Uma Terra Prometida

Livro da vez: “Uma terra prometida”, de Barack Obama.

Recebi o livro via #netgalley em novembro do ano passado, e o tempo que levei para ler diz mais sobre minha incapacidade de ler dois livros ao mesmo tempo do que sobre o texto. Quando peguei “Uma terra prometida” sem outro livro pedindo minha atenção, a coisa fluiu muito bem.

O livro tem uns trechos meio chatinhos, sim, especialmente quando se embrenha muito na política norte-americana. Outra coisa que é um pouco tediosa (e me pareceu forçada) são as louvações do Obama aos membros da sua equipe.

Por outro lado, achei interessantíssimo quando trata de política internacional (inclusive com rápidas menções ao Brasil). É fascinante ver um pouco da história recente pelos olhos de um dos seus principais protagonistas.

Outra coisa interessante são os momentos de frustração – aparentemente mais frequentes que os de realização – do Obama na tentativa de trazer progresso e de melhorar as condições de vida dos cidadãos sob sua responsabilidade. Os projetos eram frequentemente emperrados por conchavos políticos.

Obama também documenta a radicalização das posturas políticas nos EUA, o crescimento da facção de ultra-direita no Partido Republicano e o surgimento das “fake news” como armas políticas, todos temas que falam de perto à realidade brasileira.

O livro acaba em um ponto decisivo do governo e deixa a vaga promessa de um segundo volume.

Na edição da netgalley, os cadernos de fotografias estão ausentes e há alguns erros (siglas em letras minúsculas, por exemplo) que, presumo, foram corrigidos na versão definitiva.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Klara e o Sol

Livro da vez: “Klara e o Sol”, de Kazuo Ishiguro.

Klara é uma AA que tenta compreender o mundo enquanto espera por uma criança para chamar de sua. A história se passa em um futuro incerto, nos quais a tecnologia e a ciência avançaram. E mais não digo, para não estragar o prazer das descobertas durante a leitura.

O que me encanta na escrita do Ishiguro é justamente o jogo de esconde-e-mostra que ele constrói. Inicialmente, o leitor está perdido e várias perguntas surgem logo nas primeiras páginas. Aos poucos, as respostas aparecem, nunca por meio de grandes explicações (que poderiam soar forçadas ou enfadonhas), mas por pistas, peças que vão formando um quebra-cabeças.

Em “Klara e o Sol”, Ishiguro explora a solidão, tema recorrente em sua obra. Também fala de amor e morte. Há semelhanças com “Não me abandone jamais” (um dos meus livros favoritos de todos os tempos) e em dados momentos dá pra pensar que “Klara e o Sol” se passa na mesma realidade daquele livro, inclusive em razão de alguns dilemas éticos colocados. A escrita é delicada e brumosa, como nos outros livros do autor.

“Não me abandone jamais” continua sendo meu favorito, mas “Klara e o Sol” é imperdível.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Trocas Macabras

Livro da vez: “Trocas Macabras”, de Stephen King. Leitura de março do projeto #lendoKing, da @soterradaporlivros e da @seguelendo. O debate será no próximo sábado, 27/03 (se quiser participar, fale com uma das organizadoras).

Na pacata(?) cidade de Castle Rock, estado do Maine, uma loja nova é aberta: “Artigos Indispensáveis”. O gentil Sr. Leland Gaunt é o dono, vendedor e estoquista. Cada morador consegue encontrar na lojinha, quase que por milagre, seu maior objeto de desejo e os preços são quase irrisórios – ou assim parece. Não demora muito pra gente perceber que o Sr. Gaunt chegou pra botar fogo no parquinho.

O xerife Alan Pangborn está de volta, ao lado de uma pletora de personagens. Aliás, esse pra mim é o único defeito do livro: personagens demais, histórias paralelas demais. De qualquer modo, o leitor percebe logo quais são as mais importantes e pode escolher focar nelas.

O tom da história é sobrenatural sem adentrar a fantasia. O tema é recorrente nos livros do King: o Mal em sua missão de corromper as almas humanas. O desenvolvimento da história é ágil e há personagens cativantes, mas lembre-se de não se apegar muito.

Ler King em ordem cronológica é muito recompensador. Em “Trocas Macabras” o kingverso já está bem estabelecido. Castle Rock não é só uma cidade, mas um personagem. Há referências a Zona Morta, Cujo e A Metade Sombria.

E, claro, sempre há uma referência a Star Trek.

Estrelinhas do caderno: 4,5 estrelas

Escola de contos eróticos para viúvas

Livro da vez: “Escola de contos eróticos para viúvas”, de Balli Kaur Jaswal.

Tag Inéditos de fevereiro de 2020. Cancelei a Tag há um ano e ainda tenho dois livros para ler (além deste, que li semana passada).

Nikki é uma jovem britânica nascida em uma família indiana e tenta conciliar essas duas influências, duas formas distintas de ser mulher e de estar no mundo. Culpa-se pelo desgosto causado aos pais ao abandonar a faculdade de direito, mas está determinada a descobrir seu próprio caminho. Inesperadamente, ele a leva a dar aulas de inglês para mulheres punjabi – aulas que logo se transformam em confidências de fantasias eróticas. Nikki se vê envolvida pela comunidade e interessada nos segredos que ela guarda, que incluem até mortes de moças punjabi.

O livro segue uma fórmula, mas faz isso de forma eficiente. É muito bem escrito, a história e os personagens cativam. Vi-me interessada em Nikki e nas demais mulheres, fiquei curiosa pela cultura punjabi e fascinada pelas misturas e colidências. Dá para dizer que, para Nikki, a cultura britânica triunfa (o que pode ser alvo de críticas dos mais ciosos), mas ela sai diferente do outro lado, influenciada, amadurecida e bem resolvida.

A própria autora é o resultado da mistura de influências punjabi e dos diversos países onde viveu durante a infância e juventude, o que para mim torna o livro ainda mais interessante. Um dos melhores do ano em que assinei a Tag Inéditos.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas