Vestígios do Dia (livro e filme)

Livro da vez: “Vestígios do Dia”, de Kazuo Ishiguro.

Steven, um velho mordomo inglês recorda seus tempos áureos a serviço de um controvertido lorde no período entre-guerras. As recordações se sucedem durante uma viagem pela Inglaterra para encontrar a governanta com quem trabalhou longamente, e com quem espera voltar a trabalhar.

Steven é como um cão fiel – de guarda, não de companhia. Vive para agradar e mal se dá conta das renúncias que fez ao longo dos anos. São sutis as suas demonstrações de emoção, normalmente percebidas por outros e não por ele próprio. A relação com a Srta. Kenton, a ex-governanta, é central no livro e um dos principais pontos de interesse da leitura; o outro é o pano de fundo histórico.

A escrita é penumbrosa, típica de Ishiguro. O autor tem por hábito cativar o leitor aos poucos e emociona não por meio de grandes episódios, cenas apoteóticas ou frases de efeito, mas pelos detalhes da narrativa.

Vi o filme um dia depois de terminar o livro (não, não tinha visto ainda). A fotografia é muito bonita, a reconstituição da época é excelente, as atuações são impecáveis. Fica faltando, porém, a aura brumosa e meditativa do livro. Falta o lento desvelar da mente de Steven. Tudo é mais óbvio e imediato na tela. Provavelmente isso é inevitável, dadas as diferenças entre as mídias, mas o livro sai ganhando por ser mais sutil.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas para o livro, 4 estrelas para o filme.