52 livros com menos de 200 páginas

Desde 2020, minha meta de leitura é de 52 livros por ano, ou seja, um por semana. Alguns livros tomam mais tempo, outros são rapidinhos.

De vez em quando alguém me pergunta como faço pra ler “tanto” (tem muita gente que lê bem mais que isso) e a resposta é simples: hábito. Só que criar ou retomar o hábito da leitura é bem difícil, como descobri depois de passar anos sem conseguir ler meia dúzia de livros por ano. Quando quis voltar para os livros, comecei com 15 minutos de leitura por dia, marcados no cronômetro porque não era fácil. Hoje, meu dia começa com uma caneca gigante de café e mais ou menos uma hora de leitura.

Uma boa estratégia para quem está (re)começando a ler por prazer é escolher livros pequenos. A sensação de ver a lista de livros lidos aumentando é recompensadora e ajuda a fortalecer o hábito.

Pensando nisso, e considerando que ainda estamos no comecinho de 2024, deixo uma lista de 52 livros com menos de 200 páginas para motivar você. Escolha um por mês, um a cada duas semanas ou simplesmente leia aleatoriamente, sem cronograma ou meta. O importante é se divertir.

Todos estão disponíveis em ebook e o link leva à página da Amazon.

  1. A paixão segundo G. H., Clarice Lispector – 180 páginas
  2. Os últimos casos de Miss Marple, Agatha Christie – 192 páginas
  3. Essa gente, Chico Buarque – 200 páginas
  4. A mão e a luva, Machado de Assis – 138 páginas
  5. Todo mundo adora Saturno, Fal Azevedo – 172 páginas
  6. Ratos e homens, John Steinbeck – 144 páginas
  7. O menino do pijama listrado, John Boyne – 192 páginas
  8. Crônica de uma morte anunciada, Gabriel García Márquez – 160 páginas
  9. Bonequinha de luxo, Truman Capote – 152 páginas
  10. Nossas noites, Kent Haruf – 160 páginas
  11. O santo e a porca, Ariano Suassuna – 167 páginas
  12. O Auto da Compadecida, Ariano Suassuna – 192 páginas
  13. O exército de um homem só, Moacyr Scliar – 160 páginas
  14. Sete minutos depois da meia-noite, Patrick Ness – 160 páginas
  15. A Ocupação, Julián Fuks – 136 páginas
  16. O Curioso Caso de Benjamin Button, F. Scott Fitzgerald – 96 páginas
  17. Feliz Ano Novo, Rubem Fonseca – 184 páginas
  18. O Mundo Resplandecente, Margaret Cavendish – 152 páginas
  19. O Vilarejo, Raphael Montes – 96 páginas
  20. Nada de faltará, Lourenço Mutarelli – 144 páginas
  21. Diário da Queda, Michel Laub – 152 páginas
  22. Os Elefantes Não Esquecem, Agatha Christie – 168 páginas
  23. Bambi, a história de uma vida na floresta, Félix Salten – 152 páginas
  24. A Máquina do Tempo, H. G. Wells – 112 páginas
  25. Uma aprendizagem: ou O livro dos prazeres, Clarice Lispector – 160 páginas
  26. A vida invisível de Eurídice Gusmão, Martha Batalha – 192 páginas
  27. A revolução dos bichos, George Orwell – 152 páginas
  28. A Metamorfose, Franz Kafka – 144 páginas
  29. Mrs. Daloway, Virginia Woolf – 159 páginas
  30. Ninguém escreve ao coronel, Gabriel García Márquez – 96 páginas
  31. The Outsiders: Vidas Sem Rumo, S. E. Hinton – 200 páginas
  32. Flores Azuis, Carola Saavedra – 156 páginas
  33. A Casa Torta, Agatha Christie – 190 páginas
  34. Fahrenheit 451, Ray Bradbury – 184 páginas
  35. O Médico e o Monstro, Robert Louis Stevenson – 160 páginas
  36. Depois, Stephen King – 192 páginas
  37. A Filha Perdida, Elena Ferrante – 176 páginas
  38. Coraline, Neil Gaiman – 161 páginas
  39. Parque Industrial, Patrícia Galvão – 112 páginas
  40. Uma rosa só, Muriel Barbery – 176 páginas
  41. Um homem só, Christopher Isherwood – 183 páginas
  42. Padre Sérgio, Liev Tolstói – 111 páginas
  43. Carmilla: A Vampira de Karnstein, Joseph Thomas Sheridan Le Fanu – 96 páginas
  44. Movimento 78, de Flávio Izhaki – 184 páginas
  45. Hellraiser – Renascido do Inferno, de Clive Barker – 160 páginas
  46. O Chamado da Floresta, Jack London – 109 páginas
  47. O amor é fogo, Nora Ephron – 192 páginas
  48. A pequena caixa de Gwendy, Stephen King e Richard Chizmar – 168 páginas
  49. Primeira pessoa do singular, Haruki Murakami – 168 páginas
  50. Um Destino Ignorado, Agatha Christie – 195 páginas
  51. O Coração das Trevas, Joseph Conrad – 123 páginas
  52. Floresta é o nome do mundo, Ursula K. Le Guin – 157 páginas

Livro: “Mariposa Vermelha”

Livro da vez: Mariposa Vermelha, de Fernanda Castro.

Amarílis tem poderes mágicos, mas vive em uma sociedade que persegue pessoas como ela, então passa a vida ocultando seus dons. Um dia, contudo, tomada de raiva após, decide invocar um demônio para ajudá-la a matar uma pessoa. Tolú é o demônio que a atende e a relação entre eles não se desenvolve exatamente como Amarílis esperava.

O livro merecia mais páginas dedicadas ao background de Amarílis (no começo mesmo, não durante a história) para justificar as suas escolhas A Flor de Lótus, grupo que aparece de forma meio súbita na história, é interessantíssima. Alguns lances poderiam ser mais desenvolvidos, como a própria Flor de Lótus e a personalidade do senhorio da protagonista. Ou seja: diferente do que acontece com tantos livros desnecessariamente prolixos, esse é mais enxuto do que precisaria ser. Algumas questões que só são abordadas na terceira parte poderiam ter surgido antes em um contexto mais natural e fundamentando melhor alguns comportamentos.

A escrita de Fernanda Castro é excelente. A autora domina o idioma (há uns deslizes de colocação pronominal que a revisão poderia ter corrigido) e evita clichês. Eu teria preferido nomes próprios mais diversos, o uso de plantas/flores me pareceu um recurso meio infantil.

Independentemente dessas questões, a história flui muito bem, diverte e prende. Não há momentos de tédio. Há um gancho para uma continuação – algo que, em geral, não me interessa, mas agrada muita gente e o mercado editorial aplaude. Apesar do gancho, o final é bastante satisfatório e o suspense criado antes dele é um ponto forte do livro.

Recomendo para quem busca bons jovens autores nacionais (algo raro) e especialmente para quem curte fantasia urbana. 4 estrelas

Livro: “As Meninas”

Livro da vez: As Meninas, de Lygia Fagundes Telles.

Lorena, Ana Clara e Lia são muito diferentes entre si, mas muito amigas, como somente na juventude é possível. Lorena vem de família rica e é toda certinha, mas sua vida familiar está longe de ser perfeita. Lia é revolucionária, militante de esquerda. Ana Clara tem origem pobre e seu sonho é se tornar rica, mas vive numa espiral de drogas e dívidas. As três são estudantes universitárias e moram no mesmo pensionato.

A história se desenvolve em poucos dias e mostra os dramas pessoais de cada uma: o vício de Ana, os problemas familiares de Lena e a militância de Lia. As histórias se entrelaçam, com cada qual tentando ajudar a outra da melhor forma possível. Lena é a provedora financeira, Lia é a questionadora e Ana… Ana tenta se manter inteira em um período de profundas mudanças sociais e de costumes. O pano de fundo é o momento mais duro da ditadura brasileira.

Lygia Fagundes Telles lança mão do fluxo de consciência como estilo narrativo. Isso, somado, às constantes trocas de pontos de vista, às vezes na mesma página, tornam a leitura um tanto confusa no início. Não demoramos, porém, a reconhecer cada uma das vozes narrativas: Lia, Lena e Ana têm personalidades tão bem delineadas que ainda na primeira metade do livro já é possível identificar quase de imediato quem está narrando (há, também, um narrador onisciente).

Há muitos livros bons e ótimos, mas poucos excelentes, livros cujos personagens ficam conosco várias semanas após a leitura. Lião, Lena e Ana Turva ainda estão aqui comigo e creio que ficarão por um bom tempo.

Indico para quem aprecia Virginia Woolf e Clarice Lispector, para quem quer conhecer uma das melhores autoras brasileiras e para qualquer pessoa interessada em literatura de primeira grandeza. 5 estrelas

Livro: “A Casa dos Espíritos”

Livro da vez: A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende.

A Casa dos Espíritos é o primeiro livro da escritora, lançado em 1982, em plena ditadura chilena. Quem já leu Cem Anos de Solidão perceberá semelhanças, especialmente nos primeiros 20%. As semelhanças até se justificam, já que ambas obras pertencem ao realismo fantástico, mas me incomodaram um pouco. Felizmente, depois desse início a autora encontra voz própria e passa a narrar com segurança e propriedade a saga de uma família, especialmente das suas mulheres cheias de força, Clara, Blanca e Alba.

O tema político permeia toda a história, com reflexões sobre a exploração e o capitalismo (as discussões políticas não são estranhas a Cem Anos, aliás), mas é nos 25% finais que a luta de classes, as manobras políticas e a sangrenta ditadura se tornam protagonistas. O lirismo dos primeiros capítulos cede lugar a sequestros, desaparecimentos e matanças. Algumas passagens são tão fortes que se tornam difíceis de ler.

Recomendo para quem gosta de realismo mágico, de literatura feminista e/ou de história latino-americana. 4 estrelas