Conduta de Risco

Ficha Técnica

Michael Clayton. EUA, 2007. Drama. 119 minutos. Direção: Tony Gilroy. Com George Clooney, Tom Wilkinson, Sydney Pollack, Michael O’Keefe, Tilda Swinton, Dennis O’Hare, Julie White.

George Clooney trabalha numa poderosa firma de advocacia. Seu trabalho é limpar os nomes e os erros dos clientes da empresa.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3,5 estrelas

Conduta de Risco Mais uma grande história com a participação de George Clooney[bb] e seguindo a linha dos seus filmes “sérios”, como Syriana e Boa noite e boa sorte. Clooney é um curinga: ótimo em comédias, em filmes de ação e em roteiros “cabeça” como Conduta de Risco.

Clooney representa um advogado que teve uma brilhante carreira por um tempo e, em seguida, tornou-se um trabalhador dos bastidores, um “faxineiro”, um pau-pra-toda-obra. Embora brilhante no trabalho, é amargurado e problemático. O vilão, dessa vez, é uma grande indústria de agrotóxicos, alvo de um processo indenizatório milionário em face de danos que seus produtos teriam causado a várias famílias.

O filme tira o espectador de tempo, começando pelo fim e intrigando a platéia. A história não é, propriamente, de tribunal, mas de bastidores – dos sujos bastidores que podem existir quando se lida com bilhões de dólares.

A trama joga com questionamentos morais. Os diálogos saem de cena em algumas situações para dar lugar a ótimas seqüências de ação. Se o desfecho não é tão surpreendente, as viradas significativas imprimem ritmo às duas horas de filme. O elenco é de primeira linha, com destaque para Clooney – que rouba a cena e nem precisa usar seu charme para isso – e Wilkinson, intenso em todas as cenas.

Acima de tudo, Conduta de Risco é um filme inteligente – em meio a outros tantos superficiais, sangrentos ou infantis, é agradável perceber que uma parte de Hollywood ainda se preocupa com a qualidade e profundidade das histórias.

O roteirista e diretor Tony Gilroy (aqui, estreando na direção) foi co-roteirista de outro excelente filme de tribunal, Advogado do Diabo.

Conduta de Risco concorre ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme Dramático, Melhor Ator em Filme Dramático (George Clooney) , Melhor Atriz Coadjuvante em Filme Dramático (Tilda Swinton) e Melhor Ator Coadjuvante em Filme Dramático (Tom Wilkinson). Deve ser indicado a alguma estatueta no Oscar 2008, também.

Blog Retrospectiva 2007

Hoje, o Desafio 21 da Nospheratt é recuperar meus 12 melhores textos do ano (na minha opinião, claro), com uma breve justificativa. Os melhores momentos do “Dia de Folga” em 2007 passam por tecnologia, livros, blogosfera, cinema, ecologia, acessibilidade e internet.

Janeiro

Uma estação desequilibrada e um governo alienado – chamei a atenção para os grandes desequilíbrios ambientais ocorridos em várias partes do globo há um ano.

Fevereiro

O que são feeds? – uma chamada para o texto explicativo sobre feeds, que foi publicado como página e, por isso, não entra na cronologia normal do blog. Recebi emails de gente que sempre quis saber o que é feed e nunca entendeu o technobbable, gente que achou o texto útil e começou a usar feeds a partir dele. Gratificante, sem dúvida.

Março

Borat (ou O Pior Filme de Todos os Tempos) – apresentei minha opinião claramente e recebi algumas críticas nos comentários (umas bem construídas, outras dispensáveis). O debate foi interessante – vale a pena ler a maior parte dos comentários – e marcou uma virada no DdF: voltei a opinar mais, algo que tinha deixado meio de lado.

Abril

Twitter – será que a moda pega por aqui? – comecei a usar o twitter em março, quando ninguém pensava que viraria moda entre os blogueiros brasileiros. Sim, errei na análise, mas gosto do texto mesmo assim. 😉

Maio

5 livros para ler ainda este ano – feito para uma promoção do Darren Rowse, rendeu vários trackbacks e deu-me a oportunidade de falar de livros que adoro.

