Livro da vez: Lolita, de Vladimir Nabokov.
Todo mundo conhece a sinopse desse clássico: homem de meia idade seduz menina de doze anos. Eu sabia bem pouco além disso e por anos hesitei por causa do tema. Bobagem. Lolita é um romance excelente, envolvente, com personagens intensos e que em momento algum glorifica a pedofilia.
Ao contrário: Humbert Humbert é um ser abjeto, sabe disso e não tenta suavizar sua monstruosidade ao narrar os anos que passou com Lolita. Um leitor inexperiente talvez acredite no comportamento lascivo que ele atribui à sua “ninfeta” , mas narradores em primeira pessoa não são confiáveis por definição (Machado de Assis que o diga) e, além disso, o próprio Humbert se encarrega de demonizar a si próprio, em meio a comentários irônicos e autodepreciativos.
Como pano de fundo, o autor apresenta as paisagens e a sociedade norte-americana dos anos 40. Humbert vê ambos com olhos de estrangeiro, ora elogiando, ora tecendo críticas. Criador e criatura têm em comum o fato de serem expatriados.
Algumas passagens são chocantes, mas assim é a boa ficção: provocativa, chocante, incômoda. A escrita às vezes se torna rebuscada – Humbert Humbert é um erudito, afinal de contas – e determinados trechos poderiam ser abreviados, mas em momento algum o livro é enfadonho. A força dos personagens e o drama da narrativa não permitem.
Indico para leitores maduros porque, embora seja uma leitura fascinante, evidentemente não é leve.
Estrelinhas no caderno: