Mãe Pátria

Livro da vez: “Mãe Pátria – a desintegração de uma família na Venezuela em colapso”, de Paula Ramón.

Paula nasceu em Maracaibo, a “Arábia Saudita” da Venezuela, em 1981. Viu sua família aproveitar o razoável conforto dos petrodólares nos anos 80. Em seguida, viveu a desestruturação familiar causada e agravada pelas sucessivas crises político-econômicas, fruto de um governo preocupado somente em perpetuar-se no poder, sem garantir o desenvolvimento sustentável do seu povo.

O relato do que passou a família da autora ecoa o que ouvi repetidamente dos venezuelanos que chegavam em Pacaraima/RR buscando entrar no Brasil como refugiados: a sensação permanente de medo, a fome constante, escolas fechando por falta de professores, falta dos produtos mais básicos, casas saqueadas por vizinhos. O fio de esperança tingido pelo desespero: no Brasil ao menos teriam o que comer, diziam.

O livro se beneficiaria de uma edição em prol de menos repetições e maior coesão cronológica. O ponto forte é o relato ao mesmo tempo emocionante e analítico da Venezuela das últimas décadas. Paula é jornalista, mas em “Mãe Pátria” vai além da reportagem ao compartilhar detalhes pessoais de uma tragédia nacional – e que podia ter sido evitada.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

2001 – uma odisseia no espaço

Resenha de hoje (parte 2): “2001 – uma odisseia no espaço”, de Arthur C. Clarke.

Demorei uma vida para ver o filme sem dormir no meio (só gosto mesmo das partes com o HAL). Li o livro por causa do projeto #quemteviuquemteleu (org. @seguelendo@tinyowl.reads e @soterradaporlivros) e tive a grata surpresa de ver que o livro é muito melhor que o filme. Infinitamente melhor.

O livro não é pretensioso, não busca confundir e não se apega à estética pela estética (sim, isso é o que acho do filme). A maior parte das perguntas do leitor é respondida. A história flui, entretém e provoca reflexão.

Eu já disse que é infinitamente melhor que o filme?

Nem todos concordam, claro, e há quem defenda que o filme é melhor justamente por ser enigmático. Em todo caso, é uma ótima história de ficção científica, com os elementos clássicos do gênero e a experiência do autor (como escritor e cientista), sem as viagens do diretor.

Em resumo: se você não gostou do filme, leia o livro. Se você gostou, leia o livro.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

À espera de um milagre

Livro da vez: “À espera de um milagre”, de Stephen King.

Eu lembrava do filme, de ter visto no cinema e de ter chorado. Achava que estava preparada para o livro. Ledo engano.

Stephen King costuma me fazer chorar com as histórias sobre pessoas e não sobre monstros. Nesse livro, a construção dos personagens é excepcional, e só tendo um coração de pedra para não se emocionar com Joe Coffey, com o que ele viveu e com o que é capaz de fazer. Só não tendo coração para não ficar com os olhos cheios de lágrimas lendo as reminiscências de Paul, o antigo guarda da milha verde – a ala dedicada aos prisioneiros condenados à morte – que, velho e retirado em uma casa de idosos, relembra o passado.

Os monstros são muito humanos, o que sempre me desnorteia mais (Supernatural feelings). Os inimigos são o sistema de justiça, o racismo estrutural e a pena de morte.

Aproveitei para rever o filme, que foi muito feliz na adaptação do livro e tem atuações memoráveis. Dessa vez não chorei, porque já tinha esgotado as lágrimas ao longo da leitura.

Livro do projeto #lendoKing, da @soterradaporlivros e da @seguelendo (que continuará em 2021).

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

As minas do rei Salomão

Livro da vez: “As minas do rei Salomão”, de Henry Rider Haggard.

Allan Quatermain lidera Henry Curtis e o Capitão Good em uma aventura na África com pouco mais que um mapa feito a mão. Os objetivos: encontrar a lendária mina de diamantes do rei Salomão e o irmão de Sir Curtis, perdido há anos. Logo se junta ao grupo o nativo Umbopa. A expedição enfrentará deserto, neve e até uma guerra na tentativa de cumprir suas missões.

A introdução já avisa que é um livro “para meninos” – porque provavelmente o que se esperava das meninas em 1885 era que aprendessem a cozinhar e bordar, jamais exercitando a imaginação ou sonhando com aventuras.

Dito isso, é preciso lembrar que ninguém escapa inteiramente ao seu tempo e essa colherada de machismo não deve espantar. Por outro lado, considerando-se a época e o contexto social do autor, ele foi muito progressista. Os negros não são tratados como coitadinhos que precisam ser salvos pelos brancos, nem como bestas de carga. Ao contrário, são personagens fortes, e o narrador em diversos momentos elogia sua inteligência e organização social. São admirados. Há até um romance interracial, e dá pra imaginar como isso deve ter chocado a sociedade vitoriana.

“As minas do rei Salomão” foi o último livro do #projetoexploradores e foi um dos meus favoritos. O projeto durou um ano e foi uma oportunidade incrível de revisitar Júlio Verne (o primeiro autor de ficção científica que li) e conhecer obras que, embora famosas, nunca tinham me interessado muito. Jack London foi um presente, um autor de quem mal tinha ouvido falar e que me encantou (lemos dois livros dele, “O lobo do mar” e “Caninos Brancos”, e ambos são meus favoritos do projeto). Saí da minha zona de conforto e explorei mundos incríveis na companhia dos demais exploradores literários.

Obrigada às organizadoras por terem proporcionado essas viagens: @soterradaporlivros@tinyowl.reads@chimarraoelivros e @fronteirasliterarias!

Estrelinhas no caderno:
Para o livro do mês: 4 estrelas
Para o projeto: 5 estrelas