Junho

Seu blog é acessível? – artigo de utilidade pública, ressaltando pontos importantes para melhorar a acessibilidade de um blog para deficientes visuais.

Julho

Blogs versus Mídia Tradicional: a guerra começou? – motivado pela polêmica campanha do Estadão contra os blogs. E não, não acredito nessa tal “guerra” que representantes de ambos os lados tentaram forjar. Aposto na complementaridade dos veículos.

Agosto

Faça Você Mesmo – compilação de dicas e links para solucionar as dúvidas que quem dá os primeiros passos no WordPress.

Setembro

O BlogCamp foi… – esse entra na lista por motivos sentimentais, admito. Foi o primeiro BlogCamp, foi nacional (sim, rolou em São Paulo, por votação) e foi a chance de transformar em carne e osso gente que eu só conhecia por pixels. Deu início a uma nova fase bloguística.

Outubro

Tropa de Elite – outubro teve o maior índice de assuntos com alguma provocação social ou política. O filme foi o assunto do mês e rendeu reflexões importantíssimas para o amadurecimento da sociedade brasileira.

Novembro

Podcast – já ouviu falar? – da mesma forma que no texto sobre feeds, procurei explicar os podcasts de uma maneira simples, voltada para quem não é geek. Calhou de ser um assunto bem debatido dias depois, no BlogCamp PR.

Dezembro

iPhone em revenda TIM – o mês está só no começo, com apenas dois artigos (três, com este). Por enquanto, fica o do iPhone, com destaque para o problema da ausência de homologação pela Anatel.

Que venha 2008!

Tropa de Elite

Ficha Técnica

Brasil, 2007. Ação. 118 minutos. Direção: José Padilha. Com Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Milhem Cortaz, Fernanda de Freitas, Fernanda Machado, Fábio Lago.

1997. O dia-a-dia do grupo de policiais e de um capitão do BOPE (Wagner Moura), que quer deixar a corporação e tenta encontrar um substituto para sua função. Paralelamente dois amigos de infância se tornam policiais e se destacam pela honestidade e honra ao cumprir suas atribuições, se indignando com a corrupção existente no batalhão em que servem.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

5 estrelas

A pirataria não parece ter atrapalhado o desempenho de Tropa de Elite[bb] no cinema. Poucas vezes vi uma sala tão abarrotada e em nenhuma delas tratava-se de filme nacional. Se é verdade que o filme foi liberado pela própria podutora, a tática de marketing funcionou.

Tropa de EliteSim, é um filme violento. Não, não é o banho de sangue que alguns críticos querem fazer crer. Tropa de Elite não é mais violento que Cães de Aluguel, Trainspotting ou Jogos Mortais. Evidentemente, ao contrário dos exemplos, não é uma história de ficção. José Padilha transpôs para o cinema o que acontece cotidianamente nos morros cariocas. Talvez essa proximidade com a realidade é que tenha agredido os mais puritanos.

Afinal, qual é a surpresa? Alguém ainda duvida que o Rio de Janeiro vive em estado de guerra? Alguém aí não sabe que os traficantes agem como um Estado dentro do Estado de direito, muito mais poderoso e articulado que este, impondo sua lei e sua ordem por meio da força?

“Só rico com consciência social é que não entende que guerra é guerra.”

As críticas que ando lendo sobre Tropa de Elite assustam-me mais que o próprio filme. Articulistas, teoricamente formadores de opinião, declararam-se chocados com a vibração da platéia diante das ações drásticas do Capitão Nascimento, o protagonista brilhantemente interpretado por Wagner Moura.

É necessário estar totalmente alheio à realidade – como não deveria estar um formador de opinião – para não chocar-se com o comportamento dos espectadores. A violência não é um fantasma. Também não é uma questão restrita ao Rio de Janeiro ou aos morros. Quase todo mundo tem uma história de terror para contar, protagonizada por algum criminoso e acontecida consigo ou com algum parente, amigo ou conhecido.

Ver num filme, a bandidagem ser punida, traz uma sensação de alívio e de justiça que quase não é possível no mundo real. É isso que a platéia aplaude. Nascimento não contemporiza, não negocia, não justifica. Simplesmente, age.

