todos. 4 estrelas