Alice no País das Maravilhas

Livro da vez: “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. Livro/filme do bimestre do projeto #quemteviuquemteleu, da @soterradaporlivros@tinyowl.reads e @seguelendo.

Foi minha terceira leitura e a cada vez minhas reações foram diferentes. Quando criança, adorei o livro. Reli há uns oito anos e achei chatíssimo. Dessa vez, gostei (mas não adorei) e notei como a tradução faz toda a diferença nessa obra. Recomendo muito a tradução da Zahar (mas há outras boas também).

Alice cai em um mundo de sonho em que as coisas são absurdas, nada faz sentido e o imprevisível é a regra. No debate, comentamos sobre a forma como as crianças eram vistas, e ainda são, em muitos casos: sem direito a opinar, sem voz, sem autonomia. Alice é curiosa e inquisitiva, e os personagens com quem se encontra – os adultos – tentam matar essas qualidades os simplesmente a ignoram, com a exceção do Gato de Cheshire.

E falando no Gato, ele é um dos grandes legados de Carroll, juntamente com o Coelho Branco, a Rainha de Copas e o Chapeleiro Maluco. As metáforas e os símbolos que inspiraram os personagens se perderam (ou quase), mas a força deles se mantém por si só, cheia de novos simbolismos. A obra de Carroll acabou se revelando atemporal.

Sobre os filmes, prefiro a animação da Disney, mais fiel ao livro e à própria Alice. O filme de Tim Burton conta uma história completamente diferente e a protagonista é tão sonsa que irrita.

Quanto às polêmicas sobre o autor, vale dizer que não há provas ou relatos das pessoas envolvidas que confirmem as acusações. Carroll tinha uma personalidade forte, um tanto misteriosa e algo controvertida – o restante, eu coloco na conta dos fofoqueiros ingleses e das estranhezas da era vitoriana.

O próximo bimestre será dedicado a 1984 e mal posso esperar para reler a obra e para ver o filme pela primeira vez. Quer vir com a gente? Fale com uma das organizadoras!

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas

Um Cântico para Leibowitz

Livro da vez:  “Um Cântico para Leibowitz”, de Walter M. Miller Jr.

Mais uma vez fui influenciada pela @soterradaporlivros, mas essa influência aconteceu na pré-história da internet e no mundo real mesmo: no século passado, a Ada me deu esse livro de presente. Fazia uns vinte anos que eu não relia e me surpreendi por não lembrar quase nada da história.

Encontramos o noviço Francis, no meio do deserto, preparando-se para os votos definitivos que ofertará à Ordem de Leibowitz, destinada a preservar o conhecimento antigo. Ele, por sua vez, encontra um velho misterioso que perturba seu retiro ao indicar ruínas que guardam documentos ancestrais.

Aos poucos, o leitor descobre que uns seiscentos anos antes a humanidade foi quase destruída por uma guerra nuclear. Seguiu-se um período de obscurantismo em que a ciência e até a leitura foram banidas, e teriam desaparecido completamente que se não fossem pelos monges da Ordem de Leibowitz, que dedicam suas vidas a preservar o conhecimento.

Mas… desejam mesmo preservar o conhecimento para a posteridade ou escondê-lo com medo de uma nova guerra? Essa é uma das perguntas que a leitura provoca. Outros questionamentos envolvem o embate entre fé e ciência e o caráter cíclico da história – a humanidade está fadada a repetir os mesmos erros?

“Um Cântico para Leibowitz” flerta com a filosofia e provoca questionamentos sobre a condição humana, como fazem os bons livros de ficção científica. Foi a primeira leitura do ano 3 do projeto #lendoscifi. Quer entrar para o projeto? Fala com a @soterradaporlivros.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Os Relógios

Livro da vez: “Os Relógios”, de Agatha Christie.

Uma senhora requisita os serviços de uma estenógrafa. Ao chegar na casa da senhora, a estenógrafa encontra um morto esparramado no chão. Não demora muito e acrescenta-se um novo elemento à trama: relógios apareceram do nada na casa dessa senhora – que, aliás, é cega. Paralelamente, temos uma trama de espionagem. Será que essas histórias vão se cruzar?

Nesse livro, Agatha está em sua melhor forma: criativa e divertida. As pistas estão lá – inclusive as falsas – e possibilitam que o leitor atento resolva o mistério (não foi meu caso na totalidade, mas acertei uma coisinha ou outra). Poirot demora um pouco a aparecer mas, quando o faz, é em uma cena deliciosa, discorrendo sobre escritores de mistério reais e fictícios, incluindo Ariadne Oliver. Para completar, um romancezinho. Entrou no meu Top 5 de livros da autora, sem dúvida.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

Sapiens – Uma Breve História da Humanidade

Livro da vez: “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”, de Yuval Noah Harari.

Existe alguma coisa mais perigosa que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem?

Lançado em 2015, “Sapiens” ganhou nova edição ano passado e, finalmente, uma versão para o kindle, que a Cia. das Letras me mandou via netgalley.

Harari, doutor em História, propõe-se a contar de modo acessível a evolução da humanidade nos últimos setenta mil anos e o faz com maestria. Não é à toa que o livro recebeu tanta notoriedade: a escrita é agradável e interessante, e a matéria abordada – nós mesmos – é fascinante.

Apoiando-se em pesquisas científicas e em argumentação filosófica, Harari narra como passamos de um bando de primatas caçadores e coletores para a sociedade organizada por meio da linguagem e da capacidade de abstração, derrotando nossos adversários neandertais e seguindo inexoravelmente rumo à dominação do mundo. Aborda temas como religião, expansionismo e capitalismo e conclui com a revolução científica, ainda em progresso. No final, traz reflexões sobre a felicidade e levanta questões perturbadoras sobre o futuro da humanidade.

Quem gosta de história vai se deliciar com esse livro. Quem não gosta, vai mudar de ideia, ao perceber como a história da humanidade é fascinante (ainda que terrível em certos pontos). Harari argumenta com precisão e não se furta a apresentar suas próprias conclusões sobre os tópicos que aborda. Ainda que o leitor possa discordar de algumas das conclusões, terminará por admitir que os pontos de vista apresentados pelo autor são sólidos. Harari não suas tira ideias “do nada”, ou do papo de boteco.

O conteúdo é 5 estrelas, mas a edição para kindle está bem ruim. A formatação destruiu as tabelas e quadros comparativos (acho que eram isso). Espero que a Cia. das Letras corrija em breve.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas