Escrito originalmente para a Revista Paradoxo, em 06/01/2009.
Duas histórias em um só livro. Assim se constitui o último livro do consagrado escritor norte-americano Paul Auster, que já havia utilizado o mesmo recurso em fases anteriores da carreira e agora o retoma em Homem no Escuro. Não se trata, no entanto, de histórias desvinculadas ou independentes. Elas são interligadas e permeadas por outras pequenas tramas, fragmentos do passado das personagens afetados por guerras, amores, redenção e morte.
O narrador é August Brill, crítico literário de 72 anos, recentemente inválido após um acidente de carro. Brill mora com sua filha Miriam, sua neta Katya e vive um presente estável, embora profundamente melancólico. No entanto, o passado guarda fortes dores – tanto para Brill quanto para a filha e a neta – ocasionadas principalmente pela guerra no Iraque e pelo câncer. A vida não foi doce para Brill ou sua família.
E para fugir das lembranças, o crítico compõe, mentalmente, um romance – a segunda história do livro.
Owen Brick vive uma existência pacata, entretendo crianças em festinhas como mágico medíocre e morando com a esposa, até acordar dentro de um buraco e notar-se em uma realidade paralela (impossível não lembrar de Alice no País das Maravilhas). Nesse novo mundo, os Estados Unidos estão em plena guerra civil. Nada é como deveria ser e o desconcerto de Brick, repentinamente transformado em soldado, rende alguns momentos cômicos.
Enquanto tenta voltar para seu mundo, Brick descobre que tem papel importantíssimo na guerra e que dele depende a resolução do conflito. Descobre, ainda, que sua vida está em risco. O que realmente acontece com Brick? Esse é o grande suspense que movimenta a obra.
É no terceiro terço do livro que Brill dá-se, realmente, a conhecer e o leitor pode penetrar nas misérias, nos prazeres, nos erros, nas conquistas e nas perdas de sua vida e de sua família. Não há acontecimentos grandiosos na vida de Brill. Alguns acasos e um punhado de escolhas constituem a narrativa de sua vida, como seria na da maioria das pessoas.
Apesar dessa banalidade, Paul Auster consegue envolver o leitor em um texto vívido, sem apelar para a descrição enfadonha. Se não chega a arrebatar, certamente não entedia. Como bônus, Homem no Escuro traz discussões instigantes sobre cinema que lhe conferem um atrativo extra e agradam até mesmo o leitor não familiarizado com as referências.
Ficha
- Título: Man in the Dark
- Autor: Paul Auster
- Editora: Companhia das Letras
- Páginas: 165
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