Project 333, aqui vou eu!

Dentre os blogs minimalistas que acompanho, o Be More With Less é um dos meus favoritos. Conheci-o no início de 2011 e, como eu estava na primeira fase da edição do meu guarda-roupas, logo me chamou a atenção o Project 333. A ideia é simples: escolher 33 roupas (e acessórios) para usar em 3 meses. E mais nada. O objetivo é simplificar o guarda-roupas, reduzir o trabalho e o tempo gastos com a escolha do que vestir todos os dias e, ainda assim (ou justamente por causa disso), estar sempre arrumada. (Vale notar que roupa íntima e roupas necessárias para a prática de esportes – e usadas exclusivamente nessa situação – ficam de fora da contagem.)

O restante do guarda-roupas deve ser encaixotado. Depois dos 3 meses, você tem suas roupas de volta e pode doá-las, ou recolocá-las no armário, ou repetir o Projeto.

Simples, não? E assustador, também. Como assim, só 33 roupas? Aliás, como assim, só 33 roupas E acessórios somados?

Nunca tive coragem de embarcar nessa aventura. Até agora.

Semana passada, resolvi pagar os 15 dólares pelo cursinho da Courtney para iniciantes no Projeto 333. Fazer o curso não é obrigatório para seguir o projeto! É que eu estava curiosa, mesmo… e muito mais interessada no material de apoio do que propriamente em ficar com apenas 33 peças por 3 meses. “Vou fazer o cursinho, editar melhor o meu guarda-roupas, mas nem pensar que vou ficar com tão pouca roupa por 90 dias”, era o que eu pensava.

Acontece que o cursinho é empolgante – não tanto pelo “material didático”, mas pelo grupo (fechado) no facebook que reúne os participantes. E, diferentemente de mim, todo mundo ali estava realmente querendo seguir a proposta. Além do mais, eu estava mesmo precisando de uma distração… Com tudo isso, claro que no fim do primeiro dia eu já tinha mudado de ideia, né? A partir de 1º de outubro,  inicio meu primeiro ciclo em mais esse projeto minimalista.

O trabalho duro já começou: precisei retirar tudo do armário e das gavetas, colocar em cima da cama e separar as roupas em 3 pilhas: “AMO” (roupas que quero manter), “TALVEZ” (talvez eu goste dessas, talvez não; talvez as guarde só porque alguém especial me deu; talvez eu pense nisso semana que vem) e “DESCARTAR” (roupas que não me servem, ou eu nunca uso, ou não gosto, ou estão velhas, ou estão sujas etc.).

Tudo em cima da cama.
Tudo em cima da cama.

Há quase dois anos, todo mês tiro algumas roupa do meu armário, então foi uma surpresa encontrar 15 peças que se encaixavam perfeitamente na categoria “DESCARTAR”. Sem dúvida, ver tudo em cima da cama de uma só vez deu a real dimensão do que eu realmente gosto e do que só está ocupando espaço.

Ainda não escolhi as 33 roupas (essa é uma tarefa para a semana que vem), mas já tenho uma ideia de quais serão meus critérios. Decidi que não vou incluir bijouterias, chapéus (sim, tenho alguns) e cintos nessa seleção. Se o fizesse, acabaria me sentindo sufocada e, como a Courtney diz, o objetivo do Projeto 333 não é causar sofrimento – se for necessário, podemos editar as regras segundo a nossa conveniência. Bem, vou editá-las: farei um Projeto 333 só para os acessórios. Porque, afinal, eu tenho vários, mas uso sempre os mesmos. Quem sabe limitando a quantidade a ponto de ver tudo num relance eu consiga diversificar?

Outra coisa que deixei de fora: os sapatos. Tenho 25 pares, contando aí botas (que não são usáveis nessa época em Brasília), chinelo e tênis de corrida. Uso com razoável frequência todos eles, até porque meus pés são implicantes e, se eu não revezar os calçados, acabo cheia de bolhas.

Como você vê, flexibilizei bastante as regras. Mesmo assim, ter apenas 33 roupas à minha disposição por 3 meses inteiros (considerando que, hoje, meu armário tem 174 itens) é um tanto assustador. Mas também é um desafio empolgante, não é?

O que você acha? Embarcaria no Projeto 333? Tem curiosidade? Ou parece uma missão impossível?

Apegos.

Tenho umas peças de roupa das quais não consigo me desfazer. Não tenho apego emocional a elas, não são lindas e, pior, não me favorecem. Mas servem, prestam-se ao uso diário e vão ficando.

Especificamente, uma calça. A cor não me favorece – um marrom claro, ou bege escuro. O corte é passável, mas tenho outras que caem muito melhor. Certo, paguei um dinheirinho bom por ela, mas já usei tanto que a compra se justificou.  Então, por que a mantenho no armário?

Só porque serve?

Se não é essencial e não me faz feliz… por quê?

A casa nova tem duas arandelas que não uso e das quais não gosto. Mas paguei caro por elas (marinheira de primeira viagem em reformas faz dessas coisas, deixa-se levar), removê-las daria um trabalhão e eu teria que repintar a parede. Vão ficar por um bom tempo, já me conformei. Talvez eu pare de detestá-las. Minha esperança é começar a ignorá-las em breve.

Tem pessoas de quem a gente não gosta, mas não desapega. Pelo menos nesse ponto estou satisfeita – não mantenho por perto ninguém de quem não goste e que não me faça bem. É um processo longo (e doloroso, em certos momentos), esse de conseguir abrir mão de quem não acrescenta nada – e às vezes até tira o que temos de bom. Requer vigilância para não cairmos novamente na tentação de conviver com alguém “só porque serve”, por hábito ou comodismo.