Não, o Cap. Nascimento não é um santo e Tropa de Elite não pretende canonizá-lo, bem como, ao contrário do que mal-intencionados espalharam, não faz apologia da tortura. O comportamento de Nascimento é criticado pelos seus pares e pela sua própria consciência, embora ele se aferre à idéia de que “os fins justificam os meios”.

“O curso do BOPE prepara os policiais para a guerra e não adianta me dizer que isso é desumano.
Enquanto os traficantes tiverem dinheiro pra se armar, a guerra continua.”

Será que, para extrair informações, restaria a Nascimento outra alternativa além da tortura? Lembre-se de que os torturados são traficantes, a pior laia de gente que pode existir. Seu idealismo é o dinheiro farto proporcionado pelas drogas. Armados até os dentes, não pensam duas vezes antes de matar barbaramente quem os desafia (ninguém mais se lembra de Tim Lopes?). Essa gente não tem escrúpulos e não hesita em eliminar quem se põe em seu caminho, encarando policiais como inimigos e pessoas comuns como peças de seu jogo de poder.

Não me venha com o discurso “eles não tiveram outra chance”. Acreditar nisso é assumir que todo pobre é bandido, o que está longe da verdade. Essa falácia, criada e propagada aos quatro cantos com intenções nem sempre samaritanas, serve apenas para aliviar a culpa das classes economicamente privilegiadas. O discurso torto “direitos humanos” que temos ouvido nas últimas décadas, e em que muita gente boa tem acreditado, transforma traficantes em vítimas e polícia em bandido. A hierarquia de valores anda completamente deturpada.

“Quantas crianças a gente tem que perder pro tráfico só pra um playboy enrolar um baseado?”

Tropa de Elite tem o grande mérito de bater em todo mundo. Nesse processo, não poupa as classes mais favorecidas e a imprensa. A hipocrisia do discurso social “pela paz” e “contra a violência” é desnudada várias e várias vezes, sem meias palavras. A visão torta que a elite tem do que é certo ou errado, permitido ou proibido, é confrontada.

É dito com todas as letras: quem fuma maconha ajuda traficante; quem enrola baseado financia a violência; quem cheira pó é culpado pela situação calamitosa a que chegou o Rio de Janeiro. Esse discurso enfático atinge boa parte dos espectadores do filme que, afinal, pertencem à classe privilegiada com poder aquisitivo para pagar uma entrada de cinema.

Não sei aí na sua cidade, mas aqui em Brasília maconha é tão acessível quanto cigarro, e quase tão consumida quanto. Por quem? Por secundaristas que vivem de mesada e universitários que se acham gente grande, pelos cidadãos-de-bem com carro na garagem e celular da moda. Pela mesma classe que fica furiosa quando tem o som do carro roubado.

“O sistema não trabalha para resolver os problemas da sociedade;
o sistema trabalha para resolver os problemas do sistema.”

Tropa de Elite também bate na polícia militar carioca, responsável pela criação do tal “sistema”. Corrupto e corruptor até a medula, o “sistema” é uma intrincada rede de propinas, subornos, adulteração de estatísticas, cumplicidade com criminosos. Ocupa os espaços que o Estado e o tráfico deixam para trás. Atua em causa própria, tendo como único fim a retroalimentação.

Infelizmente, não há ficção aqui. Os poucos casos de corrupção que chegam ao conhecimento da imprensa são uma pequena parte da podridão que assola a polícia militar carioca, mal-preparada, mal-remunerada e desvalorizada. Não que essa situação seja desculpa para suas ações – não é. Por outro lado, por que envonver-se numa troca de tiros se é mais fácil aceitar um suborninho?

Por que arriscar sua vida para matar um traficante se, além de tudo, você ainda será acusado de violentar os “direitos humanos”?

A situação de descalabro a que chegou a polícia militar carioca não é só culpa do governo; é culpa da inversão de valores na sociedade. Em última análise, é culpa de cada um de nós.

“O BOPE tem guerreiros que acreditam no Brasil.”

O BOPE – Batalhão de Operações Especiais – está fora do sistema. Se há algum heroísmo no filme, é este: um punhado de homens que se mantém fiel ao combate ao crime, sob risco de morte, em troca de um salário ínfimo e apesar das pressões da mídia. “Faca na caveira e nada na carteira”.

