Livro: “Submundo – Cadernos de um Penitenciário”

Livro da vez: Submundo – Cadernos de um Penitenciário, de Abdias Nascimento.

Em 1943, Abdias Nascimento era cabo do exército e foi julgado à revelia por não obedecer a uma ordem. Preso no Carandiru, que era razoavelmente novo e tido como prisão-modelo, passa a relatar o interior da penitenciária e a entrevistar seus colegas. Registro interessantíssimo que demonstra como o preconceito e o racismo sempre permearam o sistema criminal. A linguagem algo antiga e cerimoniosa de vez em quando me fez dispersar, mas ainda assim o relato vale a pena.

Abdias Nascimento ficou preso de 1943 a 1944. As causas da prisão são um tanto incertas, talvez houvesse mais por trás dela do que insubordinação – racismo e perseguição política, provavelmente. Além do livro (publicado postumamente por sua esposa, Elizabeth Larkin), escreveu peças e fundou o Teatro do Sentenciado. Foi ativista de direitos humanos. Foi um dos fundadores do PDT, elegeu-se deputador federal e depois senador – eleito em 1997, foi o primeiro senador negro do Brasil. Eu nunca tinha ouvido falar dele e ter descoberto esse interessante personagem foi um bônus da leitura.

Recomendo para quem se interessa por criminologia, execução penal e/ou história. 4 estrelas

Livro: “Holly”

Livro da vez: Holly, de Stephen King.

Holly Gibney está às voltas com a COVID, um funeral e o afastamento temporário de seu sócio, mas não consegue resistir ao pedido de ajuda de Penny Dahl e começa a investigar o desaparecimento de sua filha Bonnie. Jerome e Barbara também estão envolvidos com suas próprias vidas, mas dão uma mão à amiga.

Como thriller, Holly é razoável. King pesa a mão nas coincidências, mas os vilões sustentam a história o suficiente para não torná-la enfadonha. O ponto alto do livro é mesmo Holly, essa personagem que, segundo o autor, surgiu pra ser secundária em Mr. Mercedes, mas roubou a cena. É um prazer enorme reencontrá-la e ver o tanto que ela cresceu como pessoa, como se desenvolveu ao sair das garras sufocantes da mãe e encontrar compreensão e amor em Bill Hodges e na família Robinson.

Recomendo para quem leu Mr. Mercedes, Achados e Perdidos e O Último Turno e não vê a hora de reencontrar Holly. Ah, entre O Último Turno e Holly há um conto com ela publicado em Com Sangue (é a história que dá título à coletânea) e, se você quiser evitar spoilers, é melhor ler o conto antes. 5 estrelas

Filmes favoritos em janeiro de 2024

Recentes

Nimona (2023): animação fantástica da netflix, como há tempos não se vê na disney pixar. Nimona é uma garota que desafia rótulos e a única pessoa que acredita em um cavaleiro acusado injustamente. 5 estrelas

The Last Repair Shop (2023): curta que concorre ao Oscar e é meu favorito da temporada (por ora, pelo menos). Sobre como a música transforma e até mesmo salva vidas. 5 estrelas

A Sociedade da Neve (2023): o filme feito nos anos 90 marcou minha memória e eu estava um tanto temerosa de ver essa versão. A maquiagem e a fotografia impressionam. Um documentário de meia hora na netflix mostra o making of e merece ser visto. 5 estrelas

Nyad (2023): eu quis bater na Nyad várias vezes, mas me apaixonei pela Bonnie, interpretada pela Jodie Foster. Apesar das controvérsias que envolvem a história (real), fiquei interessadíssima pelas pessoas ao redor da Nyad que tornaram a história dela possível. 5 estrelas

Ninjababy (2021): uma mulher engravida e tem que rearranjar a vida. Dramédia com ótimos momentos tanto no drama quanto no riso, com um andamento inusitado. https://www.justwatch.com

Great Freedom (2021): Na Alemanha pós-guerra, um gay é preso reiteradamente só por ser gay. O filme se passa em dois períodos alternadamente e é uma história sensível de amizade e sobrevivência. Emocionante. 5 estrelas

Truman (2015): produção conjunta de Espanha e Argentina feita com o único ator argentino em atividade – ele mesmo, Ricardo Darin. Dois amigos se encontram após muitos anos. O cachorro não sofre, pode assistir de boa. https://www.justwatch.com

A Escolha Perfeita (2012):  um grupo universitário à capela formado por mulheres parece condenado a não chegar às finais regionais. Uma nova participante dá uma sacudida nas coisas e em sua própria vida. Veja se curtia Glee. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

Hannah e Suas Irmãs (1986): Mulheres interessantes, homens fracos, Woody Allen neurótico. Ótima história, embora datada em certos aspectos (a única pessoa negra do elenco é a empregada doméstica, veja bem). 4 estrelas

Onde assistir: https://www.justwatch.com

Livro: “Chuva de Papel”

Livro da vez: Chuva de Papel, de Martha Batalha.

Joel é um jornalista septuagenário aposentador, amargurado, conservador e misógino que se revela incapaz de tirar a própria vida. Como ninguém o tolera, acaba precisando contar com a caridade da tia idosa de um antigo pupilo, e sequer consegue ser grato no início.

O cara é insuportável e eu não estava interessada na vida dele, mas aos poucos essa senhora idosa, a Glória, começa a ganhar espaço na história, junto com sua vizinha Aracy. As reminiscências dos protagonistas se misturam ao tempo presente, o cotidiano mesquinho se entrelaça com grandes tragédias e essa colcha de retalhos se torna mais interessante a cada página.

Martha Batalha sabe narrar com maestria as vidas da classe média e, embora seus livros se situem no subúrbio do Rio de Janeiro (ao menos os dois que já li), os dramas são mais amplos que a geografia.

Recomendo para quem gostou de A vida invisível de Eurídice Gusmão ou para quem busca uma escritora brasileira contemporânea e madura. 4 estrelas