Morte no Nilo, de Agatha Christie

Livro da vez: “Morte no Nilo”, de Agatha Christie.

Um dos poucos livros do Poirot que não li na adolescência (porque eu não gostava da capa) é também um dos melhores.

Em “Morte no Nilo”, Agatha Christie se preocupa em criar histórias e idiossincrasias para os personagens, algo que ela nem sempre faz e que enriqueceu muito o livro. As pistas para desvendar os crimes (sim, há mais de um) existem e, coisa raríssima, consegui adivinhar os criminosos e suas motivações. Mesmo assim, alguns lances me surpreenderam.

Foi uma leitura diferente porque fiz numa sentada. Talvez por isso tenha conseguido adivinhar… talvez tenha sido apenas sorte. Fato é que ler de uma vez foi uma experiência prazerosa e pretendo repetir com os próximos da Dama do Mistério. São sempre livros fáceis e a leitura de um fôlego só parece deixá-los melhores.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Além da Escuridão – Star Trek

Ficha Técnica

  • Título original: Star Trek: Into Darkness
  • País: Estados Unidos
  • Ano: 2013
  • Gênero: Ficção Científica
  • Duração: 2 horas e 12 minutos
  • Direção: J. J. Abrams
  • Roteiro: Roberto Orci, Alex Kurtzman e Damon Lindelof
  • Elenco: Chris Pine, Zachary Quinto, Zoe Saldana, Karl Urban, Simon Pegg, John Cho, Benedict Cumberbatch, Anton Yelchin, Bruce Greenwood, Peter Weller, Alice Eve.
  • Sinopse: Depois que a tripulação da Enterprise descobre uma força terrorista dentro da sua própria organização, Capitão Kirk lidera uma caçada humana dentro de uma zona de guerra para capturar uma arma de destruição em massa.

[ALERTA DE SPOILER]

Não gosto de fazer resenhas que contem partes importantes do filme ou livro em questão e já deixei de escrever algumas justamente para não dar spoilers. Só que, no caso de Star Trek: Into Darkness, é inevitável revelar partes da trama ao escrever sobre o filme. Então, se você não gosta de spoilers, pare de ler daqui a pouco. Em resumo, ST:ID é um bom filme, especialmente para quem não é trekker. Para os fãs de carteirinha, fica devendo muito. O reboot de 2009 é muito melhor. E Benedict Cumberbatch é, sem dúvida, a melhor coisa de ST:DI.
Pronto, pare de ler agora.

Comentários

Eu tinha as mais altas expectativas para Star Trek: Into Darkness (de quem foi a péssima ideia de traduzir para Além da Escuridão, e a ideia pior ainda de inverter a ordem do título e do subtítulo?). Amei o que J. J. Abrams fez em 2009, com o reboot da franquia. Sou fã incondicional de Benedict Cumberbatch, escalado para ser o vilão deste segundo filme de Abrams. Obviamente, o filme seria fantástico, não?

Er. Bem. Não.

Por onde começo?

O vilão. A parte mais incrível e mais problemática do filme.

Incrível porque Benedict Cumberbatch interpreta à maestria e protagoniza as melhores cenas da trama, numa mistura de frieza exterior e emoção prestes a explodir que vêm muito a calhar. Problemática, pela escolha do personagem.

Fiquei em negação até não ser mais possível. Até ouvir John Harrison dizendo que, na verdade, era Khan. Sim, eu mantive o espírito de negação mesmo depois que abriram a primeira câmara criogênica. Simplesmente não podia acreditar que J. J. Abrams faria uma escolha tão equivocada e pobre. Não entenda mal: Khan é um vilão fantástico, um dos melhores que toda a franquia já teve. É o tipo de vilão que a gente ama odiar porque tem uma ótima história, não é simplesmente um monstro malvado, bobo, feio e chato.

Exatamente por isso a escolha de trazê-lo para ST:ID foi pobre. Porque foi fácil. Muito mais fácil do que construir uma boa premissa, um vilão tão interessante quanto, uma ameaça tão instigante quanto. Ficou parecendo preguiça: “ah, vamos pegar o Khan mesmo, que já funcionou em um episódio e em um filme, e pronto”.

Sim, a interpretação do Benedict foi maravilhosa, mas Khan já tinha uma face (e Ricardo Montalbán foi absolutamente perfeito no seu tempo). E, ainda mais importante, já tinha toda uma história. Entendo o conceito do reboot e gosto dele, mas será que é preciso reescrever tudo que já foi feito? De novo: solução pobre. Sem criatividade. Fácil demais. E mal executada.

Se em Star Trek (2009) os fãs foram presenteados com dezenas de pequenas referências para saborear, em ST:ID o que vimos foi uma paródia de Jornada nas Estrelas: A Ira de Khan. Cenas inteiras foram reaproveitadas. Pequenas referências são bacanas, claro, mas minutos inteiros chupados de outro filme? Aí é exagero. A coisa ficou tão forçada que, num momento que deveria traduzir fúria, sofrimento, desejo de vingança (“Khaaaaaannnnnnnnn”), eu ri. Aquele riso nervoso de “pelamor, o que que é isso?”.

Sério, por que simplesmente não deixaram que John Harrison fosse John Harrison? Ele podia ser um dos tripulantes da nave de Khan. Não o próprio Khan. E pronto, tudo correria às maravilhas (ou quase).

O vilão é o maior dos problemas, mas não é o único. Vejamos:

  • Uma enorme sequência de abertura que, embora seja divertida, poderia ser mais curta. E mais verossímil, por favor.
  • DRs constantes entre Spock e Kirk, Spock e Uhura, Spock e sei-lá-quem. Parece que resolveram pegar Spock pra Cristo. Sim, ele é um personagem muito interessante, mas fica chato se você começa a dissecar tanto assim, como se estivesse escrevendo para uma criança de seis anos.
  • Falta de coerência interna. Kirk e Spock brigam o tempo todo, mas são melhores amigos? Como assim, Bial? E não, não adianta comparar com a relação de Spock e McCoy na série clássica. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa completamente diferente. Sempre foi. Esse é um dos pontos-chave dos personagens. A briguinha tinha ficado lá no filme de 2009, não tinha?
  • Falta de fidelidade aos personagens. Um dos exemplos está justamente nas discussões permanentes entre Kirk e Spock. Outro, na discussão entre Uhura e Spock na frente de Kirk e durante uma missão. Não, eles não teriam uma DR ali. Outro exemplo, ainda: Scotty ameaçando abandonar a nave – e cumprindo a ameaça. Eu sei, havia um propósito para ele estar fora da nave, mas o argumento não poderia ser mais forçado. Tão forçado quanto enviarem um médico pra desarmar uma bomba.
  • O argumento. Esse é o grande problema do filme.

São trocentos buracos, somados a trocentos e oito clichês, tudo amarrado com diálogos tão esticados e mastigadinhos que cansam (de novo: o filme parece escrito para uma criança de seis anos). Fica muito difícil fazer a necessária suspensão da realidade para apreciar o filme (e olha que adoro musicais, sou boa em fazer a tal suspensão da realidade). Eu poderia tentar detalhar os problemas de argumento, mas alguém já fez isso muito melhor do que eu conseguiria.

Há coisas boas, claro. O fato de Star Trek estar na mídia mainstream me agrada. Ver a tripulação da Enterprise reunida é sempre bom. A inclusão da Carol Marcus foi um dos raros momentos inspirados dos roteiristas. A (ligeira)  referência a Christine Chapel foi bacana. Ficou provado que o Capitão Pike se ferra em qualquer universo, coitado. E, claro, temos Benedict Cumberbatch.

No geral, Star Trek: Into Darkness é um filme medíocre. Diverte, tem boas cenas, lindos efeitos, mas peca no mais importante: a história. Star Trek sempre teve excelentes histórias e essa é a razão da sua longevidade. ST:ID não tem. Se você, trekker, achava que o argumento de Jornada nas Estrelas V: A Fronteira Final era fraco, está na hora de rever seus conceitos. O poço ficou um pouco mais fundo.

Nunca consegui resenhar Star Trek (2009) porque, embora tenha visto até perder a conta, sempre tenho aquele olhar embevecido diante do filme. Qualquer resenha seria apenas uma sucessão infindável de elogios. Quisera que com ST:ID acontecesse o mesmo. Infelizmente, ele não fez jus à tradição dos filmes pares da franquia.

ST:ID não acrescenta nada à franquia, e esse é seu maior defeito.

E o pior é que o J. J. Abrams dirigirá mais um filme da série. Que o Grande Pássaro da Galáxia ilumine os roteiristas.

Cotação: 3 estrelas

Serviço

 

Paris, 98!

Paris, 98! - capaOs livros de Mario Prata são sempre certeza de uma leitura gostosa, leve e muito divertida. Paris, 98! não é diferente.

Gregório é um funcionário do setor de câmbio do Bradesco. É casado, está esperando um filho, ganha uma mixaria, deve para um agiota e compra nas Casas Bahia. Eis que, graças a uma dessas compras, é sorteado para assistir à Copa do Mundo de 1998, na França. Tudo pago, ingresso para todos os jogos. Depois de muito planejamento, Gregório vai. E a vida dele nunca mais será a mesma…

Paris, 98! é uma forma inusitada de ver a Cidade Luz e a retrospectiva do fiasco apresentado pela seleção brasileira em 98. É Gregório que apresenta tudo. Bom de papo, o bancário cativa todo mundo na excursão e cativa também o leitor, que torce por ele no bolão, no dia-a-dia, quer vê-lo feliz, sem dívidas e cheio de dinheiro no bolso. Será que ele vai se dar bem? Será que venderá os ingressos do jogo para quitar a dívida com o Seu Gomes? Será que sobreviverá em francês?

Essa resenha é curta como é curto o livro: apenas 104 páginas que você lê num instante. Diversão garantida, ou seu ingresso de volta.

Ficha

  • Título: Paris, 98!
  • Autor: Mario Prata
  • Editora: Objetiva
  • Páginas: 104
  • Cotação: 4 estrelas
  • Encontre Paris, 98!.

Uma Vida Inventada

Uma Vida Inventada - capa

Ainda me lembro do desconforto de Maitê Proença ao ter sua vida exposta num quadro do Faustão (o tal “Arquivo Confidencial”), sem a sua autorização. Se fosse possível matar alguém com um olhar, o Faustão não estaria vivo pra fazer propaganda da JAC Motors. Foi nesse programa que ficamos sabendo da trágica história pessoal da atriz: aos doze anos, seu pai matou sua mãe, a família ficou em pedaços, cada qual foi para um lado. Maitê se reergueu, viajou, trabalhou em várias áreas e, meio por acaso, acabou se tornando atriz. Sempre manteve sua vida pessoal reservada e teria continuado assim se Faustão não tivesse sido tão indiscreto.

Parece que, depois disso, Maitê desistiu de guardar o segredo. Em Uma Vida Inventada, ela expõe muito de sua vida, passada e atual. Fala de religião, sexo, amores, frustrações, maternidade. Embora a orelha do livro fale numa mistura entre “literatura e vida, verdade e imaginação”, o conteúdo do livro é de memórias, não de ficção.

Uma Vida Inventada é bem escrito, autêntico e emocionante. Quem estava acostumado com a Maitê no Saia Justa encontrará a mesma mulher forte e franca, cheia de opinião e que não faz a menor questão de ir com a maioria ou repetir o senso comum.

Trechos

Não sou uma pessoa infeliz. Em momento algum as tristezas me imobilizaram, e não foi por coragem que isso se deu, mas por temperamento. Há nos meus interiores um entusiasmo indelével que me move. Se estou às portas do abismo, de dentro sobe um fogo que queima os nós da garganta, devolve-me a respiração e a voz e por fim brota em mim uma vigorosa curiosidade por todas as coisas. (p. 32)

Todas as pessoas têm um lar ou um lugar no mundo onde se sentem integradas. Eu não. Já vi amigos descreverem “um bem-estar de útero” ao voltarem para casa de uma viagem longa, “um conforto de berço”. Pois eu não sinto isso nem no apartamento do Rio onde vivo há vinte anos.[…] Gosto do Rio, amo às vezes, mas não sou daqui, e não sou de canto nenhum.
É solitário viver assim.
É também libertador. A gente vaga pelas tribos sem pertencer a elas. (p. 37-38)

Qual o ser vivo, por mais bondoso, que já não pensou na morte de uns vinte? As crianças pensam. Todos nós pensamos. No trânsito, no trabalho, nas discussões com o parceiro. (p. 64)

Na cidade a gente passa a vida encaixotada. Sai de um caixote que anda em cima de rodinhas para dentro de uma caixa que sobe, e nos coloca numa microcaixa com uma campainha, que por sua vez se abre para nos enfiar num caixotão dividido em caixas menores em que passamos grande parte de nosso tempo. Dormimos ali! Para piorar, o caixotão paira nos ares, de forma que se você resolver, num descuido, dar um passo pra fora, cai no vazio e morre. É muito constrangedor. (p. 75)

Renunciando ao agora e desistindo do ócio criamos uma civilização de prazeres adiados em nome de um porvir que não chega nunca. O lado bom dessa busca é o encontro com o novo e a sensação do renascer, pois o preço pago pelas tribos de ócio foi a ausência de desenvolvimento e cultura. Mas o preço pago pela civilização é o enquadramento do espírito, a correria e a falta de paz. (p. 82-83)

Sonho de rico é praia deserta, luz de lampião e rede com vista pro mar, ou seja, a vida do pescador. (p. 83)

É duro ter que viver dia após dia consigo mesmo: o grande cansaço é de si próprio. (p. 83)

Há muita dor nisso de ser jogado numa existência amesquinhada, sem saída e quase animal, mas com a consciência humana para perceber sua condição. É de um cinismo cruel. (p. 170)

Ficha

  • Título: Uma Vida Inventada – memórias trocadas e outras histórias
  • Autor: Maitê Proença
  • Editora: Agir
  • Páginas: 214
  • Cotação: 3 estrelas
  • Encontre Uma Vida Inventada.