Livro: Belo mundo, onde você está

Livro da vez: Belo mundo, onde você está, de Sally Rooney.

Eileen e Alice estão perto dos 30 anos, idade em que imaginaram que teriam vidas bem resolvidas, mas cada uma enfrenta conflitos internos e externos que provam que não, aos 30 não é possível ter tudo resolvido, longe disso.

O romance segue a linha de Pessoas Normais, mas me pareceu mais interessante. Primeiro porque as personagens são mais velhas, o que leva a conflitos mais densos; segundo, porque parte da narrativa é epistolar, permitindo longas digressões sobre temas que as interessam e que não têm tanto a ver com a história principal, mas mostram facetas interessantes das protagonistas. Como em Pessoas Normais, há desentendimentos, falhas de comunicação, crises familiares e pessoais. Ache bem realista.

Mais para o fim, tive a impressão de que a autora ficou com preguiça e recorreu a uma escrita mais burocrática e descritiva que tirou o ritmo da história e reduziu meu interesse. Mesmo assim, curti o livro de modo geral e aguardo outro com protagonistas na casa dos quarenta.

Recomendo para quem gostou de Pessoas Normais e para quem curte um slow burn. 4 estrelas

Livro: Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas

Livro da vez: Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas, de Ruth Manus.

Em linguagem simples e bem-humorada, a autora discorre sobre as dificuldades de ser mulher, os obstáculos na família e no mercado de trabalho, as cobranças, pressões e sentimentos de culpa e, claro, o machismo que permeia tudo isso.

Não há muita coisa no livro que eu já não soubesse, por outras leituras ou pelas vivências (minhas e de outras mulheres), mas ainda assim foi uma leitura muito proveitosa – primeiro porque o discurso é organizado e claro, e às vezes falta-nos essa clareza para analisar o mundo ao redor; segundo pela sensação reconfortante de não estar sozinha.

Como defende a autora, precisamos de mulheres nas nossas vidas para sobreviver ao dia-a-dia.

Recomendo para quem acredita que o feminismo é uma questão boba, sem importância e/ou superada. 5 estrelas

Livro: A Tempestade que Criamos

Livro da vez: A Tempestade que Criamos, de Vanessa Chan.

Cecily é uma mãe de família comum com uma atividade secreta incomum: vivendo na Malásia ocupada pelos britânicos, ela passa informações aos japoneses, cujo objetivo é uma Ásia sem europeus e, claro, dominada pelo Japão. Cecily demora a entender que a dominação japonesa é mais sanguinária que a britânica e, quando se dá conta, sua família já está esfacelada. A narrativa acompanha também as vidas dos seus três filhos, Jujube, Abel e Jasmin, durante a dominação japonesa e a Segunda Guerra Mundial.

A Tempestade que Criamos é escrita de forma objetiva e quase casual, mas é uma história pesadíssima. A sequência de sofrimentos a que são submetidos os malaios, tanto no grande esquema das coisas quanto no cotidiano simples das famílias, é devastadora. Eu não desconhecia a crueldade do exército japonês, infame graças à ocupação da Coréia e a histórias como Invencível (filme de 2014, baseado em livro), e mesmo assim me vi chocada durante a leitura. Não é um livro que faça chorar (talvez justamente por ser brutal demais), mas algumas cenas vão me acompanhar por um bom tempo.

Recomendo para quem gosta de romances históricos. 4 estrelas

Livro: O Senhor das Moscas

Livro da vez: O Senhor das Moscas, de William Golding.

Durante a Segunda Guerra Mundial, garotos ingleses sofrem um acidente de avião e caem em uma ilha deserta. Enquanto torcem para serem resgatados, tentam se organizar, mas logo decaem para a selvageria.

Crianças bem-educadas se rendem ao medo, perdem qualquer senso crítico, tornam-se subservientes ou líderes sanguinários, provavelmente revelando o que estava escondido desde sempre sobre a fina camada de verniz civilizatório. É bom notar que Porquinho já era maltratado na escola e que logo nos primeiros minutos na ilha o padrão se repete.

Recomendo para quem gosta de histórias de aventura e não espera finais felizes. 4 estrelas