Sapiens – Uma Breve História da Humanidade

Livro da vez: “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”, de Yuval Noah Harari.

Existe alguma coisa mais perigosa que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem?

Lançado em 2015, “Sapiens” ganhou nova edição ano passado e, finalmente, uma versão para o kindle, que a Cia. das Letras me mandou via netgalley.

Harari, doutor em História, propõe-se a contar de modo acessível a evolução da humanidade nos últimos setenta mil anos e o faz com maestria. Não é à toa que o livro recebeu tanta notoriedade: a escrita é agradável e interessante, e a matéria abordada – nós mesmos – é fascinante.

Apoiando-se em pesquisas científicas e em argumentação filosófica, Harari narra como passamos de um bando de primatas caçadores e coletores para a sociedade organizada por meio da linguagem e da capacidade de abstração, derrotando nossos adversários neandertais e seguindo inexoravelmente rumo à dominação do mundo. Aborda temas como religião, expansionismo e capitalismo e conclui com a revolução científica, ainda em progresso. No final, traz reflexões sobre a felicidade e levanta questões perturbadoras sobre o futuro da humanidade.

Quem gosta de história vai se deliciar com esse livro. Quem não gosta, vai mudar de ideia, ao perceber como a história da humanidade é fascinante (ainda que terrível em certos pontos). Harari argumenta com precisão e não se furta a apresentar suas próprias conclusões sobre os tópicos que aborda. Ainda que o leitor possa discordar de algumas das conclusões, terminará por admitir que os pontos de vista apresentados pelo autor são sólidos. Harari não suas tira ideias “do nada”, ou do papo de boteco.

O conteúdo é 5 estrelas, mas a edição para kindle está bem ruim. A formatação destruiu as tabelas e quadros comparativos (acho que eram isso). Espero que a Cia. das Letras corrija em breve.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

O Olho do Mundo

Livro da vez: “O Olho do Mundo”, de Robert Jordan. Volume 1/14 da série “A Roda do Tempo”.

A primeira vez que ouvi falar desse livro foi pela @soterradaporlivros. A segunda, a terceira, a quarta e a quinta vez também.

Rand, Mat e Perrin são três jovens comuns de uma pacata aldeia de pastores, nos confins do reino. Um dia, descobrem que têm um papel a cumprir no destino do mundo, tecido pela Roda do Tempo, e partem a contragosto, acompanhados da Aes Sedai Moiraine e do Guardião Lan. No caminho, aliados juntam-se ao grupo. Os três receberão ajuda, mas também enfrentarão perigos terríveis enviados pelo Tenebroso, que está no seu encalço.

Se você se lembrou de O Senhor dos Anéis, é porque há mesmo muitas semelhanças. A ambientação é medieval, a magia existe e o Mal está à espreita, esperando por uma chance de destruir o mundo. Há ecos de Gollum e dos orcs, há povos em comunhão com a natureza, cidades amuralhadas e seres ancestrais. Também há, claro, o chamado para a aventura e outros elementos da Jornada do Herói (que Tolkien não inventou, apenas usou em seus livros).

O que não há, para meu grande alívio, são páginas e páginas de descrições enfadonhas. Por isso cheguei até o final e estou até pensando seriamente em ler o volume 2. Além disso, a @soterradaporlivros garante que a trama vai se distanciando do Senhor dos Anéis nos livros seguintes.

Livros. Seguintes. Esse é o maior problema, um problema bem grande mesmo: a saga tem CATORZE livros. Se eu resolver ler todos, será o compromisso mais longo que já terei firmado com o que quer que seja.

E talvez eu resolva ler, porque os personagens são interessantes e existe uma trama política atraente. Além disso, talvez eu esteja particularmente interessada em saber o destino da Sabedoria Nynaeve e da aprendiz Egwene…

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas (o livro não é excelente, mas a saga promete).

As sete mortes de Evelyn Hardcastle

Livro da vez: “As sete mortes de Evelyn Hardcastle”, de Stuart Turton.

Em um lugar meio incerto, num tempo também incerto, um sujeito acorda com a súbita sensação de que precisa proteger uma moça chamada Anna. Essa é a única certeza e a única lembrança do homem, que não sabe nem o próprio nome. No processo de resgatar a própria identidade, ele será enredado num assassinato misterioso e tentará reconstituir a cena do crime, enquanto busca restaurar as próprias memórias.

sse livro é misterioso do começo ao fim e rendeu um belo debate na leitura coletiva organizada pela @tinyowl.reads em novembro. É bem verdade que algumas pontas ficam soltas, mas no geral a trama é bem amarrada. Desenredá-la pouco a pouco (ou tentar) é divertido e ao final vem a vontade de reler só pra ver as pistas que o autor foi deixando pelo caminho.

Se você gosta de histórias de mistério, recomendo fortemente e sugiro que você leia no escuro, sem conhecer sequer a sinopse oficial. Assim, terá a mesma sensação de desnorteamento do protagonista e achará tudo ainda mais intrigante.

Bônus: vai ter série na netflix em 2021.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Mãe Pátria

Livro da vez: “Mãe Pátria – a desintegração de uma família na Venezuela em colapso”, de Paula Ramón.

Paula nasceu em Maracaibo, a “Arábia Saudita” da Venezuela, em 1981. Viu sua família aproveitar o razoável conforto dos petrodólares nos anos 80. Em seguida, viveu a desestruturação familiar causada e agravada pelas sucessivas crises político-econômicas, fruto de um governo preocupado somente em perpetuar-se no poder, sem garantir o desenvolvimento sustentável do seu povo.

O relato do que passou a família da autora ecoa o que ouvi repetidamente dos venezuelanos que chegavam em Pacaraima/RR buscando entrar no Brasil como refugiados: a sensação permanente de medo, a fome constante, escolas fechando por falta de professores, falta dos produtos mais básicos, casas saqueadas por vizinhos. O fio de esperança tingido pelo desespero: no Brasil ao menos teriam o que comer, diziam.

O livro se beneficiaria de uma edição em prol de menos repetições e maior coesão cronológica. O ponto forte é o relato ao mesmo tempo emocionante e analítico da Venezuela das últimas décadas. Paula é jornalista, mas em “Mãe Pátria” vai além da reportagem ao compartilhar detalhes pessoais de uma tragédia nacional – e que podia ter sido evitada.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas