Diários de Motocicleta

Ficha técnica

The Motorcycle Diaries. Peru/Chile/Inglaterra/Argentina/Brasil, 2004. Drama. 124 min. Direção: Walter Salles. Com Gael García Bernal, Rodrigo de la Serna e Mía Maestro.

O filme acompanha a viagem pela América do Sul do estudante de medicina Ernesto Guevara e do bioquímico Alberto Granado, que, em 1952, cruzaram o continente com uma moto. Do mesmo diretor de Central do Brasil e Abril Despedaçado.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3 estrelas

Estava com o pé atrás quanto ao filme. Receava deparar-me com uma produção de índole doutrinadora, catequizadora. Felizmente, não é esse o foco principal da história.

A primeira metade de Diários de Motocicleta é plena de momentos cômicos. Impossível não rir diante das situações inusitadas em que se metem os protagonistas, várias delas causadas pela motocicleta, ironicamente batizada de “La Poderosa”. Na segunda metade, o roteiro recebe cores mais carregadas, mais trágicas e comoventes. A realidade de pobreza e abandono da América Latina é destacada. Ernesto Guevara começa a questionar uma série de coisas e leva consigo, nesse questionamento, o espectador.

É interessante comparar o Ernesto do início do filme com o de seu encerramento. O moleque ingênuo, honesto demais e absolutamente crente no mundo cresce muito nos seis meses durante os quais se desenrola a história. Adquire malícia, graças ao seu companheiro de viagem e às situações em que se vê metido. Principalmente, desenvolve um olhar crítico aguçado, que o faz dar novo rumo à sua vida. Essa é a parte da história que poderia ser chamada de “catequética”, porque tem o claro intuito de levar o espectador também à reflexão. Mais do que um discurso sobre política ou regime, no entanto, o que se vê é um questionamento sobre condições sociais e valores humanos, numa busca pelo rompimento de barreiras que não têm nenhuma outra razão de existir, a não ser a meramente “psicológica”.

Ponto alto: a belíssima fotografia (não, não vou comentar sobre o Gael, não o achei isso tudo).

Ponto fraco: poderia durar uns quinze minutos a menos.

Diários de Motocicleta ganhou o Oscar de Melhor Canção Original em 2005, pela lindíssima Al Otro Lado del Río, do uruguaio Jorge Drexler, primeira canção em espanhol a ser indicada ao prêmio (vale a pena procurar a trilha sonora do filme). A produção da festa, no entanto, não permitiu que ele cantasse a música na premiação, conferindo sua interpretação a Antonio Banderas. Drexler não se fez de rogado: ao receber a estatueta, cantou um trecho de sua música e terminou com um “Obrigado”.

Em tempo: não saia antes dos créditos finais, quando são exibidas fotos da viagem.

Sexo Com Amor

Ficha técnica

Sexo con Amor. Chile, 2003. Comédia. 107 min. Direção: Boris Quercia. Com Sigrid Alegría, Álvaro Rudolphy e Patricio Contreras.

Professora que tem um caso com o pai de um aluno é obrigada a rever seus conceitos quando tem que discutir educação sexual com a classe.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

2 estrelas

Sexo com Amor conta a história amorosa de quatro casais:

  • a professora, que vive com o artista plástico e o engana com o pai de um aluno;
  • o pai do aluno, que vive aos trancos e barrancos com a esposa;
  • casal de classe alta cuja mulher está grávida do segundo filho e o marido é um perfeito “galinha”;
  • o casal casado há anos, cujo marido é incapaz de ter a necessária calma para dar prazer à mulher.

O ponto de contato é a escola, pois todos os casais têm filhos na classe da tal professora.

Tem o cara que trai e a mulher não quer ver, o cara que não trai mas a mulher pensa que sim, a mulher que trai e se arrepende, a outra que é tão carente que se empolga com a ultrasonografia transvaginal, o cara que trai a mulher, apaixona-se pela amante e fica arrasado quando esta decide romper o caso, considerando-a uma traidora.

Cenas simples, imagens do cotidiano.

Muitas, mas muitas cenas de nu. Algo que remete ao cinema brasileiro de décadas atrás.

O argumento se perde. Poderia trazer uma mensagem filosófica, poderia discutir as várias formas de amor. Não chega a isso. Fica no banal, mesmo. Com boa vontade, dá para enxergar a argumentação de que o amor precisa do sexo para se revigorar. Agora, duro é agüentar o discurso machista de que “homem é assim mesmo” e “todo homem trai”. “Sua esposa espera que você a traia” – essa frase chega a ser dita, em tom de seriedade.

A Folha de São Paulo deu três estrelas, confirmando sua tradição de valorizar o cinema não-norte-americano. Como entretenimento, até vale. Como discussão sobre o conflito sexo versus amor, não merece nem duas.

Anjos da Noite – Underworld

Ficha técnica

Underworld. EUA/Alemanha/Inglaterra/Romênia, 2003. Aventura. 121 min. Direção: Len Wiseman. Com Kate Beckinsale, Scott Speedman e Michael Sheen

No meio de uma guerra entre vampiros e lobisomens, uma bela vampira guerreira tenta descobrir por que os rivais estão atrás de um humano.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3 estrelas

Adoro histórias de vampiros. Vi Entrevista com o Vampiro no cinema e vejo novamente sempre que o SBT exibe. Li todas as Crônicas Vampirescas, da Anne Rice, exceto a mais recente. Vampire é meu jogo de RPG favorito – na verdade, o único de que realmente gosto. Ainda não li Drácula, mas pretendo cobrir logo essa lacuna. Assim sendo, não poderia deixar de assistir a Underworld (quem inventou o título em português?!).

É um filme para quem gosta do gênero. Os que já jogaram Vampire não podem perder. Vão identificar diversos conceitos do jogo e reconhecer alguns dos clãs.

Se você curte fantasia e não fica o tempo todo dizendo “Nossa, isso é um rematado absurdo!”, também será capaz de apreciar o filme.

A história é, repetindo o que diz um dos personagens lá pelas tantas, a mais antiga de todas: o amor impossível. Um Romeu e Julieta do submundo, onde não há Montéquios e Capuletos, mas vampiros e lobisomens (lycans). É o amor e a incapacidade das “famílias” em aceitar diferenças que conduzem o filme. Em meio a isso, há muita ação, batalhas e pirotecnia, com direito a abundante uso da computação gráfica (nem sempre bem aplicada). Não é uma historinha “água com açúcar” – na verdade, é possível apreciar a ação sem dar crédito ao pano de fundo.

Não espere uma obra prima do cinema, sequer em efeitos especiais. É um entretenimento leve, capaz de empolgar quem gosta do gênero e, penso eu, de entediar quem não gosta.

Benjamim

Ficha técnica

Brasil, 2004. Drama. 100 min. Direção: Monique Gardenberg. Com Paulo José, Cleo Pires e Dalton Mello.

Homem encontra uma jovem que o faz lembrar de um romance turbulento, vivido na época da ditadura. Baseado em livro homônimo de Chico Buarque. Da mesma diretora de Jenipapo.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3 estrelas

Fui ver o filme motivada pela atuação da Cleo Pires, que foi premiada no exterior pelo trabalho em Benjamim. Realmente, ela está ótima. É um papel difícil, denso. Ela se saiu muito bem. A atuação do Paulo José é outro ponto forte.

A história não agradou muita gente. Benjamim não segue uma linearidade temporal e, por vezes, fica confuso. Este é o estilo de escrita do Chico Buarque. Quem já leu algum dos livros dele sabe que, de vez em quando, perde-se o fio da meada, para reencontrá-lo páginas à frente. Isso exige do leitor uma atenção constante, atenção que tem de ser ainda maior no cinema, já que não se pode simplesmente voltar a fita e rever o que ficou nebuloso.

Nunca tinha visto um filme dessa diretora. Ela fez um bom trabalho, retratando as idas e vindas da história e reunindo um elenco de primeira.

Um bom entretenimento, um filme bem construído, um desfecho marcante.