Para esse pequeno grupo altamente treinado, a corrupção é injustificável e a omissão é uma vergonha. Sim, nesse aspecto, o Capitão Nascimento é um herói. É aqui que se entende a reação da platéia. Nascimento, honesto e fiel aos seus princípios, lava a alma de cada brasileiro que já foi vítima da violência.

Se era a intenção de Padilha transformar Nascimento num herói ou não, pouco importa. O que realmente me preocupa é o esforço de certos segmentos em demonizar o protagonista. Sejamos maniqueístas, sim, mas conservemos a noção de certo e errado. Um estado de guerra produz excessos e condutas condenáveis, mas não se deve confundir os papéis: quem trafica é bandido; quem combate o tráfico é mocinho.

Afora a exclente história, que traz diversos pontos de reflexão, Tropa de Elite é uma produção de primeiro nível. A atuação de Wagner Moura é irretocável, brilhante mesmo. A direção é tensa, a trilha sonora é dramática, a cenografia é realista. A rápida movimentação de câmera envolve o espectador, colocando-o dentro da ação.

Tropa de Elite merecia ser o candidato do Brasil ao Oscar 2008. Claro que jamais conseguiria tal proeza. A elite de esquerda prefere criticar a ditadura militar, que se encerrou há mais de 20 anos, a atacar reais inimigos.

Além da Tela

Eu poderia usar este espaço para despejar estatísticas da criminalidade relacionada ao tráfico, ou encher de notícias relacionadas a mortes violentas, corrupção, suborno, consumo de drogas. Nada disso é necessário. Você lê jornais e assiste a noticiários. Você está a par das estatísticas. Se há controvérsia sobre um ou outro número – “não morre tanta gente, morre menos” -, não há dúvidas de que, por menores que sejam, são muito mais elevados do que o aceitável.

Tropa de Elite[bb] é baseado no livro A Elite da Tropa que, por sua vez, baseia-se em relatos de policiais do BOPE.

A polícia militar anda bastante preocupada com o filme, a ponto de ter intimado para depor seu diretor e um dos autores do livro. Deve ser falta de serviço.

Doze Homens e Uma Sentença

Ficha Técnica

12 Angry Men. EUA, 1957. Suspense. 96 minutos. Direção: Sidney Lumet. Com Henry Fonda, Lee J. Cobb, Ed Begley.

Um jovem porto-riquenho é acusado de ter matado o próprio pai. Os 12 jurados se reúnem para decidir a sentença, com a orientação de que o réu deve ser considerado inocente até que se prove o contrário. Onze deles, cada um com sua razão votam na condenação. Hery Fonda faz o papel de Mr. Davis, o único que acredita na inocência do garoto. Enquanto ele tenta convencer os outros a repensarem a sentença, o filme revela traços de personalidade de cada um dos jurados, mostrando as convicções pessoais que os levaram a considerar o garoto culpado e fazendo com que examinem seus próprios preconceitos.

Mais informações: IMDB (em inglês).

Comentários

5 estrelas

12 Homens e Uma Sentença 12 Homens e Uma Sentença foi a estréia do diretor Sidney Lumet no cinema. Feito numa época em que nem se sonhava com a computação gráfica e a magia dos efeitos visuais, surpreende exatamente pela sua simplicidade. Em preto e branco, a história transcorre em uma única sala (à exceção da primeira e da última cenas), pequena e sem ventilação. Ali, reúnem-se os 12 homens com poder de absolver ou condenar o jovem suspeito de ter matado o próprio pai.

No início, o espectador não conhece detalhe algum do crime em julgamento. Todas as informações são passadas durante a deliberação dos jurado que, a bem da verdade, querem terminar o serviço o mais depresssa possível e voltar para suas vidas. Quase todos votam, imediatamente, pela condenação. É Mr. Davis (Henry Fonda) o único voto dissonante, forçando uma longa discussão. Durante os debates, o público descobre o que aconteceu na cena do crime, ao mesmo tempo em que entra em contato com a personalidade de cada integrante do júri.

