Gosto muito dos documentários do Michael Moore, mas para definir o livro Cara, Cadê o Meu País? só me ocorre uma palavra: tedioso.
Talvez o problema seja o assunto, ou a forma de abordá-lo. O livro discorre sobre o cenário pós-onze-de-setembro, com todas as implicações governais e teorias/fatos da conspiração que você pode imaginar. Há um verdadeiro desfile de nomes, datas, fontes, pesquisas, notícias. Moore investiga as longas relações entre a família Bush e a família Bin Laden, escancara as mentiras sobre a existência de armas de destruição em massa iraquianas, levanta toda a questão do petróleo, o principal motor econômico para as intervenções dos Estados Unidos no oriente médio desde sempre e questiona a política de terror implantada por George W. Bush após o 11/09, em que todos podem ser declarados culpados até prova em contrário.
Ao fim, Moore conclama os liberais a convencerem os republicanos de que mudar de lado vale a pena, apelando para o valor mais eficaz possível: o bolso. Essa série de argumentos finais é, provavelmente, a parte mais interessante do livro.
Cara, Cadê o Meu País? é um livro absolutamente voltado para o público norte-americano. Embora traga um ótimo resumo sobre os primeiros anos após o 11/09/2011 e tenha, portanto, valor histórico, a leitura é chata, emaranhada demais na política interna dos Estados Unidos. Fica mais envolvente quando puxa meadas da política internacional, claro, mas ainda assim não se segura. Nem a ironia típica de Michael Moore é capaz de evitar momentos de tédio ao longo das várias páginas que retratam a economia, a política e a história recente dos Estados Unidos.
O livro foi escrito cinco anos antes da vitória de Barack Obama. Moore já achava, então, que os Estados Unidos estavam prontos para um presidente negro. Também acreditava que estavam prontos para uma presidente. Contudo, não cogitou os nomes de Obama ou Hillary para a presidência, mas o de… Oprah! Sim, ele falava sério.
Trechos
A maioria de nós não consegue localizar vocês [brasileiros] no mapa – e, pior, também não conseguimos localizar nosso inimigo. De acordo com uma pesquisa recente, 85% dos americanos adultos com idade entre 18 e 25 anos não conseguem achar o Iraque em um mapa. Eu acho que o primeiro parágrafo do código de leis internacionais deveria ser o seguinte: se um povo não consegue encontrar o seu inimigo sobre o globo terrestre, ele não tem permissão para bombardeá-lo. (p. XIII)
Só por uma vez, não seria bom vencer, especialmente considerando-se que a maioria dos americanos é liberal? Está na hora de começar a pensar fora da caixinha que existe em nossas mentes. Para começar, vamos parar de acreditar que o presidente tem de ser um sujeito branco. Os brancos são uma minoria cada vez menor neste país – constituem apenas 38% dos eleitores. Além disso, como já apontei antes, todos os democratas que ganharam a presidência, desde Franklin Roosevelt (com exceção da avalanche de Lyndon Johnson em 1964), ganharam perdendo o voto masculino branoc. Eles ganharam recebendo um número avassalador de votos de mulheres brancas e homens e mulheres negros e hispânicos. (p. 213)
Os americanos estão prontos para uma mulheres presidente. Que tal uma de nossas governadoras ou senadoras disputando a Presidência? Os eleitores querem votar em mulheres – passamos de apenas duas mulheres para 14 no Senado dos Estados Unidos em pouco mais de uma década. O eleitorado está cansado dos mesmos velhos homens que parecem um bando de prepotentes e mentirosos. Não existe neste país uma mulher entre as 66 milhões de mulheres em idade de votar capaz de derrotar esse rapazinho [George W. Bush]? Não existe uma? Eu também acredito que o país está pronto para um presidente negro. Já temos um na TV em 24 horas, um dos programas de maior audiência na Fox. Depois houve Morgan Freeman como presidente em Impacto profundo (e na última vez em que o vi ele estava interpretando Deus em O Todo-Poderoso). Hollywood não faria um homem negro ser Deus se achasse que ele não poderia se dar bem em Pittsburgh. E 12 milhões de americanos em 2003 votaram em um negro, Ruben Studdard, para nosso próximo “American idol”. (p. 214)
O que precisamos agora é de alguém que arrase Bush! Alguém que já seja tão amado pelo povo americano que no dia da posse em 2005 estaremos livres do Sorrisinho Afetado. Alguém que seja o nosso Reagan, uma figura bem conhecida que comandará com seu coração e escolherá as pessoas certas para fazer o trabalho do dia-a-dia.
Quem é essa pessoa que pode nos levar à terra prometida?
Seu nome é Oprah. (p. 214)
Ficha
- Título original: Dude, where’s my country?
- Autor: Michael Moore
- Editora: Francis
- Páginas: 271
- Cotação:
- Encontre Cara, Cadê o Meu País?.