Se não é essencial e não me faz feliz… não vale a pena.

Agora dá licença, que vou me livrar daquela calça.

Um Ano Sem Comprar – Julho

Maquiagem arrumada na penteadeira nova
Toda a maquiagem organizada.

Desde o início desse projeto, eu sabia que a parte mais difícil seria não comprar nada para a casa – não apenas porque adoro itens de cozinha e organização, mas principalmente porque a mudança para uma casa maior traria novas necessidades e vontades.

Tenho tentado me segurar ao máximo, mas sucumbi a algumas compras em julho:

  • 6 bandejas organizadoras da Coza que usei para arrumar toda a minha maquiagem
  • 3 cestas para separar os produtos de limpeza segundo os ambientes: sala/quartos, cozinha e banheiros
  • cesto de lixo novo para a cozinha

Consigo justificar a compra dos organizadores. No caso da maquiagem, pela primeira vez consigo ver tudo o que tenho claramente, sem ter de realizar escavações (e, além dos organizadores, usei um porta-talheres que já tinha). Isso me permite aproveitar melhor o que tenho e variar os produtos. Já as cestinhas para os produtos de limpeza facilitam imensamente a rotina doméstica, pois tudo o que preciso para cada tarefa está reunido.

Agora… a lixeira nova é injustificável.

A Lixeira Roxa
A Lixeira Roxa.

Eu tinha uma lixeira de cozinha já velhinha, com uns oito anos de uso. Estava encardida, então dia desses coloquei-a dentro do tanque e escovei até ficar branquinha. Ficou quase como nova! Tinha a desvantagem de não ter um cesto interno removível (que facilita horrores a limpeza), mas eu pretendia ficar com ela até o ano que vem. Afinal, não teria me dado ao trabalho de esfregá-lo se não fosse para mantê-lo por mais uns meses, né?

Pois é. Só que bati o olho numa lixeira com tampa em inox, cesto removível, tamanho ideal, preço muito justo… Ainda assim, estava determinada a ir embora sem comprá-la até que… vi uma roxa!

Roxa!

Já disse que amo roxo, lilás e variações? Minha sala é roxa. Minha roupa de cama é lilás.

Tive que comprar a bendita lixeira. Especialmente porque só havia duas roxas, e uma delas estava amassada – a outra, inteirinha, olhava para mim e dizia “Compre-me! Leve-me para sua casa! Agora!”.

E foi assim que minha lixeira branca limpinha foi descartada…

Leia os outros relatos mensais no fim do texto de abertura deste projeto: Um Ano Sem Comprar – Um Ano Sabático.

Você financia o trabalho escravo?

Claro que a sua resposta será não – ao menos, assim espero. Mas… tem certeza?

Semana passada, o Profissão Repórter (você pode assistir ao programa no site) mostrou como são fabricadas as calças jeans vendidas por 20 reais no Brás (SP). As peças são fabricadas por bolivianos que vieram para o Brasil em busca de emprego e trabalham por até 15 horas por dia em condições análogas à escravidão, inclusive morando amontoados na mesma casa em que trabalham, sem terem uma cama decente ou sequer uma cozinha digna. Para você comprar a calça de 20 reais, a pessoa que a costurou ganhou apenas R$3,50.

O Profissão Repórter também mostrou as condições de trabalho de quem costura para a Sulanca, famosa feira de roupas de Caruaru. Lá, as condições de trabalho não são tão ruins. As familias trabalham juntas, ganham uma ninharia, crianças também ajudam e o trabalho se estende por horas e horas, mas existe algum cuidado, não há um “capataz” em cima e elas têm alguma esperança de melhorar de vida.

Então, quem compra roupa barata colabora com o trabalho escravo, certo? Não necessariamente.

Lojas de fast fashion como a Marisa, a Riachuelo e a Collins já foram denunciadas por usarem trabalho escravo. A Zara, que no Brasil é muito mais cara do que vale, também já entrou no bonde. A Gregory e a Brooksfield, que ninguém vai dizer que são baratinhas, também foram denunciadas.

Ou seja: não temos pra onde correr. Afinal de contas, precisamos vestir alguma coisa.

Então, #comofas?

Como podemos ter certeza de que a roupa que usamos não foi feita por pessoas em condições de escravidão? Se pagar caro não é garantia de uma roupa produzida em condições minimamente humanas; e se pagar barato também não indica, necessariamente, o uso de trabalho escravo (vide Sulanca), o que podemos fazer?

Quando eu voltar a comprar roupas (ainda estou no Ano Sem Comprar), não passarei nem na porta das lojas denunciadas que, ainda por cima, recusam-se a assinar Termos de Ajustamento de Conduta (a Gregory, por exemplo, recusou-se; já a Marisa se comprometeu a eliminar o trabalho escravo em sua linha de produção).

Mas a medida mais importante é adotar o consumo racional. Comprar o que realmente precisamos, o que nos favorece e podemos pagar. Além de fazer bem para o nosso guarda-roupas, nossa conta bancária e nossa autoestima (afinal, é preferível ter uma peça escolhida a dedo, bem cortada e que caia perfeitamente a ter quatro ou cinco ruinzinhas), abandonar as compras excessivas, por impulso ou por modismo é uma forma indireta de não colaborar com uma cadeia de produção indigna.

Se não podemos resolver a situação, podemos ao menos fazer nossa parte para não incentivá-la.

Referência

Atenção: o texto acima ampara-se no direito fundamental à manifestação do pensamento, previsto nos arts. 5º, IV e 220 da Constituição Federal de 1988. Vale-se do “animus narrandi”, protegido pela lei e pela jurisprudência (conferir AI nº 505.595, STF).