Mr. Davis, o oitavo jurado, vale-se do princípio da dúvida razoável: se há a menor sombra de dúvida sobre a inocência de um réu, ele deve ser absolvido. Quando lhe perguntam se ele realmente acredita na inocência do réu, Davis responde que não sabe, que talvez não acredite. Para justificar seu voto, acrescenta: “Estamos falando da vida de alguém aqui. Não podemos decidir isso em 5 minutos. Suponha que estejamos errados?”.

A partir de então, o personagem de Henry Fonda, fazendo o trabalho que deveria ter sido executado pelo advogado de defesa, trabalha sobre as provas e as declarações das testemunhas, lançando dúvidas e sombras ao caso. Não há falácia em seus argumentos, apenas o “e se”: e se outra pessoa tivesse uma faca igual à usada para cometer o crime? E se a testemunha estivesse enganada? E se o réu realmente estivesse no cinema na hora do assassinato? Eis a dúvida razoável.

12 Angry Men, além de ser interessantíssimo como “filme de tribunal”, é um excelente estudo de negociação. Davis mantém-se calmo todo o tempo. Numa mesa de negociações, é imprescindível conservar a frieza, responder num tom de voz moderado e, sobretudo, ouvir os opositores. Mr. Davis faz isso, valendo-se das informações de coleta sobre cada um dos outros 11 jurados para levá-los à reflexão. Pouco a pouco, confronta as idéias, evidencia os valores e desnuda os preconceitos de seus opositores, enquanto fortalece sua argumentação. As péssimas condições da sala de júri contribuem para irritar os jurados e movê-los pelo caminho inicialmente mais simples, como fariam negociadores em situações físicas adversas.

Lumet vale-se das ótimas interpretações e da densidade dos diálogos para construir um filme tenso, dramático, psicologicamente rico. Os close-ups são fartamente explorados, concentrando-se nos olhares de cada jurado, quase entrando em seus pensamentos. O filme privilegia a conversa em detrimento da ação, ao contrário de boa parte do cinema atual, e traz uma continuidade tão impressionante que parece filmado numa única seqüência. O espectador quase se sente na sufocante sala do júri.

Além da Tela

No tribunal do júri brasileiro, o voto de cada jurado é secreto e a decisão da maioria determina a condenação ou absolvição do réu; nos Estados Unidos, é necessária a unanimidade para chegar-se a uma sentença. Havendo um único voto divergente, não se proclama o resultado. Todos devem estar convencidos da culpa ou inocência do réu e podem ser necessários longos debates até chegar-se ao consenso.

As vantagens e desvantagens do tribunal do júri rendem extensa discussão e muita polêmica. Há quem diga que várias pessoas pensando sobre o mesmo tema, cada qual com suas habilidades, analisariam as provas sob diversos ângulos, apreendendo elementos que poderiam passar desapercebidos pelo juiz e, assim, chegariam a uma conclusão mais acertada sobre a culpa ou inocência do réu. No caso de culpa, os jurados teriam maior capacidade de colocar-se no lugar do réu e, desta forma, compreender os impulsos, bons ou maus, que o levaram a cometer o crime. O julgamento feito por leigos seria mais de acordo com os valores de cada região, cultura e tempo, valendo-se da eqüidade de um modo que nenhuma lei é capaz.

Por outro lado, os críticos do júri argumentam que seus membros são facilmente levados por seus próprios preconceitos e sentimentos, sendo facilmente influenciados pela empatia gerada com réu, testemunhas, advogado de defesa e promotoria. No tribunal do júri, os casos seriam ganhos ou perdidos quase que aleatoriamente, sem qualquer análise técnica. Testemunhos importantes poderiam ser desconsiderados simplesmente por serem dados por pessoas antipáticas. A imprensa, a defesa e a acusação manipulariam as emoções do júri. Cada jurado estaria sujeito ao seu próprio conjunto de valores, que não necessariamente refletiria o conjunto de valores da sociedade.

Há diversos filmes sobre tribunais de júri. Costumam ser muito interessantes e, embora levem em conta a realidade norte-americana, fornecem elementos e suscitam debates sobre o tribunal do júri no Brasil. Sobre esse tema, um filme recente e facilmente encontrado nas locadoras é O Júri, baseado em livro homônimo de John Grisham, que enfoca a possibilidade de manipulação dos jurados.