Jingle Bells, Jingle Bells, já chegou o Natal… e sabe o que mais chegou? A histeria coletiva.
Todo ano é a mesma coisa.
O trânsito fica ainda mais caótico porque as pessoas querem resolver a vida em uma semana. A maioria delas está com a cabeça no mundo da lua – ou melhor, nos presentes, nos gastos… ai, os gastos! “Como vou pagar por isso? Será que encontro mais barato em outro lugar? Fulano disse que viu o celular que meu filho quer em promoção, e a loja nem é tão longe assim, fica só a uns 30 quilômetros daqui. Internet, internet, preciso de internet pra pesquisar os preços “- ufa!
Canso só de escrever, aliás, só de pensar nesse frenesi.
Vejo as filas quilométricas de carros com gente ansiosa para entrar em estacionamentos lotados, acotovelar-se nos corredores dos shoppings, correr de uma loja a outra, encarar filas monstruosas para pagar (caro) pelos cobiçados presentes… cobiçados por quem, mesmo? Pode ser que o presenteado goste, mas há uma boa chance que aquilo vire mais um excesso, mais uma tranqueira sem uso. E você investiu tanto tempo, esforço e dinheiro para agradá-lo, não é mesmo? E tinha que ser agora, no natal, sem falta!
Diga, por que você se esforçou tanto? Foi por amor? Sim, em alguns casos foi. Em outros tantos (a maioria, arrisco-me a dizer), foi apenas para cumprir uma obrigação social. Nem vou falar do consumismo, da hiper-exposição a anúncios, da pressão interna e externa para comprar, comprar, comprar e comprar um pouco mais. Estamos cansados de saber que é assim que o mercado funciona.
E você se rende ao mercado. Normalmente nem percebe essa loucura toda, sequer toma uma decisão consciente de participar desse fenômeno. Quando tudo acaba, o resultado é cansaço, estresse, endividamento e, ainda por cima, um gostinho amargo de que não fez o suficiente, não deu o melhor presente, esqueceu de alguém, desagradou não sei quantos, não cumpriu sua obrigação a contento. Jura que vai fazer diferente no ano seguinte – pelo menos, vai antecipar as compras! – mas lá no fundo sabe que tudo se repetirá.
Não é à toa que tanta gente chega absurdamente estressada aos dias das festas, incapaz de aproveitar o que quer que seja e com um pavio tão curto que não precisa muito para surgirem as tradicionais brigas familiares.
Minha família é pequena. De comum acordo, abolimos os presentes de natal há vários anos. Confesso, um tanto envergonhada, que não gostei da decisão logo de cara. Hoje, no entanto, sinto-me privilegiada. Fico verdadeiramente feliz quando percebo que estou fora dessa roda vida, que estou livre da neurose, que posso ter um fim de ano decente, até sossegado. Ao meu redor, as pessoas estão ensandecidas, correndo feito baratas tontas, histéricas mesmo. Assisto a tudo como se fosse um filme em fast foward e fico me perguntando: como elas aguentam?! Como não piram no meio da rua, como não saem batendo o carro, esbravejando e xingando o mundo?? (Bem, algumas fazem exatamente isso.)
Não vou aqui dizer pra você fazer o mesmo que fizemos na minha família. Não vou dizer que esse consumismo todo é vicioso, venenoso e destruidor. Não vou dizer que é preciso mudar os valores, as prioridades e o estilo de vida que tem predominado nas últimas décadas.
Cada um faz o que quer. Cada um escolhe o que acha melhor.
Desde que seja uma escolha.
Você já pensou que tem uma escolha?
Já pensou que as coisas não precisam ser assim?
Que as festas de fim de ano podem ser mais leves?
Que a falta de presentes não significaria falta de amor (da mesma forma que presentes não significam amor)?
Que talvez valha a pena tentar algo diferente no ano que vem?

Há que ser muito hábil para fazer um bom conto. O estilo não permite digressões, não comporta longas cenas descritivas nem deixa espaço para muita elaboração em torno dos personagens; por outro lado, é preciso envolver o leitor em poucas páginas e surpreendê-lo no desfecho.