Ficha técnica
An Inconvenient Truth. Estados Unidos, 2006. Documentário. 100 min. Direção: Davis Guggenheim.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore apresenta uma análise da questão do aquecimento global, mostrando os mitos e equívocos existentes em torno do tema e também possíveis saídas para que o planeta não passe por uma catástrofe climática nas próximas décadas.
Mais informações: Adoro Cinema.
Cometários
Ainda não sei direito o que me deu pra resolver assistir a esse filme. Nunca fui ecologista, de jeito nenhum, embora morasse no Rio de Janeiro no Encontro de 1992, e apesar de todos os trabalhos sobre meio ambiente que fiz na escola. Aliás, talvez justamente por ter ouvido falar demais em ecologia e afins, tomei birra do assunto. Encarava os ambientalistas como alarmistas de plantão e via nos danos ao meio ambiente um mal necessário para o progresso humano. Com essas idéias em mente, não é de estranhar que os primeiros dois minutos do filme tenham me feito pensar “Que raios estou fazendo aqui?! É melhor ir embora antes que perca meu tempo”.
Mas não fui embora. E, definitivamente, não perdi meu tempo. Em vez disso, assisti a uma palestra envolvente e atordoante, que me levou a rever meus conceitos (é, como na propaganda da Fiat).
Durante a hora e meia seguinte, vi o discurso preparado e repetido ao longo de anos pelo ex-futuro-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, um sujeito que exala carisma e conduz o público com brilhantismo, valendo-se não apenas da retórica, mas de computação gráfica, fotografias e filmagens recentes feitas ao redor do mundo. Gore tenta despertar a platéia para o real perigo representado pelo aquecimento global (lembra das suas aulas de geografia sobre o efeito estufa?), expõe os trabalhos científicos a respeito e dá o alerta: se nada for feito, teremos alterações climáticas cada vez mais severas e, ao fim de cinqüenta anos, a Terra pouco se parecerá com o que conhecemos hoje.
Gore chama a atenção para o furacão Katrina, que destroçou Nova Orleans, e avisa: esses fenômenos serão cada vez mais freqüentes e violentos. Lembra que sempre foi considerada impossível a formação de furacões no hemisfério sul, mas em 2004 o Rio Grande do Sul foi atingido pelo furacão Catarina. Mostra que as “neves eternas” de várias montanhas, como o Kilimanjaro e os Alpes, já não são mais tão eternas. Documenta o derretimento das calotas polares e faz uma projeção das mudanças geográficas e climáticas que virão – na verdade, nesse momento mesmo elas já estão acontecendo.
O vilão de tantas alterações? O aquecimento global, causado pelo efeito estufa que, por sua vez, é conseqüência do excesso de gás carbônico lançado na atmosfera. Gore ressalta a culpa enorme dos Estados Unidos nesse processo, lembrando que o país que mais polui (mais de 30% das emissões de gás carbônico vêm de lá) foi um dos dois únicos a não ratificar o Protocolo de Kyoto – o outro foi a Austrália.
O ex-vice-presidente faz questão de frisar o quanto as mudanças climáticas afetarão a humanidade: secas onde sempre houve chuvas, submersão definitiva de grandes áreas habitadas, êxodo populacional, milhões de refugiados e, claro, um impacto terrível na economia mundial.
Lá pelas tantas, você já recebeu más notícias demais e pensa: “Ok, é terrível que isso vá acontecer. As autoridades não querem fazer nada, então tudo isso vai mesmo acontecer. Daqui a cinqüenta ou sessenta anos, meus netos verão esse filme e exclamarão, indignados: ‘eles sabiam que estavam destruindo o planeta e não fizeram nada para evitar!’.”
A intenção do filme, no entanto, não é ser catastrofista, não é anunciar o apocalipse. Gore dá um alerta e diz: nós podemos reverter esse quadro! Existem saídas possíveis, há soluções perfeitamente viáveis para controlar a emissão de gás carbônico. Várias dependem dos governos, mas há pequenas ações que todos nós podemos fazer para minimizar o aquecimento global e, nesses mesmos cinqüenta anos, eliminar completamente o problema. A humanidade já se saiu bem de situações tão ou mais complicadas, afirma Gore.
É nesse ponto que falo que minha forma de encarar todo esse papo de ecologia e ambientalismo mudou. O filme despertou uma preocupação real e, principalmente, uma vontade de agir concretamente. Como? Isso é assunto para outros artigos.
Por hora, deixo meu apelo: veja o filme. Mesmo que você se bloqueie tanto para o tema quanto eu costumava fazer, dê uma chance ao documentário. Na pior das hipóteses, adquirirá um punhado de informações e passará cem minutos bem interessantes – porque Uma Verdade Inconveniente pode despertar qualquer sentimento, menos tédio. No mínimo, servirá para causar perplexidade por ter sido eleito para a presidência dos Estados Unidos um cara burro, grosso, incoveniente e desagradável como o Bush, quando podiam ter escolhido a inteligência e o carisma do Gore (se é que as eleições foram mesmo legítimas – até hoje isso é questionado por lá).
Mais sobre o filme e sobre o aquecimento global pode ser visto no site An Inconvenient Truth.
Já divulguei no Dia de Folga os links para o trailer e os créditos finais, colocados por alguém no YouTube.
Al Gore lançou um livro que reproduz o conteúdo do filme, inclusive trazendo ricas ilustrações, já à venda em português.
Por fim, para aqueles que insistem em encaram o aquecimento global como lenda urbana, usando afirmações do tipo “na época dos dinossauros havia muito mais gás carbônico no ar do que hoje, e a Terra não acabou”, vale dizer que não é dito, em momento algum, que a Terra deixará de existir. Sequer afirma-se que o ser humano entrará em extinção. A Terra será capaz de se adaptar, e nós também. Só que haverá um custo tão absurdamente alto que é o caso de se questionar: vale mesmo a pena pagar pra ver?